sábado, 24 de novembro de 2018

Guerra santa


O prestígio que as igrejas evangélicas vêm conquistando junto ao governo de Bolsonaro, antes mesmo de ele desembarcar em definitivo em Brasília, leva preocupação aos que consideram que o estado laico é uma conquista da sociedade brasileira. É preciso reagir, antes que setores mais radicais se animem a transformar o país numa república teocrática.
Em seu editorial deste sábado, o “Jornal do Brasil” dá o tom da preocupação, e já recebeu muitos aplausos pela internet. O blog transcreve “ipsis literis”:


Um sagrado dever dos homens que se responsabilizam pelo poder, bem entendido como a responsabilidade do “poder sobre os que não podem”, é, antes de todos, saber ser indulgente com ideias e sentimentos contrários, estejam eles na política, na ideologia ou nas crenças religiosas. Toda vez que se romperam relações respeitosas nesse campo o mundo tendeu para grandes conflitos. Um deles, interminável, tem mantido o Oriente Médio sob tensões e imensos sacrifícios. Considera-se, então, que em nenhuma circunstância são admissíveis ações excludentes e preconceituosas, porque nesse caso os direitos das pessoas e das sociedades sucumbem.

O excessivo envolvimento de convicções religiosas na política, ou vice-versa, pode criar imensas complicações, além de condenar grupos e facções a constrangimentos e intolerância. Exemplos, por este mundo a fora, mostram que a incapacidade de manter respeito mútuo também pode levar os países ao desgoverno e ao desmando. Nesse propósito os maus políticos confundem laicismo com ateísmo; e, de sua parte, muitos líderes de seitas não hesitam e pecam em dar à onipotência o mesmo tratamento dispensado a produtos descartáveis. O santo nome em vão.

Os excessos que aí se praticam são perfeitamente visíveis nos países subjugados à ditadura dos regimes teocráticos, onde em geral se conciliam a limitação de direitos e intolerância religiosa. Na Ásia situações dessa natureza são comuns, com restrições à liberdade. O mundo sabe, há séculos, que isso não dá certo, além de concorrer para involuções sociais.

O futuro ministro da Justiça, despiciendo lembrar, chega incensado por seu presidente como portador de carta branca e poder intocável para fazer com que prevaleçam a lei e a ordem neste país. O que permite confiar em que a Constituição também será intocada quanto à preservação do estado laico; assim sendo para que sejam protegidos todos os pontos de vista e tendências confessionais. Desejando-se que todos os religiosos e suas igrejas sejam respeitados, é preciso que os governos não tenham preferências sobre aras e púlpitos, sem que se exclua o direito de os governantes crerem no que lhes parecer melhor. O doutor Sérgio Moro sabe tudo sobre isso. Estima-se que sua autoridade leve o governo a impedir ofensas ao estado laico, porque já se perdeu na poeira do tempo monárquico a influência religiosa na condução dos interesses do império.

O modelo que prenuncia o governo do presidente Bolsonaro tem autorizado que se levante essa questão, porque, segundo setores da sociedade brasileira e na opinião de observadores do Exterior, sua viagem rumo ao Planalto levará duas tendências extraídas dos discursos que pronunciou; ambas perigosas, se tomarem o rumo da radicalização. A primeira são suas indisfarçáveis simpatias por métodos direitistas, o que nem constitui novidade, pois são antigas as restrições que faz à esquerda, na qual vieram se inspirando os presidentes petistas. A incursão pela direita será breve ou se prolongará, dependendo dos resultados.

O segundo corte no modelo da próxima gestão recomenda policiar a excessiva influência de alguns setores religiosos, que já se têm feito presentes antes mesmo de o governo começar. Não que lhes seja cassado o direito de sugerir condutas, porque isso a todos é permitido. O que não se espera que aconteça é que esse direito resulte na elaboração de vetos a decisões de natureza política. Reconheça-se, é questão sensível, pois pode ser tomada como preferência a segmentos de fé mais distantes do presidente. Contudo, só com amplo exercício de más vontades para confundir a defesa dos poderes constitucionalmente laicificados com a exclusão da manifestação de convicções religiosas.

Vejamos que no Brasil a Constituição não é teocrática, e o presidente não é exatamente um aitolá.


Memória

Os ambientalistas e as instituições públicas e privadas que atuam no setor podiam ter aproveitado a passagem do centenário de nascimento do professor Ekdorni Cunha (foto), e homenagear o homem que foi um dos pioneiros nas preocupações com o meio ambiente em Juiz de Fora. Em 1988, nutrindo um grande amor pelas árvores, promoveu ampla campanha de divulgação e preservação do pau-basil. Naquele ano, dizia a um jornalista amigo estar horrorizado com o fato de crianças e adultos jamais terem visto a árvore que está ligada ao primeiro momento da nacionalidade. Saiu por aí, em companhia do amigo, plantando e pedindo que se plantasse o pau-brasil, e se visitasse as duas existentes ( uma no Parque Halfeld e outra no Grupo Fernando Lobo). Também pedia que outras fossem plantadas, principalmente as que pudessem dar sementes aos pássaros.
Militar por profissão, ecologista por vocação, ele ajudou a fundar a Associação Juizforana de Defesa do Ambiente e contribuiu nos estudos sobre poluição do Rio Paraibuna.
Ekdorni nasceu em 1918 morreu em 2009.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A República

No dia em que vê passar seus 129 anos de vida, a República brasileira pede, como vem pedindo há tempos, um reajuste em suas bases, não só para corrigir os defeitos acumulados, mas também para adaptá-la aos novos tempos. Tal adaptação consistiria, basicamente, em dois remédios poderosos: a adoção do parlamentarismo e a reformulação do pacto federativo. Entendem os estudiosos que não há outros caminhos.
É preciso salvar a República de suas mazelas e dos graves acidentes de percurso, como comenta em sua edição de hoje o “Jornal do Brasil”:
“De tal forma acidentada – sete dissoluções do Congresso, quatro governos provisórios, duas renúncias, dois presidentes impedidos de tomar posse, cinco presidentes depostos, oito governos autoritários, 19 rebeliões militares – o que poderia sanar, ou, pelo menos, reduzir as enfermidades republicanas são duas profundas cirurgias, que a cada dia mais confirmam sua necessidade: o parlamentarismo e o pacto federativo, associados ou introduzidos separadamente. Nada mais eficaz que isso para imunizá-la contra os males que a contemplam em períodos diversos, como o afogamento dos valores institucionais, sendo mais recente exemplo o que sobreveio em 64”.

Novo caminho

O comentário é de José Padilha, em “O Globo” sob o futuro do petismo:
O que a esquerda precisa fazer para resistir a um possível autoritarismo de Bolsonaro? Primeiro, abandonar de vez o PT, irremediavelmente maculado pela corrupção e pelo PMDB. Depois, pôr a honestidade antes da ideologia, assim como fez o eleitor. E, finalmente, se opor a qualquer autoritarismo, incluindo o de países socialistas. Se isto não acontecer, mais uma vez, como disse Espinosa, a esquerda lutará pela escravidão pensando que está lutando pela liberdade”.

Memória

Centro das principais articulações político-militares, das quais resultaria a Revolução de 30, as apreensões em Juiz de Fora anteciparam-se, pois em maio, na residência de Batista de Oliveira, ocorreram reuniões do alto comando do Partido Republicano Mineiro, em franca hostilidade ao governo central. O assassinato de João Pessoa, em julho, levou a Polícia Militar a entrar em prontidão, e a imprensa já sob censura. O principal confronto entre a PM e as forças do governo federal ocorreu em Grama.
Duas figuras políticas da cidade se destacaram no episódio: Antônio Carlos e Odilon Braga.


na foto, soldados movimentando-se diante da estação ferroviária





segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Fusões 

Sob a imposição de uma economia quase de guerra, tanto em Brasília como em Juiz de Fora a fusão é remédio adequado, com a incorporação de órgãos que podem ter seus serviços agregados. O prefeito Antônio Almas segue o mesmo caminho, devendo anunciar, até o final do mês, os primeiros passos para a concretização dessa medida. 
É o assunto político do momento, dividindo atenções e especulações com a eleição do novo presidente da Câmara.


Sacrifício 

As regras do jogo, ainda que injustas e discutíveis, devem ser cumprida. Enquanto perdurar a ditadura das alianças, o eleitorado muitas vezes terá de assistir a discrepâncias. Um exemplo está em casa, e foi produzido na última eleição: o deputado Marcus Pestaana, secretário nacional do PSDB, não se reelegeu, mas teve mais votos que nove deputados que ganharam mandato.
Resultado lei do quociente eleitoral. 


O novo 

O governador eleito, Romeu Zema, autor de uma das grandes surpresas eleitorais deste ano, ainda não sinalizou sobre pessoas ou grupos de Juiz de Fora que seriam ouvidos, tanto na indicação de nomes para os cargos administrativos como para opinar sobre as linha que o governo adotará. Seu partido, o Novo, não tem quadros locais para ajudá-lo.
O melhor que Zema faz é eleger o prefeito Antônio Almas como seu oráculo regional. A Mata acima dos partidos.


Os Bracher 

Carlos e Paulo, membros da fantástica família Bracher, presentearam o redator com o primeiro exemplar de “O Castelinho Solitário no Alto do Morro”, onde reúnem informações sobre a casa histórica da Rua Antônio Dais. A grande e excelente notícia é que o castelinho está sendo transformado em casa de memórias, para reunir testemunhos e depoimentos de quem tiver alguma coisa a izer sobre o passado da cidade.


É o caminho 

O que há dias se escreveu aqui sobre o futuro imediato da política municipal, é a mesma proposta que o ex-presidente Fernando Henrique recomenda para os partidos neste pós-Bolsonaro: a fusão de PSDB e MDB em uma nova sigla, fortalecida, criada em cima das cinzas do recente fracasso que as duas grandes legendas sofreram nas urnas.