terça-feira, 25 de maio de 2021

 


Pesquisas e adivinhos




((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))





As pesquisas eleitorais, até que se confirmem ou se desautorizem, são como antigas cortesãs, cuja beleza se celebrava segundo o gosto do freguês. Os candidatos apostam que estão corretas, quando os números lhes são favoráveis, mas capazes de encontrar muitas razões para suspeitar, se revelam melhor a performance dos adversários. É uma verdade velha como a Sé de Braga, mas sempre há na política quem seja capaz de levá-las a sério, como agora, quando se tenta saber da sorte dos candidatos que estarão disputando a presidência da República daqui a 16 meses.


Com tanta coisa por acontecer, num país em que a gente nunca sabe com que novidades haveremos de acordar amanhã cedo, diríamos que as tendências publicadas não são muito diferentes dos adivinhos. Faltando tanto para que esses senhores digladiem (quantos serão?), levar essas pesquisas a sério é, portanto, tão imprudente como praticar salto no escuro.


Há dias os questionários recolhidos por alguns institutos asseguravam que o presidente Bolsonaro reunia condições para vencer no segundo turno, se seu opositor fosse Lula. Pois na última semana, em grande guinada, as preferências passaram a ser creditadas ao possível candidato do Partido dos Trabalhadores, que, ao contrário do rival, já liquidaria a fatura na primeira votação.


Não custa lembrar o mais recente tropeço nas aferições eleitorais, quando elaboradas com grande antecedência. Em 2018, o Ibope, ao projetar os números de suas planilhas, anunciava que Jair Bolsonaro perderia, no segundo turno, se o adversário fosse Haddad, Ciro ou Alckmin. Pois o que se viu foi diametralmente o diverso.


Não só aqui. Vários países, onde se processam eleições democráticas, recomendam cuidado. Os Estados Unidos aprenderam a ter prudência em relação a consultas prematuras, desde 1948, quando o país inteiro foi pesquisado, de forma que ninguém duvidou da vitória de Dewey, mas foi Truman que venceu. Quatro anos depois, dava-se com folga a reeleição do presidente que havia surpreendido; contudo, saiu derrotado por Eisenhower. Os exemplos são muitos.


Hoje, todos os candidatos à presidência da República, os anunciados e os que ainda podem chegar, ignoram completamente o que os aguarda em novembro de 2022. Quando chegar a hora e a vez das urnas, que país será esse que pretendem governar? Pois nem têm como prever, desde já, o que estarão pensando milhões de eleitores, por hora apenas preocupados com a sobrevivência e com a pandemia.




                                           O presidente na roleta


O presidente, entre a cruz e a espada, tem sido pressionado pelos que defendem a reabertura dos cassinos, como forma de ampliar a arrecadação de impostos e deter a evasão dos apostadores; e, de outro lado, instado pelos que veem no jogo o instrumento de corrupção e degradação. Entre estes, tem se manifestado a ministra da Família, Damares Alves, que identifica ali o dedo do diabo. Não se pode prever como agiria Bolsonaro, se tivesse de decidir; mas sabendo, de antemão, que haverá de enfrentar críticas e lamentos, qualquer que seja o caminho que pretendesse adotar.


O senador Ciro Nogueira, do Piauí, capitaneia a bancada que propõe a regulamentação, animado por expressivo número de parlamentares que integram a base governista, num conflito aberto com os grupos religiosos, notadamente evangélicos, estes também bolsonaristas de envergadura.


Não é só no colo do atual presidente que o assunto dorme, renasce e de novo se recolhe. Fala-se disso desde Gaspar Dutra, que trancou as portas dos cassinos, por achar que contribuíam para a degradação das famílias. Na verdade faltam, de ambas as partes, argumentos convincentes. Querem alguns que o jogo pode levar os mais pobres à miséria, mas só por isso não convencem, porque cassinos hospedam os ricos; tanto que são eles que vão jogar em Las Vegas e Monte Carlo, onde só com muito dinheiro pode-se viver a vertigem do ganho e a febre da perda, a mesma excitação do jogador de Dostoievsk. Assalariados não voam tão alto, e se, viciados, contentam-se com a fezinha no bicho, séria instituição, que, ao contrário da Constituição, vale pelo que está escrito, honrada desde que inventada, em 1888, pelo barão de Itabira do Mato.


Dizer que o país arrecadaria mais impostos também é duvidoso, tomando-se por base nossa elevada competência para sonegar durante o dia; quanto mais nas madrugadas de luzes e roletas distantes da fiscalização...


Outra coisa é que, em rigor, as lotos, lotomanias e megas, que empregam milhares e promovem sorteios diariamente, já conseguiram cobrir o Brasil com um vasto pano verde; e nem por isso as misérias deixam de prosperar. Sente-se, então, que vivemos o singular debate sobre liberação do jogo no país que mais joga em todo o mundo.




terça-feira, 18 de maio de 2021

 


Partidos demais atrapalham



(( Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil"))  



Em condições de normalidade política já seria suficiente, para espanto geral, o fato de um presidente da República pelejar, mais de ano, para descobrir o partido em que possa se filiar, e ali construir seu projeto político - fato inédito –, depois de fracassar na tentativa de criar um para uso próprio. Mas há outras razões para desconfiar, inclusive por terem várias legendas, não menos de uma dúzia, mudado o nome original, sem motivação programática ou ideológica, porém subservientes a conveniências do momento; e tentar ganhar mais adeptos. Para tanto, não titubearam em requerer novas certidões de identidade, sem que para isso faltasse a boa vontade do Tribunal Superior Eleitoral. Foram rebatizados com nomes mais convenientes. São duas realidades que socorrem a quem condena as deformações da organização partidária brasileira, defeito que já vem somando tempo.


Os partidos, salvo breves exceções, nascem e têm sobrevivido com base em princípios vagos e imprecisos. Atualmente são 33, em sua maioria carentes de autenticidade, mas resultantes de mistificações, criados em gabinetes fechados, onde raramente alguém se preocupa em saber o que a nação pensa sobre eles; e deles o que deseja. Daí a falta de ideias e ideais, o que se confirma amplamente para citar o fenômeno do momento, quando a sucessão do presidente Bolsonaro (de governadores não tanto) vai sendo discutida apenas entre possíveis caminhos da esquerda, direita e do centro, onde facilmente os partidos podem esconder a carência da identidade própria. O que também explica o hábito de os agentes políticos, principalmente deputados, poderem entrar, sair ou retornar às antigas sedes, sem maiores cerimônias e recatos. E tudo acaba ficando como sempre foi.


Desse quadro melancólico extrai-se a constatação de que, não satisfeitos com a fartura das 33 organizações já registradas na Justiça, 70 grupos interessados formam uma alegre fila, pleiteando registro, constrangendo os ministros, chamados a votar e liberar postulações pífias. Nem se poderia queixar-se de falta de humor, quando se fala em Partido dos Animais, das Sete Causas e Partido dos Piratas, entre outras extravagâncias, que merecem recusa “in limine”; já na fase postulatória, para que se evitem vexames e deturpações na já sofrida política brasileira.


Quando se chega a um quadro assim, muito próximo da licenciosidade e ampliando a coleção de aventuras políticas no Brasil dos nossos dias, vê-se que sobrenada a isso uma boa oportunidade para o Congresso Nacional e os tribunais estudarem a conveniência de certas restrições, talvez ainda em tempo de colocá-las a serviço das eleições de 2022. Necessitamos de partidos menos numerosos, mas com programas mais elaborados e sérios propósitos. O que faria muito bem ao Brasil e ao eleitorado. Feito isso de imediato, depois, aprofundando um estudo mais cuidadoso, teríamos tempo para discutir a redução de tantas siglas a um número razoável, de forma que nelas possam ter acolhida todas as tendências políticas e ideológicas. Cinco ou seis talvez fossem suficientes, com o que já têm acordado vários cientistas, amigos do aperfeiçoamento e adversários da pulverização partidária, que não tem sido boa para a democracia representativa.



Jacarezinho, a senzala



Aquela cena das mulheres e moças do Jacarezinho, cerca de 60, comprimidas em ruas estreitas para denunciar a ação policial contra os traficantes da favela, antecipou, por algumas horas, o 13 de Maio. Antes delas, a tragédia de 30 mortos já tinha avançado no calendário, para que não passasse em branca nuvem infâmia da escravidão, que acabou sem ter acabadoValeu o protesto, porque não se pode dizer que os enjeitados da sociedade sejam coisa do passado, pois persistem, de outras formas, as antigas maldades do cativeiro. Aquelas mulheres não se deram conta, nem perceberam isso, porque, embora raivosas, só pediam nada mais que um pouco de paz. Todas negras, muitas com o ventre mal coberto, que amanhã ou em qualquer outro dia haverá de gerar meninos que ali já nascem condenados atrabalho servil exigido por traficantes, versão atualizada dos antigos feitores e capatazes. As crianças saltam para a vida e crescem para serem escravas, com a diferença de que as mãos já não vão seguraenxadas, mas empunhafuzis. Até a pena das chibatafoi transformada decreta a eliminação sumária dos desobedientesPorque no Jacarezinho o tempo recuou para revogar a Lei do Ventre Livre. Úteros condenados a alimentar gerações de ajudantes escravizados, humilhados no papel de capitães do mato ou mulas, com suas cargas de pó branco. E ojovens vão crescer deserdados de qualquer coisa parecida com a Lei dos Sexagenários, porque não terão chance de envelhecer. Só por milagre haverão de escapar das refregas com a polícia ou tombarão na guerra das gangues, que não param de disputar espaços para traficar mais e mais. A favela não deixa a escravidão morrer, todo dia coberta de sangue negro.



terça-feira, 11 de maio de 2021

 

(( Wilson Cid, hoje, no ”Jornal do Brasil” ))

 


Palavras mal ditas



uma pergunta sobre o que seria, hoje, o maior problema do governo e da governabilidade, é sabido que muitos têm pronta a resposta na ponta da língua. O maior desafio, que o próprio governo se encarrega de agravar, é a palavra, se desnecessária ou inoportuna, mas principalmente quando se reveste de impropriedade. A começar pelo presidente, com a fiel assistência de alguns ministros e colaboradores menores, a origem de maus momentos que temos vivido detecta-se, facilmente, no descuido quanto ao dizer as coisas. Nos pronunciamentos oficiais já se tornou habitual a palavra chegar em momento inadequado. O que é grave, principalmente no exercício da política, onde jeito de dizer, se exerce o milagre de construir, também é capaz de se tornar desastrosamente demolidor. Lançados ao vento, sem adequada medição das consequências, os discursos de Brasília têm gerado constrangimentos de toda ordem, a curto ou longo prazo, facilitando o surgimento dessas crises que raramente passam uma semana sem mostrar seus tentáculos no noticiário. Percebe-se, então, que o problema é maior entre todos, exatamente por se disseminarem com facilidade as falas descuidadas, fora de hora e de lugar. A palavra mal dita. Se não é bem dita, destrói.


A observação faz sentido, merece registro, porque é crescente o número de pessoas com sensatez criticar e sugerir que o presidente Bolsonaro guarde maior cuidado com o que diz nas suas improvisações, sempre aguardadas com justificados temores, por causa dos impasses que costumam facilitar. Já não se trata apenas de recomendar certa elegância do homem públicoa começar por abandonar baixo calão, que quebra a seriedade recíproca entre o governante e população. Há até quem ache graça nessa linguagem de quintal, mas ela acaba comprometendo o respeito devido ao presidente; e o respeito dele por todos. Nem falta quem veja intencionalidade no palavreado bolsonalista. Seria a busca de um estilo populista, mesmo que tropeçando no popularesco.


Seja como for, têm razão os que se preocupam com isso. Ainda mais recentemente ocorreram alguns exemplos do descuido, com tudo para tornar inevitáveis as consequências. Bolsonaro, antes dele um de seus filhos, e agora o ministro da Economia investem um discurso desabonador em relação aos chineses, acusados, com base em meras suposições, de alta responsabilidade na crise sanitária que vive o mundo. Antes da investida, houvesse mais recato em relação às palavras, cuidariam os denunciantes de saber até que ponto as dúvidas devem prosperar em relação aos governantes e cientistas daquele país. Nada a dificultar a apuração e o diálogo, até porque continuamos encontrando no regime de Pequim os maiores compradores na pauta das nossas exportações.


Mas não ficam apenas com aqueles fregueses os casos de palavras descuidadas, essa arte que, como se percebe, vem ganhando maestria no atual governo. O presidente garantiu, sem saber exatamente em que bases legais, que as eleições de 2022 só se farão se for com a comprovação de votos impressos. Ou assim ou nada feito. Mas, afinal, que pode levá-lo a condicionar um pleito presidencial ao modelo do voto? Por que a desconfiança pelo voto eletrônico? Bolsonaro continua lançando mão de um argumento de suspeição: em 2018 teria batido o Partido dos Trabalhadores e seu candidato já no primeiro turno, não fossem as manobras da tecnologia. Mas nada além de uma suspeição. Na contramão de suas dúvidas, as experiências e a História eleitoral não autorizam considerar o voto eletrônico menos confiável e mais susceptível a fraude, entre outros vícios muito mais facilitados no voto impresso.


Na administração do país as coisas sempre se explicam melhor quando alinhavadas com palavras adequadas, mesmo se o governo incorre em equívocos nas proposições. Não apenas quanto a eventuais reservas em relação aos chineses ou condicionar a realização de eleições ao gosto pessoal, é preciso falar com cuidado e responsabilidade. O que também permitiria lembrar, na cascata dos descuidos, a ameaça presidencial de quebrar as limitações ao culto e às restrições sanitárias, com base em decreto a ser cumprido “de qualquer maneira”, expressão arbitrária, que, mantido o sentido, podia ser substituída por algo menos agressivo, sem constituir novo desafio aooutros poderes, onde as relações com o governo já andam pra lá de acidentadas. Além do mais, fazer com que se cumpra um decreto a ferro e fogo soa como ferir elementar direito à divergência.


Interessante seria Bolsonaro refletir que grandes homens, quando o destino os elevou ao topo do mundo, sempre cuidaram de falar com cuidado, e apenas o suficiente. Por isso, usaram poucas palavras para mudar o curso das civilizações. Cristo precisou apenas de quatro minutos na montanha para um sermão que foi a alforria da humanidade; Lincoln, só em um minuto, definiu em Gettysburg a moderna democracia, do povo para o povo. Há, portanto, saudáveis exemplos da virtude de falar pouco, com palavras certas, nos lugares certos. E apenas o necessário, como voltaria a recomendar George Burns (1896-1996) se conhecesse o presidente brasileiro: o segredo de um discurso é ter um bom começo e um bom final, e que sejam o mais próximo possível um do outro…



 

terça-feira, 4 de maio de 2021

 


Em apoio aos radicais



((Wilson Cid, hoje, no”Jornal do Brasil” ))



Semelhante ao barco de Robinson Crusoe, imaginado por Daniel Defoe, o Brasil vai batendo nos recifes, mas sobrevivendo a repetidas tempestades, mesmo que carente de timoneiros capazes de enxergar o porto seguro. Ainda assim, o país é capaz de reunir fôlego para colecionar esquisitices, uma das quais originária do Supremo Tribunal Federal, que decidiu incursionar corajosamente nas atribuições do Congresso, ordenando que ali se instalasse a CPI da Covid. Não satisfeito, foi além, garantindo a relatoria aos cuidados de Renan Calheiros, senador que há meses vivia recolhido em exílio voluntário, preocupado em escapar de holofotes incômodos. Depois, a corte dos togados expandiu os voos e foi bater à porta do Executivo, para determinar que realize um censo populacional. Interessante notar que, se as excentricidades regem as relações entre os poderes, e são fartos os hábitos exóticos, é quando o Supremo passa a mandar mais; exatamente na fase em que amarga desprestígio, totalmente desrespeitado pela sociedade. Quanto mais fraco, mais pode, mesmo à custa de produzir perplexidades. Ainda agora, os ministros preocupam-se em saber se o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, utilizou-se de recursos partidários nas redes sociais para dizer os horrores que tem atirado contra eles, rebaixados ao mais baixo nível de tratamento. Parece não interessar o que Jefferson dispara, mas saber de onde tira suas armas…


Se o Brasil de Crosoe encalhou de vez na desgovernabilidade, para tanto terão contribuído essas e outras invasões praticadas no terreno de responsabilidades tripartites. Cada um dos poderes se acha no direito de avançar sobre os outros, e, ignorando os limites instruídos pela Constituição, vão contribuindo, e muito, para fermentar um clima de radicalização que antecede a campanha eleitoral de 2022. De fato, os três poderes, em constante e agressiva desarmonia, animam os grupos e partidos políticos a não se contentar com diferenças de ideias e propósitos; pelo contrário, cada vez mais dispostos a digladiar com ferro e fogo.


O que resta muito ruim, porque o discurso de hostilidades e de ofensas também acaba condenando ao lixo as verdadeiras questões nacionais, que são muitas e aflitivas; questões que, desde já, vão se sacrificando no exercício demolidor de esquerda e direita, embora capazes de convergir em um ponto: ambas empenham-se em cassar do eleitor o direito de ter maiores opções em 2022, mas deixá-lo emparedado entre ser contra ou a favor.


Juízes, de que tribunais forem, executivos e legisladores, quaisquer que sejam os cargos em que se encontram, deviam saber que, ao mesmo tempo em que se armam, também armam patronos e promotores de tensões. Em suma, trabalham para impedir que o Brasil se liberte desses recifes onde suas quilhas têm encalhado.



Onde estão os sindicatos?



Foi-se o Primeiro de Maio, mas ficou no ar uma indagação. Onde estão os sindicatos e suas poderosas federações?, tão presentes e reivindicantes em tempos passados, e agora totalmente recolhidos. Omitiram-se na festa do Trabalho, num dia que sempre foi digno de celebração, para festejar, e, muito mais, para levantar queixas e reivindicações.


O que se viu no sábado, por todos os cantos, foram as antigas concentrações cedendo ruas e praças aos patrões que se bolsonarizaram, aos evangélicos e a inimigos das restrições sanitárias. São os novos atores de maio, já vestindo as cores com que começam a tingir o Brasil a caminho de um parto difícil, com as contrações e dores de uma eleição perigosamente radicalizada. Os que pensam diferentemente, recolhidos, fariam bem se não se contentassem em xingar o presidente, mas perceber que a direita atingiu bom nível de organização, e se revela eficiente para mobilizar o bolsonarismo. É um fato concreto para quem seja capaz de enxergar alguma coisa.


Dia sem os 14 milhões de desempregados ou empurrados para a informalidade, inseguros nas empresas grandes, médias e pequenas, que se arrastam à sombra de uma economia claudicante; e tudo isso somado ao universo da vida laboral passando por enormes transformações, onde a máquina e a tecnologia cada vez mais se disponibilizam para substituir a força e a inteligência humanas. Com a epidemia que grassa, também são incontáveis as atividades hibernadas em casa. Outro desafio.


E os sindicatos? Sumiram, quase morreram, asfixiados com o fim de um imposto paternal que os sustentava, mas que, se pôs fim a muitos abusos, também esvaziou recursos para a mobilização das categorias.


Como essas organizações pretendem - se é que pretendem – enfrentar as novas realidades que vão se impondo a todo vapor? Se for o caso de retomar antigas forças e renovar os ânimos, deviam começar fazendo o PT se penitenciar de ter estimulado a criação de variadas entidades de mesmas categorias de trabalhadores, o que acabou levando à concorrência entre elas. Os governos do partido não sabem o mal que fizeram, com o bem que quiseram fazer.


Foi esse universo de desafios que ficou no rastro de um Primeiro de Maio insosso, desanimado, embora colorido, sem trabalhadores nas ruas, além de desvirtuado por questões fora de lógica para a data, como o retrocesso do voto impresso e a ignomínia do apelo a uma intervenção militar.