Propaganda enganosa
((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))
Começou o horário eleitoral gratuito no rádio e TV. Em outras épocas, a campanha limitava-se à propaganda apenas a esses meios de comunicação, diferentemente de agora, quando estão no cenário as redes sociais (whatsapp, facebook, instagram etc.) a levar a mensagem dos candidatos. Ideal é que houvesse alguma sinergia entre o rádio, a TV e redes sociais na divulgação dos candidatos.
A dúvida que se tem é quanto ao alcance da propaganda, sobretudo entre os mais jovens, que vão deixando de lado o hábito de ver TV ou ouvir rádio. E, quando o fazem, é através das redes sociais. Entretanto, parece que as assessorias sabem como lidar com isso. Espera-se que consigam motivar a participação dos eleitores, reduzindo-se a abstenção.
Lembranças de eleições anteriores dizem respeito ao uso equivocado de boa parcela dos candidatos, que, pretendendo chamar atenção, conseguiram transformar o horário gratuito em espetáculo de bizarrices, às vezes engraçadas, às vezes de mau gosto. O que revela certa despreocupação dos partidos com o espaço público concedido para veicular propostas.
O público espectador da propaganda na TV geralmente desgosta do horário reservado pela Justiça Eleitoral, mesmo quando de curta duração. Na avaliação de alguns, é chatice que devia acabar, enquanto, em outros, a crítica é a qualidade do conteúdo. Seja como for, permite-se concluir que é mais eficaz a mensagem de curta duração, inserida no meio da programação comercial.
Enfim, a nós, eleitores, resta ter o discernimento suficiente para desconsiderar a propaganda enganosa, essa que ludibria os desavisados. O melhor a se fazer é avaliar as propostas em conversa com os amigos, com os círculos de convivência, e votar com consciência. O eleitor só tem um voto, e deve privilegiar aqueles que carregam uma história de vida consentânea ao cargo que pretende ocupar.
A tentação da reeleição
Tem sido frequente, nas entrevistas com candidatos à Presidência da República, indagar se estariam dispostos a ceder à tentação de um segundo mandato; o caso, agora, de quem for eleito pela primeira vez. A prudência tem sugerido que os consultados neguem a intenção, embora eles e todos saibam que o projeto de reeleição escapa de seu domínio, porque é sempre determinado pela contingência, pelo momento. Chegada a hora, o presidente ou governador vê-se diante de pouco poder de decisão, ainda que, sinceramente, pretenda cumprir o que foi prometido, contentar-se com mandato único, esquecendo a aventura de mais quatro anos.
As forças políticas e, sobretudo, os interesses econômicos que se formam e prosperam ao lado do chefe do Executivo, é que impõem a busca da perpetuação no poder. O presidente Castello Branco, nos idos do golpe de 64, havia prometido passar o governo em janeiro de 66 a quem fosse eleito para substituí-lo. Não obstante, mesmo sendo considerado um homem pessoalmente honrado, não teve como cumprir a palavra, em nome do que se convencionou chamar de “emergência revolucionária”.
Resta o fato de a reeleição ser um instituto sem maior acolhida na tradição da política brasileira, só rompida com Vargas, na década de 30, e, bem mais tarde, com os segundos mandatos de Fernando Henrique, Lula e Dilma. Deu no que deu.
Acerca de alguns mistérios
Os mistérios da política costumam ser mais salientes do que permite a avaliação de quem a observa. Já se disse sobre a estranha realidade de estarmos frente a uma eleição, a mais polarizada e tensa de todas, sem que para tanto hajam contribuído divergências em torno de um verdadeiro projeto de poder e de governo. O eleitorado é instado a ser árbitro de dissidências que nada têm a ver com os interesses do país. Em rigor, é chamado a votar coisas sem importância maior.
Não menos misteriosa é a questão das urnas eletrônicas, tidas como resultado da mais alta tecnologia, elogiadas em quase todo o mundo, mas, ao mesmo tempo, cercadas de grandes dúvidas quanto à sua capacidade de respeitar o voto que lhes é confiado.
O pasmo, capaz de preocupar o eleitor, estende-se às pesquisas sobre intenção de voto, que variam entre a derrota de um candidato e a vitória de outro em turno único. Mais ainda: os preferidos são exatamente os mais rejeitados… Em que ruas e caminhos andam os pesquisadores, que continuam esbarrando em número tão conflitantes? Mistério.
Outra indagação diz respeito ao papel dos partidos, quando estão a um mês da eleição. Um dado curioso, sem necessidade de citar outras incongruências, está refletido na campanha da senadora Simone Tebet. Ela disputa a Presidência da República, oficialmente apoiada por dois dos três maiores partidos do Brasil, MDB e PSDB. E nem por isso consegue romper a linha dos dois dígitos. Que mistério é esse?
Salvação em Minas
Alguém conseguiu colocar na cabeça do presidente Bolsonaro que a melhor garantia de êxito na reeleição está na capacidade de reverter quadro desfavorável em Minas, embora seus números não sejam, hoje, tão sombrios como os que se podia ler em semanas passadas. Confiante no poder dessa decisão, foi o que o levou a um fervoroso apelo, na última quarta-feira, quando disse aos mineiros que conta com seus votos para vencer no primeiro turno. Ali as pesquisas não lhe andavam favoráveis, apesar de uma camuflada e discreta simpatia do governador Romeu Zema, que, contudo, promete escancarar o apoio num eventual segundo turno.
(Valeria registar uma observação recorrente e lúcida de Vittorio Mediolli, prefeito de Betim, sobre os votos discretos dos mineiros, assim mantidos até o instante final: na última eleição, a pouco mais de um mês, o governador Romeu Zema tinha 3% nas pesquisas, mas ganhou de Antônio Anastasia com 72%).
Em relação a Minas, há uma crença quase folclórica de que o eleitor realmente esconde sua preferência enquanto o tempo lhe permite, o que a muitos pode significar insegurança. Na verdade, a própria posição do estado, como segundo maior colégio eleitoral, encostado entre os dois outros maiores, São Paulo e Rio, faz com que se deixe assumir um papel pendular, sob influências vizinhas. Talvez também possa concorrer para isso, entre outros fatores, estarem aquelas montanhas, como definia Tancredo Neves, no meio do caminho entre as riquezas do Sul e a pobreza do Nordeste. Atropelada pelas diferenças, a política dos mineiros seria mais cuidadosa para se posicionar. Portanto, o fiel de balança a atrair o interesse do presidente.
Em 1989 ocorreu um fato que ajudou a consolidar a crença de que em Minas que as coisas custam influir, e é preciso garimpá-las, como os antigos faiscadores de ouro. Foi o ano em que Leonel Brizola não acreditou nessa fama, dispensou Hélio Garcia para compor a chapa presidencial, preferindo busca um companheiro em Pernambuco. Perdeu para Lula por menos de 2%, diferença que os mineiros cobririam com facilidade, se um dos seus compusesse a chapa. Fernando Collor preferiu não arriscar. Buscou Itamar Franco e venceu.
O primeiro debate
O debate entre os “presidenciáveis”, na tela da Band, domingo à noite, confirmou que precisamos aprofundar o discurso sobre um verdadeiro projeto para o Brasil. Via de regra, os candidatos empurraram os telespectadores para o campo das boas intenções ou das fantasias; ou, no caso dos dois que lideram as pesquisas, mais preocupados com o que já fizeram, um mergulho no passado, como se os desafios do futuro fossem mera ficção.
Repetiu-se o que em comentários anteriores aqui se lamentou sobre o formato desses debates televisivos: as perguntas que trocavam entre si preocupavam-se, antes de tudo, em deixar envergonhados ou constrangidos os opositores. Cobranças e ciladas.
Mirando agora o segundo turno, que parece menos improvável, ficou claro que apenas o candidato do Novo, Felipe D’Ávila, saiu de cena em situação confortável para aderir a um dos dois candidatos que estarão em confronto no último domingo de outubro. Os demais, tanto se xingaram, tanto se ofenderam, que não terão como convidar seus eleitores a optar. A não ser que enterrem a coerência.
Em certas incursões, tentando se blindar das mazelas, alguns garantiram que seu mundo não é da política. Então, de que mundo sã