À beira do abismo
A situação do presidente Michel Temer atingiu seu ponto crítico,
mais alto, porque o volume dos problemas que o cercam é agora de tal ordem e de
tal volume, que escasseiam os recursos de defesa. No Congresso Nacional, a
despeito de ter ele construído ali um modelo de diálogo altamente proveitoso,
percebe-se que as defecções na base aumentam na medida em que os parlamentares
se preocupam em não arriscar prestígio na defesa de um governo que desce o
morro. Ainda assim, é no Congresso que o governo pode lançar uma última
cartada.
Mas, ainda que se aceite posição favorável para Temer junto a
deputados e senadores, cabe indagar se esse apoio momentâneo, em momento
crítico, se estenderia amplamente, no depois, para garantir a governabilidade.
Temer escapa. Mas escapa o resto de seu mandato? É no mínimo duvidoso.
O ministério, como está ou como sobreviver, terá fôlego para se
manter?
Sobre o Supremo, onde vão bater os pedidos de condenação do
presidente. Talvez Temer possa contar ali com postura semelhante àquela que o
Tribunal Superior Eleitoral mostrou com o voto de minerva do ministro Gilmar
Mendes, no julgamento da chapa Dilma-Temer. Naquela hora não se julgou o
conjunto das provas condenatórias; o que se decidiu foi evitar uma nova crise
resultante do afastamento do presidente. Afastar um presidente é remédio sempre
amargo e nauseante. Talvez os ministros pensem nisso, e seja preferível tolerar
a crise de hoje para evitar uma crise ainda mais sensível em agosto. O mês aziago
na política.