terça-feira, 26 de março de 2024


Um problema doméstico



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

 


A recente e amarga queixa do presidente Lula quanto ao desempenho do ministério, farto de cadeiras e jejuno de resultados, talvez devesse ter ido mais fundo, em nome da origem dos fatos. Na reunião do primeiro escalão, para isso convocada, ele não revelou aos que o ouviam que o governo padece de uma crise de convivência interna, começando pela clara resistência do PT em relação aos ministros oriundos do Centrão, hoje dono de uma poderosa fatia do poder. O que inferniza o sono presidencial é esse desafio intestino. O problema tem prosperado nas entranhas palacianas, resultado do preço imposto por uma coalizão, imposta pela garantia de mínimo de governabilidade. Como ocorre com todos os amores de conveniência, esse também custa muitos favores.


Detalhe que, certamente, não pode escapar da acuidade presidencial, é que os adversários que atraiu para si, em troca de cargos e emendas parlamentares, não estão ao seu lado - nunca estiveram - para contribuir na execução dos projetos do Executivo. Seria excessivo exercício de ingenuidade, porque o Centrão chegou para consolidar o êxito de seus próprios candidatos, o que, salvo eventuais alianças no interior, nada tem a ver com interesses do PT. Portanto, os petistas têm alguma razão, quando não veem realizações dos ministros importados ou dos meteóricos visitantes do segundo escalão. É a realidade não analisada nas queixas domésticas, mas Lula precisa confessar que seu governo enfrenta a aventura da dissonância: está carente de discursos alinhados e alinhavados nas prioridades, muito menos nas intenções e objetivos políticos.


Simples puxões de orelha não são suficientes, porque a gênese do problema está na luta que os diferentes travam pela conquista de espaços no poder; e aí não há quem se disponha a fazer concessões, mesmo que seja para facilitar a vida do presidente e de um governo de que são parte. O que fazer, então? A dolorosa realidade parlamentar já mostrou que é preciso conviver com o inimigo, se os amigos são insuficientes. Um problemão.


Em situações passadas, ocorreram impasses dessa natureza, quando, sob severas cobranças, alguns ministros procuravam desviar as culpas para os órgãos de comunicação e sua índole oposicionista. Mas, no caso presente, seria até um acinte lançar mão de tal pretexto, pois nenhum presidente, antes de Lula, teve tanto apoio de jornais e de emissoras de TV, que também acolhem o discurso de sua querência, isto é, o combate, sem tréguas, ao inimigo Bolsonaro.


As grandes dificuldades vêm de dentro do próprio governo. Não há negar.





Anotações sobre 64



Corre a semana em que faculdades e alguns institutos de cultura política procuram aprofundar análises sobre 64 - aquele março de dessaudosa memória -, quando se abriu a porta para uma ditadura, que, com sangue e lágrimas, conseguiu a maioridade dos 21 anos. Os donos do golpe vinham trazendo a garantia de ser uma intervenção “rápida e cirúrgica”, para depois, garantia-se, dar-se a imediata restituição dos poderes aos civis. Promessa logo esquecida, não cumprida; nem mesmo pelo primeiro presidente militar, Castello Branco, que pregava a redemocratização já no ano seguinte de sua posse. Desmentiu-se, e logo aceitou a reeleição, ungida pela grande maioria do Congresso.


A vida dos cinco presidentes fardados deve figurar, sem dúvida, na pauta de quantos estão hoje empenhados em estudar esses passados 60 anos na vida nacional, quando, mais uma vez, nossa democracia escorregou e afundou. Oportuno lembrar, já que se estuda, que a análise daqueles que foram presidentes de ocasião, impostos, não pode se satisfazer com avaliação genérica, comum a todos eles. Não será correto, como querem alguns, condenar os cinco ao mesmo balaio da História, a menos que se cometa injustiça com o último deles, João Figueiredo, que prometeu e confirmou a reabertura das atividades político-partidárias e a anistia aos exilados. Os anteriores, se prometeram, passaram por cima da promessa.


Mas há outros aspectos, talvez em alguma forma até mais instigantes, com tudo para aguçar a curiosidade dos cientistas políticos. É o caso, nunca objeto de maior atenção, da influência indireta que exerceu, naquela época, sobre o ânimo das inseguras instituições nacionais, o episódio, poucos anos antes, da aproximação de mísseis nucleares que a Rússia pretendeu instalar em Cuba. Mesmo que interceptado, com a crise gerada pelo fracassado projeto de Moscou, acentuou-se o poder de influência continental de Washington. Com o quase conflito, também o recrudescimento do que se poderia chamar de “comunofobia”. Veio a pesada campanha de persuasão, que fazia sentir o comunismo transpirando por todos os poros do Brasil. Evidente exagero, alimentado pelo embaixador americano, Lincoln Gordon, que aqui desembarcou, a fim de cumprir o papel para o qual estava destinado: balançar e engordar os temores da nação sobre a ameaça vermelha, financiando políticos corruptos, líderes empresariais e imprensa, que se prestavam ao mesmo papel. A influência dos Estados Unidos principiou, portanto, na histeria causada por foguetes, que nem eram para nós.


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Agora, um ponto cuja importância não é menor. A historiografia definitiva haverá de contemplar, igualmente, se não com destaque ainda maior, a poderosa aliança que, sob o descuido do governo João Goulart, fez prosperar a direita radical e as alas mais conservadoras da Igreja e da UDN. Por que tão decisiva aquela associação? Porque foi, por essa via, que o golpe haveria de ganhar simpatias e aplausos de segmentos expressivos da classe média. Isso deve ficar claro, porque, se os militares usaram canhões para golpear a normalidade democrática, cabe lembrar que tiveram rápida acolhida, até extremas manifestações de desprendimento popular, como se deu com a campanha “Ouro para a democracia”, que pôs, em fila, milhares de senhoras, que rezaram o terço e entregavam anéis, alianças e colares valiosos “para salvar o Brasil do iminente perigo comunista”. Nunca se soube em que mãos foram parar essas joias.


Diretamente, o governo Goulart contribuiu para sua própria ruína, cometendo o grave erro de levantar bandeiras das chamadas reformas de base, “na marra”, cuja sustentação dependia, como depois se viu, de um festivo sindicalismo de esquerda, que pressionava o presidente; e, igualmente, dependia de força militar, que só saiu dos quartéis para derrubá-lo. O mal foi desafiar, a um só tempo, o complexo edifício da estrutura político-econômica do país, prometendo mexer, quase de afogadilho, com todas as pedras da administração pública, organização bancária, política urbana, além da reforma agrária, desnacionalizações e privatizações. Sem faltar uma política externa desafiadora. Mudanças estruturais - seja dito - necessárias, indispensáveis na época, mas deviam ser aplicadas por partes, em doses cuidadosamente prescritas; de forma que, realizadas as mudanças, entre uma e outras o país pudesse respirar. O conjunto das reformas, assim de afogadilho, contrariou a mesma prudência devida aos corpos doentes. Goulart, na onda da popularidade duvidosa, precipitou a cirurgia, que matou seu governo e custou caro às liberdades.


quarta-feira, 20 de março de 2024

 

Eleição 2024 em pauta (LXIV)



LEGADO


Em festa para meio milhar de pessoas, no salão de conferências do Ritz Hotel, o ex-vereador José Sóter Figueirôa foi um dos novos filiados do PDT, para logo depois anunciar que está pronto para disputar sua volta à Câmara. Lembrou que o partido, que tem um importante legado para a história política do país, nasceu em 1979. De tal forma era a ditadura, sem clima, que a fundação do PDT ocorreu em Lisboa…



ÓDIO TEMPERADO


Transcrevo trecho de nosso artigo do “Jornal do Brasil”, de terça-feira passada, que trata da recente Resolução do TRE sobre a eleição de outubro. É o risco de a tentativa de conter o discurso de ódio acabar se transformando em vingança política:



Tomando-se em conta que vamos caminhando para uma campanha de forças e postulações radicais, cheia de tensões, cabe perguntar como seria definir, com isenção; como separar as manifestações raivosas das odientas? Como afirmar que determinado candidato foi além da impetuosidade tolerada?, ofendeu, e, por isso, está condenado a perder o registro. O que é ódio e até onde ele vai, no sentir do ministro Alexandre? Na política, a crítica ferina entre adversários pode ser facilmente promovida às escalas do ódio, segundo interesses paralelos. É o que se teme, porque tudo fica na dependência de como a divergência se presta, naquele momento, a servir de pretexto para a eliminação do adversário incômodo. O ódio, para a política, depende em quem ele fere, e quem tem o poder de julgá-lo”.



IMPRENSA

Imprensa é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”, ensinava Millôr Fernandes, humorista e frasista, reconhecido pela sua genialidade. A frase é sempre lembrada nos conflitos travados por alguns órgãos informativos e governos eventuais, em todos os níveis.


Com a premissa irônica, deveriam se mover os principais órgãos de imprensa do país, influenciando positivamente os demais veículos de comunicação.



IMPRENSA (II)


Em Juiz de Fora, na semana passada, voltaram a circular notícias nas redes sociais de que a Prefeitura desequilibrou-se totalmente nas finanças, a partir de análise dos dados de 2023.


Sentindo que a informação poderia trazer desgastes à administração, e, por consequência, um prejuízo eleitoral, a assessoria fez circular, através de postagens nas redes sociais, a contestação. "Não passa de desinformação e mau jornalismo a insinuação de que apuração ocorre bimestralmente." Mas não esclarece, efetivamente, como está a saúde financeira da prefeitura.


A campanha eleitoral vai abordar o tema relativo às finanças. O tema será relevante para os candidatos: como será administrar uma cidade sem conhecer, em profundidade, de antemão, como estão as contas?



PSD EM CENA


No sábado, pela manhã, acontece o encontro do PSD (Partido Social Democrático) em salão do Ritz Hotel.


No convite, encaminhado pelas redes sociais, destaca-se a presença do deputado federal Luiz Fernando Faria, interlocutor da prefeita Margarida Salomão (PT) com aquele partido.


O veterano deputado já foi agraciado pela prefeitura com a Comenda Henrique Guilherme Halfeld, no ano passado. A maior honraria do município.


O PSD foi o principal aliado do PT em Minas nas eleições gerais de 2022, como provavelmente o será em 2026, no projeto de eleição do senador Rodrigo Pacheco (PSD) para o governo de Minas. E faz parte do governo Lula, ocupando ministério.


Segundo fonte privilegiada no meio político, não seria surpresa a presença da prefeita nesse evento do PSD. Com esse gesto, poderia sinalizar aliança petista com um partido de centro-direita.




OS AUSENTES


A Justiça Eleitoral informa que mais de 25 milhões de eleitores não votaram, nem justificaram a ausência nas eleições de 2022, o que representa 16% do total de 156,4 milhões de eleitores.


Neste ano, a regularização do título de eleitor pode ser feita até 8 de maio pela internet, aplicativo e nos endereços da Justiça nos municípios.


Para o Tribunal, ainda não é possível afirmar que esses eleitores estejam irregulares. “Isso ocorre por conta de diversas situações: a eleitora ou eleitor pode ter pago a multa eleitoral para quitar o débito com a Justiça ou ter faltado somente um dos turnos, por exemplo. É um recorte temporal, que diz respeito àquele pleito. De lá para cá, a situação do eleitor pode ter mudado", afirma o Tribunal em nota.


Seria bom que o TSE fizesse logo um estudo definitivo, porque vem aumentando muito a suspeita de que, desacreditando-se da política e dos políticos, os eleitores têm preferido ficar longe das urnas.





PRIMEIRA-DAMA


A imprensa repercutiu, no final de semana, que a primeira-dama, Janja da Silva, vai assumir a linha de frente das campanhas femininas do PT nas eleições municipais.


Os analistas políticos acham que ela faria papel similar ao de Michele Bolsonaro, no processo eleitoral de 2024.


Os maridos delas, presidente e ex-presidente, ambos são considerados os maiores líderes políticos do Brasil atual, e proporcionarão grande legado eleitoral a elas.


Resta saber se esse movimento vai resultar em maior participação feminina na próxima eleição municipal.



Na semana passada, em festa pré-eleitoral, o PDT de Juiz de Fora fez repetidas referências ao fundador do partido, Leonel Atagiba de Moura Brizola, que continua inscrito entre as personalidades políticas a merecer melhores estudos; estudos desapaixonados. Ao morrer, há 20 anos, junho 2004, derrotado por edema pulmonar, seguido de infarto, também ficou devendo maiores reflexões, de conteúdo teórico, sobre como pretendia atingir aquelas transformações com que passou a vida sonhando, como transformar as utopias em realidade. Nem colaboradores próximos, como Darcy Ribeiro, avançaram muito em detalhes sobre o que Brizola imaginou para vencer o poder das estruturas instaladas; e, derrubando-as, como implantar reformas dos mais diferentes espectros. Observa-se que, nas suas caminhadas, tanto tentaram combatê-lo os radicais de direita como os contemporizadores da esquerda. Os extremos igualavam-se para mirar num alvo comum.




terça-feira, 19 de março de 2024

 



A nossa (in) segurança



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))


Imagina-se que o doutor Lewandowisk deve estar se perguntando se valeu a pena deixar a mansidão de uma aposentadoria no Supremo Tribunal, para assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, exatamente numa quadra em que tanto a Justiça como a Segurança estão mergulhadas em profunda crise. E ele e seus assessores sem saberem dizer onde começam e se cruzam os muitos problemas que têm pela frente. São as tais dificuldades que costumam caminhar de mãos dadas para se tornarem insolúveis. Pobre ministro.

Deixando Brasília para acabar em Mossoró, o primeiro impacto foi conferir a situação do atual modelo penitenciário brasileiro. Ex-ministro do STF, recentemente desligado por força da compulsória, mergulha no interior do Rio Grande do Norte para constatar, pessoalmente, uma coisa que só deixa de ser pitoresca porque é trágica: dois criminosos há 40 dias escaparam de penitenciária supostamente de segurança máxima, sem que tenham avançado - como se tem assegurado ao ministro – nada além de um raio de 15 quilômetros. Ainda não explicaram ao doutor, nem se sabe se ele tem interesse em saber, como 600 policiais mobilizados, com apoio de toda uma logística, terrestre e aérea, não conseguem fechar a área e obter a recaptura.

A distante e muito simpática Mossoró tornou-se cenário, durante estas semanas, para confirmar que, no Brasil de hoje, a competência do crime desafia as leis. E também as normas penitenciárias, como prova o fato de, até o momento não terem sido apuradas responsabilidades internam que certamente facilitaram as fugas, por incompetência, negligência, incúria, corrupção ou desmazelo. Coisa que já devia estar apurada há dias.

Tudo se ajusta para concluir que se as penitenciárias não estão seguras, o que dizer de nós?, que estamos andando livres por aí.

Resolução sem unanimidade

Longe de prosperar em clima de unanimidade, a mais recente Resolução do TSE para aplicar normas ao processo eleitoral deste ano acabou acentuando divergências, além das críticas à morosidade do Congresso Nacional na discussão e legislar sobre a matéria, originalmente na área de suas atribuições. O legislativo custa a realizar, mas guarda e repete antigas queixas de invasão de seus terrenos por órgãos da Justiça. Contudo, as garantias dadas pelo Tribunal de que acabou de elaborar um conjunto de dispositivos que está entre os mais perfeitos do mundo, segundo o dizer de seu presidente, Alexandre de Moraes, não convenceram a maioria dos juristas, a começa pelo decano Ives Gandra. Eles identificam ali alguns desvirtuamentos capazes de comprometer a liberdade de expressão – quase uma censura mal camuflada - o que, talvez, teria sido evitado, se houvesse participação do Ministério Público na preparação, e isto, efetivamente, não se deu.

O papel atribuído às plataformas das redes sociais, que são forçadas a assumir o papel de polícia, depois de condenada determinada propaganda, também figura entre as dúvidas mais sentidas.

Outra questão, frequentemente citada, diz respeito ao prometido combate frontal ao discurso de ódio, indesejável e intolerável, seguindo os autores da Resolução. Porém, tomando-se em conta que vamos caminhando para uma campanha de forças e postulações radicais, cheia de tensões, cabe peguntar como seria definir, com isenção; como separar as manifestações raivosas das odientas? Como afirmar que determinado candidato foi além da impetuosidade tolerada?, ofendeu, e, por isso, está condenado a perder o registro. O que é ódio e até onde ele vai, no sentir do ministro Alexandre? Na política, a crítica ferina entre adversários pode ser facilmente promovida às escalas do ódio, segundo interesses paralelos. É o que se teme, porque tudo fica na dependência de como a divergência se presta, naquele momento, a servir de pretexto para a eliminação do adversário incômodo. O ódio, para a política, depende em quem ele fere, e quem tem o poder de julgá-lo. É muito perigoso.


terça-feira, 12 de março de 2024

 



Aventura de uma fiança



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Entre os interesses imediatos da política latina, como se tem notado, está a prometida eleição na Venezuela, agora anunciada para 28 de julho, data inspirada nos setenta anos de nascimento de Hugo Chávez (1954-2013), com quem o país inaugurou uma série de atropelos, que acabaram levando a democracia à lona. As atenções são fundadas, a começar pelo fato de que vai estar em julgamento uma das mais nefastas ditaduras do continente. Se ocorrer de as urnas atingirem a retomada da normalidade no país; e, nesse caso, se Maduro não tiver clima para permanecer na Venezuela, estará sujeito à prisão no Exterior, justificada por passadas evidências de seu envolvimento com o narcotráfico internacional. Precisará de uma terra amiga com coragem para acolhê-lo.

O fim do pesadelo Maduro estaria marcando a chegada de novos tempos para a cidadania de seus compatriotas. Algo saudável também para toda a América Latina livre, pois é indiscutível que a Venezuela sempre foi uma nação importante, ainda que hoje afogada na tragédia dos direitos humanos relegados. Cenário de monstruoso contraste de ser uma das grandes misérias de que se tem notícia, em cima de um solo que guarda as maiores reservas de petróleo do mundo. Uma funesta urdidura entre riqueza e fome.

Mas as razões para temer o que está por acontecer ali não são poucas, o que sugere a previsão sinistra de que, mais uma vez, o processo eleitoral de Caracas estará afetado pela fraude, aliada a outras iniciativas comprometedoras. Bastaria lembrar que Maduro provocou o esvaziamento da candidata de oposição, Maria Corina Machado, baseando-se em dúvidas simuladas na interpretação de fatos que seriam atentatórios, não se tratasse de uma democracia inexistente. Mandou calar o sinal de uma TV alemã, que criticara seu governo. É claríssima sua má vontade com os opositores e, em particular, com os observadores estrangeiros, que gostariam de acompanhar e vigiar a verdade das urnas. 

No Brasil, onde o ditador ainda consegue desfrutar de simpatia oficial, o que, de certa forma, o ajuda a sobreviver, o presidente Lula tem sido generoso ao acudir o amigo. Ainda na semana passada, contrariando todos os que tem o colega venezuelano sob alta suspeita, alegou que não se pode precipitar julgamento sobre uma eleição que só acontecerá dentro de quatro meses. No caso presente, contudo, é claro que o sentimento pessoal prevaleceu e não a realidade política. O chefe de Caracas tem, num vasto currículo, comportamentos passados e presentes para recomendar prudência ante as garantias que vem dando sobre uma eleição isenta. São temores à margem de precipitações.

(Ramon Heredia, escritor uruguaio, venezuelano por adoção, ao ler essas coisas que os jornalistas brasileiros têm dito sobre Maduro, encontra jeito de ironizar. Se aqui falamos que em Caracas a justiça está a serviço do governo, as eleições pecam pela fraude, a fome prospera, a corrupção e a violência institucionalizaram-se, Heredia pergunta se no Brasil a situação é diferente…)

Disseminados pelo mundo afora temores e desconfianças em relação ao que vai acontecer com os vizinhos, o apoio antecipado que veio do Palácio do Planalto, em outra delicada incursão no campo da política externa, leva o Brasil a se aventurar como fiador de véspera para algo muito duvidoso.

quinta-feira, 7 de março de 2024

 

Eleição 2024 em pauta ( LXII)


JUSTIÇA ELEITORAL



O Tribunal Superior Eleitoral fixou regras para o uso da AI (inteligência artificial) e proibiu o uso de deepfake nas eleições municipais. A Inteligência Artificial (AI) é assim conceituada: "busca fazer com que as máquinas executem tarefas complexas, simulando a inteligência humana e tomando decisões de forma autônoma."

Já o termo deepfake significa:"é uma técnica que permite usar o rosto de uma pessoa em fotos ou vídeos alterados, com ajuda de aplicativos, com inteligência artificial (IA)."

Com a deliberação do TSE, o uso irregular da tecnologia pode levar à cassação do candidato, ou, se eleito, poderá até perder o mandato.

TRAMPOLIM

Coisa que nem todos os eleitores percebem, mas faz parte das muitas armações criadas pelos partidos. O eleitor precisa estar atento. Muitos candidatos a prefeito, sabendo da impossibilidade de se elegerem, estão, na verdade, preparando sua campanha de deputado dentro de dois anos. Consideram que os votos que terão em outubro próximo serão um trampolim ou uma escada para chegar à Assembleia ou à Câmara. Não se pode dizer tratar-se de um crime, mas não deixa de ser enganação em cima do eleitor.

REGULAMENTAÇÃO

O TSE regulamentou o uso da Inteligência Artificial na propaganda eleitoral nas eleições municipais. São 12 resoluções com as regras do que pode e que não pode na campanha.

Em entrevista a GloboNews, o presidente do Tribunal, Alexandre de Moraes, disse que a normatização aprovada é uma das mais modernas em relação à utilização da Inteligência Artificial e do desvirtuamento da mesma para disseminação de conteúdo falso, fake news, notícias fraudulentas e disseminação de discurso de ódio.

REGULAMENTAÇÃO (II)

Segundo o site de notícias jurídicas Jurinews, na ausência de regulamentação, pelo Congresso Nacional, do uso da IA nas eleições, a Justiça decidiu estabelecer diretrizes para proteger a integridade do processo eleitoral e quem vai votar.

As medidas, segundo o citado site, foram bem recebidas pela comunidade jurídica, que considerou a iniciativa importante para acompanhar a rápida evolução tecnológica.

Advogado especialista em direito digital e proteção de dados, Alexander Coelho, destaca a importância de estratégias dinâmicas para lidar com a evolução tecnológica.

CÓDIGO RETOCADO”

Pinço, aqui, trecho de um artigo do “Jornal do Brasil”, de terça-feira, por considerá-lo oportuno:

Tema preferencial no painel político deste mês é a nova mexida que se pretende aplicar ao Código Eleitoral, essa peça sempre destinada a alterações de dois em dois anos, perturbação que, por si só, já justificaria pretender a coincidência de datas para renovação de mandatos. É outro tema que se arrasta há décadas. Para quem se dedica a estudos comparados da legislação em vigência nos demais países, é fácil verificar, sem esforço, que somos o único permanentemente insatisfeito com as leis, e aprecia mudá-las ou modificá-las. Tanto assim que, nos outros, nem há necessidade de tribunais eleitorais, como os que temos fartamente, tanto o superior como os regionais… Aqui, tão logo as urnas prenunciam o horizonte, e estamos empenhamos em alterar as regras, ou por inoportunas ou por força de interesses do momento”.

Agora, por iniciativa do senador Marcelo Castro (MDB-PI) estamos, de novo, debruçados sobre esse Código já cheio de remendos. Louve-se, contudo, o ponto central das discussões que estão em aberto, ao se propor o fim da reeleição, depois de sobejas demonstrações de tratar-se de um instituto que, entre outros desfavores à política e à democracia, presta-se a um intenso jogo de continuísmo, pois qualquer executivo eleito não descansa, desde o primeiro dia, antes mesmo de guardar o paletó da posse, e se empenha em longas e custosas composições para a garantia de novo mandato”.

FEDERAÇÃO

A Folha de S. Paulo informa (com detalhes) sobre um assunto que tem tudo para impactar a política nacional: a troca no comando da União Brasil reforçando a chance de federação com PP, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Esse movimento político significa que as duas siglas andariam como uma só nas eleições, tanto municipais como nacionais.

Caso a federação entre PP e União Brasil seja sacramentada, a aliança teria a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 109 parlamentares (ultrapassando o PL, hoje com 97) e alcançaria a marca de 13 senadores. Dirigentes partidários favoráveis à ideia ponderam, no entanto, que o assunto não deve ser resolvido em curto prazo.

Neste momento de "janela partidária", vereadores dos partidos PP e União Brasil podem tomar decisões de trocas partidárias, com base na situação atual, sem a concretização do projeto da federação. No caso de JF, temos vereadores filiados aos partidos envolvidos. No PP: Júlio Rossignolli, Marlon Siqueira. No União: Antônio Aguiar. Luiz Otávio (Pardal), Maurício Delgado. Sendo que, pelo que se ouve nos bastidores. Marlon deve sair do PP, Maurício Delgado vai se filiar ao partido Rede Sustentabilidade .

O objetivo dos dirigentes é formar a federação, ao menos, antes das eleições de 2026.


O vereador Marlon Siqueira, através de redes sociais, relembra os 30 anos de vigência do exitoso Plano Real, a maior realização de um presidente da República, no caso do Presidente Itamar Franco.

Registrou assim o fato histórico:

Itamar Franco mudou a história do país. Um juiz-forano, como nós, que conseguiu unir o país em um pacto econômico e social. A situação era tão grave que, nos oito anos anteriores ao Plano Real, o país teve quatro moedas diferentes, e chegou a registrar, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um aumento anual de preços de quase 2.500%. Como comparação, a inflação de 2023 foi de 4,6%”.