Há dias, em canal fechado de televisão, o senador Aécio Neves e o padre Fábio de Melo trocavam ideias a propósito de adoção ou apadrinhamento afetivo de crianças órfãs, quando a conversa esbarrou nas dificuldades burocráticas enfrentadas por famílias de boa índole, que são obrigadas a enfrentar o calvário da papelada. O rigor da lei pesa sobre quem pretende adotar, embora não tenha pesado antes sobre a paternidade irresponsável.
Hoje, o Brasil tem 29 mil crianças nos abrigos. Vinte e sete mil famílias, das 4 mil regularmente cadastradas, prontas para recebê-las.
Já se perdeu na poeira tempo a história da primeira adoção. Talvez venha do tempo das cavernas, quando se recolheu o filho de quem não conseguiu retornar de uma caçada. Seja como for, nunca a aventura do homem sobre a Terra conheceu gesto de tamanha grandeza. Transcendente na sua própria natureza, tanto que vamos encontrá-lo em dois momentos fundamentais das Escrituras: no Velho Testamento, Moisés, saído das águas, foi adotado pela princesa egípcia para libertar seu povo e com ele partir rumo à Terra Prometida. No Novo Testamento, Jesus torna-se filho adotivo do carpinteiro José, sem o que o Cristianismo não teria dado ao mundo o dogma da concepção imaculada.
(A História não esconde casos de adoções mal sucedidas, mas são exceções. Tanto que, ao tombar apunhalado junto à estátua de Pompeu, o que deixou César mais escandalizado não foram os traidores, mas ver entre eles Brutus, o filho adotivo).
A grandeza do gesto, o maior da solidariedade humana, nunca encontrou a definição perfeita. Quem esteve próximo foi Padre Vieira, notável sermonista. Pregando em São Luís do Maranhão, na festa do Carmo, em 1659, diria:
_ O filho natural ama-se porque e filho; o adotivo é filho porque se ama.
Reforma relegada
O governo tem vivido problemas internos e nas relações com o Congresso mais que suficientes para explicar o fato de reforma política estar, de novo, relegada a segundo plano. Há quinze dias não se fala no assunto, para isso contribuindo, sucessivamente, a acidentada votação do Código Florestal, a queda do ministro Palocci e os desencontros na escolha do novo titular para a Articulação Institucional. É o destino da reforma política, que conhecemos há mais de vinte anos: um projeto sempre pronto a ceder o espaço e a vez para outros temas, sejam eles importantes ou não.
Tempo de migração
O segundo semestre pode começar trazendo mais novidades do Partido Verde, depois de ter sido surpreendido com o pedido de licença do vice-presidente José Elias Valério. O partido poderá receber, nos próximos dias, a filiação de políticos atualmente ligados ao PP, incluindo o vereador Tico-Tico. Em Belo Horizonte, os dirigentes também demostraram que gostariam de contar com a filiação do empresário Cláudio Horta.
Prioridade é vereador
Uma referência válida para todos os partidos: hoje, sua principal preocupação não são possíveis candidatos a prefeito, porque a prioridade geral é a avaliação de nomes que poderão compor as chapas para a Câmara Municipal. Quando o assunto é esse, há duas preocupações que se sobrepõem às demais: convocar quem evidencia a capacidade de ter mais votos, e fazer com que nas chapas estejam representadas as categorias profissionais mais representativas. Uma terceira preocupação é contemplar candidatos dos bairros mais populosos.
Museu nonagenário
Uma das raras homenagens entre as que são prestadas pela Câmara Municipal é a Moção de Aplausos. Mas é o que vamos assistir amanhã, às 17h, tendo como alvo o Museu Mariano Procópio, para celebrar os 90 anos de sua fundação. A iniciativa é dos vereadores José Sóter Figueirôa, Flávio Cheker e José Laerte. A homenagem será prestada na pessoa do diretor Douglas Fasolato, que terá oportunidade de informar como andam as obras de recuperação do Museu, que Alfredo Ferreira Lage organizou e doou ao município em 1936.
A inauguração se deu no dia 25 de maio de 1921, coincidindo com o centenário de nascimento de Mariano Procópio.
Aguça a curiosidade saber a razão de o Congresso Nacional jamais cobrar prestação de contas ao Ministério do Planejamento, onde se supõe devam ser traçadas metas e prioridades para o País num futuro imediato. Nada se faz sem planejar, principalmente quando se trata de uma Nação. Entretanto, ninguém sabe realmente o que se tem feito, objetivamente, naquele Ministério. Provavelmente pouco ou nada.
Eduardo Evaristo de Miranda, doutor em Ecologia, não estava brincando quando disse que, aposentando-se, gostaria de trabalhar em planejamento para o governo. Moleza. A razão é simples: ali você planeja o que não executa, e depois avalia o que não fez...
(( publicado também na edição de hoje do TER NOTÍCIAS ))
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