O tempo que urge
Para quem se apressa em afirmar que é cedo demais para dar trato ao processo eleitoral do próximo ano uma primeira advertência seria cabível ao se lembrar que, mesmo restrita a contendas municipais, a campanha seguinte será capaz de jogar luzes para a disputa que virá em 2022, quando se elegerão presidente e governadores. Por que essa influência? Porque é nos rincões que serão conhecidas e arregimentadas as primeiras tropas para o embate. Eis o porquê.
Desta vez, um dado a mais, uma novidade que ensejará repercussões: com alguns milhares de candidatos à vereança, será dado a conhecer novo teste para as coligações partidárias, agora limitadas. Elas também serão capazes de lançar influências sobre o destino de deputados ávidos por ampliar o mandato a ser disputado logo depois. Com tudo isso, por tudo isso, não será desperdício de tempo aproveitar os próximos dezesseis para elaborar ideias e pensar projetos.
Parece não terem entendimento diferente alguns líderes petistas, que pensam a eleição de 2020 como o grande ensaio para a jornada que pretendem empreender visando à retomada do poder central, perdido no ano passado, quando o eleitorado optou por uma guinada à direita. Nesse passo, o Partido dos Trabalhadores tenderia a encampar duas vertentes de uma única estratégia: centrar suas forças em áreas populacionais de porte médio e, paralelamente, promover a união das demais siglas que desde agora vão se opondo ao governo Bolsonaro. Ante objetivo de tal envergadura, não se pode negar razão aos dirigentes petistas preocupados em preparar logo suas velas, e com elas aproveitar ventos favoráveis.
A construção de um projeto comum a todos os segmentos oposicionistas não é tarefa das mais fáceis, por mais que à frente estejam presidente e governadores desgastados. Porque cada partido tem suas próprias ambições regionais. Se se sente à vontade para contesta o governo federal em Brasília, nem assim abre mão dos interesses em seus estados. O caminhar da legislatura nas duas casas do Congresso já tem exposto tal preocupação nestes seus cinco primeiros meses. E vai acentuá-la cada vez mais.
Outro detalhe verificado na semana passada, também este corroborando para antecipar fatos políticos com vistas às próximas eleições, foi a insinuação do presidente Bolsonaro sobre um segundo mandato, que disputaria “se o povo quiser”, segundo suas próprias palavras. Como ninguém espera que ele confesse, no futuro, que o povo não o deseja, por mais que possa estar consciente disso, prudente é considerar que se trata de uma candidatura já plantada, esperando o plantador que ela amadureça.
A declaração do presidente e as primeiras movimentações objetivas de seus principias opositores servem para confirmar o que todos sabem de há muito: o calendário eleitoral exerce clara ditadura sobre a organização política do país. Com votações realizadas de dois em dois anos, o tempo não admite que partidos e candidatos possam estar distantes da preocupação com os votos. É como se, elegendo-se, fossem automaticamente condenados a retomar outra guerra, mesmo que a anterior nem tenha deitado suas poeiras e curado as feridas abertas. Com os próximos desafios das urnas, governistas e oposicionistas devem sentir que são muitos os percalços ( o crescente desânimo dos eleitores, por exemplo), sem contar a imprevisibilidade, que não convém desprezar. Ela é capaz de gerar fatos que surpreendem. Por isso, fazer pouco caso do tempo, sem aproveitá-lo adequadamente, deixando que passe, e com ele só se importando em momento derradeiro, é uma imprudência, que em política costuma custar caro.
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