REFLEXÕES
No dia de Finados, que está para chegar, bom seria
que além das visitas atropeladas aos cemitérios, a gente se prestasse a uma
reflexão sobre a morte, a ela todos condenados, por mais que queiramos nos
imaginar como fantástica exceção. Refletir a começar pelo fato de que a vida do
homem e as relações com outrem se aperfeiçoam exatamente na valorização da
morte, o que há dois mil anos tem levado os cristãos a aprender e ensinar que o
verdadeiro sentido da experiência humana é estar preparada para o que vem
depois. Não obstante, alguém já teria dito que bom mesmo é morrer jovem, com a
idade bem avançada...
E se a morte é eterna, sem retornos e
sem avanços, a duração do viver é o de menos, principalmente “depois de se
contemplar o voo dos pássaros, a alegria das flores ao sol, as cores e linhas
de um quadro de Velasquez, qualquer que seja a duração da nossa vida”, no dizer
do jornalista Mauro Santayana.
E olhando melhor esse grande mistério
já vivido pelos que nos antecederam, não há quem possa discordar do teólogo
Leonardo Boff, quando escreve que somos inteiros, mas não prontos. Porque vamos
nascendo lentamente, até acabar de nascer. É quando estamos morrendo.
Darcy Ribeiro definiu que ela “é quando a pulsão da vida que
está na carne se apaga. Então a carne volta a ser o que ela é, volta à natureza
cósmica. A grande coisa que há na vida é o nascimento da morte”.
O que não podemos esquecer, principalmente amanhã, é que estar
vivo é estar condenado. Como diria Joel da Silveira, é a certeza de que a
última batalha nós vamos perder.
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