(( Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))
A poucas semanas das convenções partidárias, quando serão homologados, os candidatos oposicionistas à Presidência da República ainda vivem clima de incertezas. A começar por Lula, que tem agido francamente como candidato, mas sem o anúncio definitivo de seu projeto eleitoral. Ciro Gomes, embora sempre garantindo a terceira colocação em todas as pesquisas, não consegue coligação majoritária com o seu PDT, o que seria importante para avançar; enquanto no MDB a senadora Simone Tebet enfrenta o bombardeio de setores emedebistas que não a querem, porque simpatizam-se com o candidato do PT.
Não menos nebulosas mostram-se as incertezas nos terrenos do PSDB, onde já havia se instalado na prévia partidária o dilema sobre o candidato com maior viabilidade eleitoral: Dória ou Leite? Juntos ou separados, um problema de percurso na caminhada do tucanato. O União Brasil decidiu que, pelo menos por hora, deve ter candidato à sucessão de Bolsonaro, e, para tanto, apresenta seu próprio presidente, o deputado Bivar, que, no íntimo, se satisfaria em ser vice de algum dos candidatos citados. Ele entra em cena carregando a pesada mochila do partido, farta em tempo de propaganda e abarrotada dos dinheiros dos fundos partidário e eleitoral. Nada mais útil para convencer.
No frigir dos ovos, mesmo com tantas dúvidas, há quem admita a possibilidade de Ciro Gomes acabar ganhando o apoio desse União Brasil e nele apostar suas fichas. No caso de Simone Tebet (MDB), percebe-se que nesta quinzena ela entrou mais isolada nas negociações, depois de garantir que só aceita disputar como cabeça da chapa; pronta para resistir, nem que seja em respeito ao eleitorado feminino. Tudo ou nada, o que também serviria de lema para João Dória, que, mesmo diante de um tucanato fragilizado, em ninho de velhas e cansadas penas, seria candidato "com cara e com coragem".
Pouco mais que isso são os figurantes de um painel que ameaça chegar ao tempo das convenções com muitas inseguranças.
A permanecer esse traçado, seria possível ter, além dos dois postulantes polarizados, as candidaturas de Ciro Gomes (vice Bivar), Simone Tebet (MDB), Dória (PSDB) e Janones (Avante), em linhas independentes, a confirmar a previsão da impossibilidade de uma chapa comum na terceira via. Para um acordo com vistas ao projeto alternativo seriam insuficientes as últimas pesquisas, porque, todos aqueles, somados, não vão além dos 15% do eleitorado; ou seja, cada um condenado a ficar em seu próprio quadrado, tentando o melhor resultado possível.
Sem potencial nem para ajudar a remover as incertezas, há candidatos que sequer pontuam nas pesquisas, o que também torna difícil quantificar sua capacidade de participação no processo. Soma-se tudo isso à tendência histórica de 10% de brancos e nulos, justificando a previsão de um inevitável segundo turno.
Para concluir, não custa registrar que a sorte está lançada para o roteiro dos que continuam frequentando as previsões de menos votados. Um dado interessante a observar em relação a eles é que jogam cartas decisivas para seu futuro, caso continuem candidatos à Presidência (ou vice). Simone Tebet termina seu mandato no Senado Federal, e os deputados federais Bivar e Janones estarão se despedindo da Câmara dos Deputados. Os tucanos Dória e Leite não têm mais o poder que tinham como governadores. Ciro já sem mandato há mais tempo. Então, sabem que a aventura eleitoral deste ano pode levá-los a ficar fora dos espaços de poder, a partir de 2023. O que, por conseguinte, pode significar fim de carreira. Mas, se os políticos sempre pensam na sobrevivência, pode-se dizer que nem tudo está suficientemente claro nas intenções dos presidenciáveis.
Caminho sem volta
Conta a História que as crises entre os poderes constituídos, mesmo quando se dissipam, deixam com a sociedade a tarefa de cuidar das feridas que sangram. Se tem sido assim, o que mais se deseja nesta semana é que cessem as hostilidades e a disputa de prestígio em que se acham empenhados o presidente da República e o Supremo Tribunal Federal. Para preocupar, exatamente por causa do nível a que chegaram os desencontros, qualquer expectativa de pacificação se dilui, permitindo-se concluir que Judiciário e Executivo tornaram-se reféns de um impasse que não os autoriza voltar, sob pena de se humilharem na deposição das armas. Entraram num caminho sem esquinas para o retorno, dificuldade que agora se acentua com um envolvimento menos discreto do Congresso, onde há vozes reclamando direito dos parlamentares para julgar o Caso Daniel Silveira. Tudo analisado, significa estarem as instituições pisando em campo minado.
Sobram razões para preocupar, notadamente quando o país vai se preparando para uma campanha eleitoral, na qual o alvo mais saliente é exatamente a tentativa de reeleição do presidente da República, no centro da crise.
O que restou da decisão de Bolsonaro de assinar o decreto da Graça em benefício do temperamental deputado fluminense é uma discussão, que promete ser longa, sobre os limites do poder presidencial na concessão de perdões. Limites que não há, segundo constitucionalistas, o que torna delicada a situação do Supremo Tribunal, que acatou, quase por unanimidade, o voto do ministro Alexandre Morais, ao mandar o deputado carpir prisão por nove anos, além de suspender seus direitos políticos.
As divergências são delicadas, cercam-se de humores tensos e aprofundam o distanciamento entre os poderes. Tudo por causa de um deputado conhecido pelo uso de palavrório desmedido. Muito pouco para ameaçar tanto e impor à alta corte de Justiça e à Presidência da República uma jornada de trancos sem volta.
O puxador
As preocupações do PTB com o deputado Daniel vão além da pena de prisão. O que mais deseja é salvar o direito de ele disputar a reeleição no Rio de Janeiro. Há poderosos estimulando o esforço do comando trabalhista, porque, depois da aventura que está vivendo, Daniel poderia se torna um dos deputados mais votados do país. Um excelente puxador de votos.