Col JB 22 fev 19
Oportunidade para os partidos
Não neste momento, provavelmente nem nos meses
seguintes, com o Congresso Nacional assoberbado, e previsão de
prioridades, como a reforma da Previdência; mas os partidos têm
tudo para, logo que possível, abrir discussão sobre e adaptação
de seus programas, não como capricho diletante, mas para se situarem
frente a uma realidade política que reclama deles ideias e objetivos
mais claros. Há nesse campo uma visível defasagem, confirmada
nestes dias que antecipam tramitações importantes nas casas
legislativas, onde a interlocução se processa no varejo. Não há
como dialogar com os partidos, porque ele não têm programas
definidos a defender, nem mesmo para instruir seus parlamentares. O
que se supõe existir são letras mortas a compor o estatuto
indispensável para que uma sigla logre registro junto ao Tribunal
Superior Eleitoral. E tudo fica nisso.
Se, de início, tal critica possa parecer
intolerância ou preocupação menor, para justificar o contrário
bastaria lançar mão do tema favorito da hora, a revisão do sistema
previdenciário. Dos 35 partidos oficialmente registrados, sendo duas
dezenas com bancadas, qual ou quais poderiam destacar em seus
programas propostas consistentes para contribuir no debate ou
orientar seus parlamentares? Estes são levados a conduzir o voto com
base em convicções pessoais ou por adesão às correntes que se
posicionam contra ou a favor do governo. Situação diametralmente ao
que se assiste em países onde predomina a nitidez programática,
como agora no debate orçamentário dos Estados Unidos ou nas
relações da Inglaterra com a comunidade europeia.
A previsão de um enxugamento da paisagem
partidária, consequência da cobrança de desempenho, pode ser
adequada oportunidade aos sobreviventes para reconstruir seus
programas, que em geral não passam de peças de fantasias, com
frases elaboradas, sem conteúdo e raras preocupações em tornar
realidade o que, ao se organizarem, prometeram ao competente
Tribunal. A hora é esta, sem que se saiba se outra oportunidade
melhor haverá.
Como fênix
Sobre as cinzas de Renan, que entrou na
legislatura do Senado protagonizando a segunda derrota do MDB, após
o grave acidente eleitoral de outubro, o partido ressurge, na mesma
casa, ao conquistar cobiçadas posições em comissões temáticas;
na verdade, as principais, com poder de influência política.
Constituição e Justiça e Comissão Mista de Orçamento têm
desempenhos decisivos no processo da governabilidade, e a elas o
presidente Bolsonaro terá de recorrer com frequência. Para
completar, o partido também ganhou a Comissão de Educação, onde,
como é permitido prever, o Senado será chamado a conter excessos da
engenhosidade do novo ministro.
Com essa conquista, visto ficou que no episódio
da eleição do presidente da casa a resistência estava em Renan,
não no partido; tanto, que acaba aquinhoado com poderes estratégicos
para a tramitação dos projetos.
O MDB tem uma história de ressurreições.
Renasce e se recompõe, quase sempre sem maiores esforços, mesmo
quando submerge em derrotas acachapantes. Em 2018, sendo o partido do
governo federal e do presidente Temer, teve um desempenho tão
pálido, que ficou parecendo incomodar-se pouco com a derrota de
Meireles.
Essa repetida competência de ressurgir de cinzas,
quando ainda mornas, é definida por Almeida Reis como certa virtude
que tem o partido de assumir a forma do objeto que o contém. Com
alta capacidade de adaptação e fluidez, a história emedebista é
pontilhada de presenças nos governos que não são propriamente
seus. Sempre em Pasárgada, para ser amigo do rei. O destino pode
levá-lo à sombra de Bolsonaro.
“Não há pior coisa para um partido fora do poder, se não tiver vocação para isso”
- Charles
De Gaulle, presidente francês
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