domingo, 31 de maio de 2015




PMDB dá a partida



O PMDB manteve tradição de anos e abriu em Juiz de Fora, com um encontro regional, as preliminares da campanha eleitoral. O partido trouxe representantes de 42 municípios da região para ouvir o vice-governador Antônio Andrade convocar as bases peemedebistas para uma movimentação que tenha por objetivo conquistar o maior número possível de prefeituras em 2016. Desse mesmo encontro saiu o lançamento de suas candidaturas: a do prefeito Bruno Siqueira à reeleição, e do vice Antônio Andrade a um novo mandato como presidente do partido em Minas.

Foi a primeira vez em que se falou publicamente da nova candidatura de Bruno. Ele não desmentiu nem confirmou disposição para tanto. Mas ontem mesmo na inauguração da creche Professora Cleonice Rainho, no Jardim Cachoeira, os peemedebistas não escondiam seu entusiasmo pela novidade. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015



Fora do páreo

Segundo o jornal O Tempo, de Belo Horizonte, a deputada federal Margarida Salomão (PT) “tem confidenciado aos próximos que não pretende se candidatar à prefeitura de Juiz de Fora no próximo ano”. Em 2008, ela chegou em primeiro lugar no primeiro turno, mas foi vencida por Custódio Mattos (PSDB). Quatro anos depois perdeu para Bruno Siqueira (PMDB).
Vale lembrar que o PT já tem decisão tomada de não abrir mão de disputar em faixa própria em 2016.


Reconhecimento

Pode ser conhecida, nos próximos dias, a decisão do governo federal de reconhecer o acervo do Museu Mariano Procópio como patrimônio nacional.  O que vale dizer: melhores condições para a instituição postular apoio financeiro em Brasília nas obras de restauração. 


Na Saúde

O ex-secretário municipal João Vitor Garcia, que por alguns anos residiu em Belo Horizonte, está de volta a Juiz de Fora para assumir uma assessoria na Regional de Saúde.


Retirada

A direção da Epamig não resistiu aos apelos políticos do PT e tirou o professor Gerson Occhi da direção do Instituto Cândido Tostes, depois de ele ter permanecido por 12 anos no cargo.


Inquietos

Grupo de filiados históricos do PSB em Juiz de Fora manifesta inquietação com atual desarticulação do partido. A última comissão executiva municipal terminou o mandato em 19 de março, e até a semana passada não havia sido registrada nova representação municipal junto à Justiça Eleitoral. “O partido está acéfalo na cidade”, queixa-se o grupo.

No mês passado, em uma reunião de filiados, informou-se que o partido deveria constituir diretório até o dia 25 passado, mas não houve qualquer convocação para isso. “Justamente neste momento histórico onde o partido ao nível nacional faz uma discussão interna sobre a possibilidade de fusão com o PPS, nós na base estamos desarticulados”, diz um dos descontentes.





quarta-feira, 27 de maio de 2015

Novo impasse


Problemas políticos, corrupção em marcha acelerada e a instabilidade no governo parecem esfriar o debate da reforma política, sem que as lideranças interessadas cheguem a profetizar se vamos ter a repetição das longas atrofias a que assistimos sobre tão importante matéria. Para tanto, terá contribuído o impasse em que mergulhou a discussão em torno do “Distritão”, colocando em campos opostos, ora divergentes ora indiferentes, os três maiores partidos - PT, PMDB, PSDB.
Parece a deputados experientes que a retomada do diálogo fica na dependência de uma próxima trégua da crise. Com uma preocupação a mais: o que tiver de ser mudado que se mude nos próximos quatro meses, porque alterações na ordem eleitoral só até 5 de outubro , um ano antes da eleição.

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Outro detalhe que ajudaria a eliminar prioridade para a reforma política é a constatação, cada vez mais nítida, de que não haverá eleição em 2016, optando-se pela prorrogação do mandato dos atuais prefeitos e vereadores. Se as urnas continuarão guardadas, por que tratar de reforma agora? A prorrogação só corre risco exatamente por ser uma quase unanimidade. E em política as questões unânimes são muitas vezes as que costumam ficar esquecidas.
Não havendo prorrogação, o caminho único é o mandato tampão. Pergunta-se: a quem interessaria gastar dinheiro em uma campanha que terá tudo para ganhar pouca motivação; apenas dois anos de mandatos, insuficientes para se fazer o mínimo necessário? Veladamente ou não, a proposta de prorrogação seria aceita com simpatia pelo governo, pelos partidos e pelos próprios prefeitos, todos com reduzida disposição de pedir votos, numa quadra em que seus prestígios andam em baixa, decorrente das dificuldades financeiras em todos os níveis do poder público.

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Em recente conferência que pronunciou na Câmara Municipal, o juiz do TRE Wladimir Rodrigues Dias dizia que o problema básico dessa reforma, da qual tanto se fala e nem por isso progride, é que cada agente político quer mudar as coisas a seu modo; olha apenas para o próprio umbigo. E lembrou, com propriedade, que há 12 anos o Brasil perdeu oportunidade de aplicar uma boa reforma, baseada em projeto de Ronaldo Caiado. Teria sido um avanço significativo.


Anulação


O deputado estadual Lafayette Andrada continua confiante em que conseguirá levar o Tribunal Regional Eleitoral a anular a convenção municipal do seu partido, PSDB, realizada neste mês, segundo ele eivada de vícios. Os ritos em relação à convocação dos convencionais não teriam sido obedecidos. A decisão da Justiça pode ser conhecida nesta semana.


Jorge Couri



Não posso deixar de registrar a dor causada pelo morte do fotógrafo Jorge Couri (85), com quem, como cheguei a dizer ao colunista César Romero, foi enterrado um pedaço de cada um de nós que, como profissionais da imprensa, aprendemos com ele e trabalhamos à sombra de sua competência. Apagou-se um capítulo da história dos jornais desta cidade. Mas esta mesma cidade seguramente ficou melhor com a passagem de Jorge pela vida. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015


Mandato tampão


Quem haveria de se aventurar em uma campanha eleitoral para ser prefeito por apenas dois anos e gastar muito dinheiro para nada poder fazer? A indagação foi feita pelo juiz titular do Tribunal Regional Eleitoral, Wladimir Rodrigues Dias, em palestra que pronunciou ontem na Câmara Municipal. “Dois anos não dão para nada”, o que o leva a admitir que, inexistindo interesse dos candidatos, a tendência é a prorrogação dos atuais mandatos, como parte de um outro propósito não menos polêmico, a coincidência dos mandatos; coincidência que não conseguiu se consolidar em tempos passados. Depois de adotada, não resistiu e voltamos à alternância no calendário. O mandato tampão estaria, portanto, condenado a enfrentar grave resistência.

Mas uma nova tentativa de coincidência tem adeptos. O professor Wladimir indica, entre eles, os candidatos a deputado estadual e federal, que reduziriam consideravelmente o custo de suas campanhas, então acopladas aos vereadores. Essa junção talvez só enfrentasse como dificuldade o fato de o processo eleitoral na grande maioria dos municípios não ser ideologizado, prevalecendo questões locais.



Falta consenso


O sistema eleitoral a ser proximamente adotado, como parte da reforma política, é uma complexidade que está longe de ganhar o mínimo de consenso entre as lideranças. A formulação do distrital ou distritão está entre os temas que maiores divergências têm produzido, como, por exemplo, entre o vice-presidente, peemedebista Michel Temer, autor do distritão, e o deputado Marcus Pestana. O deputado tucano, contrariando Temer, diz que é preciso pesar bem entre o que é desejável e o que é possível, quando se fala em substituir a eleição proporcional pela majoritária.



Para conversar
 

Quem passa o fim de semana em Juiz de Fora é o ex-ministro Anderson Adauto. Aqui, tem encontro com o prefeito de Barbacena, Antônio Carlos, e com o ex-deputado Marcello Siqueira, de quem foi contemporâneo na Câmara. Vão conversar sobre política e os rumos que ela vem tomando ultimamente.

Adauto sempre foi considerado um bom articulador político.


Primeiro passo


Foram concluídos os trabalhos de restauro do lanternim do Museu Mariano Procópio, o que coloca a Sala Maria Amália praticamente em condições de ser reaberta à visitação pública. O prefeito Bruno Siqueira, acompanhado do superintendente da Casa, Douglas Fasolato, visitou a Sala e outras dependências em fase de recuperação.

Dentro de algumas semanas os visitantes poderão conhecer peças e telas que estão sendo cuidadas, como a “Jornada dos Mártires”, de Pedro Américo, cuja restauração vai custar cerca de R$ 70 mil.



Desafio maior


Em conversa de rodas políticas, além das preocupações com a carência de dinheiro na prefeitura, costuma-se elaborar conjectura sobre os desafios do próximo mandato de prefeito. Há muitos problemas levantados, mas o mais frequente é a complexidade do tráfego na área do terminal rodoviário, ameaçada de entrar em colapso. Na verdade, ali se confunde o movimento de veículos da zona norte com o terminal, mais a próxima movimentação do hospital regional e dos novos shoppings. Alguma coisa terá de ser feita para a região escapar do estrangulamento.



Em suspense


O presidente da Câmara, Rodrigo Mattos, confirma que há um clima de expectativa e incerteza entre os vereadores, com relação à eleição de 2016. Eles têm de começar a trabalhar no caminho dos votos, mas não sabem qual será o modelo de votação, se majoritário ou proporcional, se haverá ou não coligação. Tudo no escuro.

quinta-feira, 14 de maio de 2015


Vereador distrital


Para quem alimenta planos de disputar vaga na vereança, em outubro do próximo ano, uma questão que se antecipa para estudar e debater é o projeto do senador José Serra, PL 25, que torna a eleição do vereador pelo sistema distrital; isto é, em colégios com mais de 200 mil eleitores, como o caso de Juiz de Fora. Buscar-se-á o voto em áreas limitadas. Seria, como pretende o autor, fazer dos novos vereadores um teste para incluir futuros deputados num modelo idêntico, respeitadas as dimensões do estado. Há algumas fases para o projeto vencer, mas não é de todo impossível que se transforme em lei antes de outubro, cumprindo-se a antecedência de um ano para viger. O Congresso anda precisando mostrar alguma novidade à sociedade, e pode acabar admitindo esse teste.

Tomemos o município como exemplo. Não ocorrendo mudanças substanciais na proposta de Serra, Juiz de Fora seria dividida em 19 distritos, pois este é o número de cadeiras a serem disputadas na Câmara. Cada partido poderia registrar um candidato em cada um deles.

Para a delimitação dessas áreas, tarefa a ser confiada à Justiça Eleitoral, seria obedecida, como critério, a distribuição de eleitores de tal forma que a diferença entre os distritos não avance além de 5%.



Museu Itamar


Está marcada para 1º de julho a inauguração do Museu da República, onde funcionará o Memorial Itamar Franco. A data se ajusta não apenas ao cronograma das obras finais, mas também à agenda de autoridades e familiares do ex-presidente que estarão em Juiz de Fora para o acontecimento.

A organização do acervo e sua cuidadosa disposição nos espaços é resultado de um excelente trabalho coordenado pelo professor José Alberto Pinho Neves.



As filiações


Até o dia 5 de outubro, portanto a menos de cinco meses, os candidatos a prefeito e vereador deverão estar registrados nos partidos pelos quais pretendem disputar. A lei exige que cada um esteja no seu lugar com um ano de antecedência. Não há expectativa de grandes novidades em relação a vereadores, mas quanto aos nomes para a prefeitura possíveis mudanças de legenda ainda ficam na dependência de alianças.



Honorários notáveis


Os vereadores são, muitas vezes, criticados pela prodigalidade com que oferecem títulos de Cidadania Honorária, sem embargo de que nas levas praticadas há homenagens de justiça indiscutível. Ainda assim, não passou pela cabeça de um deles que os dez maiores nomes da história de Juiz de Fora vieram de outras plagas, e bem que poderiam se tornar honorários post-mortem. Seria uma forma de ajudar a cidade a conhecer e não esquecer as obras notáveis que aqui realizaram.

Os dez, com os lugares onde nasceram, são os seguintes: Bernardo Mascarenhas (Curvelo), Eduardo de Menezes (Niterói), Henrique Halfeld (Klaustal, Alemanha), Mariano Procópio (Barbacena), Francisco Batista de Oliveira (Entre Rios de Minas), Pantaleone Arcuri (Cosenza, Itália), Barão da Bertioga (Barbacena), Antônio Dias Tostes (Santa Rita de Ibitipoca), João Penido (Paraopeba), José Procópio Teixeira (São Vicente de Minas).



terça-feira, 12 de maio de 2015


OS DOIS POLOS


Certo dia perguntaram ao então senador Aloísio Mercadante a razão de seu partido, o PT, não praticar o que havia prometido em campanhas eleitorais; quer dizer, desconhecer as muitas propostas generosamente levantadas nos comícios. Respondeu ele que a explicação é simples, e efetivamente o é: a história levou o PT a abrir mão de suas convicções para adotar as responsabilidades de governo.

Estamos diante de dois polos éticos que na política se repetem e se chocam: o pensamento, isto é, a convicção, e a responsabilidade, como já havia analisado num discurso de conteúdo filosófico outro senador, Artur da Távora. Távora, por sua vez, inspirava-se em reflexões de Max Weber, que havia deixado importante contribuição para o pensamento político no século passado.

Vale dizer: em campanha eleitoral o que se expõe é o ideal absoluto, mas ele quase sempre é inatingível no choque com a realidade. Exemplo mais recente e cruel é o caso da tarifa de energia elétrica, que a presidente Dilma prometeu em sua campanha reduzir em 11%; quatro meses depois o aumento real já passa dos 30%!

Provavelmente todos os remédios amargos que esse governo tem prescrito e os que ainda haverá de receitar seriam adotados, mesmo com doses mais suportáveis, por quem quer que a sucedesse, considerando-se que na hora do naufrágio os comandantes em pouco diferem. E não é de hoje. Joaquim Nabuco, que assistiu ao entardecer da monarquia, garantiu que nada é mais parecido com um liberal do que um conservador quando no poder.

Não é de hoje que se recomenda ao eleitor redobrar cuidados e desconfianças com o que se ouve dos candidatos. Ora, sem maiores cerimônias o presidente De Gaulle confessava que a responsabilidade pelas promessas eleitorais não é de quem as faz, mas de quem as ouve... E antes dele, bem antes dele, desanimado com as coisas que via, Alfonse Karr lamentava que em política quanto mais ela muda mais ela é a mesma coisa.


UMA CUNHA  


Coube ao deputado Lafayette Andrada apimentar a convenção municipal do PSDB no sábado, quando tentou impugnar o processo eleitoral, por considerá-lo vicioso. Criou-se um clima de tensão que nem dispensou a presença de força policial. Ele e seu grupo não tiveram como conter a facção contrária, liderada pelo presidente da Câmara, vereador Rodrigo Mattos, mas é preciso reconhecer que Lafayette conseguiu seu intento: ele instalou uma cunha no diretório e ganhou a liderança de um segmento tucano num diretório até agora vivendo um ambiente de remanso e de pouca disposição.

Convenções quentes como essa a cidade não via desde a década de 70, quando digladiavam os grupos de Sílvio Abreu e Tarcísio Delgado.


SUCESSÃO MUNICIPAL


Garantem fontes ligadas às atividades de bastidores da Assembleia Legislativa que o deputado Antônio Jorge não desistiu de seu projeto de disputar a prefeitura. Houve quem dissesse que ele teria novos e diferentes planos.

O deputado é do PPS, e em breve poderá ser animado com a possibilidade de estender ao campo municipal a esperava aliança nacional de seu partido com o PSB.


DE VOLTA


Após um longo e rigoroso tratamento de saúde, que o manteve afastado durante quase dois anos, está retornando às atividades o ex-deputado Agostinho Valente. Não na política, para a qual parece não ter planos imediatos. Seria um retorno à advocacia.


MAR ABERTO



As coisas na política nacional andam de tal forma complicadas, agravadas com a sucessão de novas denúncias de corrupção nas esferas oficiais; é tamanho o desencanto com o governo, onde sua principal base de sustentação parlamentar se fracciona sob o ímpeto da luta por favores imediatos; quando Lula, o criador, e Dilma, a criatura, içam velas para diferentes ventos, a conclusão que se chega é que a presidente já não navega mais em águas costeiras. Vem se debatendo com perigosas tempestades do alto mar.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

QUEM FOI QUE DISSE ISSO?



Coisa que não falta nas páginas que os povos escrevem na sua interminável aventura de passar pela história – pelo contrário, tem até uma regular frequência – é a equivocada paternidade atribuída a frases de personalidades famosas, sem embargo de muitas terem contribuído para celebrar quem de fato não as proferiu. Não raro, os verdadeiros autores morreram incógnitos. Somam-se a isso, então, inumeráveis injustiças.

Na linha das invencionices, pode-se dizer logo, nem as Sagradas Escrituras escaparam. Onde foi que se leu na Bíblia, em que profeta, em que Livro, essa sinistra advertência sobre o fim dos tempos: “De mil passará a dois mil não chegará:” Foi preciso que o milênio dobrasse sua escalada no calendário para que tal castigo, afinal, não se confirmasse. Nem no Antigo nem no Novo Testamento houve quem elaborasse tal previsão. Mas as pessoas passaram séculos repetindo a terrível previsão.

Sem mergulhar tão longe no tempo, sem sair das montanhas de Minas, é possível lembrar casos que se celebram no folclore político. São casos pitorescos do disse-não-disse, ou, se realmente se disse, não pelas bocas em que acabaram conhecidos. Consta que Gustavo Capanema (1900-1985) foi se queixar com José Maria Alkimin (1901-1974), ambos ministros em diferentes ocasiões, pelo fato de ao habilidoso político de Bocaiúva se creditar a autoria de um conhecido dizer, na verdade de autoria do conterrâneo Capanema. É um singular exemplo de frase que alçou equivocada paternidade. “O que importa em política não é o fato, mas a versão do fato”. E Alkmiin, de inteligência rápida, se valeu da queixa para dizer que o sentido da frase estava então confirmado: o que prevalece não é o fato, mas a versão que dele se leva... Dono não é quem cria, mas quem os outros acham que foi o criador.

Ainda no cenário da vida pública no Estado, sem escapar da seara do folclórico raposismo, graças ao notável Nélson Rodrigues foi creditada a Otto Lara Resende uma soberba e cruel definição do jeito de ser de nossa gente: “Mineiro só é solidário no câncer”. Pois Otto morreu garantindo que jamais disse isso, o que, aliás, de pouco valeu, pois a versão da frase nunca dita já estava na boca do mundo, à revelia da vítima.

Persistindo em Minas, onde não são raros os equívocos de que estamos tratando, cabe lembrar que o ex-governador Magalhães Pinto é sempre citado nos casos de repentinas mudanças no cenário político, por ter dito, certa feita, que “a política é como a nuvem: olha-se para o céu é uma coisa; daqui a pouco olha-se de novo e já é totalmente diferente”. Mas, muito antes dele, quem assim falou, com as mesmas palavras, foi Raul Soares (1877-1924), também mineiro, ministro da Marinha no governo Epitácio Pessoa.

Voltaremos à seara dos políticos mineiros, depois de uma incursão além do oceano, onde se colhe fartura ainda maior dessas mal definidas paternidades entre célebres frasistas ou os que delas se aproveitaram. Já de imediato, vem o caso do popular verso tido como autoria de Fernando Pessoa, vate de superior talento. Pois o conhecido “navegar é preciso, viver não é preciso”, que ficou muito bem na biografia do poeta, citado nos momentos mais elevados da inspiração lusa, na verdade vem de muito antes. Podemos conhecer o verso em “Vidas Paralelas”, de Plutarco (106-48 aC ), ao citar Pompeu, que gritava para seus marinheiros desacorçoados e temerosos: “Navegar é preciso, viver não preciso”.

De onde teriam surgido; de que forma teriam propagado essas confusões?, que, como se disse, nem sempre praticadas involuntariamente. Ao acaso muito se deveu, é verdade. Mas à maldade também cabe um pouco. Aos descuidos dos cronistas alguma coisa se credita. Escorregões dos historiadores sempre houve. Nem sempre, portanto, é possível definir responsabilidades. As crônicas da Europa podem confirmar isso, se sobre elas se fizer uma pesquisa, superficial que seja.

Há casos em que alguém ou alguns se esforçam para corrigir o que erradamente vai passando pelo tempo. Ainda recentemente a Société Voltaire, com sede na França, garantiu, e disto afirma ter provas, que o grande sábio, patrono da instituição, jamais disse “Não concordo com uma só palavra do que você diga, mas vou defender seu direito de dizê-la até a minha morte”. Se ele não disse, considere-se, contudo, que de tal afirmativa, em nome da liberdade de expressão muitas vezes violada, Voltaire gostaria de ter sido o autor...

Manuel Lobato, que assina crônica semanal no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, lembra que o poeta francês Henri de Régnier, morto em 1936, membro da Academia de Letras Francesa, deixou em seu livro “Ele, as mulheres e o amor” o seguinte verso: “O amor é eterno enquanto dura”. Disto muito tempo depois aproveitou-se o consagrado Vinícius de Morais para reproduzi-lo em um soneto, sem que por isto deva ser condenado, pois mesmo antes dele foram muitos os que importaram aquela inspiração do poeta francês.

Volto a Lobato para citar um comentário de sua autoria sobre plágios, que, se existem na literatura, encontradiços com a mesma frequência na música. “Richard Strauss incluiu longo trecho da Nona Sinfonia de Beethoven no seu poema sinfônico. A música “Peixe Vivo” tem um trecho da ópera “Dinorah”, de Mayerbeer, Nessa linha nem escaparia nossa conhecida “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, que aproveitou trecho da ópera La Bohème, de Puccini. Famosa dos carnavais passados, “Nega Maluca”, de Fernando Lobo e Evando Rui, é, na segunda parte, uma cópia da embolada “Vamos no Mato”, da dupla Jararaca e Ratinho.”

Nem sempre se revela tarefa das mais fáceis afirmar que determinados versos e sons estão sob paternidade suspeita. Pode ser que tanto seriam apropriações maldosas como equívocos nas transcrições. Vale ter em mente a lição de Tom Jobim, para quem música plagiada é a que tem, de uma outra, oito compassos consecutivos; quando são de caráter diatônico, isso é, marcas melódicas na linha das escala.

E já que se aventura no campo musical, onde são tratadas como plágio as mesmas confusões que conhecemos nas frases de escritores e políticos, cabe registrar caso famoso que ocorreu em Juiz de Fora. Em 1995, durante o Festival Internacional de Música Colonial, no Centro Cultural Pró-Música, ocorreu um espanto geral dos ouvintes quando a orquestra regida pelo maestro Sérgio Dias executou a “Matinas de Nossa Senhora da Conceição”, do Padre José Maurício Nunes, que a compôs em 1821 ou 1822. Havia um trecho claramente aproveitado no Hino Nacional, composto por Francisco Manuel da Silva (1795-1865), aluno do Padre Maurício e copista da orquestra da Corte. Portanto, um aluno com tudo para ter em mãos o que criara seu grande mestre Padre, autor de mais de 500 peças, tendo sido também o primeiro a reger nas Américas o Requiem de Mozart. Portanto, até nosso Hino!

Antes que passe a oportunidade, fique registrada uma das mais famosas mentiras, repetida e jamais suficientemente desfeita na crônica da diplomacia brasileira. Creditava-se a autoria ao presidente francês Charles De Gaulle (1890-1970), e graças à comprovação da falsidade da autoria da frase foi possível evitar que ela acabasse gerando constrangimento internacional. Na verdade, não foi De Gaulle quem se referiu ao Brasil dizendo “N'est pas un pays serieux” (“não é um país sério”), porque realmente quem disse isso foi o jurista Evandro Lins e Silva (1912-2002), quando ministro do Exterior, por ocasião da chamada Guerra da Lagosta, pitoresco episódio provocado por um empresário brasileiro pouco sério, que descumpriu acordo assumido com a França relativamente à apanha de lagosta na plataforma submarina do Nordeste. Para protestar, apareceu na região o porta-aviões Clemenceau. Com essa presença ameaçadora as coisas logo se acalmaram e os franceses saborearam o crustáceo de sua preferência. Mas a frase debochada ficou sendo de seu presidente, até hoje citado por dizer o que de fato nunca disse.

O jornalista Hélio Fernandes publicou em sua coluna uma dúvida, que certamente é formulada por muitos: a frase pertence a quem a cria ou a quem a imortaliza? Estava se referindo à conhecida “Restabeleça-se a moralidade ou nos locupletemos todos”, imortalizada por Sérgio Porto e outros cronistas, mas criada por Capistrano de Abreu (1853-1927).

Em campanha eleitoral na década de 50, o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à presidência da República, fez o Brasil inteiro ouvir que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, esquecendo-se de dizer que estava repetindo o que já havia dito Aldus Huxley. E Getúlio Vargas, que viria a disputar com o mesmo Brigadeiro, deixou de dizer ao seu eleitorado que o ”só o amor constrói” já havia saído da boca de Schoppenhauer.

(um parêntese em relação à candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes. Ele se tornou vítima politicamente fatal de uma frase que lhe puseram na boca, e que ele jamais pronunciou. Havia dito, sim, que não precisava dos votos de desocupados. Mas Hugo Borghi, amigo de seu adversário, Getúlio, apregoou que dissera: ”Não preciso dos votos de marmiteiros” o que correu o Brasil como fogo de morro acima; (fogo de morro acima, para repetir verso do nosso grande Belmiro Braga).

E em Minas, quando o governador Francelino Pereira, espantado com os rumos da política nacional, indagou ”Que País é este”, estava navegando em águas de Voltaire, quando o pensador francês disse a mesma coisa em seu personagem Cândido, que visitava o Eldorado.

No tempo em que novas ideias tentavam fincar pé num Brasil monárquico, sobretudo nos idos de 1842, quando se assistia à epopéia de Teófilo Otoni, travavam batalhas parlamentares os liberais, apelidados de saquaremas, conservadores, e os luzias, liberais. Já então, há mais de 150 anos, entendiam muitos que, quem quer que estivesse no Gabinete do Imperador, as mudanças seriam escassas, quase inexistentes, porque a história ensina que grupos políticos, quando galgam o poder, são quase irmãos gêmeos. Vem daquele tempo um ditado que perdurou: “Nada mais parecido com um luzia que um saquarema no poder”. Nada é tal igual a um conservador como um liberal no poder.

Muito tempo depois, já agora nos dias que são nossos contemporâneos, e certo de que nada mudou, o ministro Delfim Neto garantiu que “nada mais parecido com o governo do que a oposição no governo”. Colega seu de Ministério, Roberto Campos veio atrás garantindo que “a esquerda no Brasil é, tão somente, a direita fora do poder”.

Para encerrar, um episódio literário de Juiz de Fora, que vamos buscar nos registros de Haroldo de Carvalho Castro, grande intelectual mineiro, em sua “Aproximativas”, publicada em julho de 1982, citando o poeta Rangel Coelho, que, entrando num sebo, deparou com um livro de sua autoria, com dedicatória a Floriano, amigo fraterno. Descreve Haroldo “Poetas e pensadores tomam frequentemente como frontespício ou mote, conceitos, períodos ou meros episódios na essência de suas inspirações. Rangel Coelho, literato de elevado nível cultural, conhecendo o episódio de Bernard Shaw que encontrara entre obras usadas um livro seu antigo com dedicatória ao amigo, comprando-o e escreveu: A X, com meus cumprimentos renovados... O poeta juiz-forano defronta-se com situação análoga e escreve a Floriano Lopes: “Com a insistência do Rangel Coelho”.



terça-feira, 5 de maio de 2015


Fora da pauta


Nesta altura dos acontecimentos, quando os poderes constituídos não sabem exatamente aonde ir para buscar a solução da multifacetada crise nacional, o que se tem como certo é que o impeachment da presidente Dilma não traria qualquer contribuição para remover os impasses; pelo contrário, viria com todos os ingredientes capazes de agravar com tintas pretas uma paisagem já sombria. Portanto, o PSDB afasta essa via. Os que advogam o impedimento lembram o caso Collor, mas longe de servir de modelo, porque com ele a metade do mandato já havia sido cumprida, No caso da atual presidente, ela só tem cinco meses de gestão. Há um mandato inteiro pela frente.

Acresce, ainda na linha das diferenças, que contrariamente ao que se viu em 92, não dispomos hoje de um organismo estatal suficientemente forte para resistir ao tranco de um remédio tão forte. O Brasil está raquítico, doente, sem condições de absorver os efeitos colaterais de um remédio poderoso como o impeachment. Suas instituições não resistiriam. (Numa comparação grosseira: a pessoa pode curar a dor de cabeça como 200 gotas de novalgina, mas logo logo a pressão vai a zero e ela morre...)

Sob o aspecto político da indesejável medida, há que se observar que, apeada a presidente, a consequência imediata seria a transferência do discurso de oposição para o PT, que teria mais de três anos para bombardear o novo governo, sem mais a obrigação de realizar, mas apenas criticar; e com isso preparando-se para voltar em 2018. Eis um régio presente aos petistas, ainda que ao preço do sacrifício daquela senhora, a quem continua faltando qualquer cacoete de estadista.

Cinto apertado


A quem pretender examinar as condições financeiras dos 5.500 municípios brasileiros será fácil constatar que serão raríssimos os casos em que as prefeituras não estão mergulhadas na mais comovente indigência. Fácil de explicar. O governo federal, também empobrecido, não quer abrir mão do que ainda tem em seus cofres, de onde seria possível tirar um pouco para dividir melhor a miséria. O desenvolvimento industrial estancou, reduzindo a capacidade de empregos e afogando o recolhimento de impostos. O ICMS está falido. E se a União enfrenta dificuldades, elas têm reflexo direto nos estados, e destes sobre os municípios. Uma bola que vem ladeira abaixo. No caso de Juiz de Fora, o prefeito Bruno Siqueira recomendou que as secretarias pratiquem economia rigorosa de gastos, até que a tempestade passe.


Cordialidade


O governador do Rio, Luiz Fernando Pesão, passou feriado e fim de semana em Juiz\de Fora, onde visitou familiares. Certamente sem intenção de conversar sobre política, foi cordial com os que deles se aproximaram, como José Elias Valério, do PMN, durante ocasional encontro no Bar do Bigode.


Novo partido


O Solidariedade, que tem sido apontado como um dos mais promissores nessa leva de novos partidos, terá em breve sua comissão provisória em Juiz de Fora. Quem está trabalhando com esse objetivo é Marcelo Barra, nome conhecido na organização de clubes sociais e entidades carnavalescas.