Sem Constituinte
A promessa do senador Aécio Neves de levar a ferro e
fogo a oposição ao novo governo Dilma deve se centralizar, entre as questões
essenciais, na tentativa de impedir que o PT amplie sua campanha para a
convocação de uma Constituinte. É bem sabido que com os votos dos beneficiários
nordestinos do Bolsa Família, que são a versão contemporânea do voto de
cabresto, o governo não teria dificuldade em escrever uma Constituição como bem
entender. Para a oposição é insuficiente (a última eleição confirmou) o
argumento de que para uma Carta democrática não cabem restrições de quaisquer
ordens.
No projeto de Brasília, um dos objetivos é construir
certo controle sobre os meios de comunicação, o que seria mordaça disfarçada.
Coisa irrelevante para os eleitores do Bolsa Família.
Remédios amargos
O governo precisa criar, urgentemente, um esquema de
reação política ao quadro de decepções que criou com as más notícias que
guardou a sete chaves para divulgar após a eleição. Sob pena de criar um clima
de hostilidades, greves e manifestações de rua que logo virão. Escondeu os dois
aumentos quase sucessivos no preço da gasolina, o pior desempenho da economia
comercial nos últimos 16 anos, rombo de R$ 24 bi no Tesouro Nacional, inflação
engordando, 20% na tarifa de energia. Precisa se explicar, enquanto vive o
frescor da vitória das urnas.
Como sempre
Há cerca de 35 anos, no “Estado de S.Paulo”, Fernando
Pedreira escreveu o que, sem qualquer esforço para atualizá-lo, justifica a
reedição:
“A impunidade está garantida, porque a sofisticada e
complexa aparelhagem estatal assegura, primeiro, a socialização dos prejuízos,
e depois a competente “desapuração” dos crimes e das irregularidades
praticados, por meio de relatórios e inquéritos que se alongam até que a
opinião pública se esqueça de tudo”.
Derrota geral
Alguns raros êxitos isolados; ausentes e encantoados
os partidos; indigência de ideias e propostas, tudo coroado com uma escandalosa
votação conferida a candidatos “estrangeiros”, traçam um quadro que denuncia a
falência da classe política na cidade. As lideranças precisam descer dos
cabedais e mergulhar na autocrítica. Enquanto é tempo.
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