terça-feira, 29 de setembro de 2020

 



A Revolução de Outubro


(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil” ))


O 3 de outubro, em tempos passados, seria dia de eleição, depois transferida para o domingo mais próximo. Decretava-se até feriado nacional, para que a população vivesse a motivação cívica das urnas. Não havendo eleição, vale registrar que o próximo sábado marca, ainda que sem maiores atenções, a passagem do 90º aniversário da Revolução de 1930. Nada mais justificasse essa lembrança, bastaria afirmar que nenhum outro fato do século passado a sobrepujou, quanto à importância que teve para os destinos da política nacional, cabendo citar, entre outros desdobramentos, a acidentada interrupção do sistema café com leite, inventado por Campos Sales, na Velha República, para permitir que paulistas e mineiros se alternassem na Presidência da República. Naquele ano seria a vez dos mineiros, e ninguém apostaria contra a vitória de Antônio Carlos. Mas o revezamento foi abortado por Washington Luís, que preferiu ver-se sucedido por outro agente paulista, Júlio Prestes. E pagou caro, condenado a um longo desterro.


O primeiro protesto, que viria aproximar Minas e Rio Grande do Sul, baseou-se nas evidências de fraude eleitoral; mas esse delito, longe de constituir novidade, era tradicional e comum na época. Já se disse, com propriedade, que na Velha República ninguém - absolutamente ninguém - viveu e morreu sem ter praticado esse pecado. E o que era o Brasil rural naquela época? Dos quarenta milhões de habitantes, apenas 1,9 milhão de eleitores, que haviam votado para presidente em março, preocupados em festejar o carnaval, que coincidira com a eleição.

O fim do costume de dar aos presidentes a tarefa de escolhe seus sucessores resultou em um desdobamento positivo. Porque foi pelas armas que ecoou a advertência de que o Brasil ia além de São Paulo e Minas; era uma federação real, onde devesse caber uma participação decisória dos demais estados. Mas não se ignore que, passado quase um século, a federação ainda se retalha e sangra nas desigualdades sociais e na miséria que tolera regiões dramaticamente diferentes.


O mérito de distribuir melhor as sedes do poder não foi, contudo, suficiente para empanar o aspecto negativo que logo se evidenciaria: não se tratava propriamente de um movimento revolucionário, mas substituição de oligarquias. E com o tempo, seguido da deposição de Washington Luís, seriam recolhidas algumas bandeiras progressistas carregadas da Aliança Liberal; essa aliança na qual inspiravam-se os descontentes.


Havia no ideário de 30 a defesa do voto secreto e a participação feminina, compromissos que logo se diluíram com a chegada do golpe e o Estado Novo. Lindolfo Collor, que historiou o movimento, afirmaria que entre os objetivos definidos estava a “não modificação radical das instituições”. Portanto, ninguém pretendeu a ruptura das instituições, nem alterar as linhas da política econômica, 70% dependente do café; muito menos desejava-se criar choques entre classes sociais.


Cinco meses antes daquele outubro histórico tem novos traços o perfil do gaúcho Getúlio Vargas, que, temeroso, havia entrado discretamente na conspiração. Hesitava quanto ao recurso do conflito armado ao assinar manifesto denunciando fraude eleitoral, mas sugerindo que “as necessárias modificações dos nossos hábitos poderiam se realizar dentro da ordem e do regime”. Nesse apelo à prudência, o futuro ditador, que fora ministro da Fazenda no governo que desejou derrubar, acabou sendo mais “mineiro” que Antônio Carlos, porque para este “devemos fazer logo a revolução antes que o povo a faça”.


Durante longo tempo explorou-se o assassínio de João Pessoa, presidente da Paraíba, como brado da intolerância e o apelo à reação armada, aclamado no Brasil inteiro como mártir da democracia e da legalidade. Não se tratou, contudo, de crime político. Está provado. Quem o matou, em ambiente público, foi João Dantas, cuja vida familiar havia sido ultrajada por um jornal do presidente. Mas esta passou apenas como a verdade do fato. Era preciso aproveitar o primeiro sangue, sem importar a razão pela qual havia sido derramado.

Muitos fatos e circunstâncias permanecem susceptíveis de melhores análises sobre o 1930; tanto o antes como o depois dele. Mas aquela revolução, mesmo assim impropriamente chamada, haveria de cumprir o destino de todas as sublevações desse tipo. A começar por sua vocação antropofágica, isto é, uns líderes devorando outros, como Getúlio, que podou pretensões de Antônio Carlos. Historiadores não se surpreendem com esses desvios, porque revoluções não cumprem os planos iniciais. O que levou Trotsky a chamá-las de “inspirações loucas da História”.


De fato, há muito que aprofundar na análise dos temas que cercam aquele movimento nonagésimo. Por exemplo, o papel do Rio de Janeiro, que não foi modesto, mas decisivo nas articulações de gabinete e na discussão de estratégias. Cabe lembrar que, muito antes de as tropas irem à rua, os compromissos políticos da Aliança Liberal, que levariam à Revolução de 30, constavam de documento assinado aqui por José Bonifácio Andrada e Silva e João Neves da Fontoura, reunidos no apartamento 809 do Hotel Glória. E o primeiro dinheiro para a compra do armamento dos gaúchos e mineiros veio de um empréstimo obtido junto à Light, presidida por Paul Mckee. Nunca se prestou conta exata do gasto desse dinheiro. Mas isso é uma outra história.



terça-feira, 22 de setembro de 2020

 

Privatizar ou não


(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil” ))


Naquela famosa e tumultuada reunião ministerial de 22 de abril, na qual o presidente Bolsonaro havia exercitado com maestria uma coleção de palavrões, ficou clara certa intervenção do ministro da Economia, embora pouco explorada depois, ao garantir que, no contexto do programa da desestatização, o Banco do Brasil “estava prontinho” para ser privatizado; o que naquela hora não sofreu contestação, nem do presidente. Quem viu e ouviu Paulo Guedes sentiu que, com base na segurança de tal informação, o governo já havia esgotado avaliações dos pontos favoráveis para desvencilhar-se da principal instituição financeira que o país preserva desde os idos de Dom João VI. Ministros do passado que estiveram na cadeira de Guedes também achavam que se tratava de uma boa ideia, por considerar que o banco deixou de ser do Brasil para ser apenas dos funcionários e dos políticos. Mas preferiram passar ao largo e escapar dos ataques dos estatizantes, quase sempre violentos.


Ocorre que, há poucas horas, o homem que comanda o governo e é o chefe do ministro veio a público para anunciar que o banco, onde a União detém 59% do capital, está fora de cogitação nas intenções da campanha de privatização e do programa cuja meta é desonerar o poder público. Se disse e repetiu, é porque há um contraditório, ou mesmo conflito, entre pareceristas técnicos e políticos. Do resultando ficou a dúvida que, em rigor, devia ser dirimida com base numa discussão entre especialistas; não apenas os homens do governo. Nenhuma dificuldade em convocá-los. Bastaria lembrar que o presidente da República e seu ministro da Economia pontificam divergentes quanto ao destino da principal organização bancária da América Latina.


Bolsonaro confessa algo que alguns de seus antecessores já haviam dito. Não é fácil privatizar, embora em alguns casos, teoricamente, é bom negócio remover das costas estatais o ônus de certas empresas e instituições, principalmente quando estão condenadas a se prestarem ao papel de hospedeiras de castas altas do funcionalismo ou das cotas de apaniguados do poder. Não fossem os desvios dessa natureza, talvez a União não tivesse tanta pressa em desligar-se da Rede Ferroviária e da Vale do Rio Doce, onde a iniciativa privada desembarcou, ceifando e enxugando, sem ter de se submeter a cuidados políticos. Mas, por hora, a gestão bolsonariana parece disposta a limitar-se a privatizações que se livrem do clamor de servidores; esses que quase não são ouvidos, por exemplo, nos aeroportos e nas rodovias, que vão correndo rapidamente para consórcios privados.


Veio o novo governo, inflado e ungido pelas urnas de 2018. A partir de então, adeptos do chamado “estado mínimo”, quer dizer, os conscientes de que o poder público deve atuar apenas onde o interesse direto das populações sobrepõe-se ao lucro, logo passaram a devotar especial esperança no governo Bolsonaro, depois de uma quadra em que desvencilhar-se do incômodo não foi ideia primordial dos governos do Partido dos Trabalhadores. A esperança se consolidaria quando o presidente anunciou que assuntos econômicos e financeiros eram com Paulo Guedes, reconhecidamente privativista. No jogo dos contrastes entre PSL e PT, que ainda se respiram das urnas, os novos dirigentes pareciam dispostos a calar os ânimos sindicalistas e o corporativismo petista; e, de resto, sepultar antigas intenções do Conselho Nacional de Desestatização, que o país havia herdado de Fernando Henrique, a quem se atribuíam maldades de um neoliberalismo que, sob a ótica científica, nunca houve. Esperavam muito das privatizações, mas hoje os que tratam do papel do estado – máximo ou mínimo - sentem apenas que Bolsonaro às vezes tem avançado, mas em outras recua, revelando-se não suficientemente convencido de que é preciso desamarrar a gestão pública de todas as coisas onde o empresariado pode se sair melhor.


Com ou sem Bolsonaro dúvidas há, certamente. Uma delas, a que mais diretamente precisa ocupar atenções da população, é que o estado não tem preservado para si uma responsabilidade que sempre lhe coube, de exigir das empresas que o sucedem o cumprimento dos deveres de interesse comum; o governo não tem se adequado para impor o cumprimento das cláusulas contratuais que garantam as contrapartidas. A BR-040, essa que liga Rio a Brasília, está aí para confirmar. A variante da Serra de Petrópolis não saiu do papel, e o governo nunca se sentiu forte para exigir ou punir, independentemente de quem estivesse na Presidência da República. É apenas um caso entre muitos que há.





terça-feira, 15 de setembro de 2020

 



MULHERES E VOTOS



1 - Cinco mulheres disputam o voto dos juiz-foranos para a prefeitura: Sheila, Margarida, Ione, Lorene e Victória. Os homens que são candidatos, desta vez têm com que se preocupar. Pelas pesquisas de opinião, duas candidatas podem, hipoteticamente, estarem no segundo turno. E aí?


2 - Inédito acontecimento histórico na cidade. Seria possível a polarização nacional de 2018 dos mesmos partidos: PSL,de Sheila, e PT, de Margarida?. A deputada federal é veterana na política municipal. Foi reitora da UFJF por dois mandatos e é deputada por três mandatos. A deputada estadual Sheila Oliveira é novata na política. Foi a vereadora mais votada na eleição de 2016 e em 2018 elegeu-se para a Assembleia com grande votação.

3 – A candidata do PT é natural de Juiz de Fora, professora há cerca de 40 anos. Sheila Oliveira é de Presidente Prudente (SP), mas delegada de polícia em Minas desde 2006. Perfis bem distintos em vários aspectos.


4 - Nomes já conhecidos do eleitorado terão o dever de demonstrar o plano de trabalho para o próximo quadriênio na prefeitura. As próximas pesquisas vão confirmar ou alterar o favoritismo das candidatas. A campanha eleitoral que se inicia neste mês pode desmistificar o imaginário da população sobre seus representantes nas instituições do poder.


5- Essa abordagem é apenas teórica, sob eventual simulação de "prefeitáveis" no segundo turno de 2020. Uma campanha atípica no município, não só pelas consequências da pandemia, mas por causa da inusitada quantidade de candidatas a pressionar o eleitorado, majoritariamente feminino.



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DISPUTA ACIRRADA



1 – A campanha para a conquista de uma cadeira na Câmara Municipal não é fácil na eleição deste 2020. A ideia que se faz é que apenas três partidos caminham em condições de ter dois vereadores- PSL, PSB e PT -, isto porque, além de os candidatos estarem atrelados à disputa da prefeitura, aqueles são também mais aparelhados para ganhar os votos de legenda.


2- A se confirmar isso, previsão subscrita por experientes observadores, a futura legislatura estará fadada a ter um plenário fragmentado. Considerando-se aquelas seis cadeiras a serem conquistadas pelos três grandes, a Câmara ficaria com 13 partidos, cada qual com um vereador.


3 – Não parece razoável esperar que um dos partidos em disputa possa repetir a façanha da eleição anterior, quando o MDB passou pela legislatura com quatro vereadores, embora chegasse ao final sem nenhum deles.


4 – Com o plenário da Câmara pulverizado, a partir de janeiro, o novo prefeito não terá como fazer acertos com bancadas, mas recorrer individualmente, um a um, aos vereadores para tratar da tramitação de suas mensagens.

5 - Para o novo prefeito ou quem dele receber a missão de dialogar com o Legislativo, ela haverá de se impor ora com facilidade, porque poderá atender reivindicações de cada vereador, sem as pressões de bloco; ora com dificuldade, porque, sendo tratados individualmente, eles se sentem mais valorizados e mais exigentes.



 

O Brasil reinventado


((Wilson Cid hoje no ”Jornal do Brasil” ))


Garantem os mais animados, ante a capacidade de o Brasil sacudir a poeira de seus defeitos, que realmente ele tem jeito; mesmo com tanta gente a trabalhar para que o dia a dia continue atrelado aos vícios e à corrupção, que são, a igual tempo, a tragédia das maiorias e o caminho pelos quais vão se construindo fortunas inconfessáveis. Se é verdade que tem jeito (não custa acreditar), cabe indagar como deve estar a tumultuada cabeça de historiadores, filósofos, sociólogos, cientistas políticos e de quantos possam ser chamados a desvendar caminhos e acender faróis que alumiem os rumos de um Brasil novo, rejuvenescido; descobrir luzes para uma nação que seja capaz de trazer melhores esperanças para as gerações que estão por vir.


Certamente estamos diante de uma indagação incômoda, para mexer com a imaginação daqueles estudiosos e de quem se preocupa com o futuro, pois já nem se alimentam esperanças para estes nossos dias que correm, porque, a vida registrando tantos tropeços acumulados, o brasileiro se compraz no aguardo de tempos melhores para os filhos e netos. Para quem é de agora, o trem da História parece ter passado, e a sociedade vai marchando desanimada quanto ao imediato num mundo de estrepolias, num tempo de grandes crimes, que se dão ao luxo de isentar os poderosos. Assim, vai se tornando produto escasso a expectativa de que coisas melhores possam chegar logo, e com isso somos condenados a viver o clima pernicioso do baixo astral, que afeta até mesmo os nacionalistas mais fervorosos. Entre estes, também cada vez mais desanimados, há os que acham suficiente estar contra ou a favor do governo, quando as razões da crise vão bem além disso.


Ao se voltarem para as massas desesperançosas ou desiludidas, percebe-se que as vozes oficiais não tratam dos pecados do poder. Preferem aproveitar eventualidades e momentos cívicos, como no passado dia Sete, e apelam para o patriotismo. Antigo apelo, que acaba caindo no vazio, porque, como contestou o escritor Luís Veríssimo, não vai se pretender que o sujeito seja patriota nessa pátria dos outros, que tira de muitos para enriquecer poucos; pátria que tem sido democrática na distribuição de pobrezas e oligárquica nos favores e benesses. Assim não dá.


Quando os três poderes se somam num colossal esforço para delegar as culpas que são suas, a consciência nacional parece desembarcar do resto de esperanças. Porque os conflitos e vaidades que frutificam nas casas legislativas e nos gabinetes do governo já se estenderam, como fogo amazônico, pelos corredores dos tribunais; e com tamanho vigor, que juízes e ministros, não satisfeitos pelo que acumulam, organizam certos expedientes, que são capas protetoras para filhos e afilhados, para que também se locupletem. Em maré alta, a onda perniciosa vai mais longe, e se vale do recato de mulheres, algumas vezes expostas à desmoralização por se prestarem ao papel de depositárias de dinheiros de procedência suspeita. Nem elas têm sido poupadas.


Ora, se os poderes despencaram nesse abismo, então a quem recorrer? Onde a sociedade haverá de buscar a proteção restauradora? Boa solução seria fechar o país para balanço geral, jogar fora os resíduos apodrecidos, nocivos e imprestáveis.


É voz sensata, embora não geral, que temos de recomeçar o Brasil. Fundar um novo Brasil, com as necessárias escusas aos portugueses ( se a História permitir ), porque meio milênio depois, notamos que nem bastou a aventura das naus cabralinas. Lamentável a gente não saber por onde andam as crônicas inéditas e cáusticas de Rangel Coelho, que escreveu longamente sobre essa redescoberta, mas é fácil recordar que, para ele, o remédio seria exatamente esse. O Brasil reinventado. Isso mesmo. Começar tudo outra vez, a começar pelo Rio de Janeiro, preservada a obra com que a natureza o contemplou. Dispensar os navegadores, fechar os portos que João VI abriu e os mares em que Castro Alves navegou para denunciar a barbárie do tráfico negro. Parar o tempo e recomeçar a História. Passar a borracha nos conflitos e nos acidentes que feriram as instituições, varrer da memória as sete dissoluções do Congresso, os seis governos provisórios, a mágoa dos presidentes depostos ou impedidos, as renúncias, as cinco deposições de chefes de governo, as 19 rebeliões militares. E, o pior, a vergonha de oito ditaduras que carregamos. Enfim, limpar o passado e o presente de todos os entulhos, se for possível, cuidando-se de preservar o que ficou de bom e do bem. Porque, se nem tudo decepcionou, é preciso que as coisas positivas possam ser lembradas como exemplo.


Talvez nossos erros tenham, de fato, começado e envelhecido a partir de um passado remoto. Porque fatores vários sugerem que o mal original do Brasil foi o fato de ser descoberto, fruto de acaso ou de curiosidade, que ainda hoje servem à aventura e aos abusos. Melhor então se fosse fundado, como a obra dos quakers, que, como os portugueses, vieram do Velho Mundo, com a diferença de terem chegado com a proposta de organizar uma sociedade.



terça-feira, 8 de setembro de 2020

 


RENOVAÇÃO NA CÂMARA


1 – Recolho pontos das análises de quem acompanha a política municipal, e também vou adotar como o mais provável é que a renovação nas bancadas da Câmara Municipal ficará em torno de 50%, tal como se observou em eleições passadas. A média oscila sempre em torno disso. E as novas candidaturas que se apresentam não parecem suficientes para grandes mudanças.


2 - Ainda assim, é preciso considerar que neste ano, para animar os principiantes, estarão ausentes da disputa pela vereança alguns que certamente teriam fôlego para ganhar um novo mandato. É o caso da delegada Sheila Oliveira, que se tornou deputada estadual, e agora volta para concorrer à prefeitura.


3 – Também desta vez longe da Câmara Municipal estão Charles Evangelista e Betão, que são deputados estaduais. Outro que não disputará com os vereadores é Kenedy, que é o candidato a vice no PT, onde Margarida Salomão é cabeça de chapa. Ana do Padre Frederico decidiu não disputar a reeleição.


4- Só aí já são cinco vagas na legislatura municipal anterior. O que, em tese, ajudaria a ampliar as expectativas de maior renovação. Mas para que isso não ocorra com facilidade há outro detalhe: os vereadores que estão no exercício do mandato dispõem de um poderoso handicap: passam quatro anos em contato direto com o eleitor.


5- Na linha das dificuldades que se colocam diante dos postulantes de primeira viagem há o fato de que alguns atuais são considerados “pole de dez” para a reeleição. Pelo menos uns três.



PRESENÇA FEMININA


1 – Dividem-se as opiniões sobre maior ou menor interesse do eleitorado feminino em relação às urnas de novembro. Os mais otimistas lembram que, assim como ocorre no resto do Brasil, na cidade as mulheres constituem maioria também nos títulos eleitorais. Contudo, nas últimas eleições isso não influiu.


2 No caso de Juiz de Fora acresce o fato de serem cinco as que disputam a prefeitura. Um dado que, por si só, revela maior disposição feminina de atuar diretamente na política, além da certeza de que uma delas irá ao segundo turno; pelo menos. Inédito.


3 – Para os pessimistas: dúvidas permanecem em relação à vereança. Aqui as previsões são modestas, ainda que as mulheres tenham garantia legal de ocupar 30% das vagas nas chapas dos partidos para a disputa da Câmara. Com mais de 160 anos de autonomia política, até hoje o município teve apenas dez vereadoras.


4 – Mas a população feminina tem conquistado avanços que, mais cedo ou mais tarde, deverão levar a uma representação política maior. Tem 30% de vagas nas disputas para vereador, 50% dos recursos do Fundo Partidário e 10% nos tempos de propaganda no rádio e na TV.


5 - Em 2016 o Brasil já elegera 694 prefeitas e 7.808 vereadoras. Um crescimento de 11%. Há quem não acredita na repetição da performance, e culpa a Covid 19, que obrigou as mulheres a permanecer mais em casa, distantes da vida política. De fato, desde março, quando a coronavírus começou a se alastrar, 7 milhões delas saíram do mercado de trabalho.



 




O jogo do presidente


(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil” ))


A impressão que se tem é que o presidente Bolsonaro, assessorado ou spont sua, decidiu armar a segunda fase de seu mandato num tablado de xadrez, onde as peças se alternam de acordo com os lances que o momento recomendar. Avançam ou se recolhem, segundo a conveniência de um objetivo cada vez menos distante - a sucessão em 2022. Sua relação com os ministros tem relevado esse plano, que no dicionário de caserna é um comportamento à vezes estratégico, às vezes tático. O princípio e o epílogo de sua relação com Sérgio Moro mostraram isso, alternadamente. Os balões de prestígio do ministro foram de tal forma inflados, que passou a ser cogitação para a presidência; e aí começou seu esvaziamento, até a crise gerada com a indicação de um diretor da Polícia Federal, que, com alguma boa vontade, seria facilmente superada. Depois, veio o episódio Mandetta, na Saúde. Porque no xadrez de Bolsonaro os peões têm suas casas fixas e movimentam-se de acordo com a jogada superior; e o rei é um só. O ministro capitalizava admirações, e convinha cortar-lhe as asas, antes que se aventurasse em voos mais altos. Para tanto, o chefe nem hesitou em adotar uma singularidade: em plena tragédia de uma pandemia, boicotou a política sanitária de seu próprio governo. Algo absolutamente inédito e de evidente contrassenso.


Aproximando-se a hora da sucessão, não bastaria conter aspirações eleitorais dentro ou fora dos gabinetes do governo, como também limitar ministros que, mesmo sem intenções presidenciais, revelam-se capazes de dar a última palavra em seus setores. Nem mesmo na Economia, o que para muitos faz compreender que Paulo Guedes, mantido em fogo brando, já não está totalmente isento de fritura, mesmo que acatado nos meios financeiros e empresariais. Num projeto que almeja a reeleição não pode caber dúvida. Quem manda é o chefe.


Em outro viés, o pré-candidato decide arriscar desembarque no Nordeste, mesmo sabendo que não teria como manter uma ajuda financeira mais generosa para vastas áreas de populações desassistidas, e passando por cima de lideranças regionais cristalizadas; tipo dessas lideranças que, por exemplo, não deixam escapar de suas mãos a presidência do Congresso Nacional, onde a cadeira é propriedade perpétua de senadores nortistas ou nordestinos. Esse salto político repentino em terreno do caciquismo mais sólido do país talvez encontre explicação no espírito do paraquedista Bolsonaro. Valeria lembar que Tancredo Neves achava altamente perigoso tratar de política com esses sujeitos que saltam de grandes alturas, o que explicava suas reservas em relação ao general Hugo Abreu para tratar da redemocratização. Dizia que, se tinha cuidado até para descer um degrau, não concebia fazer acertos com paraquedas… Hoje, talvez dissesse o mesmo do presidente.


Aos adversários, em particular os que planejam medir forças com ele nas urnas, seria arriscado desconhecer que estão diante de um tablado de xadrez; e acompanhar os lances pode não estar entre as coisas mais fáceis. Roger Caillois, que escreveu ”O Jogo e os Homens”, diria que o presidente brasileiro pratica o “agon”, método em que o jogador não confia no destino, porque não pode administrá-lo; confia apenas nas pedras que já tem na mão. O que, no caso, é mais visível ainda na dissimulação, quando se indaga dele sobre os planos para 2022. Desconversa, porque, se tem o tempo a favor, o jogador procura esconder a “paixão tenaz”, como disse Dostoiévski ao traçar o perfil semelhante ao de quem procura assegurar o poder na perfeita disposição das peças. E o tempo é uma delas.



A Oposição certamente terá de entrar com sabedoria nessa partida para reduzir a história de Bolsonaro a um único mandato presidencial, contrariando pesquisas antecipadas que lhe têm sido favoráveis. Os grupos contrários ainda não mostraram com que armas e disposições vão se apresentar. Já não poderiam retomar o discurso da Justiça a serviço de perseguições e condenações políticas, porque os grandes oposicionistas estão em casa. Insuficiente também tachá-lo de nazista e direitista, porque por esse caminho farão aprofundar radicalização. Não é preciso de genialidade para saber que é exatamente de um clima radicalizado que, pelo seu temperamento, o presidente necessita.


O país precisa ampliar o debate político, discutir melhores caminhos para a sociedade, avançar nessa custosa caminhada para vencer a crueldade das diferenças sociais, e conter a violência urbana, que assume caráter de descontrole. Já é sabido o que Bolsonaro diz sobre isso. Mas seus opositores têm dever de expor e propor o que pensa e o que deseja a parcela da população divergente. É no conflito civilizado das ideias que as sociedades prosperam. Os brasileiros devem saber o que têm ou querem ter além do atual governo. Há sempre como melhorar e reinventar caminhos.








terça-feira, 1 de setembro de 2020

 


Corrupção endêmica



(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil!” )


A corrupção na vida política do país demonstra fartamente tratar-se de fenômeno endêmico, cuja morbidade agrava-se por se revelar contagiosa. Os maus políticos, na sua intensa proliferação, têm sido bem sucedidos na missão sinistra de estender essa enfermidade moral aos mais variados setores da sociedade. Primeiro, passaram lições ao empresariado, depois ganharam solidariedade e conivência de poderosos empreiteiros; de tal forma, que não são raros os serviços e obras contratadas neste país que não carreguem consigo um lastro de comissões irregulares e propinas que facilitam ou dificultam as coisas. Não satisfeitos, para se enriquecerem sem o incômodo das leis, os maus infiltraram-se, sem maiores cerimônias, nos gabinetes da Justiça, o que leva gente ligada ao setor a garantir que é ali que se arquitetam muitos avanços sobre os cofres públicos, embora se possa ter a garantia de que esse ainda é um poder que não perdeu totalmente o pudor. Depreende-se que cada qual pretenda ter sua cota na onda de uma crise moral ramificada. Exemplos de baixo e de cima é que não faltam. Se “todos roubam meu dinheiro, por que não devo retomar o que era meu? ” - dizia um humorista do teatro popular.


Políticos indecentes, para confirmar convênio que celebraram com o diabo, vêm ganhando seguidores de grupos e pessoas que atuam numa seara onde se imaginava que o crime não haveria de chegar; muito menos prosperar. Pois, deu-se o contrário, e a corrupção foi bater à porta de igrejas e salões evangélicos, um recesso em que o crime, de Bíblia na mão, talvez tenha concebido a esperança de uma bênção, um copo de água santificada; ou uma complacência dessas que os programas de televisão oferecem a granel e atacado em forma de milagre. Não se acreditava que neste mundo de cabeça pra baixo a fé e a religião fossem desvirtuadas a ponto de servirem de salvos-condutos para maldades.


Um jovem padre, de voz suave e enternecida, é acusado de desviar milhões de reais ofertados pelos fiéis, em nome das obras de um santuário. Certos pastores, já denunciados à Justiça, apreciam o estupro, e, mais recentemente, viu-se acusado de corrupção o senhor Everaldo, misto de pastor e político, presidente nacional do PSC. Consta ter sido ele o responsável pelo batismo do presidente Bolsonaro e do governador Witzel nas águas do Jordão, um pobre rio de tão belas tradições históricas, certamente sem culpa. Se os dois foram mesmo batizados, explicam-se as coisas esquisitas que têm acontecido nestes lados…


Esses novos fatos, associados a outros do mesmo naipe, levam a uma indagação, que não deixa de ser excitante. Estaria nossa gente descuidando de identificar as pessoas certas e nelas votar? Cobra-se muito dos fluminenses por elegerem seis governadores sucessivamente corrompidos e corruptores. Mas da última vez, talvez com voto de expiação inconsciente, elegeram um juiz, um homem da lei! Nem assim os hábitos no palácio tomaram rumo diferente. Qualquer governador, mais ainda se chegar revestido da magistratura, há de ter, como primeiro dever, a probidade pessoal; não é possível que pratique crimes, locuplete-se e enriqueça-se – ele e os bandos que o cercam.


De olhar voltado para os seis e para todos os que neste país trabalham diuturnamente contra a moralidade administrativa, é oportuno repetir que esse sinistro clube tem a seu favor, e a favor da corrupção, a estrutura de uma máquina administrativa promíscua na sua essência. Essa máquina, atrelada ao cartorialismo e ao despudor que se hospedam na burocracia, não raro emperra as concorrências, autoriza superfaturamentos, inverte interesses, premia falcatruas e ensina como ensaboar dinheiro sujo de origem criminosa. Essa é a estrutura que precisa ser desmanchada, para que assuma o papel do felino vigilante que espanta os ratos.


A malversação não é de hoje. A única diferença no correr do tempo talvez esteja no fato de que os bandidos perderam certo acanhamento e a moderação que antes cercavam deslizes praticados contra o interesse público. É verdade. Situações descaradas como as que temos visto com frequência nunca acabarão totalmente. Mas, pelo menos, que a corrupção perca seu caráter endêmico e contagioso, coisa só alcançável quando for desmontada a máquina nefasta e corruptora de que se servem os governos. E contando para isso com a solidariedade de Deus; até porque também Ele, graças a alguns padres e pastores desviados, deve se assustar com os casos de corrupção em seus próprios domínios. Deus conosco.