quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 



O QUE DIZEM NA TV



1 - Faltando 17 dias para se eleger o novo prefeito, a preocupação dos candidatos que não têm as melhores posições se concentra em um objetivo: obter maior votação possível para tentar influir no segundo turno valorizar o apoio a um dos finalistas.


2- Quanto aos três que despontam os discursos têm diferenças que podem ser facilmente notadas. Líder nas pesquisas, Wilson Rezato (PSB) mantém um discurso light. O que promete obedece a linhas gerais, sem especificações e sem detalhes; de forma que lhe pesariam grandes cobranças.


3 - Margarida Salomão (PT) tem seus pronunciamentos na TV focados na defesa de Lula, que considera vítima de perseguição política. Na sua campanha partidária ela está cumprindo orientação dom PT a todos os candidatos a prefeito, e muitos têm sido advertidos por descumprirem essa orientação.


4- A candidata Sheila Oliveira (PSL), que mais sofre nas redes sociais, mantém uma campanha de largas promessas. É a campanha mas propositiva do ano.


5 Uma questão objetiva que tem escapado do discurso dos candidatos, apesar de sua importância, é de onde esperam, elegendo-se, tirar o dinheiro para torna realidade o que têm prometido aos eleitores.





AS IRREGULARES



1 - Juízes e desembargadores devem estar assustados com o grande número de candidaturas até aqui indeferidas, o que se deu em razão de irregularidades diversas, entre as quais a inexistência de documentos simples.


2 – Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em todo o Brasil nada menos de 81.499 candidatos inscreveram-se sem o cumprimento das formalidades, e por isso foram impugnados. Verdade que muitos ainda poderão reverter a situação, pois recorreram.


3 - Em Juiz de Fora, depois de ter sido impugnado, poer ter sua candidatura registrada de forma irregular, Eduardo Lucas teve acolhido seu recurso, e poderá continuar disputando.


4 – A mesma sorte não teve o general Marco Felício, candidato do PRTB. Seu recurso não foi acolhido, e com ele também tornaram-se inelegíveis os candidatos a vereador. O impedimento do general deveu-se à ausência de um documento na prestação de contas de sua candidatura a deputado em 2018.


5 – Ainda segundo o TSE, outros 1.729 candidatos a prefeito foram considerados. Mas o quadro de candidaturas ainda não está completo, porque há 19.619 processos em julgamento. Outros 699 no quiseram aguardar, e renunciaram.



terça-feira, 27 de outubro de 2020

 




As casas em ordem



(( Wilson Cid hoje no ”Jornal do Brasil” )) .



Talvez seja um pouco apressada a expectativa de alguns analistas, que tomam por base recentes pesquisas eleitorais nas grandes capitais, e a partir daí passam a garantir que o velho PT entrou nos estertores, caminhando a passos largos para a falência. A constatação de próxima derrota nos centros mais influentes, o que realmente está nas previsões, prejulga o cenário melancólico, mas não suficiente para a certeza de um enterro de segunda classe. Perder agora prefeituras de expressão política, enseja a poder criticá-las depois, quando for chegada a hora da escolha do presidente e dos governadores. Se o partido enfrenta fatores adversos e vive um ano fragilizado, isso pode ter contribuído para o comando petista relegar a segundo plano o que haverão de dizer as urnas do dia 15, mas conferir prioridade, desde agora, a uma campanha centrada em 2022, quando espera enfrentar, com vantagens, a um Bolsonaro enfraquecido e devedor de compromissos não viabilizados.



O projeto seguinte também está sinalizado na decisão do partido de recomendar aos atuais candidatos a prefeito que aproveitem o palanque eleitoral, e procurem consolidar a imagem de Lula como o mártir político, vítima preferencial dos juízes e dos tribunais; ainda que sejam fartas as razões da Justiça para não descolar de seus calcanhares. Observa-se a tentativa de evitar o esvaziamento da imagem do ex-presidente, mantê-lo politicamente vivo, e com essa retaguarda buscar a retomada do poder. Convocados a participar desse objetivo, os candidatos têm acatado a orientação, mesmo que alguns sejam criticados por descuidarem dos temas locais. Mas seu desempenho na campanha municipal serve para fortalecer a convicção de que os olhares petistas não privilegiam esse novembro que se aproxima, mas voltam-se esperançosos para 2022. Portanto, seria erro primário achar que esse é um partido moribundo.



Convém, contudo, considerar que a observação preliminar que aqui se faz sobre o embate político pela posse do Planalto (ela tem quem a contradiga), deve ser tomada apenas como introdução ao exame das peças do tabuleiro da sucessão. A começar pelo PT, nos próximos meses será inevitável a reorganização das forças políticas que participarão desse jogo. Porque do jeito como se encontram hoje, sendo situacionistas ou oposicionistas, elas não estão com os cordéis em ordem para uma corrida presidencial, onde não faltarão tamanhas complexidades políticas, que o despreparo de um dos competidores pode ser fatal.



Sem o prestígio dos partidos, dos políticos de modo geral, todos sob o impacto de desgastes, a rearrumação da casa não é obra exclusiva para o Partido dos Trabalhadores, mas começa por ele, ao jogar todas as cartas na imagem de um ex-presidente, que, apesar de chegar à eleição sob o peso dos 77 anos, continua admitido e celebrado como símbolo insubstituível das causas petistas. Decidido está que ele é quem deve sustentar a bandeira. Lula, pela idade, pelas experiências vividas, não é exatamente o melhor atleta para a corrida que vai começar; e os intelectuais do partido certamente mensuram os riscos dessa aposta. Mas uma indagação também se faz pertinente: se deixar Lula de lado, quem seria seu substituto?, numa legenda onde a renovação de lideranças não é exatamente a grande preocupação.



Vejamos, contudo, que, se a principal legenda da oposição tem desafios internos e externos, nem por isso as hostes bolsonaristas gozam o direito de se considerarem em mar de rosas. O presidente, em plena campanha, e já à procura de um vice que seja capaz de facilitar a próxima jornada, também é chamado a enfrentar problemas, não menos ásperos se comparados aos que deverão infernizar a vida dos opositores. Bolsonaro nem tem partido, e nesse particular, sai inferiorizado, perde ponto, porque o PT é organizado e dispõe de militância. Alguém poderia citar o Centrão, que lhe dá apoio parlamentar, mas não é partido, nem grupo estruturado em causas politicas; é auxiliar de ocasião, pronto para desembarcar no momento conveniente. Além disso, governo não tem militância, só funcionários e adesões que duram apenas um mandato.



Com as reservas de uma reflexão que se faz com intervalo de dois anos, vê-se que as tarefas de Bolsanaro não esfolam menos os costados, ainda que nas comparações os desafios possam diferenciar certos aspectos e nuances. Por exemplo, a questão primordial do nome para concorrer ao Palácio do Planalto. A direita e as correntes conservadoras levam a vantagem de partir com um candidato pronto, esculpido e consentido, o próprio Bolsonaro. Mas a oposição, avessa à renovação dos quadros, não vislumbra um perfil adequado, preferindo sonhar o sonho impossível de um Lula ressurgente, sem novas penas a cumprir. É a primeira diferença significativa no páreo: o presidente cavalga o poder e a máquina, enquanto a oposição ainda titubeia, e tem dúvidas sobre quem vai pilotá-la.



Vantagens e desvantagens isoladas, falhas ou virtudes, elas já vão se distribuindo entre os atores da luta presidencial. Não antecipam vitória ou derrota, mas deixam muito claro que todos têm de se organizar. É o mínimo a fazer.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

 


No rastro da eleição


(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil” ))


Não será por falta de assunto, certamente, que haverão de se queixar os analistas, terminadas as eleições, e expostas suas primeiras consequências, entre as quais traçar o novo perfil dos comandos políticos delineados a partir das capitais e grandes cidades. Não faltará uma gama de temas para estudos; e sem muito tempo para conclusões, até porque alguns dos desdobramentos imediatos poderão contribuir e sinalizar para a sucessão nas governadorias e na presidência da República.


Do muito que pode ficar da experiência deste ano, avulta o fato auspicioso do sepultamento das coligações em eleição proporcional, que sustentavam um toque de artificialidade no processo de escolha dos candidatos. Os novos vereadores, onde quer que estiverem em janeiro, não mais terão sido hospedeiros de menos votados, que, como se dava em passado recente, aproveitariam-se do excesso de votos de alguns para alçar a posições que a maioria não desejou. Foi um passo importante. Oxalá os deputados, se preocupados com os respingos da inovação em seus projetos de reeleição, não queiram o retorno dessas coligações capengas e seu mercado de compensações. Desejável que não alterem o espírito da lei, retroagindo-a ao grave defeito anterior, só neste 2020 removido. Pode ser que, honestamente, se preocupem com a asfixia das pequenas legendas, que se animavam do resto de sangue dos mais votados; mas se desejarem melhorar o destino das minoritárias, farão melhor descobrindo fórmulas que lhes garantam mínima expressão, dispensados de se acoplarem aos venturosos.


As urnas de novembro haverão de trazer outras lições proveitosas, sempre a convidar pensadores políticos à reflexão. Seria o caso, por exemplo, do visível esvaziamento dos partidos como essenciais na propaganda das candidaturas; ou, ainda, no seu papel de veículo preferencial para definir lideranças. Porque as redes sociais e os templos evangélicos passaram a facilitar eleições, e nisso desapropriaram parte do poder das siglas. Condenaram a segundo plano as rédeas partidárias, muitas vezes frágeis, já que foram tomadas e administradas por força de conveniências e oportunismos. Um dado concreto para conferir base a tal observação extrai-se da campanha que está em curso: em cada grupo de três candidatos dois já vestiram diferentes camisas, alternando-se nos 33 partidos reconhecidos, numa vastidão sempre tentadora para outros voos, ao primeiro sinal de desconforto interno dos militantes.


A ruptura da robustez das organizações políticas, na verdade um fenômeno indesejável para a essência da democracia representativa, tem todas as evidências na atualidade, antes mesmo que as urnas sejam chamadas a se manifestar. Observe-se, já agora, que as grandes forças políticas da atualidade mostram-se divididas entre o presidente Bolsonaro, sem filiação partidária ( o Centrão, que o apoia, nada mais é que um navegante de conveniências ocasionais), e os opositores, outrora liderados pelo PT, mas são tudo o que não pode se chamar de organização; tornaram-se grupos e correntes sem conteúdo próprio, sem projetos duradouros. Alguém já os definiu como espécie de retalhos de uma colcha que não consegue se costurar.


Se nenhuma outra sinalização apontasse para esse problema, bastaria, por suficiência, constatar que hoje a grande luta pelo poder no Brasil está distante da legitimidade de bandeiras partidárias autênticas. É peleja sem ideário, nada mais exige além de ser contra ou a favor do governo e dos governantes. Eis outro assunto a merecer atenções para o novo cenário que vai chegar.


Atribui-se ainda ao certame eleitoral deste ano a certeza de que o fundo de recursos financeiros para as campanhas é ideia que merece ser reavaliada quanto aos seus bem intencionados objetivos. Demonstrado ficou que, com tamanha multidão de candidatos, as cotas acabam se tornando ínfimas, o que leva postulantes pobres a recorrer ao “por fora”, isto é, ao concurso e à influência do dinheiro privado, o que a lei pretendeu limitar. O critério distributivista adotado não cumpriu o que se desejou, e recomenda reavaliação.


Já se disse, com propriedade, que o melhor que se pode esperar de um pleito regido pelo voto popular são as lições. É preciso aprender com o que as urnas mostram, porque elas não se esgotam ao definir vitórias e frustrações. Os que ganham e perdem são figurantes passageiros, podem alternar seus destinos; mais do que isso, as urnas ensinam, e muito, mesmo quando os votos já forem esquecidos ou incinerados. São lições perenes. Temos muito que aprender com elas a partir de novembro.







segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

FASE DE RECURSO

Com alguma boa vontade, o Tribunal Regional Eleitoral pode apressar o julgamento do recurso da chapa do general Marco Felício, registrada para concorrer à prefeitura pelo PRTB. Seja como for, ele sai prejudicado na campanha. A chapa foi impugnada, porque o general devia documento de prestação de contas de sua recente candidatura a deputado federal. A decisão pode ser conhecida amanhã.





MUDANÇAS

À medida em que o processo eleitoral vai se delineando nas principais capitais do país, começam as especulações sobre o que muda na politica nacional. Antes de tudo: se o PT permanecer na posição incômoda em que se encontra hoje, as forças políticas de oposição ao presidente Bolsonaro terão de sofrer reestruturação, se pretenderem desempenho melhor em 2022.



UMA CHANCE

São 13 os deputados à Assembleia Legislativa de Minas que se afastaram para disputar as prefeituras onde têm seus redutos eleitorais. É o caso da deputada Sheila Oliveira, do PSL, em relação a Juiz de Fora. De acordo com o desempenho de candidatos ligados ao MDB, se um deles sair vitorioso, o primeiro suplente de deputado Isauro Calais assumirá. Em decorrência, mudanças na condução do partido.



PARTICIPAÇÃO

Pode ser um desdobramento da recente declaração do presidente Bolsonaro de que reza para ser reeleito em 2022. Tendo seu projeto político assim definido, é possível que ele pense em atuar no segundo turno da eleição dos prefeitos dos grandes centros. Certamente para apoiar os que se alinham com as forças políticas que o apoiam.



HÁ DISTORÇÃO?



1- O PSL, tanto aqui como na capital, não aceita o resultado da recente pesquisa do Ibope, que desalojou o partido do primeiro lugar na disputa pela prefeitura, e fez a candidata Sheila Aparecida Pedrosa de Mello Oliveira despencar para a terceira posição, e ainda amargando grande rejeição.

2- Para confirmar sua dúvida, que se baseia na certeza de que houve distorção metodológica, foi contratada a GMR Inteligência de Mercado para produzir nova pesquisa, que já está sendo realizada, e com divulgação prevista para quarta-feira.

3- A candidata não informou se pretende tornar público o resultado da consulta, ou se vai limitá-la a avaliação interna. A inconveniência de não dá-la à publicidade é que fica parecendo que os números não foram do agrado.

4- O que se tem convencionado chamar de distorção metodológica é o fato de as consultas aos eleitores serem realizadas via telefone. Entrevistador e entrevistado não se veem, o que pode, segundo a suspeita, tornar a informação menos responsável.

5 - A melhor expectativa em relação a pesquisas na corrida pela prefeitura fica para 10 de novembro, faltando cinco dias para a eleição. Nesse dia as consultas serão presenciais. E as empresas e os institutos encarregados cuidarão para que não haja grandes discrepâncias no que vão mostrar ao eleitorado.



RIR E CHORAR

Todos têm direito a rir ou a chorar diante do espetáculo ridículo encenado pelo senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com mais de R$ 20 milhões na cueca e em outro depósito ainda mais inadequado. Se não for para rir, então que se lamente o nível a que chegou a representação política deste país. Seja como for, há um clamor nacional, exigindo a cassação desse sujeito.



BALANÇO

Após a realização das eleições do dia 15 será possível avaliar se foi correta ou não a manutenção do calendário deste ano. Já estão registradas para a História as mudanças realizadas nas convenções partidárias, na divulgação das candidaturas e o dia do pleito. As ferramentas tecnológicas socorrem os envolvidos no processo. Os resultados de todo o evento vão demandar, posteriormente, várias pesquisas e estudos aprofundados.


O GÊNERO



Fechados os registros de candidatos, viu-se em relação a Juiz de Fora o que se deu na maioria dos colégios eleitorais. A participação feminina na disputa de cargos eletivos ganhou maior expressão, mas a presença do homem ainda predomina, com grande vantagem. Elas representam aqui 32.5% das candidaturas, enquanto em relação aos homens o percentual é de 67.5%. Na maioria dos municípios a presença delas na disputa ficou muito próximo dos 30% de vagas que a lei lhes reserva em eleição proporcional.



PARTILHA

A Justiça certamente chegará à conclusão de que as boas intenções do Fundo Eleitoral foram um tiro a sair pela culatra. Os recursos, divididos entre 19 mil candidatos a prefeito e 515 mil que disputam a vereança, acabam sendo fatias insuficiente para os gastos da campanha dos concorrentes pobres. Os ricos tiram do próprio bolso; os pobres tentem obter o ”por fora”. Seja como for, é a lei ofendida.






terça-feira, 13 de outubro de 2020

 


ANASTASIA EM JF


1 – Breve permanência, sem agenda política, o senador Antônio Anastasia esteve em Juiz de Fora na semana passada. Foi homenageado em jantar pelo empresário Marcelo Detoni, com a participação de reduzido grupo de convidados.


2 – Sendo acontecimento social, explica-se o fato de a crônica política não ter se ocupado da visita. Mas os temas políticos acabaram salvos, porque entre os convidados estava o jornalista César Romero, com quem o senador conversou.


3- Anastasia tem planos de voltar a ser professor e advogado, mas isso não é uma disposição definitiva. Ele confirmou ter seu nome cogitado para presidir o Senado, mas acha que não tem perfil adequado para isso.


4 – Defensor de uma pauta de reformas, disse ao cronista que, passada a reforma da Previdência, a vez devia agora ser dada à reforma política. Não menos importante, a administrava, segundo Anastasia, dificulta-se, porque tem o mesmo destino da seleção de futebol: cada qual quer formá-la do seu jeito.


5 – Equando se trata da tramitação, o senador acha que o governo devia ter líderes mais hábeis.




PESQUISAS


1 - Esta não pode ser citada entre as campanhas políticas mais fartas de pesquisas. Pelo contrário têm sido escassas. E várias das que chegam ao conhecimento do público são encomendadas pelos coordenadores das candidaturas.


2 – No caso das encomendadas, são pesquisas que trazem algumas dúvidas. Se tornadas públicas, é porque os números são favoráveis ao candidato que as financia. Mantidas exclusivamente para consumo interno trazem o defeito de omitir um quadro que pode revelar tendência do eleitorado.


3 – A escassez desse trabalho de campo, destinado a antecipar a vontade da maioria do eleitorado encontra, pelo menos, duas explicações: o alto custo de uma pesquisa cientificamente correta e presencial; e o fato de as consultas estarem sendo realizadas via telefone, recurso adotado como forma de evitar o contato entre pesquisadores e consultados.


4 – Nesta quarta-feira é divulgada uma pesquisa sobre a situação dos 11candidatos à prefeitura de Juiz de Fora, encomenda pela TV Integração. Estão sendo consultadas 525 pessoas distribuídas pelos principais bairros.


5 – Principalmente diante das peculiaridades que cercam as eleições deste ano, as pesquisas devem ser analisadas com cuidado. A História anda cheia de casos de grandes equívocos. Em 1952, nos Estados Unidos, Truman disputou com tamanha vantagem sobre Eisenhower, que a vitória foi anunciada de véspera pela imprensa. Perdeu. Os jornais foram retirados às pressas das bancas.



 


Eleição municipalizada


(( Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasil” ))


Por mais que se tenha como certo que, faltando um mês para as eleições, o tempo é suficiente para produzir importantes alterações em tudo que já se conhece sobre o destino dos candidatos e dos partidos onde se abrigam, pelo menos uma coisa podemos esperar, com base nas pesquisas. Elas têm sido coincidentes na disposição de grande massa eleitoral de conferir o voto com os olhos e a mente voltados principalmente para os interesses e os problemas das comunidades em que vive. Com isto, estaria no inconsciente ou no sentimento coletivo que melhor é mesmo transferir para o momento devido, mais adequado, o tratamento das questões de maior abrangência nacional, nelas incorporado o processo eleitoral de 2022, quando se elegerá o novo presidente ou se reconduzirá o atual.


O principal indício do desejo de não precipitar decisões seguintes está claro na revelação de que tanto o presidente Bolsonaro como Lula, líder do Partido dos Trabalhadores, não conseguem gozar da ampla influência que desejariam ante a escolha dos novos prefeitos; notadamente nas grandes capitais e nas cidades de porte médio, porque é ali que esperam ver funciona a linha mercurial do termômetro que aponta para tendências e indica caminhos para futuras aspirações. Fato é que os dois, rejeitados ou apoiados, sentem que neste ano não contam com a maioria para seguir os candidatos que têm como seus preferidos.


Salvo melhor juízo, contrapondo-se aos que advogam que qualquer eleição é uma oportunidade para o brasileiro se manifestar sobre a política nacional, faz bem o eleitor considerar que este novembro que vai chegando não é a hora nem é a vez de atropelar o calendário, relegando interesses dos municípios; lá onde moram, seja em metrópoles, pequenas comunidades ou nos arraiais mais distantes. Porque, quando se trata de viver as dificuldades locais, onde as pessoas vivem e onde são sepultadas, é como diria Jorge Amado, na reflexão de Quincas Berro D’Água: que cada um cuide de si, porque o incompossível não há... A água que é pouca, o lixo que é muito, a escola e o posto de saúde abandonados são coisas que os chefões federais não têm como resolver. Não têm forças suficientes para agir em todos os lugares. É com o prefeito e com os vereadores que os cidadãos têm de se haver.


Muitos entre os partidos que apoiam o governo ou a ele oferecem oposição gostariam que as urnas de novembro assumissem o papel de julgadoras, portadoras de voto plebiscitário; mais nacionalizante que municipalizante. É uma intenção que nem deixará de ser totalmente removida, mas não na dimensão que se pretendeu; isto é, produzir uma robusta prévia de tendências para o embate que está por vir dentro de dois anos, entre governistas e os opositores. Ou – quem sabe? - o voto que está para chegar faria melhor se se transformando num clamor ao presidente e ao PT para que deem mais de si e menos para si.


A partir de janeiro, além de varrer escombros deixados pelo coronavírus, os prefeitos terão de reorganizar minimamente a vida de seus munícipes. E já será muito. Bom seria que, concomitantemente, o presidente Bolsonaro e os partidos de oposição começassem a elaborar, e logo submeter à sociedade, um verdadeiro e cuidadoso projeto para o Brasil. Sem palavrórios vazios e sem enxurrada de propostas vãs. Por que um projeto denso? Ora, porque ainda não temos um projeto nacional. Precisamos tê-lo. E sem jamais olvidar aquilo que todos os governantes têm aplaudido, mas nenhum com suficiente coragem para encará-lo: fazer da educação a base de tudo, primeira entre todas as prioridades.


Cabe explicar. A educação no sentido mais amplo que lhe couber. Não só para formar gente que saiba ler e escrever, mas um povo educado, que saiba respeitar as leis, incapaz de avançar sobre direitos alheios; que não se aproveite das tragédias alheias para ganha a vida. Um povo - digamos, apenas para um simples exemplo - que não se aproveite do acidente de carretas tombadas no asfalto para se apossar de cargas saqueadas.





terça-feira, 6 de outubro de 2020

 




Eleição para melhorar


((Wilson Cid hoje no “Jornal do Brasill”))


O tempo raramente se deixa atropelar, quando a questão é saber se o voto popular resultou em frustração ou se contribuiu para ampliar a qualidade política ou técnica do serviço público. É preciso deixar que corram alguns meses para que se elabore avaliação menos susceptível de erros. Certamente não constituirá exceção o pleito que aguardamos em 15 de novembro; depois, esperar o desempenho dos prefeitos e vereadores.


Quando se analisa o novo painel traçado pelo Tribunal Superior Eleitoral, com o perfil dos candidatos e a presença dos partidos, alguns aspectos com sinais positivos, mesmo que a próxima convocação do eleitorado se faça cercar ainda das muitas dúvidas coronavirianas. Mas essa pandemia, que se arrasta por oito meses, tendo matado dezenas de milhares de cidadãos votantes, conduz, não propriamente a um alento, mas certo alívio, porque podia ter trazido consequências bem piores; e nem eleição fosse permitido. Nada é tão ruim, que não possa ser pior, ensina o brocardo.


No final do registro das candidaturas a primeira novidade permitiu admitir que vamos marcando passo, ainda que modestamente, rumo a um melhor nível de inclusão social. Viu-se que 40% dos postulantes a cargos eletivos revelaram-se negros ou pardos, o que quase sempre se omitia em anos passados. Algo, parece, não apenas simbólico, mas sinal de algum progresso no longo e penoso esforço na ascensão de uma raça para ganhar espaço no poder político. Constituintes da metade da população brasileira, negros e pardos têm sido os mais enjeitados pelo status governamental, desde a organização municipal até altas elites da esfera federal.


Independente do julgamento de maiores qualificações para os cargos em disputa, missão confiada a quem vai votar, essa nova realidade confirma o acesso mais amplo de etnias postergadas ante um direito essencialmente político.


A população feminina, tradicionalmente vetada no campo das principais decisões político-administrativas, marca neste ano alguns pontos para sua participação no processo eleitoral. Ainda que longe do ideal de equidade para os gêneros; tanto que, em 26 capitais, em cada dez candidatos a prefeito elas são três. No interior essa participação costuma ser mais expressiva, principalmente entre os postulantes à vereança. Ora, constatado que mulheres e negros formam a maioria da população, não faz sentido que continuem ocupando espaços menores na vida pública brasileira.


Outro passo a merecer referência, embora sem a expressão dos anteriormente citados, quando se trata de dar abrigo a direitos individuais, é que, pela primeira vez, a Justiça permite que candidatos transgêneros se registrem com o nome social. O assunto não deixa de ser controverso; mas prevalece o avanço, por mais que camadas conservadoras da sociedade reajam ao comportamento sexual dos indivíduos. Não havia mais como lhes negar esse direito, até porque a Justiça Eleitoral de há muito já faz concessão no registro de candidatos que relegam o nome de batismo para se apresentar ao eleitorado com apelidos, expressões debochadas ou preferem se mostrar pela atividade profissional que exercem.


Mas, digamos se tais avanços tivessem sido adiados, ficassem na dependência de novos estudos. Pois, ainda assim, o pleito municipal que se avizinha teria a seu favor, para aperfeiçoá-lo e para impor respeito ao voto, o fim da sinistra coligação de legendas em eleição proporcional. Um escândalo que havia sido incorporado à legislação, com a esquisitice de permitir a eleição de quem não tinha votos suficientes, com grave ofensa ao direito do eleitor, cujo voto passava a ser tábua de salvação de candidato não desejados.


Rondam esse 15 de novembro certas dúvidas, a começa pelo temor de que a massa eleitoral mobilizada amplie o risco de contágio do vírus. Pode ser que as urnas não ajudem o brasileiro a escapar desse medo e das incertezas que conosco deitam todas as noites e despertam todas as manhãs. Pode ser. Mas esta será, com certeza, uma eleição para acrescentar algo mais na convivência com a democracia. Nem que seja para mostrar que precisamos aprender a votar melhor. Dar o voto a políticos probos e competentes para ocupar os gabinetes e os plenários. Não precisamos deles na cadeia.