quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 


Eleição 2024 em pauta (LVII)




PRÉ-CANDIDATOS


Nas redes sociais informa-se que o vereador Maurício Delgado pode ser o candidato a prefeito pelo Rede Sustentabilidade, ao qual está filiando, e que tem como expoente nacional Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no governo Lula.


Maurício é sobrinho do ex-prefeito Tarcísio Delgado, eleito vereador em 2020. Até então era filiado ao União Brasil. Nos bastidores, comenta-se que ele não pretende reeleição à Câmara Municipal, e coloca seu nome para o cargo majoritário.


A escolha pelo partido Rede causa surpresa entre os analistas, que procuram saber o que motivou essa escolha. Maurício Delgado ainda não se coloca como candidato a prefeito, pois quer conversar com algumas pessoas que ele considera referenciais.


Outro dado a ser considerado é que Rede forma uma federação com o PSOL, que ocupa uma cadeira no legislativo municipal, sua colega Tallia Sobral, eleita em 2020.



PRÉ-CANDIDATOS II


Também nas redes sociais o ex-deputado Isauro Calais informa que será candidato à prefeitura pelo Republicanos, partido presidido na cidade por José Ferreira (Ferreirinha). O partido tem uma cadeira na Câmara, ocupada pelo vereador André Luiz, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.


Isauro já presidiu a Câmara, conhece bem a política da cidade. No ano passado, ele divulgou vídeo, denunciando a administração municipal, levantando suspeitas sobre a compra de alimentos pela prefeitura.



PRÉ-CANDIDATOS III


Conversando com amigos, em uma feira-livre da zona Norte, o ex-deputado Charles Evangelista confirmou sua disposição de prosseguir como pré-candidato à prefeitura, contrariando versões de que, pressionado por forças partidárias, desistiria. Talvez para apoiar Ione Barbosa.



PRESENÇA


Há sinais de que o senador Rodrigo Pacheco poderá ter uma participação direta na eleição de Juiz de Fora, não apenas para prestigiar o candidato de sua simpatia, como também para remover outros, que possam representar obstáculo. Na eleição passada, ele apoiou a candidatura de Wilson Rezato, que ficou em segundo lugar, com 118 mil votos, performance que não pode ser desconsiderada.


Rodrigo será candidato ao governo de Minas, na sucessão de Zema.


ARRANJOS


O jornal O TEMPO fala de possível candidatura a prefeito do deputado estadual Noraldino Junior (PSB), e, segundo analista, isso poderia levar a eleição em JF para um segundo turno.


Opina a matéria que isso também pode complicar os planos do PT, que pensa em manter as prefeituras já conquistadas em 2020, como é o caso de Juiz de Fora.


Especula-se, ainda, que, caso a candidatura se confirme, o presidente Lula e seu vice Geraldo Alckmin (PSB), estariam novamente em campos opostos; da mesma forma que ocorre atualmente em S. Paulo. Lá, Lula apoia o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), e Alckmin lançou a deputada federal Tabata Amaral (PSB) como candidata.



ARRANJOS (II)


Observador da cena política foi verificar se havia destaque para a matéria do jornal O Tempo sobre a eventual candidatura de Noraldino nas redes sociais. Informa que nada encontrou.


No entanto, há um post, da semana passada, registrando encontro do deputado com Márcio Lacerda, que esteve recentemente nos quadros do PSB.


Registrou Noraldino: “Fiquei muito honrado por ter recebido hoje a visita do ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, no gabinete. Conversamos sobre a conjuntura política e os desafios em Minas Gerais, além da sua experiência no Executivo da capital mineira."


Deste encontro muito ainda poderá se comentado.


COTA FEMININA


Muitos partidos deverão enfrentar uma dificuldade que vem de longe: reunir o necessário número de mulheres para disputar a vereança. Já se tem notícia de que o problema vai persistir. Na elaboração das chapas, elas têm garantia, definida em lei, de ocupar 30% das vagas em eleição proporcional.



RADICALIZAÇÃO


Em um artigo de Orlando Thomé Cordeiro, consultor em gestão empresarial,

no Correio Brasiliense, com o título "Eleições municipais e polarização", ele discorre sobre assunto que está sob análise da crônica política nacional: polarização nas eleições.


Thomé cita que, no livro "Biografia do abismo", de Felipe Nunes e Thomas Traumann, os autores afirmam que a disputa eleitoral deixou de ser marcada pelo debate sobre questões como Bolsa Família ou privatização da Petrobras, para se tornar discussão acerca do que será a política de aborto ou de armas. O voto de cada pessoa passa a ser decidido na perspectiva da garantia do que acha que deve ser o certo, da sua visão de mundo.


Thomé lembra que o primeiro passo é fazer a segmentação dos municípios pelo tamanho do eleitorado. Dados obtidos por ele sobre a distribuição do eleitorado brasileiro: 2.998 têm até 10 mil eleitores; 1.268 entre 10 mil e 20 mil; 824 entre 20 mil e 50 mil; 268 entre 50 mil e 100 mil; 112 entre 100 mil e 200 mil; e 100 acima de 200 mil.


E analisa: "Muito provavelmente a polarização estará presente nos grandes centros, em particular nas 212 cidades com mais de 100 mil eleitores, sendo natural que influencie as regiões de seu entorno.


Complementa:


"É de se esperar que candidaturas de oposição nessas regiões joguem pesado na nacionalização do debate, enquanto as de situação optem por apresentar os resultados de suas gestões como razão para a continuidade."



OS DELGADOS


O jornalista Matheus Brum informa, em rede social, que o ex-deputado Júlio Delgado afirma que é pré-candidato à prefeitura, e conta com apoios dos ex-prefeitos Tarcísio e Custódio Mattos, e do empresário Wilson Rezato. Julio está deixando o PV (que faz parte da federação partidária com o PT). Negocia a filiação ao União Brasil, mas encontra resistência, pois o partido está na base do governo Lula.


Os analistas políticos da cidade especulam sobre como se resolverá politicamente as duas candidaturas oriundas da família Delgado, lembrando a mesma postulação pelo vereador Maurício Delgado.



DESCARTADOS


Juiz de Fora ficou em primeiro lugar, em Minas, entre os colégios eleitorais que mais cancelaram títulos, tomando-se por base os quadros do TSE. Aqui, desde a eleição passada, foram cancelados 92.228 títulos, o que representa 23.9% do colégio, de 287.735 eleitores.



PRÉ-CANDIDATA


A deputada Ione Barbosa (Avante) procura explicitar sua posição sobre serviços públicos da responsabilidade da prefeitura. Em recentes postagens, abordou a questão do transporte coletivo.

"Transporte público deve ser tratado como prioridade em município com uma extensão territorial tão grande, como Juiz de Fora, respeitando e reconhecendo a importância de todos os profissionais do sistema público de transporte. A mobilidade urbana de JF pede socorro!"


Como pré-candidata à prefeitura ela já pontua serviços municipais que considera falhos, como também os usuários insatisfeitos com a atual administração. Para os analistas, ela poderá ser a principal concorrente da oposição à prefeita. considerando-se sua performance na eleição de 2020, como candidata, ficando, bem votada, em terceiro lugar. E, depois, eleita deputada federal em 2022, na sua primeira tentativa.


Comentários nos bastidores apontam possíveis desistências de pré-candidatos de direita em favor de Ione. Mas há quem defenda a ideia de que todos prefeitáveis de direita mantenham suas candidaturas, de forma que garantam o segundo turno, para, em seguida, apoiarem quem for mais votado nesse segmento.



Recebido com grandes festividades em Juiz de Fora, no dia 25 de agosto de 1928, o presidente Washington Luís encerraria a visita, no dia seguinte, em clima totalmente diferente, sem festa e frieza, num rastro de frustração. Foi aqui, num almoço no solar da família Penido, que comunicou seu desejo de ser sucedido por outro paulista, Júlio Prestes, depois de estar tudo acertado para a eleição de Antônio Carlos, político militante em Juiz de Fora, onde havia sido vereador e Agente Executivo (prefeito). Ao romper com a tradição do café-com-leite na presidência da República, onde paulistas e mineiros se alternavam, Washington abriu espaço para a Aliança Liberal, e com ela a Revolução de 30, que o derrubou.






terça-feira, 30 de janeiro de 2024

 


Sob inspiração da milícia



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))


Em meio século, as coisas nem sempre mudam o desejável. Ocorre trazer à lembrança a década de 70, quando o senador Nélson Carneiro dizia que, no Rio de Janeiro, não bastava ganhar a eleição; era preciso ganhar também a apuração, muitas vezes confiada a homens ligados ao jogo e ao crime. Hoje, o TRE decide alterar o endereço de 50 seções eleitorais, dada sua proximidade com os núcleos comandados pelos milicianos, sobretudo na zona Oeste. Algo importante, pois uma vez mais assiste-se à capitulação da lei e da ordem, dobradas ante o crime. O velho senador, estando vivo, certamente já não colocaria sob suspeita a fraude das máquinas, nem apenas o poder de pressão dos criminosos, que antes “ajudavam” na contagem das cédulas. Porque agora eles têm poder de ditar normas e preferências de locais para o eleitor chegar à urna.

Seja pela antiga manipulação do voto, seja pelas ameaças, vê-se que nosso processo eleitoral, livre e independente, ainda tem muito a caminhar. Começando por reagir ao ressurgimento, em pleno século 21, dos currais eleitorais, que os milicianos hoje ressuscitam, para dizer onde permitem que se vota. Não podem ser incomodados em seus redutos.

Há dois aspectos a serem considerados nesse episódio, ambos para salientar o patamar de insegurança a que estamos condenados nesta cidade. O primeiro é que o Tribunal Regional Eleitoral, priorizando a vida e a liberdade de eleitores e candidatos não identificados com os interesses das milícias, não teve como evitar essa providência, que aborrece e constrange, mas que se impõe pela realidade. Muda os locais de votação. O que fazer?. Essa é a nossa história.

Outro aspecto, não menos doloroso, é que, antes mesmo de serem diplomados os eleitos em outubro, diplomam-se os milicianos como agentes para desenhar a geografia de uma eleição. É a Justiça reconhecendo a concorrência do crime, não apenas organizado, mas institucionalizado, com direito a definir onde os cidadãos devem ir no dia da votação.

Naquelas eleições antigas, maculadas de todo tipo de vício, dizia-se que o voto tinha de ser pedido ao padre, que indicava o candidato; ao juiz, que proclamava o vencedor; e, por fim, ter o agrado da polícia, que garantia a posse dos eleitos. Na toada em que vamos, pode chega o dia em que os milicianos dirão em quem votar. Hoje já decidem onde votar.

Ano legislativo tenso

Chegada a hora de reabertura dos trabalhos legislativos – é na segunda-feira – sob o clima das tensões previstas, por força e imposição do ano eleitoral, um detalhe a preocupar é a evidência de que se aprofundou, nas últimas semanas, a medição de forças entre o governo e o Congresso, sem que faltasse a singular novidade de se editar Medida Provisória para desfazer efeitos de uma MP anterior… A principal razão para o aguardo de maiores dificuldades está no fato de, nas negociações entre o presidente da República e o Congresso, ter prosperou o império da moeda de concessões.

O desafio mais recente que se antepõe à boa convivência foi o corte de quase R$ 5 bilhões nas emendas parlamentares, o que vem testando a competência do presidente Artur Lira para negociar, evitando-se maiores atritos, exatamente na hora em que a casa começa a trabalhar. Mas, habilidoso, ele está destinado a obter a conciliação, porque, no caso das emendas, há outra evidência: o governo, sem suficiente apoio de sua bancada na Câmara dos Deputados, permite a ampliação dos benefícios, para depois restringi-los; e, em seguida, concedê-los de novo, para a garantia de ter votos indispensáveis na tramitação de seus projetos. Na relação entre os dois poderes predomina a velha tática de elaborar dificuldades e desconfianças, com o fito de negociar acordos, nos quais ganham, agora eleitoralmente, senadores e deputados. Não será diferente o acerto com os evangélicos: confisca-se o benefício da isenção do IR, para depois devolvê-lo, sob novo patrocínio, sem a antiga tintura bolsonarista… Os ganhos do presidente Lula ficam para depois; na melhor das hipóteses, em outubro, na eleição dos prefeitos de grandes e médios municípios. Por hora, sacrificam-se os bons modos.

Reabrindo-se em fevereiro, o Congresso sabe que pode exigir; o presidente sabe que tem de atender. É um jogo que vai entrar no segundo tempo, com as velhas regras, ainda que sujeito a alguns atropelos.

Mulher nas armas

Ainda não foi possível alinhar razões objetivas para dar embasamento à decisão de setores das Forças Armadas de estabelecer limites para a participação feminina nos serviços militares, assunto já superados em quase duas dezenas de países, onde os direitos delas equiparam-se aos dos homens soldados. Na Procuradoria-Geral da República e no Supremo Tribunal a questão está colocada para discussão e decisão final, quando certamente a discriminação deverá ser sepultada, com a devida pressa, principalmente depois que, no Rio, estabeleceu-se que a participação de mulher na polícia estadual não deve ultrapassar a 10%. Por que dez? Qual a razão técnica desse percentual?

O que em favor delas se propõe, acima de qualquer outro argumento, é que, muito diferentemente de tempos passados, as atividades de defesa e ataque, inerentes, deixaram de depender de força bruta e da resistência física masculina, para se tornar dependentes da tecnologia, dos modernos recursos de estratégia e precisão matemática de alcance de objetivos. Os gatilhos foram substituídos pela tecla dos computadores, que podem administrar tanques e canhões. A mão do homem ficou na crônica das antigas e grandes guerras. Sobre a contribuição da mulher também aí, que o digam e atestem os Estados Unidos e o Reino Unido, onde os chamados “contingentes do batom” são numerosos e competentes. Porque, mesmo na infantaria e nos combates de campo, a força pessoal já não tem mais importância insubstituível. Em casos como Ucrânia e Israel, nem mesmo a beleza feminina tem sido sacrificada...

Num país, como o nosso, em que a igualdade de gêneros frequenta todos os discursos, pouco sinceros e fartamente demagógicos, não parece ter cabimento excluir a mulher das responsabilidades da segurança nacional.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

 

O assunto era saudade



( Ao amigo Thales Ramos, que durante sete anos foi aluno brilhante do professor Augusto Gotardelo, no Granbery)



Uma chuvinha manhosa e fria impediu que o professor e fiel colaborador Augusto Gotardelo deixasse a Redação do “Diário Mercantil”, depois de colocar sobre a mesa o texto do dia seguinte, sobre Finados. Fiquei devendo àquela chuva intermitente agradáveis momentos de conversa com o grande mestre da língua, que há pouco me presenteara com seu “Português para Pregadores”, em três volumes, obra lapidar no gênero. De fisionomia muito clara e saudável, gentil no falar e rigoroso em suas convicções religiosas, era presbiteriano de uma época em que os pregadores preocupavam-se mais com o púlpito e menos com a política. Décadas depois, procurando dar fim a velhos papéis, acabei achando algumas anotações resumidas sobre a conversa que tivemos naquela manhã. Salvei-as do destino de coisas esparsas que ficaram dos tempos de jornal. Devo explicar que, nas melhores entrevistas, se eu ouvisse coisas interessantes, anotava à parte, em minha pasta, o que me valeu de alguns colegas, entre eles Carlos Henrique e Pedro Paulo, o epíteto de namorado de papéis mofados. Não era sem razão.


Mas, falávamos sobre Finados, e o professou opinou que talvez fizesse sentido chamá-lo Dia da Saudade. Soaria melhor, para definir e exaltar um sentimento que está na alma de todos, até mesmo nos corações empedernidos. Sobre finados, o que temos é apenas um feriado para rápida passagem pelo cemitério; ideia de coisa passada, esquecimento. Saudade não; saudade é presença doída, sem ter dia certo para acontecer.


Pois a conversa acabou, a chuva nos despediu. Muitos anos depois, fui saber que o calendário brasileiro guarda o 30 de janeiro como Dia da Saudade, sem que alguém explique a razão disso.


Tomo agora, aqui, alguns papéis que persistiram daquele encontro matinal com Gotardelo. Não foram poucas as reflexões do visitante, à espera que a estiagem chegasse. Ele tinha uma espécie de alma saudosa, que guardava memórias várias; uma razão a mais para que o admirássemos. Outros rascunhos contemporâneos não sei onde foram parar. Certamente morreram, como veio morrendo o tempo; como também morreu o jornal. Anotei: das coisas sobreviventes numa daquelas folhas de redação amarelada, sobreviveu a citação, por ele lembrada, de Telêmaco, na Odisseia: “se aquilo que os mortais mais desejassem, e pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu pediria aos deuses seria a volta do meu pai”. A saudade bem dita no clássico de Homero.


Etimólogo, latinista cuidadoso, o professor dispunha de todas as razões para aguçar a curiosidade com essa palavra mágica, que, bem examinada, não tem correspondência adequada aqui e em outros idiomas. Buscando socorro, citava, em vão, por exemplo, o grande Joaquim Nabuco, para quem “entre todos os vocábulos, o mais comovente é saudade, pois traduz a lástima da ausência, a tristeza das separações, toda a escala da provação de entes ou objetos amados. Por fim, a palavra que se grava sobre os túmulos”. Para o jurista e parlamentar, sob o mesmo sentimento sofre o exilado distante da pátria, da infância, dos dias idos. Muito bonito, mas sem uma palavra, uma única capaz de ser sinônimo.


Não são exclusividade da língua lusa algumas estranhas e originais palavras, como nossa dificuldade com saudade, que apenas consegue apenas explicar suas dores e consequências. No máximo, e já não é pouco, a gente sabe como senti-la. Os russos, por exemplo, têm de dizer que o seu “pochemuchka” é, mais ou menos, uma pessoa que faz perguntas demais. Mas isso nada mais é que uma aproximativa, problema que se acentua também quando um judeu quer nos explicar o significado do seu “shlimazl”, que procura, sem perfeição, definir a pessoa permanentemente azarada. O nosso popular pé-frio...


. . .


Sem sair do campo da etimologia, em tempos passados li no jornal O Tempo matéria assinada por Paulo Pires, que me levou de volta à ciência de Gotardelo. Citando pesquisa realizada pelos britânicos da Today Translation, o autor afirma que essa nossa palavra foi classificada como a sétima entre as traduções mais difíceis; nesse particular aparelhada com os dois exemplos acima citados. Pelo menos, foi a conclusão a que teriam chegado centenas – cerca de mil – pesquisadores. Como traduzir saudade? Mesmo entre nós a sinonímia é complicada.


Também aí, a estranheza do tribuno e jurista pernambucano Nabuco, que tão bem lidava com o idioma: ”Saudade já não lembra a ideia de soledade; guarda apenas seu efeito íntimo sobre o coração. É realmente estranho que tal efeito, logo o mais profundo, da solidão, só ficasse assinalado na linguagem de uma dentre as raças humanas”.


Talvez diante dessa singularidade, poetas e prosadores passam o tempo esbarrando em dificuldades para encontrar a definição mais adequada, o sinônimo menos imperfeito. Muito acabaram desistindo.


De volta a Gotardelo e às anotações que não rasguei e que o tempo não consumiu, ficou a lembrança de que muitos foram os escritores que incursionaram tentativas de definição de saudade. E vem logo a citação inevitável de Guimarães Rosa em seu “Ave Palavra”: “a saudade é um sonho insone, é o coração dando sombra. Ninho de ausências”.


Sem sair da pena do gênio mineiro, diria melhor ainda quando definiu a tristeza da garça, de volta do pântano, em fim de tarde sem a companhia do macho, que acabava de ser mortalmente abatido por um caçador: “o voo da garça sozinha não é a metade do das duas garças juntas: mas só o pairar da ausência, a espiral de uma alta saudade”.


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Essa palavra, com todos os seus mistérios, permite mais um, nem sempre citado. Ela é valorada, muitas vezes, com a inflexão aplicada por quem a pronuncia. Na voz e na entonação ganha maior ou menor intensidade. Em 1953, no filme Cangaceiros, de Lima Barreto, Vanja Orico foi o exemplo clássico de quem cantou, no mais fundo do agreste bárbaro, a dor da ausência, no poema simples de Zé do Norte: “Sodade, meu bem sodade; sodade do meu amor”. Para, logo depois, queixar-se de que o amado “nem uma carta deixou”. É quando a ausência consegue padecer unindo solidão e desesperança.


Solidão e desperança também fazem sentido quando vem à lembrança o sentir coletivo de um padecimento causado pela distância indesejada. Raramente se fala disso, embora se manifeste, a um só tempo, pelo coro das muitas vozes de um povo inteiro. Pois, quem cuidar dessa particularidade certamente haverá de se lembrar da famosa ópera de Giuseppe Verdi, imortalizando a saudade doída que os escravos hebreus guardavam da terra perdida, tão longe. A dor aí, como desejou o mestre italiano, voava em forma de pensamento nas asas douradas.


Mas a capacidade de voar nem sempre acontece. É quando a saudade prefere se fechar no coração de seu dono. Agripa Vasconcelos, em “Gongo-Soco”, explica isso: ela “trabalha melhor na solidão das noites, revolve as cinzas que estão na alma. Modo de sofrer bastante conhecido dos que vivem sós”. Verdade. Muitas vezes, nasce e morre sem que outros saiba de sua existência; domínio exclusivo de quem com ela padece no vazio de dias que custam a passar.



Wilson Cid


janeiro 2024

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

 


Eleições 2024 em pauta ( LVI)

COBRANÇAS

Empresários dispostos a interferir no processo eleitoral esperam a passagem do carnaval para uma primeira reunião, destinada a traçar linhas de ação. Não há cogitação imediata para o lançamento da candidatura de um deles, porque a prioridade é relacionar sugestões e cobranças. Uma preocupação acentuada é o declínio de Juiz de Fora como referência para empreendimentos industriais. Nesse particular, permanecendo a tendência, dentro de uma década seremos superados pelo Jequitinhonha, a região mais pobre do Estado.

TRANSPARÊNCIA

O jornal Tribuna de Minas noticiou que a prefeitura promoveu coletiva de imprensa para tratar do contrato firmado com a UFJF, em março de 2022, destinado ao estudo do transporte público. Técnicos presentes detalharam resultados do estudo “Ciência de dados aplicada à gestão contábil-financeira do transporte coletivo urbano do município de Juiz de Fora”.

A apresentação foi importante, pois o sigilo de dez anos colocado pelas instituições envolvidas alimentava especulação sobre possível irregularidade.

A iniciativa procurou demonstrar transparência aos atos administrativos, sobretudo neste ano eleitoral, quando a prefeita vai se candidatar à reeleição

JANELA PARTIDÁRIA

A janela partidária é aberta em qualquer ano eleitoral, seis meses antes da votação. Neste ano, a troca de legenda poderá acontecer de 7 de março a 5 de abril, data final do prazo de filiação exigido em lei para quem pretende concorrer. Assim informa o TSE.

Pelo que se notícia nos bastidores da Câmara, há muita conversa e cálculos eleitorais ocupando o tempo dos vereadores. Na federação partidária que uniu PT, PC do B e PV o clima de apreensão cresceu para os petistas, após a filiação ao PV do líder comunitário Jefferson da Silva Januário, o Negro Bússola.

Como Negro Bússola já teve na eleição de 2020 em torno de 5.000 votos, caso repita a votação poderá ocupar a cadeira de algum vereador do PT ou do PV.

O PC do B não elegeu vereador na última eleição, mas nos bastidores se diz que o partido está pretendendo filiar Cido Reis (PSB), que teve cerca de 5.500 votos há quatro anos, e quer deixar o partido, esperando a janela partidária.

A federação amarra os partidos por um período de quatro anos. Então, na eleição municipal esse arranjo vai ser testado, pela primeira vez.

Um dos problemas da federação é o da autonomia partidária para filiar quem desejar, mas com esse ato acarretar perdas eleitorais ao outro partido federado. Como se resolve isto?

JANELA PARTIDÁRIA (II)

Os que vão disputar cargo eletivo em outubro têm prazo de um mês, a partir de março, para mudar o domicílio partidário. Consideradas as expectativas de uma eleição que promete estar temperada pelo radicalismo, espera-se grande revoada. O que permite admitir e antever o destino das grandes câmaras municipais, como as do Rio, S.Paulo e Belo Horizonte, condenadas a legislaturas carentes de autenticidade partidária: pois os que vão levantar voo sairão desobrigados dos programas aos quais juraram fidelidade; os que se filiarão a novas siglas certamente não terão com estas maiores deveres. Até porque apenas acabam de chegar, e nem se sabe até quando ficarão.

Essa faculdade concedida pela legislação nos coloca diante do fenômeno que se convencionou chamar de “janela partidária”, definição que até sugere menoscabo, porque, sem ter a largueza das portas, abre apenas uma janela, através da qual saltarão candidatos incomodados.

SUPERLIVE CONSERVADORA

Pelas redes sociais, é noticiado que a família Bolsonaro está organizando a "Super Live Conservadora", evento previsto para sábado, como um marco na preparação para as eleições. 

A iniciativa proporcionará oportunidade a candidatos e lideranças políticas para aprimorarem suas estratégias e conhecimentos em relação ao pleito deste ano. 

Diz a postagem que, além de visar a preparação para as eleições, o evento busca consolidar uma base política forte e unida em torno dos princípios conservadores. Contando com a participação de nomes tais como Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro.

CABOS ELEITORAIS

Analistas mostram-se divididos quanto à polarização política influenciando a campanha eleitoral deste ano. Para um segmento, nem Lula nem Bolsonaro serão cabos eleitorais com influência. Em cada cidade há uma realidade diferente, assim analisa.

Para outro grupo, a interferência do ex-presidente, liderando a oposição ao seu sucessor, vai proporcionar uma novidade nas eleições de todos municípios brasileiros. A penetração das redes sociais vai fazer a diferença nesse pleito.

CABOS ELEITORAIS (II)

Outros analistas veem as eleições nos EUA, em novembro, com repercussões no Brasil. Elas sempre são acompanhadas de perto, em todos os seus episódios, pela imprensa brasileira. O pleito presidencial daquele país certamente terá políticos brasileiros interessados.

Há uma polarização entre Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump. "Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência", pontua, com ironia, um analista. Entretanto, não há dúvidas que a família Bolsonaro vá se engajar, com fervor, na campanha de Trump, e será uma forma de ela manter mobilizados os seguidores bolsonaristas. E esperam influir no processo de escolha municipal em favor dos candidatos do PL ou apoiados por ele.

Se, na recente campanha da Argentina os "Bolsonaros" foram cabos eleitorais do presidente eleito Milei, é de se esperar a mesma performance na campanha de Trump, nos EUA. Mesmo que haja ainda uma certa dúvida quanto a essa candidatura, devido aos processos judiciais que Trump responde em vários estados.

Caso vença a eleição norte-americana, não se poderá negar o benefício político para a direita bolsonarista, que certamente vai comemorar como vitória própria. E, pelo que se lê nas redes sociais, um certo desconforto para a esquerda brasileira, que sabe, de antemão, das consequências no Brasil.

O jornal “O Pharol”, que Thomaz Cameron havia trazido de Paraíba do Sul, foi, em 1887, o primeiro jornal a mergulhar na campanha de transformação de Juiz de Fora em capital da província, logo seguido por políticos aventureiros. O que haveria de nos causar as antipatias de Ouro Preto. A ideia principal era o fato de a antiga Vila Rica não comportar mais os encargos de sede administrativa, o que seria também o principal argumento para a posterior transferência da capital para Belo Horizonte. Argumentava o jornal, ainda a favor da escolha de Juiz de Fora, ter sido, em 1888, a mais importante localidade da província em renda, acima de Ouro Preto, São João Del Rei, Cataguases, Mar de Espanha, Diamantina, Leopoldina e Barbacena.

Em 1891, o Congresso Mineiro anunciava que cinco localidades seriam avaliadas para tornar-se capital. As três últimas julgadas foram Várzea do Marçal (região de São João Del Rei), Juiz de Fora e Curral Del Rei, que, afinal, foi escolhida.