Jogo difícil
Não são animadoras as incursões de lobistas junto aos novos deputados para a legalização dos jogos, patrocinadas por empresários interessados na exploração de cassinos, muitos dos quais já em funcionamento clandestino. Consultas isoladas feitas junto a bancadas não otimizam a convicção dos que consideram essa atividade rentável, particularmente nos centos de turismo. Se a reação sempre existiu, mais ainda agora, com a expressão da bancada evangélica, que demoniza os jogos, a eles atribuindo a causa de desgraças sociais. Antes, muito antes, parlamentares católicos já se manifestavam contra a pretendida legalização.
Hoje, como sempre, os argumentos se chocam. Quem é a favor dos cassinos lembra que contumazes jogadores brasileiros atravessam as fronteiras para deixar em outros países fortunas que seriam úteis aqui, se legalizadas e tributadas. E mais: a grande jogatina o próprio governo cuida de explorá-la, com as loterias diárias patrocinadas e garantidas pela Caixa Econômica.
Para quem condena a aventura das roletas e dos dados, o jogo de azar é fonte de degradação, com agravante de hospedar o crime organizado e o tráfico, que usam os cassinos para lavar o dinheiro sujo. Seriam as casas onde facilmente as pessoas podem ser levadas ao desespero. Em “O Jogador”, Dostoievsk concorda, e fala da “vertigem do ganho e da febre da perda”. Nesse passo, não haveria como estabelecer comparações. Roger Caillois distingue bem o “agon”, jogo em que há uma disputa de habilidades e inteligência, como no xadrez. No “alea” é diferente: o adversário do jogador é o destino, e sobre ele não tem qualquer controle.
No Brasil, talvez tenha sido Rui Barbosa um dos grandes adversários dos jogos: ”Eles zombam da decência das leis e da polícia. De todas as desgraças que penetram no homem e arruínam o caráter, o mais grave é, sem dúvida nenhuma, o jogo”.
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