Velha corrupção
Nestes tempos de corrupção escancarada vale a
releitura de "A Coroa, A Cruz e a Espada", onde Eduardo Bueno nos
conta os primeiros tempos dos portugueses em Salvador, um cenário de grande
escândalos dos quais nem os jesuítas conseguiram escapar, ainda que condenassem
os desvarios de seus patrícios e dos
gentios.
Lê-se que a construção da capital baiana, quando o
Brasil tinha apenas meio século, custou certa de 400 milhões de reais, um terço
do tesouro da Coroa. Onde foi parar tanto dinheiro? Ora, boa parte a corrupção
comeu, principalmente pelos poderosos, os dois homens mais influentes logo
abaixo de Tomé de Souza: o provedor Antônio Cardoso de Barros e o ouvidor-geral
Pedro Borges.
Mas, por que revirar essas velhas cinzas, se desvio
de verbas e propinas são artigos tão fartos em nossos dias? A razão reside numa
fácil constatação: ao contrário dos bandidos da atualidade, os antigos não
abriam mão de uma certa dose de compostura. Eis a diferença. Roubavam, mas
discretamente, nunca deixando sinais de sua perversão. Em geral roubavam apenas
o suficiente para uma vida confortável ou, quando muito, para construir a
poupança para o dia em que pudessem rever Portugal.
Nos nossos dias não há medidas no assalto aos
cofres públicos. Assalta-se
delirantemente, e só por isso é possível
compreender um Sérgio Cabral comprando R$ 125 mil em ternos italianos ou
guardando R$ 12 milhões em diamante num saco plástico, fora os milhões
escondidos no Exterior. Mesmo em passado mais recente, sem sair do Brasil, os
assaltos eram praticados com um mínimo de comedimento.
Coisa que hoje não faz parte do breviário dos
nossos homens maus.
Talvez por se acharem intocáveis, impunes. É o que
certamente explica o clamoroso descuido de um Eike Batista, que com tanto
dinheiro, dos mais ricos do mundo, não
pensou em comprar um diploma de curso superior numa dessas faculdades de fim de
semana, o que hoje lhe teria garantido cela especial em Bangu. Soma-se a tudo isso
um outro castigo, que caminha ao lado do dinheiro bandido: a arrogância.
Como eram arrogantes esses nossos corruptos.
Previsão
Neste blog foi anunciado previamente, em 29 de
dezembro, sobre a possível influência do Grupo Odebrecht na eleição do Senado,
e as possibilidades de Renan Calheiros de continuar influente na Câmara Alta,
Aquela nota vai transcrita abaixo:
A eleição no Senado
O empreiteiro Marcelo Odebrecht (mesmo encarcerado)
deverá indicar o novo presidente e o novo líder do PMDB no Senado, segundo
especulações de bastidores da política em Brasília. De acordo com estas fontes
(não oficiais) a bancada do Grupo Odebrecht no Senado é formada pelos senadores
Renan Calheiros, Romero Jucá e Eunício Oliveira; senadores peemedebistas que
foram citados em depoimentos de colaboração premiada, por executivos da citada
empreiteira, conforme vazamentos de informações à imprensa. Eles foram acusados
de comercializar leis e medidas provisórias (os 'jabotis') e de receber
propinas em nome do correligionário e presidente Michel Temer.
Quem fez o comentário (por rede social) foi o
senador Roberto Requião (PMDB-PR), que também pleiteia a presidência do Senado.
A eleição será no dia 1º de fevereiro.
O senador Renan Calheiros (AL), por exemplo, luta
para ficar com a poderosa CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e, na pior
das hipóteses, com a liderança do PMDB. O Senador Eunício Oliveira sonha com a
presidência do Senado, mas está nas listas oficiosas de envolvidos com a
corrupção na Petrobrás."