OS DOIS POLOS
Certo dia
perguntaram ao então senador Aloísio Mercadante a razão de seu partido, o PT,
não praticar o que havia prometido em campanhas eleitorais; quer dizer,
desconhecer as muitas propostas generosamente levantadas nos comícios.
Respondeu ele que a explicação é simples, e efetivamente o é: a história levou
o PT a abrir mão de suas convicções para adotar as responsabilidades de
governo.
Estamos
diante de dois polos éticos que na política se repetem e se chocam: o
pensamento, isto é, a convicção, e a responsabilidade, como já havia analisado
num discurso de conteúdo filosófico outro senador, Artur da Távora. Távora, por
sua vez, inspirava-se em reflexões de Max Weber, que havia deixado importante
contribuição para o pensamento político no século passado.
Vale dizer:
em campanha eleitoral o que se expõe é o ideal absoluto, mas ele quase sempre é
inatingível no choque com a realidade. Exemplo mais recente e cruel é o caso da
tarifa de energia elétrica, que a presidente Dilma prometeu em sua campanha
reduzir em 11%; quatro meses depois o aumento real já passa dos 30%!
Provavelmente
todos os remédios amargos que esse governo tem prescrito e os que ainda haverá
de receitar seriam adotados, mesmo com doses mais suportáveis, por quem quer
que a sucedesse, considerando-se que na hora do naufrágio os comandantes em
pouco diferem. E não é de hoje. Joaquim Nabuco, que assistiu ao entardecer da
monarquia, garantiu que nada é mais parecido com um liberal do que um conservador
quando no poder.
Não é de
hoje que se recomenda ao eleitor redobrar cuidados e desconfianças com o que se
ouve dos candidatos. Ora, sem maiores cerimônias o presidente De Gaulle
confessava que a responsabilidade pelas promessas eleitorais não é de quem as
faz, mas de quem as ouve... E antes dele, bem antes dele, desanimado com as
coisas que via, Alfonse Karr lamentava que em política quanto mais ela muda
mais ela é a mesma coisa.
UMA CUNHA
Coube ao
deputado Lafayette Andrada apimentar a convenção municipal do PSDB no sábado,
quando tentou impugnar o processo eleitoral, por considerá-lo vicioso. Criou-se
um clima de tensão que nem dispensou a presença de força policial. Ele e seu
grupo não tiveram como conter a facção contrária, liderada pelo presidente da
Câmara, vereador Rodrigo Mattos, mas é preciso reconhecer que Lafayette
conseguiu seu intento: ele instalou uma cunha no diretório e ganhou a liderança
de um segmento tucano num diretório até agora vivendo um ambiente de remanso e
de pouca disposição.
Convenções
quentes como essa a cidade não via desde a década de 70, quando digladiavam os
grupos de Sílvio Abreu e Tarcísio Delgado.
SUCESSÃO MUNICIPAL
Garantem
fontes ligadas às atividades de bastidores da Assembleia Legislativa que o
deputado Antônio Jorge não desistiu de seu projeto de disputar a prefeitura.
Houve quem dissesse que ele teria novos e diferentes planos.
O deputado é
do PPS, e em breve poderá ser animado com a possibilidade de estender ao campo
municipal a esperava aliança nacional de seu partido com o PSB.
DE VOLTA
Após um
longo e rigoroso tratamento de saúde, que o manteve afastado durante quase dois
anos, está retornando às atividades o ex-deputado Agostinho Valente. Não na
política, para a qual parece não ter planos imediatos. Seria um retorno à
advocacia.
MAR ABERTO
As coisas na
política nacional andam de tal forma complicadas, agravadas com a sucessão de
novas denúncias de corrupção nas esferas oficiais; é tamanho o desencanto com o
governo, onde sua principal base de sustentação parlamentar se fracciona sob o
ímpeto da luta por favores imediatos; quando Lula, o criador, e Dilma, a
criatura, içam velas para diferentes ventos, a conclusão que se chega é que a
presidente já não navega mais em águas costeiras. Vem se debatendo com
perigosas tempestades do alto mar.
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