Col JB 1 mar 19
Velhas e novas
aspirações
A mais recente consultar popular, destinada a saber o que o
brasileiro anda pensando sobre seus problemas fundamentais, e como
espera vê-los solucionados, mostrou que o país tem uma relação
que poderia ser definida como intocável, envelhecida; porque o tempo
e os homens passam, e ela permanece. Desta vez, pelo que se leu, foi
a Confederação Nacional da Indústria patrocinadora da pesquisa,
que veio com a garantia de abrangência sobre todos os estados, o que
a autoriza pela extensão. Mas em relação às questões levantadas,
o que interessa nestes registro: o cidadão comum, onde quer que se
encontre, continua alimentando como seus principais anseios as
seguranças mínimas na saúde, na segurança pública, na educação.
São setores na vida de todos que permanecem distantes do desejável,
ainda que alguns pontos de progresso tenham sido atingidos.
Constituem herança para o presidente Bolsonaro, que, a serem
considerados os números da mesma pesquisa, chegou ao segundo mês de
sua gestão com avaliação positiva de 57% dos entrevistados.
Há dois detalhes, talvez os principais a diferenciar o atual estudo
com os anteriores. O primeiro é que os brasileiros revelam-se mais
preocupados com o meio ambiente, e consideram que preservá-lo é
hoje uma questão fundamental. Anos passados não figurava com ponto
destacado na consciência coletiva. Bom sinal. Quase tão rara como a
questão ambiente, revela a pesquisa que o cidadão quer combate
frontal à corrupção. E neste particular, independentemente das
demais aspirações nacionais, o desejo de combate à corrupção é
uma convocação aos três poderes constituídos: Executivo,
Legislativo e Judiciário. Considerado tal aspecto, tamanho
envolvimento, conclui-se que a moralização é, entre todas, a
postulação mais sentida dos homens da rua. Governantes,
legisladores e julgadores precisam atentar isso.
Os militares
General Golbery,
pensador da geopolítica, a quem o poder costumava consultar em 1964
sobre o que os militares deviam ou não deviam fazer, já alimentava
uma percepção de que, no futuro, caducaria, como efetivamente
caducou, o modelo de chegar ao poder e domá-lo com o uso das armas;
estas, como se viu, guardaram as impressões digitais dos ditadores,
com uma série de inconveniências que a História se recusa a
esquecer. Era preciso caminhar para soluções diferentes. O general
estrategista acabaria amargando espécie de ostracismo obsequioso,
condenado pelo núcleo das fardas, por considerar suas ideias
excessivamente acadêmicas.
Hoje, quando se
lança um olhar atento sobre o Palácio do Planalto, não há como
discordar do raciocínio profético de Golbery: chegar ao poder sem
precisar buscar tropas e armas nos quartéis para levar o generalato
ao poder. As estrelas desceram ao palácio, onde dominam todos os
cargos e funções importantes, mesmo aquelas que, por sua própria
natureza, sempre foram confiadas a civis. É onde senta-se agora o
general Floriano Peixoto? Ele integra uma equipe onde tomam parte
duas dezenas de oficias em ministérios, sem contar outros tantos em
posições mais modestas.
Golbery não
prescrevia claramente a eleição como forma de o militar voltar ao
poder; mas, com certeza, pelas armas nunca mais. Em setembro do ano
passado, matéria deste jornal chamava a atenção para o fato de
mais de 100 militares estarem entrando na disputa dos votos,
confiantes em que os tempos tornaram-se outros; um deles, antigo
capitão, haveria de virar presidente da República. O velho Golbery
estaria batendo palmas, ao ver os militares de volta ao palácio, sem
violência, mas bafejados pelo voto popular. Provavelmente, bom
profeta, teria parte na assessoria de Bolsonaro.
“A História
não flui de acidentes; ela é composta de tramas, segundo os
militares”
- ministro Roberto Campos
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