terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 


A direita no circuito



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" )) 

Removidos os sufocos da eleição derrotada, já em abril grupos políticos vinculados à direita estarão retomando a militância, com a visível intenção de servir-se de deficiências e fracassos que pretendem extrair e colecionar de três meses da gestão petista na Presidência e nos ministérios. Os convites para a retomada das concentrações já estão na internet, o que coincide com a primeira manifestação de governador de Estado de apoio a esse movimento. O mineiro Romeu Zema anunciou sua adesão aos projetos direitistas, e os quer já para influir na sucessão de Lula em 2026; mas, cuidadoso, antecipa a ressalva de que esse apoio exclui o terrorismo e atos de vândalos.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Bolsonaro tem intensificado a promessa de retornar ao Brasil nas próximas semanas, o que, ninguém ignora, seria altamente estimulante para seus apoiadores retomarem as atividades. Paralelamente, numa escala de motivações, vê-se no Congresso Nacional que as bancadas evangélicas - 132 deputados e 14 senadores - procuram moldar um acordo para superar divergências internas, e retomar temáticas de costumes, todas identificadas com os programas direitistas. Essas divergências têm sido alimentadas por alguns parlamentares que, com a Bíblia debaixo do braço, sentem-se tentados pelas sombras do governo.

Pois bem, são fatos que se associam, embora deles não se possa dizer que já estejam suficientemente costurados em torno de um projeto descompromissado com a paz do governo Lula, que, como se tem dito, em breve verá esvaziada a tática de sempre definir dificuldades como obra satânica de quem sucedeu. Porque, desculpas, fundadas ou não, vão cedendo lugar a cobranças.

Os segmentos de esquerda, principalmente os que se identificam mais intimamente com o governo do Partido dos Trabalhadores, dão ideia de que não se incomodam com a ameaça que vai se cristalizando. Ou por considerar que o risco da adversidade é mínimo. Antes de tudo, por admitir que o governo Lula dispõe de sólido apoio das principais fontes de formação da opinião pública, o que é verdade. Mas deviam, por segurança, observar que as redes sociais, que com os setores tradicionais confrontam, têm visível domínio de correntes empenhadas em defender as bandeiras da direita. Além de terem mostrado que carregam a simpatia de metade do eleitorado brasileiro.

Pecados bem divididos

Em um aspecto, particularmente, parece ter resultado proveitosa a recente ida do presidente Lula aos Estados Unidos, mesmo com o pouco interesse dos governantes locais em conferir relevo à visita. Mas o encontro com Biden, que pareceu uma personalidade bem desanimada, contribuiu, ainda que não suficientemente, para remover da imagem do Brasil no Exterior a injusta condenação do país como culpado exclusivo, soberanamente demoníaco, pelas ofensas que o mundo pratica contra o meio ambiente. O colega americano e alguns europeus têm procurado se vestir com armaduras de heróis das águas e das florestas, e talvez por isso a Casa Branca tenha esquecido de dizer ao visitante o que faz ou pretende fazer para prevenir os catastróficos incêndios que varrem a Califórnia e o abate sistemático de árvores no Alasca. Como também não sinalizou mínima objetividade no controle dos carbonos que invadem o ar, fartamente produzidos pela indústria americana.

Ponto positivo, que parece prosperar, é a certeza de que os males ambientais, a começar pela agressão às florestas, longe de terem o Brasil como vilão único, procedem de largas faixas dos trópicos. Mesmo na América do Sul, quando se fala na Amazônia, é preciso que as cobranças preservacionistas se direcionem, igualmente, para os outros oito países que a cobrem. Não é apenas propriedade brasileira a extensão de 5,5 milhões de quilômetros quadrados dos verdes e águas.

Nossos deputados e senadores cobram, habitualmente, do governo brasileiro, mas fariam bem se exigissem dos colegas latinos os mesmos cuidados de que somos devedores. Porque, se nossos governantes, quando se trata de defesa dos bens naturais, sempre deixaram a desejar, é preciso tomar em conta, que não são donos de todas as mazelas.

Além dos americanos do Norte, também europeus, que apreciam nos condenar, preferem ignorar, na escalada de culpas, que é deles a ânsia de produzir energias, e em nome delas destroem e queimam matas imensas.

Já teremos feito muito se conseguirmos cuidar bem das florestas tropicais, quase irmãs siamesas da Amazônia. É para elas que temos de voltar as primeiras atenções, a começa pela triagem das exigências internacionais atreladas às ofertas de apoio financeiro ao pretendido Fundo Amazônico.

Essas ajudas nunca veem apenas por conta de boas intenções. Os santos sempre desconfiam, quando a esmola é generosa demais.

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