Tema que passou a figurar entre os mais frequentes na imprensa americana e europeia, o assédio sexual vem ampliando preocupações, pelo fato em si, mas também graças a muitas tramas e excessos que o cercam. Tem-se dito, no auge da febre de denuncismo, que não recomenda às mulheres vítimas de assédio o longo prazo que elas guardam em segredo, desde o momento da inconveniência até a decisão de denunciar. Por que deveriam esperar dez, quinze, vinte anos para reclamar providências contra a ofensa, quando, em rigor, deviam fazê-lo no exato momento em que se sentiram vítimas? E logo em seguida reclamar punições cabíveis, o que serviria, igualmente, para alertar possíveis outras vítimas.A longa morosidade em protestar faz supor que o diabo não era tão grave como muitas delas hoje querem pintar. A suspeita é que o assédio, que não pode deixar de ser condenado, tem sido, em muitos casos, alegado para algum proveito.
Nos Estados Unidos, onde estão os casos mais numerosos, uma parte das suspeitas se revela comprometida, não apenas por causa do longo tempo que decorre da agressão à denúncia, mas por focarem personalidades famosas e muito ricas. Não se tem notícia de pedido de indenização contra conquistadores pobretões.
O presidente Donald Trump, mais frequentemente, tem sido apontado como assediador; em episódio recente é denunciado com base em torpe atentado à sua privacidade, sem que a denunciante vulgar tenha cuidado da sua própria. Uma senhora de suspeita compostura.
Detalhes que enojam, capazes de expor e humilhar qualquer cidadão, muito mais um presidente, num tempo em que o que fez estava longe de assumir as responsabilidades que tem hoje.
O assédio deve ser combatido, por se tratar de ofensa à mulher, mormente quando se constata que é pessoa mais vulnerável, física ou socialmente. As pressões tornam-se instrumento de persuasão contra quem pleiteia emprego ou pretende superar dificuldades momentâneas. É uma crueldade desmedida aproveitar-se disso. Mas não faltam aproveitadoras na onda de condenações e indenizações astronômicas.
No cinema, atividade capaz de produzir assédios falsos e verdadeiros, são conhecidas as façanhas de muitas atrizes sem maiores brilhos, que se insinuam aos diretores e produtores para alçar o estrelato. Muitos desses são os que agora, passadas décadas, são chamados a responder por antigos e já esquecidos momentos de prazer; e pagando o vexame de ver-se retalhado para a avidez do público, sobretudo quando a delatante enriquece o escândalo com detalhes anatômicos e hábitos privados, como acaba de ocorrer com o presidente dos Estados Unidos.
Transformou-se em negócio rendoso essa prática adotada por mulheres que viveram breves aventuras com gente famosa, políticos de expressão e magnatas. Não vão aos tribunais reclamar reparos morais; vão para cobrar por serviços horizontais prestados em tempos idos.
No Brasil não tem prosperado atividade dessa natureza, salvo poucos casos, todos incapazes de provocar grandes emoções. Pode ser que continue se revelando indústria rendosa em países diferentes do nosso. Mas, interessante notar, já aqui o assédio a donzelas era algo nunca tolerado nos tempos da monarquia e da Primeira República. Não raro pagava-se com a vida, ainda que muitas vezes tudo não fossem meros e inocentes galanteios. Mas facilmente confundidos com intenções mais graves.
Por isso, no velho sertão dos Buritis, onde se morria facilmente por causa disso, o tropeiro Tertuliano, que a literatura roseana celebrizou, recomendava: não ficar na frente do boi, atrás do burro e ao lado de mulher. É perigoso.