sexta-feira, 22 de junho de 2018








Nesta quinta-feira, o Jornal do Brasil, de cujo corpo editorial faz parte o autor deste blog, publicou interessante e oportuno editorial, que tomamos a liberdade de reproduzir. 


Hora de um governo discreto


Os governos, quando estão em hora de afivelar as malas, abrindo espaço para os que vão sucedê-los, elaboram ato muito próximo da irresponsabilidade se decidem incursionar em ações de maior complexidade. Quando agem assim, precipitam-se, entrando, inevitavelmente, em conflito com os reais interesses da Nação. Citou-se aqui, na terça-feira, exemplo cristalino, com a denúncia do açodamento do governo federal ao tentar impor profunda cirurgia ao patrimônio da Eletrobrás, convocando investidores a participar das distribuidoras, afetando a estrutura da empresa, sem que para eles sejam transferidas informações essenciais e cuidados necessários. Escandalosa inoportunidade,  pois para ela antevê-se a possibilidade real de uma outra  diretriz, a ser adotada pelo próximo governo. Ficaram dúvidas para quem pode investir e para os interesses do país. O processo de oferta descuidou de antecipar estudos mais consistentes, o que seria recomendável, ante a própria complexidade do tema em tela.

A gestão do presidente Michel Temer caminha para seu último semestre, sabendo que logo estará encontrando pela frente uma eleição, que certamente construirá novo cenário político-administrativo no plano nacional, como também nos estados, que são peças importantes para a nossa estrutura federativa, ainda que capenga e desengonçada. Somos  uma Federação, e as unidades que a integram têm grave poder de decisão. Apenas uma referência, para lembrar que eleição pode mudar não só no geral, mas também nas unidades agregadas.   

Seria temerário arriscar qualquer tentativa de alterar peças essenciais de um modelo de governo que, sem dúvida, ganhará novos contornos, sob a égide da manifestação das urnas. Isso parece claro, pois, qualquer que seja o candidato vencedor em outubro, não terá ele como preservar a herança de um governo acidental, como o que vai caminhando para o crepúsculo. Da mesma forma, seria ruinoso agitar o semestre derradeiro com grandes polêmicas, tais como sair em busca de maiores novidades na economia, na reforma da Previdência, e, em escala não inferior, a reforma política, que, de tão demorada, melhor agora que espere a futura composição do Congresso Nacional.

Na reta final que lhe resta, ao presidente Temer cabe trabalhar para impedir que se agravem os problemas que frequentam o nosso dia a dia. Se não deixar que se aprofundem já terá feito algo importante, como conter a deterioração da segurança pública; e a carestia, que na cesta básica das donas de casa denuncia uma inflação vitoriosa apenas num pedaço da guerra que lhe foi prometida. Ademais, cabe ao presidente, e talvez como sua principal tarefa política para fechar a gestão, conduzir o país a uma eleição que se processe em ordem, sob as garantias de plena liberdade do eleitor. Quer dizer: fazer tudo que fica bem a um magistrado em fim de percurso.

Nos estados de grandes responsabilidades - observe-se -  os presidentes e os primeiros-ministros não ousam provocar dissidências e maiores polêmicas, quando vai chegando a hora de apagar as luzes do mandato. Recolhem-se às causas que não excitam maiores divergências políticas, aquelas que podem perturbar o futuro imediato. Ainda há pouco, Obama, nos Estados Unidos, cuidou de assim proceder, como também se viu em alguns países da Europa. Em nenhum deles se assistiu, nem teria cabimento assistir, a casos idênticos ou semelhantes à tentativa de desfigurar uma empresa da dimensão da Eletrobras. Nem pensar!

Efetivamente, governos no ocaso só deixam de ser discretos em caso de guerra ou se forem instados pelo imprevisto. Mais nada mais além disso.






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