Lava Jato sob fogo cruzado
O doutor Sérgio Moro entrou num 'inferno astral', que chega para compor a conturbada conjuntura da política brasileira. Deu-se o vazamento de informações, entre 2015 a 2017, sobre a troca de mensagens dele com o Ministério Público diretamente vinculado à Operação Lava Jato. Mal situado o ministro nesse cenário, nesta terça-feira não falta quem admita, no caso de prosperar a crise, que talvez tenha sido um equívoco ele trocar seu sólido posto de juiz federal em Curitiba por algo que agora pode ser duvidoso no primeiro escalão de Brasília. O presidente Bolsonaro deu-lhe um sinal de confiança, o que tem valor relativo, pois trata-se de um aval dependente dos desdobramentos em torno do episódio. De fato, o presidente pode muito, mas as circunstâncias costumam ser momentaneamente mais poderosas. O futuro dirá se valeu a pena o sacrifício pessoal em benefício da missão, como o ministro costuma dizer. Até a chegada da crise, Moro dominava o cenário nacional como o herói gigante retratado nos bonecos infláveis que figuraram nas manifestações de rua pró-governo Bolsonaro. O que resta, numa fase que já não garante muito fôlego para novas tensões, é ver como o Planalto pretende lidar com o problema que lhe caiu ao colo.
Restou um clima de suspense depois que o aplicativo Telegram, segundo o senhor Mr. Greenwald, anunciou ter outros e fartos materiais dos bastidores, capazes de comprometer autoridades envolvidas na maior operação de combate à corrupção a que o país já assistiu. O referido aplicativo atesta que no caso em foco não houve ação de hacker, creditando-se o vazamento das informações por outra forma. Um dado que merece melhor esclarecimento, pois fala-se, simultaneamente, em procedência anônima da informação e preservação da fonte. Não há como preservar fonte não identificada. Ou será que aconteceu uma inconfidência por parte de algum membro do próprio grupo da operação Lava Jato?
Outro detalhe concorrente no episódio, que talvez mereça posicionamento de juristas, é a real extensão da atuação combinada entre juiz e procurador, o que, é sabido, não tem acolhimento no texto da lei. Sem embargo de afirmarem os advogados que isso ocorre com frequência em qualquer comarca do país. Mas os defensores dos condenados pela ação da Operação Lava Jato vislumbram anular sentenças prolatadas pelo então juiz Sérgio Moro, porque teria ele agido politicamente, sem a necessária isenção de um magistrado. Mas basear-se nisso para alimentar a esperança de revisão de sentenças, estando os réus a cumpri-las, parece algo de remota possibilidade.
Seja como for, esta é uma semana decisiva para o prestígio da operação desencadeada contra a corrupção. Ela está sob fogo cruzado, no qual são atiradores empresários e políticos condenados, a alimentar uma réstia de esperança no horizonte. E, para futuros réus, a expectativa de travamento dos processos em andamento.
Mas, se nada mais acontecer e os poderosos da República continuarem onde estão; se, como dizem os senhores Moro e Dallagnol, as mensagens que trocaram estão “fora de contexto”, fica diante da sociedade uma outra preocupação, o crescente protagonismo dos hackers. Se cada vez mais aprimoram sua capacidade para conhecer e alterar aspectos internos de dispositivos, programas e redes de computadores, usando a tecnologia para decretar a morte dos segredos de governo e da privacidade, estarão prontos para desafiar a intocabilidade das urnas nos futuros processos eleitorais? Se são capazes de invadir as entranhas do Poder, não teriam facilidade para alterar os números de votações totalmente informatizadas?
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