quarta-feira, 28 de junho de 2023

 


Eleição 2024 em pauta ( XXVI)

1 - governador Zema deverá estar em Juiz de Fora no próximo dia 7. No tocante ao fortalecimento do partido na cidade, com vistas às eleições municipais, a intenção é ter chapa completa para vereador e candidato próprio à prefeitura. O partido Novo, ao indicar um nome para prefeito, terá de optar por alguém próximo do governador. Como, por exemplo, o médico Carlos Eduardo Amaral, que foi secretário de Estado da Saúde, na gestão anterior, e candidato a deputado federal em 2022, obtendo 11.264 votos.

2 - Uma indagação insistente, que perturba políticos de todos os matizes: sendo ou não condenado, nas próximas horas, pelo Tribunal Superior Eleitoral, qual será o peso do ex-presidente Jair Bolsonaro nas próximas eleições? Para muitos, tornando-se inelegível, figurando como mártir, ele teria mais peso eleitoral, reeditando os louros que colheu em 2018, quando sofreu atentado em Juiz de Fora.

3 - A propósito, disse o “Jornal do Brasil” na terça-feira: ” Se condenado, pode ser que ele reedite o papel do mártir, sem o sangue da facada de setembro de 2018, mas com o mesmo potencial eleitoral, o que resultaria, se não de imediato, uma futura cadeira do Senado; tal como se deu com Fernando Collor, apeado do cargo por força do impeachment, mas com o consolo de ter o Congresso garantido. Se, de outro lado, o ex-presidente passa ileso pelo TSE, sai fortalecido do episódio, o que também é aborrecimento para os adversários”.

4 - Durante entrevista na FM O Tempo, segunda-feira, disse o deputado federal Pinheirinho (PP), presidente estadual do partido: eventual saída do governador Romeu Zema do Novo em direção ao Partido Progressistas torna-se grande especulação no cenário político para as eleições presidenciais de 2026.

Afirmou o parlamentar: “em Minas Gerais temos um alinhamento muito grande com o governador. O Progressistas foi um dos primeiros partidos a apoiá-lo na reeleição, e certamente estaremos fazendo junto a ele essa discussão para a sucessão no estado em 2026. Mas, primeiro temos que vencer essa etapa, das eleições municipais do próximo ano, fortalecer o partido em todos os municípios, para podermos aumentar a bancada de deputados federais, que é o nosso primeiro objetivo”.

5 - A quem acha que ainda é cedo para se preocupar com a eleição municipal do próximo ano, cabe lembrar que a deputada Ione Barbosa, tida como presença certa na disputa, já tem equipe de colaboradores percorrendo os bairros, levantando problemas e aspirações da população.

6 Sobre a fusão, em andamento, do Patriota e do PTB, o Mais Brasil, ou PRD (Partido da Renovação Democrática): ela utilizará nas urnas o número 25, que pertenceu ao DEM.

Vale lembrar, o DEM se fundiu ao PSL, que utilizava o número 17, em fevereiro de 2022. A junção se tornou o União Brasil.

Hoje, a nova fusão depende do TSE. Dirigentes do PTB, contrários, pedem ao Tribunal que impugne o registro do Mais Brasil ou PRD. O motivo alegado é que a convenção do PTB que chancelou a fusão foi irregular.

7 - Comissão Eleitoral do PSB discute diretrizes sobres as eleições municipais. O objetivo é organizar, com estados e municípios, o projeto eleitoral socialista no país. A meta é fortalecer o crescimento do PSB por todo território nacional. partido hoje tem em suas fileiras o vice-presidente Geraldo Alckmin, com pretensões para as eleições gerais de 2026. Diga-se, já se faz necessário que o PSB não continue georreferenciado em Pernambuco, o que acontece desde época do ex-governador Miguel Arraes.

8 - A TV Câmara está iniciando uma série de gravações para o programa JF Entrevista. Amanhã à tarde grava com o ex-prefeito Tarcísio Delgado.

9 - O assunto é aliança pela direita:

A quase um ano do início da campanha, quando serão eleitos vereadores e prefeitos, muitas reflexões já são feitas pelos operadores da política. Mesmo que prefiram dizer, de público, que a eleição está longe, nos bastidores as conversas são intensas.

Juiz de Fora não é diferente. A prefeita Margarida está aparentemente tranquila no seu projeto de reeleição, pois ainda não surgiu o nome de adversário para disputar no mesmo patamar.

Entretanto, as conversas informais falam sobre a necessidade de uma aliança eleitoral pela direita. A resultante dessas conversas tem sido buscar uma composição entre Wilson Rezato e Ione Barbosa, respectivamente segundo e terceiro colocados no primeiro turno de 2020.

Há quem considere aliança de potencial fortíssimo. Analistas anônimos esperam que o projeto avance para se ter disputa eleitoral com muitas emoções.

Na Velha República, o presidente da Câmara Municipal era, ao mesmo tempo, chefe do Executivo, eleito pelos vereadores, e tinha que ser um deles. Pedro Marques foi vereador e deputado estadual, porque nada impedia que as duas funções fossem exercidas simultaneamente, desde que uma delas fosse gratuita. Para ser presidente da Câmara tinha de ser reeleito no período seguinte, o que não ocorreu com ele. Candidatou-se então a vereador, deputado e senador. Disputando três mandados diferentes, uma surpresa: Pedro foi eleito deputado e senador, mas não a vereador… Mais tarde, valendo-se do conhecimento estadual que conquistou, foi vice-governador.

terça-feira, 27 de junho de 2023

 


Os destinos de Bolsonaro



(((Wilson Cid, hoje no "Jornal do Brasil )) 

Parte-se da constatação de que o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Tribunal Superior Eleitoral é fato mais político que jurídico, o desenlace inicialmente previsto para esta semana, mas com indícios de se estender por dois meses, graça a um pedido de vistas, o que confirma não serem os autos a questão essencial, pois já suficientemente conhecidos e periciados. É verdade que a prevista condenação é, por todos os títulos, indesejável pelo ex-presidente, principalmente se vier agravada com a inelegibilidade, inviabilizando o projeto de disputar a Presidência em 2026. Há aqui um detalhe que não pode escapar da avaliação dos adversários: se condenado, pode ser que ele reedite o papel do mártir, sem o sangue da facada de setembro de 2018, mas com o mesmo potencial eleitoral, o que resultaria, se não de imediato, uma futura cadeira do Senado; tal como se deu com Fernando Collor, apeado do cargo por força do impeachment, mas com o consolo de ter o Congresso garantido. Se, de outro lado, o ex-presidente passa ileso pelo TSE, sai fortalecido do episódio, o que também é aborrecimento para os adversários. Observe-se, então, que na mesma encruzilhada em que ele se encontra, padecem os que pretendem bani-lo da vida pública nacional. Os caminhos têm pedras comuns.

Seja como for, parece difícil impedir, pelo menos nesta década, que ele tenha atuação nos projetos da direita, fortalecida em quatro anos de poder. Note-se a particularidade de que a direita desvencilhou-se de dependência ideológica dos militares, frustrada na tentativa de tirá-los dos quartéis e colocar tanques nas ruas. Os generais saíram escaldados da experiência de 64. De maneira que a bandeira de cores direitistas acabou ficando só no colo e nos ombros civis. Observe-se, contudo, que a derrota vinda das urnas do ano passado, se interrompeu a escalada de Bolsonaro, foi nas sombras dele que se conquistou maioria no Congresso. A direita não vai aposentar o ex-presidente do papel de símbolo. Neste ponto, sem que se perca de vista a característica do sentimentalismo brasileiro, pode ser que ele influa mais e melhor, entrando nas próximas campanhas como vítima, vestido de um martírio que sempre foi lembrado como peça curricular da militância esquerdista.

Dois outros fatores convergem para justificar a tese, já exposta por alguns cientistas políticos, de que o bolsonarismo pode ser fenômeno sobrevivente. O primeiro fator é o embrulho que se vê na CPI do 8 de Janeiro, porque tem se revelado difícil atribuiu a ele, e só a ele, a inspiração pela desordem daquele dia. Cada vez revela-se mais claro que o crime comportou outros envolvimentos. Por ação ou omissão. O governo do PT já havia percebido isso, esforçou-se para inviabilizar a investigação. Talvez ainda se arrependa por não ter insistido na obstrução.

O segundo detalhe, não menos visível, é o débito devido ao presidente Lula pelo esforço com que, apaixonadamente, trabalha para que o antecessor se mantenha em evidência, alvo de seus frequentes disparos. Não o esquece, não o aposenta da Presidência da República. Ainda na semana passada, em Paris, diante de algumas das maiores expressões políticas, debulhou um rosário de críticas a Bolsonaro, permitindo que a imprensa da esquerda lembrasse que Lula, sendo sua principal expressão na América Latina, deve entender que incorre em perigo ao fermentar a massa da direita. E, quando enaltece a esquerda, acolhe ditadores, do desnível do Maduro venezuelano.

Para o futuro imediato da direita, não importa, em primeiro grau, por hora, se Bolsonaro tem planos pessoais de se submeter novamente às urnas. Mas importa muito tê-lo na crista das ondas, na barra dos tribunais, nas manchetes. Quanto a isso, é muito grata a Lula.

Amazônia compartilhada

A passagem do presidente Lula por Paris, onde a razão principal era despertar maior interesse pela Amazônia, deixou claro um ponto da questão que deve ser o norte da política que temos de sustentar para a região. Precisamos, disse ele, internacionalizar as preocupações ambientais, sem que isso facilite constrangimentos ou arranhe a soberania nacional. É um detalhe sobre coisas que não devem ser confundidas, mas precisam ficar claras, principalmente quando se sabe do esforço de organizações estrangeiras, que desejam preservar a grande floresta na estrita medida em que dela podem extrair e contrabandear riquezas.

Certas ONGs, que ali atuam há décadas, sempre andaram desinteressadas dos direitos nacionais. E os países europeus já podiam se dar por satisfeitos, pois enriqueceram mais que o suficiente com o que puderam explorar. Vale lembrar que, nos anos 90, o professor Mauri Pinto de Oliveira, autoridade em malacologia, calculava em 2,5 milhões os diferentes exemplares nos campos da flora e da fauna que os estrangeiros haviam levado, de graça, das riquezas amazônicas. Não têm mais do que se queixar.

Credite-se, então, ao presidente, o esforço de deixar bem definido que as preocupações internacionais serão acatadas e bem recebidas, mas o mando de campo é brasileiro.

Outro detalhe, raramente abordado, não ignorado em Paris: é o direito de o Brasil convidar à responsabilidade compartilhada os outros sete países do continente igualmente amazônicos, que se servem daqueles verdes e daquelas águas. Esses países, tanto como o nosso, descuidaram da região, preferindo explorá-la desordenadamente. Têm, portanto, de ser convocados. E começar por eles, antes mesmo de serem cobradas atenções e ajudas dos europeus. Constata-se que os governos brasileiros revelaram-se omissos em relação aos vizinhos nesse particular. Mas o atual, querendo, tem como recuperar o tempo perdido.

Partidos dão trabalho 

Chegando o segundo semestre, o Tribunal Superior Eleitoral, com toda certeza, não poderá queixar-se de ociosidade. Fácil perceber. Afora providências que começam, desde já, a organizar o pleito de 2024, nos próximos meses a corte terá a seu encargo mexer na organização partidária brasileira, que, como se sente, tem defeitos e vícios originais, dificilmente sarados com a aplicação de singelas e sempre insuficientes medidas; mais ainda quando se aproxima a temporada das urnas.

Uma das decisões sob expectativa de solução é o desejo do PTB e o Patriota se fundirem, como também a incorporação do Solidariedade ao Partido Republicano da Ordem Social, que, separados, realmente têm deixado muito a desejar.

A estrutura partidária, que se rege pela Lei 9096/ 95, nasceu e cresceu confusa, para não se falar do mal maior que não evitou; isto é, a inautenticidade das organizações que se formavam. Sobre isso, já se gastou uma enxurrada de estudos críticos para mostrar o que foi ruim, e prospera ruim por si mesmo. Em se tratando de partidos, o defeito principal, que desafia, está na ausência de critérios que sejam capazes de melhor definir as identidades programáticas e ideológicas. 

As recentes propostas de fusão e incorporação carecem de argumentos confiáveis. De tudo que se tem dito, avulta o imperativo das circunstâncias e conveniências; mas o TSE quase nada poderia fazer para impedi-las.

Pois, na previsão do semestre trabalhoso, ainda concorre, para engrossar as demandas, o pedido de constituição de 18 novos partidos, que pretendem disputar espaço e poder com os 32 já existentes, confirmando a experiência dos exageros que se cometem à sombra do pluripartidarismo.

Diga-se, de passagem, que seria temerário confiar a tal profusão o aperfeiçoamento da democracia brasileira. Quanto aos excessos a corrigir, o Tribunal nem dispõe de tempo, num país onde eleições de processam de dois em dois anos. Quando uma termina, a seguinte já caminha a passos largos.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

 


Eleição 2024 em pauta ( XXV)

1-O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, em postagem recente de sua conta no Twitter, disse:

"Nós devemos eleger mil prefeitos nas eleições de 2024, com os 99 deputados federais e os 129 deputados estaduais que temos. Agora, se juntarmos com a força de Bolsonaro, devemos eleger, em média, 1.500 prefeitos. Vamos bater o recorde. Nas próximas eleições ninguém tira a eleição da direita."

O presidente do PL foi ufanista. Eleger 1.500 prefeitos pode ser meta, mas sem certeza de concretização. Porque a direita tem vencido as eleições municipais no país afora,mas em diversos partidos, como registra a História. Pode ser que em 2024 se concentre no PL.

2 - O governador Romeu Zema estará em Juiz de Fora, dia 7 de julho, para presidir Encontro Mesorregional da Zona da Mata, promovido pelo Novo. É a primeira vez que o partido testa sua força na região. Também confirmada a presença do presidente estadual, Ronny Antunes. A reunião será no Trade Hotel.

O Novo, ainda sem cadeira na Câmara Municipal, tem uma preocupação imediata: ampliar o número de seus filiados na cidade.

3 - Na sucessão interna do diretório municipal do PT, a tendência DS (Democracia Socialista), que, além da prefeita Margarida, tem a deputada federal Ana Pimentel e a vereadora Laiz Perrut, deve indicar o novo ou a nova presidente do diretório, em agosto. É o que informa matéria do jornal eletrônico O Pharol.

4 – Do ”Jornal do Brasil” de terça-feira, sobre o Centrão:

“Engana-se quem acha que esse rolo compressor seja novidade recente no Congresso. Na verdade, o grupo compacto, se bem contados seus tempos de vida, soma 36 anos, porque nasceu e prosperava já nos gabinetes constituintes de 1987. O Centrão aprendeu como agregar e fazer prevalecer. Disso ainda hoje dá testemunho o deputado Artur Lira. Além de eficiente debelador de revoltas, ele vem da experiência de pecuarista nas Alagoas, e sabe como arrebanhar. De tal forma conduz o rebanho, que alcançou o direito de dirigir-se ao presidente da República e advertir: “O combustível está acabando”, metáfora para ir ao finalmente da questão: os deputados querem influir na indicação de nomes para 400 cargos ainda vagos na esfera do Executivo, como também ampliar emendas orçamentárias e, como reivindicação mais recente, exigem que estejam nas comitivas dos ministros, toda vez que houver visita aos canteiros de obras”.

5 - Nas eleições municipais de 2024 Bolsonaro será um grande puxador de votos, e maior se estiver inelegível. É a expectativa de alguns seguidores do ex-presidente. A narrativa política dele continuará antissistema. Estar inelegível contribuiria com isso, avaliam alguns bolsonaristas.

6 – O jornal “Tribuna de Minas” informa que Juiz de Fora sedia o evento “e-cidades”, terminando hoje, com objetivo de discutir soluções que busquem conectar inovação e gestão pública, para tornar os municípios capazes de projetar o futuro melhor para seus habitantes.

O foco da iniciativa: promoção de conversas sobre a melhoria e adequação do território aos novos contextos das cidades para empreender e inovar. O público-alvo: gestores públicos (prefeitos, vereadores, secretários, assessores e agentes de desenvolvimento), empresários e empreendedores.

Iniciativa foi do SEBRAE Minas. Importante, pois abre a possibilidade de os participantes reavaliarem suas práticas coletivamente, e contaminarem (no bom sentido) os agentes políticos de uma região tão subdesenvolvida.

No próximo ano haverá eleição municipal. Alguns prefeitos tentarão a reeleição, outros vão apoiar candidatos de suas preferências, e o próximo mandato pode ser uma oportunidade de avanço na melhoria dos serviços aos munícipes.

7 – Tão logo assumiu sua vaga na Câmara a deputada Ione Barbosa declarou, solenemente, que se elegera deputada, e nada a removeria dessa responsabilidade. Reafirmou-a em outras ocasiões. Depois, reconheceu que seu partido a via como potencial para disputar a prefeitura. Mais recentemente, evoluindo, passou a admitir que, tendo sido eleita, basicamente, com os votos da cidade, vai se sujeitar ao que os eleitores exigirem. Mais um passo, e anunciará sua candidatura. Com toda certeza.

Em 1936, muitas expressões políticas mineiras e de outros estados promoveram várias reuniões em Juiz de Fora - meio caminho entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte – nos dias em que andavam quentes as negociações para a eleição do presidente da Câmara dos Deputados. Até porque, disputavam dois mineiros de grande prestígio e poder: Antônio Carlos e Pedro Aleixo. Eleição apertada: Pedro Aleixo, 152 votos; Antônio Carlos, com 131 votos, não gostou de Getúlio Vargas ter apoiado Aleixo, voltou para a cidade, e fundou aqui o PPD – Partido Progressista Democrático.

terça-feira, 20 de junho de 2023

 


Os politicamente expostos




(( Wilson Cid, hoje, no "Jorna do Brasil" 


 

E pensávamos que o estoque de perplexidades do primeiro semestre se esgotara com as hosanas que o governo reservou para receber o ditador Maduro, quando a Câmara dos Deputados, em nova façanha, aprovou projeto de lei definindo crime de discriminação contra pessoas politicamente expostas; os políticos e os familiares diretos, que não podem ter negada abertura de conta em instituição bancária, até que cesse a tramitação de processos judiciais em cujos autos sofrem acusações. Os bancos entram no caso como capa, pois, com base nas suas águas, certamente serão facilitadas outras incursões protecionistas. O acinte foi carimbado com base em dois cuidados altamente suspeitos: a votação realizada sob as sombras da madrugada, sempre preferida para os grandes crimes, e supressão dos pareceres pelas comissões técnicas.

Resta a esperança, ainda que duvidosa, de a proposta ser barrada no Senado; até porque, se 252 votaram a favor, 163 outros, com rubor, preservaram-se. Os números servem, ao menos, para estimular alguma resistência da parte dos senadores.

Pode-se alegar que não é exatamente o caso em tela, mas a adoção de proteção aos delitos tem encontrado acolhida numa preocupação, muito comum, de garantir que os julgamentos vençam todas as instâncias. Não que o instrumento recursal seja dispensável, mas porque, com grande frequência, torna-se atalho rumo à procrastinação, muitas vezes permitindo que as ações caduquem. Nossa Justiça, estimulada por iniciativas nem sempre republicanas da parte do Congresso, é farta no acolhimento de recursos, quando o processado dispõe de dinheiro ou prestígio social e político para tardar as sentenças. Entre os futuros favorecidos, certamente esses que pretendem se beneficiar do mais recente entre os escândalos.

Voltando aos “politicamente expostos”, outra conclusão permite considerar que o corporativismo, mais uma vez, foi capaz de superar divergências partidárias ou ideológicas. No caso presente não diferentemente. Bolsonaristas, petistas e centristas deram-se as mãos para garantir que o atentado fosse perpetrado. O que, de certa forma, faz sentido se associaram, porque, em se tratando de oferecer abrigo e proteção a políticos, considere-se que todos estão em permanente exposição. Nesse passo, justificou-se a investida suprapartidária.

Centrão, partido maior 

Os cientistas políticos é que dispõem de maior autoridade e sapiência para esclarecer, mas as evidências até que autorizam leigos, homens e mulheres do povo, a identificar dificuldades que afastam o país de uma organização partidária eficiente, sustentada na autenticidade. Uma dessas dificuldades, paralela à carência de conteúdo ideológico e programático naquelas organizações, pode estar - é quase certo que esteja – na progressiva consolidação do Centrão como instituição político-parlamentar impositiva. Por causa dele, os partidos com vagas nas casas legislativas são, muitas vezes, meras figurações, capituladas ante a certeza de que todos têm de dar obediência às regras do pragmatismo. Sem mensagem programática, os partidos cedem à razão pragmática. As últimas semanas cuidaram de expor isso com absoluta clareza.

Sente-se em qualquer votação parlamentar. As legendas, mesmo se entre elas estiveram as mais tradicionais, como MDB, PSDB, PSB, com antigas ou novas denominações, falam, quando muito, pela voz das lideranças. Os deputados podem comentar, expor, até postular, mas nos momentos decisivos o que orienta e determina é a voz do Centrão.

Esgana-se quem acha que esse rolo compressor seja novidade recente no Congresso. Na verdade, o grupo compacto, se bem contados seus tempos de vida, soma 36 anos, porque nasceu e prosperava já nos gabinetes constituintes de 1987. Cuidando de conter, na nova Carta, algumas aspirações mais à esquerda e defender os conservadores, o Centrão aprendeu como agregar e fazer prevalecer. Disso ainda hoje dá testemunho o deputado Artur Lira. Além de eficiente debelador de revoltas, ele vem da experiência de pecuarista nas Alagoas, e sabe como arrebanhar. De tal forma conduz o rebanho, que alcançou o direito de dirigir-se ao presidente da República e advertir: “O combustível está acabando”, metáfora para ir ao finalmente da questão: os deputados querem influir na indicação de nomes para 400 cargos ainda vagos na esfera do Executivo, como também ampliar emendas orçamentárias e, como reivindicação mais recente, exigem que estejam nas comitivas dos ministros, toda vez que houver visita aos canteiros de obras. É pouco, mas o governo não sinaliza disposição de reagir às pressões. Prefere não pagar pra ver.

A tragédia humanitária

A tragédia humanitária que é descrita na aventura de milhões de pessoas que tentam escapar das perseguições políticas e intolerâncias raciais não foi suficiente para lembrar aos governos que o 20 de Junho é, por decisão das Nações Unidas, o Dia Mundial do Refugiado. Estranha a indiferença pela data, pois são, hoje, raros os países não afetados, direta ou indiretamente, por esse grave problema. Registre-se que nada menos de 110 milhões foram forçados a deixar suas terras, em sua grande maioria sobrevivendo longe, sem mínimas condições de dignidade.

Está o Brasil cumprindo seu destino como país de longa tradição no acolhimento. Recebe sempre bem, o que explica o fato de muitos, milhares, optarem por fincar aqui as raízes definitivas, quando tiveram oportunidade de retornar. Diz a Organização Internacional para Migrações que tínhamos, em março, 17.470 venezuelanos, incapazes de suportar as agruras da ditadura de Nicolas Maduro. É nossa cota mais recente de velhas solidariedades, o que certamente não permite às Nações Unidas nos cobrar asilo aos africanos que fogem em massa.

À tragédia dos que escapam, soma-se uma outra, não menos dolorosa, que é a escravização a que vêm sendo submetidos homens para o trabalho e mulheres para a prostituição. Negros agenciados por negros do Sudão, já no embarque ou durante as arriscadas viagens nos botes improvisados. Não menos grave, revelou-se que 41% dos refugiados sobreviventes são menores de idade.

Tornando-se o Brasil referência para milhares de venezuelanos, que transformaram Roraima num lar que não sabem se temporário ou definitivo, as comissões de política externa do Congresso têm direito de atuar no centro dos debates internacionais em torno do problema. Sente-se que foram raras as vezes em que o tema mereceu a atenção parlamentar, mas é preciso torná-lo mais frequente, não apenas para que se manifeste nosso repúdio a práticas desumanas, que se têm revelado contínuas e progressivas, mas também para se cobrar cumprimento do direito elementar de multidões deslocadas de retornar à casa com segurança, tão logo estejam superadas as crises. Contra o retorno levantam-se mil dificuldades de ordem política, social e econômica. Não importa, pois é dever dos povos civilizados, sem exclusão dos que mais acolhem, defender o direito dos infelizes de voltar ao solo que por natureza lhes pertence.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

 



Eleição 2024 em pauta ( XXIV)



1 – Uma aposta que já está valendo: na próxima eleição de prefeitos as bancadas que compõem o Centrão podem ter à disposição de seus candidatos fabulosos recursos, abertos pelas vias de emendas parlamentares, que vão sendo liberadas à medida em que crescem as pressões da Câmara sobre o presidente Lula. Significa que muitos prefeitos poderão se eleger com as graças presidenciais, exatamente para fazer frente a ele... O Centrão tem 36 anos de experiência, e sabe como fazer.


2 - Como sinalização: houve quem interpretasse uma postagem recente no facebook do ex- prefeito Tarcísio Delgado, parabenizando o vereador Maurício Delgado pelo aniversário, como sinal de apoio ao sobrinho para a eleição municipal. Não para reeleição a uma cadeira de vereador, mas simpatia a um possível pré-candidato a prefeito.


3 – No quadro dos preparativos para as eleições municipais o sociólogo Rudá Ricci (com ligações ao PT) em post no twitter escreveu: “o que importa é que os preparativos para as eleições municipais começaram. O PL já fala que tentarão transformar Bolsonaro inelegível em mártir. E o Centrão usa a Codevasf (nas mãos do União Brasil e de Lira) para alimentar a reeleição de prefeitos anti-petistas. "


4- Previsões, para quando terminarem as festas juninas, indicam que entrarão na fase objetiva os entendimentos destinados à fusão PTB-Patriotas, com a certeza de dar aproveitamento ao que restou do antigo DEM. As conversas estão em curso, mas os dirigentes estaduais e municipais ficam sabendo pela imprensa. Em JF, nos dois partidos, ninguém sabe de nada.


5 - Um observador atento da conjuntura política antecipa análise de que, no ano que vem, quando teremos eleições municipais, muitos deputados federais desejarão sair candidato a prefeito. E tantos outros apoiarão nomes nas suas respectivas bases eleitorais. Então, a prudência nas medidas políticas é o que importa no momento.


Po exemplo: bater de frente com o poder Executivo, e com isto retardar algumas ações que podem prejudicar na base.

6- O ex-reitor da Universidade Federal, Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, parece tomado por completo entusiasmo em se candidatar à prefeitura. Ainda sem partido definido, ele não tem pressa por se definir por uma legenda, tendo em seu favor tempo hábil que lhe permite estudar os cenários local, estadual e nacional.


Faltando ainda um ano e meio para o término do mandato da prefeita Margarida (PT), forças políticas já iniciaram as articulações para a sucessão, e, deste modo, alguns partidos têm flertado com Duque.

O prazo legal para definir registro de candidaturas finda em maio de 2024. Até lá não cessarão as conversas de centro e centro- esquerda.


Henrique Duque, distante da política há anos, entusiasmou-se pelo apoio de vários quadros políticos.


7 - " Respeitamos todas as opiniões, todos que se pretendem por uma candidatura à prefeitura, mas, de agora até maio, o que mais faremos é dialogar com todos os partidos, repensar a cidade, trazer propostas fortes, exequíveis e inovadoras para apresentar à população. Será grandiosa a união de forças progressistas em torno de um nome, que seja ou não o meu, para fazer Juiz de Fora acontecer e retomar o seu espaço nos cenários estadual e nacional", afirmou Duque.


Para ele, partidos como o MDB e PSDB, outrora tão importantes, têm de retomar seus espaços na Câmara Municipal, participar das decisões políticas e administrativas do governo numa administração plural, assim como o PSB. “Todas as portas estão abertas” diz ele.


8 - Em entrevista à Rádio Itatiaia, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), falou sobre a eleição em BH:


Estamos longe da eleição municipal, ela se avizinha, é natural que o PSD discuta suas alianças, mas ainda precisa discutir internamente quem será o seu candidato. Hoje, temos o prefeito da capital, não sabemos ainda se ele será candidato ou se um candidato de consenso dentro do PSD. Espero que a gente encontre um caminho para apresentar, não um nome, mas um bom projeto para a capital dos mineiros”.


O prefeito Fuad Noman (PSD) afirma, com frequência, aos seus interlocutores que considera muito cedo para definir a candidatura à reeleição, mas acaba de participar de um evento político do partido Avante, onde recebeu sinalização de que teria apoio da sigla.


9 Sobre a reforma tributária: O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresenta estudo demonstrando que os ganhos de arrecadação da reforma tributária podem contemplar a maioria dos municípios brasileiros (98%), beneficiando especialmente regiões mais pobres. Notícia alvissareira para pré-candidatos às prefeituras, informa a CNN Brasil.


Em uma projeção de que apenas 421 dos 5.568 municípios (incluindo cinco capitais) teriam arrecadação acumulada em vinte anos menor do que aquela recolhida na hipótese da manutenção do modelo atual, é considerada modesta.


No caso do ISS (municipal), a diferença da receita média per-capita entre os grupos dos municípios mais pobres e mais ricos chega a trinta vezes, segundo a pesquisa. Os mais ricos em ISS também possuem, em média, um ICMS (estadual) quatro vezes maior que os mais pobres.


A capacidade da reforma de levar ganhos à relevante proporção de municípios anima os executivos municipais, mas especialistas no assunto questionam aspecto da metodologia do estudo do IPEA, como o uso de dados possivelmente desatualizados.


10 - O jornal Estado de Minas divulgou, na última terça-feira, pesquisa que coloca o governador Zema como o grande cabo eleitoral nas eleições de 2024, em BH.


De acordo com o Paraná Pesquisas, o segundo mandato de Zema é aprovado por 66,5% dos belo-horizontinos. A gestão é desaprovada por 27,3% dos eleitores da capital, e 6,2% não sabem ou não opinaram.


11 – Para esquentar e perturbar os debates em ano pré-eleitoral, é possível que o governo proponha discussão sobre novo modelo sindical. Na terça-feira, o JB On Line trouxe o seguinte registro:

Lidar com centrais sindicais, num momento como o que temos vivido, tem escassa chance de prosperar sem grande tumulto, principalmente se vingar a intenção de exumar velhas questões no campo das relações de trabalho. Há sugestões indicadas para compor iniciativa governamental, com todas as garantias de provocar divergências, como, por exemplo, a criação de certa agência com a responsabilidade de autorregular relações entre empregados e empregadores; e, ainda, limitar a duração de mandatos sindicais, como também a retomada de estudos sobre a extensão das bases territoriais na ação dos representantes. Temas longe de serem depreciados, mas, de forma alguma, podem passar sem o choque de divergências. E, convenhamos, em matéria de choques e divergências o Brasil já anda bem suprido”.



Reunimo-nos numa hora em que a notícia dos grandes escândalos administrativos choca a sensibilidade nacional. Mas é preciso deter, com urgência, a avalancha da imoralidade, porque, se tardamos, ela acabará contaminando o povo. Que mal é mais funesto, no quadro clássico das endemias morais, do que a corrupção que ameaça dominar o país?.” Mílton Campos, 1953, na Faculdade de Direito de São Paulo.


Nada de novo.