quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Para dialogar

Esta é uma semana em que o prefeito Bruno Siqueira, retornando de sua viagem ao exterior, deve iniciar a avaliação do quadro político que se formou a partir das eleições; e, com os dados que obtiver, traçar os  rumos dos dois anos que restam à sua gestão.
No estado, ele conta com a interlocução do vice-governador eleito, Antônio Andrade, com quem sempre teve boas relações. Ao mesmo tempo, dispõe de números que podem ajudá-lo a ter trânsito em Brasília, recorrendo ao quadro de votação de domingo passado: dos 500 mil votos que deram preferência a Dilma em Minas 15% foram de Juiz de Fora. É uma contribuição expressiva.
Ainda com base nos ajustes, especula-se que algumas secretarias poderão ter novos nomes proximamente.


Sem plebiscito

Durou pouco, nada além de algumas horas, o ânimo da presidente Dilma para a convocação de um plebiscito, no qual os brasileiros seriam chamados a definir o conteúdo da reforma política. Desistiu, pelo menos por algum tempo, porque os resultados das urnas não foram suficientes para que encarasse uma empresa desse vulto. De fato, ela não pode desconsiderar que passa a governar um País rachado ao meio; portanto, vulnerável a polêmicas mais acaloradas.
Mas, antes mesmo, é preciso continuar reagindo a essa proposta, venha quando vier, porque não se pode admitir que matéria dessa importância, tão complexa, o governo queira definir com os votos do vasto curral eleitoral que criou com o Bolsa Família, cujos beneficiários,ficou agora comprovado, votam sob cabresto.
Já se disse repetidas vezes, a esse propósito, que a reforma política é natural atribuição do Congresso Nacional, onde tramita há quase 20 anos. Foi estudada e discutida à exaustão. Sugerir agora um plebiscito é criar regras depois do jogo começado; a dar ao governo, de novo, as urnas nordestinas que controla com um programa assistencial primário.


Não é pra esquecer

Os ressentimentos e as frustrações dos derrotados, ao lado das alegrias dos vitoriosos, todos sem saber exatamente qual o futuro deste País, não autorizam que fique relegada a segundo plano a realidade que a eleição presidencial acaba de traçar: o Brasil está rachado ao meio, tendo como divisória com um pequeno naco sustentado em tênue favoritismo da presidente Dilma a indicar que de fato moramos em países diferentes. O Nordeste nada tem a ver com o Sul, e a recíproca é verdadeira. A pátria de Aécio não é a pátria de dona Dilma. Seus eleitores são diferentes, têm outra visão da nacionalidade, contrastam no julgamento das coisas temporais. 
O que nos deve unir, ausentes outras razões significativas, é apenas a certeza de que estamos divididos e distantes. E se falamos um mesmo idioma, reconheçamos que ele é insuficiente para a compreensão da nacionalidade. Há um Brasil da Bahia pra cima e outro Brasil da Bahia pra baixo.  

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Lições de outubro 


As eleições deste outubro, tanto a majoritária como a proporcional, mostram-se fartas em advertências para os partidos e as pretensas lideranças municipais; essas lideranças que descuidaram de promover debates, estudos e seminários sobre o momento político que estamos vivendo. No que dependeu dessa gente, faltou ânimo suficiente para animar a eleição. Uma ressalva: a militância do PT, mesmo sem o volume das ações que revelou em campanhas passadas e com velhas manchas de cisões internas, foi para as ruas na missão difícil de enfrentar o bombardeio que se praticou contra a presidente Dilma; ela, apenas ela, no momento em que teve de assumir e incorporar os desgastes do petismo. Sobre os outros partidos de maior expressão, salta, em primeiro lugar, a olhos vistos, a implicância que domina os grupos que compõem o PSDB. Quase uma tradição, que tem como resultado flagrante a resistência dos dirigentes locais à candidatura do deputado Marcus Pestana, a despeito de ser presidente estadual do partido. Os grupos, onde geralmente se contrapõem Pestana e o ex-prefeito Cuistódio Mattos, vão se alternando na linha das antipatias recíprocas. Fica sem resposta a pergunta ao diretório municipal: o que se fez em Juiz de Fora, partidariamente, o PSDB pelas candidaturas de Aécio Neves e Pimenta da Veiga? (Outra ressalva: a atuação do PPS, inspirado pelo deputado eleito Antônio Jorge, que procurou ocupar espaços que os tucanos deixaram em aberto). Quanto ao PMDB, não diferentemente,permaneceu a impossibilidade de suas alas conviverem em torno de projetos comuns. Não foi unânime o acatamento da proposta do prefeito Bruno Siqueira de apoio às candidaturas de Isauro Calais à Assembleia e Pestana à Câmara, como também dividiram-se as simpatias entre outros candidatos, sendo ou não de Juiz de Fora. Foi o caso do prestigiado vereador Antônio Aguiar, cuja foto apareceu nos posters de Rodrigo Pacheco, que o eleitorado local não conhecia. Uma lição a extrair, portanto, neste outubro de muito calor e campanhas mornas, é a necessidade de os partidos trabalharem pela unidade, primeiro passo para se fortalecerem, antes de pensar em candidaturas.


 Em decorrência 


 Se faltassem outras razões para estimular os partidos a uma urgente autocrítica, ainda com base nas lições que lhes deixa este outubro, ficam os números, pródigos em lições e advertências sobre a marcha batida em que vai para o abismo nossa representação política. Basta um exemplo, e para tanto ligeiro esforço de memória: há dez anos, as candidaturas de Sebastião Helvécio, Biel, alberto bejani e João César Novais somaram em Juiz de Fora cerca de 240 mil votos. Pois, no dia 5 passado, mesmo com um colégio eleitoral muito maior, a soma dos votos dos nossos candidatos não logrou ultrapassar a casa dos 198 mil. Isto significa, antes de mais nada, que estamos num perigoso processe de regressão política, o que se confirmaria naquele domingo, com um escândalo cívico: 45% dos nossos eleitores anularam o voto, votaram em branco ou optaram pela abstenção.

 (Este blog esteve desativado durante algumas semanas, por razões diversas. Volta agora, agradecendo a atenção e o acolhimento que sempre mereceu de seus frequentadores)