O domingo sinaliza
(( Wilson Cid hoje no ”Jornal do Brasil” ))
Vai além da suposição, mas quase uma certeza, que a definição, no próximo domingo, das lideranças políticas de várias capitais e grandes colégios eleitorais, haverá de ensaiar a partida para o embate de poderes a que vamos assistir em 2022. Sobram razões para esperar que nessa eleição será possível ouvir a voz de 57 dos maiores centros urbanos do país, onde vivem e votam 147 milhões de brasileiros, afora tratar-se do notável peso politico e econômico que exercem. São dados que permitem aceitar, mesmo que para primeira avaliação, que será um domingo significativo, porque são novas ou consolidadas lideranças que começam a influir nas futuras candidaturas de governadores e do presidente da República. Para uma empresa tão complexa, 24 meses não são tempo tão vasto, como equivocadamente se poderia imaginar. Quem tem de trabalhar deve começar logo.
Se o 29 de novembro, sejam quais hajam sido os eleitos ou os partidos contemplados, acende primeiros sinais para a jornada seguinte, ideal é que nesse dia amanhecessem novas lideranças, enriquecendo com ideias e virtudes o atual cenário político brasileiro, que padece de raquitismo. Não havendo grandes renovações, que, pelo menos, as urnas chamem às falas certas chefias veteranas e mandonas, totalmente fora de forma, ultrapassadas e pobres de ideias. A esperança é desejável, mas é de lamentar algum pessimismo em relação a novos tempos, quando a realidade dos fatos expõe a imensa confusão que domina e inspira nossas elites. Preocupa mais ainda, porque são elas mesmas que já vão se inscrevendo para influir e escalar os atores, os de sempre, na luta pelo poder em 2022. Eis a clareza absoluta.
Não constituiria algo complicado para qualquer observador, minimamente informado sobre a política nacional, sentir que temos caminhado na velha rota das repetições. Terá como confirmar, quando lança o olhar sobre a eleição que virá dentro de dois anos, e sente o Brasil sob ameaça de continuar padecemos de melhor destino. Os homens perpetuam-se, instalam-se nas oligarquias, não cedem espaços, como se a renovação de pessoas e ideias não mais significasse imposição dos tempos.
Peguemos a radiografia de quantos têm sonhado chegar ao Planalto em janeiro de 2023. Basta colocá-la contra a luz da política e perceber que nela são pálidos, muitas vezes imperceptíveis, os perfis de virtudes e ideias capazes de desamarrar o país do passado e do atraso.
Comecemos pelo presidente da República, que não mais dissimula disposição de pleitear outros quatro anos de mandato. Mais pelas palavras, menos pelo que governa, ele até sugere duvidar do sincero propósito de esticar a permanência no cargo, tamanha a coleção de descuidos políticos que vai produzindo com singular facilidade. Nos lances mais recentes, não faltou a imprudência diplomática de torcer para o derrotado na eleição americana. Ou a interferência ideológica na corrida pela produção de vacinas contra a Covid; e, logo depois, o tiroteio em várias direções para culpar quem rouba a floresta amazônica. Faltam-lhe cuidados indispensáveis ao estadista que pede mais tempo para entrar na História. Reconheça-se que em Bolsonaro a polêmica é parte do cardápio de preferências, tomada como caminho certo para a desejada radicalização. Mas não garante que seja fácil renovar a receita que o salvou em 2018.
Se inseguros andam navegando a direita e o centro-direita, sob o leme de um presidente que altera rumos e desafia os ventos, travessia menos tormentosa não aguarda a esquerda, que no recente primeiro turno da eleição municipal confirmou certa ojeriza a qualquer ideia de harmonização de suas correntes, sob a teimosia do desgastado PT em perpetuar como ícone um ex-presidente intocável e impermeável a renovações. Tradicional deficiência a serviço dos adversários, que nisso vêm somando pontos.
Não será arriscado afirmar que, para as correntes da oposição ao atual governo, 2022 traz a desvantagem do desentendimento, exatamente onde precisava imperar harmonia e coincidência de propósitos. Sem que escape uma observação oportuna e instigante: para os opositores o tempo se revela exíguo, porque, ao contrário dos segmentos de direita, que têm Bolsonaro já formatado e escalado para o jogo, os que não o querem continuam tateando em busca de soluções isoladas e distantes entre si. Não conseguem vislumbrar a identificação da candidatura consensual. Foi, aliás, o que sugeriu recente reunião entre o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes, que pouco mais acertaram, como moços comportados, além de não trocarem cusparadas. Nada mais do que isso; se é que conseguirão não se atropelar no meio do caminho.