Ficha Suja
O ministro do Supremo Tribunal Federal
Luiz Fux assumiu, ontem, a presidência do Tribunal Superior Eleitoral,
substituindo o ministro Gilmar Mendes. Nos próximos meses terá por incumbência
principal comandar as sessões da corte e definir regras a serem seguidas pelos
políticos durante a próxima campanha eleitoral, que começa em agosto. Fux fica
no cargo até no dia 15 de agosto, data final para o pedido de registro das
candidaturas, véspera do início oficial da campanha. A ministra Rosa Weber o
sucederá e, portanto, será ela que estará à frente do Tribunal durante as
eleições. Mesmo antes da campanha, Fux terá questões relevantes para tratar.
Em seu discurso de posse ele defendeu a lei
da "Ficha Limpa", que proíbe a candidatura de condenados em segunda
instância. “Digo em alto e bom som: ficha-suja está fora do jogo democrático”,
afirmou.
Cabe ao TSE validar ou não a participação
de políticos. Pela imprensa, sabemos que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete
pedir o registro de sua candidatura à presidência da República, não obstante
condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o
que o torna inelegível pelos critérios da Lei Complementar 135 de 2010 ('Ficha
Limpa'), que trata das condições de inelegibilidade, tendo sua origem em projeto de lei de iniciativa
popular, idealizado pelo ex-magistrado Márlon Reis (entre outros juristas), que
reuniu cerca de 1,6 milhão de assinaturas, com o objetivo de aumentar a
idoneidade dos candidatos. Ela torna inelegível, por oito anos, o candidato que
tiver mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por
decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a
possibilidade de recursos.
Tal lei surgiu em junho de 2010, fruto,
como se disse, de iniciativa popular, com a Campanha da Ficha Limpa, pelo
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Desenvolve-se essa campanha
por conta das manifestações de diversos setores da sociedade, pedindo rigor
para as candidaturas políticas e no combate à corrupção. A coleta de
assinaturas para a lei da Ficha Limpa foi iniciada em 2008, pois era necessário
alcançar mais de 1,3 milhão de assinaturas para que o projeto fosse levado ao
Congresso Nacional. Tamanha a adesão popular, que em poucos meses o projeto foi
levado ao então presidente da Câmara de Deputados, Michel Temer. O projeto
tramitou como qualquer outra lei no Brasil: passou pela Câmara dos Deputados,
numa comissão que reunia representantes de todos os partidos políticos. No
Senado Federal houve apenas uma alteração na redação, e foi sancionada pelo
então presidente Lula. E, por uma ironia do destino, Lula poderá ser punido
pela lei da "Ficha Limpa”.
Direito adquirido
Há 30 anos, fevereiro de
1988, o Congresso Constituinte estava entrando num assunto que passou à margem
da Carta, continua em aberto, sem que se saiba se há alguém que se disponha a
retomá-lo. Trata-se do polêmico fim do chamado direito adquirido. A proposta,
que vinha com a assinatura de Ronan
Tito. Agassis de Almeida e Osvaldo
Trevisan, pretendia tirar da Constituição o princípio do direito adquirido, que
restringe a liberdade do julgador de
votar leis alternativas, quando se entender conveniente ao interesse
público. Serviria, por exemplo, para cobrar contribuição previdenciária de
servidor inativo.
Apenas Brasil, Estados
Unidos e México o mantém como cânon constitucional. Nos demais é lei ordinária.
Pouco antes de as
discussões serem interrompidas em torno do tema, vieram em seu apoio os mineiros Pimenta da Veiga,
Itamar Franco e Aécio Neves, além de Roberto Freire.
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