Polêmico e polemista
Se qualquer avaliação do governo Bolsonaro possa parecer precipitada, quando ele apenas vence o terceiro mês de mandato, um detalhe que certamente não pode escapar ao julgador é que a maioria de suas confusões até agora conhecidas vem de um presidente que prima pela polêmica; algo que parece verdadeiramente entranhado em seus costumes. A observação faz sentido, porque, na avaliação das coisas que ele diz, seria equivocado defini-lo apenas como dono de uma incontingência verbal. As entrevistas e os improvisos, geralmente seguidos de protestos e acusações, já denotam um estilo, que tanto pode produzir boas como más consequências. Mas sempre produz.
Enquanto diz o que vem à cabeça, e com isso acirrando discussões acaloradas, Bolsonaro relega a segundo plano a pauta das questões sociais importantes, transferidas para momentos mais propícios. Dá tempo ao tempo. E sai à caça de simpatias na abordagem de temas preferidos do eleitorado. Não seria outra intenção, quando lança à responsabilidade do Congresso a tardança na tomada de decisões importantes. O eleitor gosta de ouvi quem fala mal dos deputados, com ou sem razão. Mas, se o presidente sente conveniente o retrocesso estratégico, afaga o presidente da Câmara, a quem criticara. Tudo passa, como chuva de verão.
Atraído pelo desejo de acender discussões, mesmo se delas sair perdendo, ele também confirma a enorme simpatia pelo colega Donald Trump, outro vocacionado para provocações verbais.
Duvidoso, portanto, que a oposição some pontos, preocupada apenas com as provocações, porque elas são parte do cardápio bolsonariano.
Porém, com o passar do tempo, o polemista tende a perder fôlego, vê gradativamente reduzido seu fascínio sobre as massas. Que se cuide o presidente, lembrando-se do grande intelectual George Bernanos, que nos anos 40 fugira para Minas, na hora de ser morto pelos nazistas da França: “o polemista é divertido até 21 anos; tolerável até os 30; chato por volta dos 50 e obsceno a partir daí”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário