terça-feira, 1 de março de 2022


O mês do ambiente


((Wilson Cid, hoje, no Jornal do Brasil")) 



Se o mês já principia com louvores ao gênio de Estácio de Sá, que há anos achou por bem fundar a bela cidade, esta que, antes de qualquer outra, é perpétuo monumento à Natureza, mais que oportuno será lembrar que março tem outros dias especiais para convocar atenções. Além de ser também dedicado ao turismo ecológico, tudo a ver com o Rio de Janeiro, em 16 seremos chamados a celebrar a conscientização das mudanças climáticas. Cinco dias depois, o calendário lembra a preservação das árvores e florestas.

Mas, acima de tudo, é um mês convidativo a que se voltem os olhares para o que ainda não temos feito; o que já devíamos estar fazendo há muito tempo: trabalhar para que o meio ambiente volte a ser o grande tesouro da vida; esse tesouro que, de tão degradado e ofendido, vem intensificando as agressões e se vinga, cada vez mais feroz. A Natureza desce de sua grandeza, destrói e mata sem piedade. Até porque piedosos não temos sido nós em relação a ela.

Petrópolis, repetidamente essa serrana, é eleita para encenar tragédias, sempre convocando, não ouvida, homens e boas ideias a serem aplicadas e interromper esse destino cruel. Muitas vezes a cidade transforma-se num imenso campo de desolação, a advertir que é preciso cuidar do clima, das terras e das águas.

Nessa cidade e por mais um sem número de lugares há um clamor surdo para a ação. Para as demoradas iniciativas do governo e do povo brasileiros, sem esperar resultados das intermináveis discussões que se desenrolam pelo mundo. Façamos nós, logo, o que tem de ser feito, pautar a redução dos gases poluentes e promover revisão de métodos produtivos que afetam o meio ambiente, para que não se intensifiquem os castigos. Façamos o dever de casa, sem esperar que os vizinhos adiram a esse elevado propósito, até porque é aqui que arde o fogo da Amazônia, aqui despencam as águas de Petrópolis e queima o sol devastador do Sul.

Tudo isso vem ao caso, quando se pede conta ao Congresso Nacional sobre o que tem sido proposto no campo da preservação e defesa dos recursos ambientais. Não se pode acusá-lo de ignorar as crises e os desastres de que temos padecido; o que não impede um detalhe comprometedor: onde tramitam 60 projetos sobre a devastação do biossistema, as preocupações parlamentares só se manifestam em socorrer as vítimas, depois que as tragédias se consumam. Nada ou pouco na prevenção, na prévia defesa dos bens naturais para que não sejam destruídos. Impressiona esse detalhe, porque as casas legislativas se comprazem em cuidar dos feridos, desinteressando-se de impedir ou minimizar os acidentes, muitos dos quais poderiam ser evitados, com vigorosas políticas preventivas.

A guerra chegou para roubar parte das preocupações com a tragédia de Petrópolis, onde a morte foi mais devastadora que na sua passagem pela Ucrânia. Não podemos esquecer a Serra neste março que vem cheio de recomendações ambientais.

Sanções sem limites

O governo começou dissimulando o interesse em não ter comprometimentos diretos com o conflito entre Rússia e Ucrânia, depois de um ligeiro mal-estar em que o presidente Bolsonaro deixou rastreado em sua viagem a Moscou, onde manifestou solidariedade aos russos, sem dizer exatamente os campos em que situava esse sentimento e em que dimensões. Como foram palavras proferidas sob as tensões de uma guerra que logo depois se manifestaria, não se pode dizer que ficaram bem situadas no episódio. A intenção escapista se evidenciou mais na afirmação de que as preocupações estavam centradas apenas na proteção aos 500 brasileiros encontrados na região perigosa, o que era apenas insistir no óbvio. Em lance seguinte, sem poder resistir a pressões externas, o Brasil votou, na ONU, condenando a invasão armada no território ucraniano. Ficou uma paisagem de dúbia, embora não tenhamos responsabilidades diretas com a desprestigiada Otan.

Mas o tempo logo vai condenar ao esquecimento os tropeços e desencontros, principalmente devemos lembrar que todas as guerras, como essa que ameaça, têm a paz como destino inevitável. É nela que sempre vão cair todas as contendas. Mais ainda, quando às mobilizações militares associam-se pesados interesses de ordem financeira ou econômica. E é para esse tempo do pós-guerra que têm de estar preparados o presidente e sua Chancelaria. O Brasil, já com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, devia propor, em seu próprio interesse, mas com visão voltada para todos os povos, uma definição clássica e menos restritiva das sanções econômicas em tempo de conflito internacional. Não se nega que tenham grande poder de defesa e agressão, muitas vezes mais eficientes que as próprias armas, mas se as retaliações levam ao impedimento de atividades comerciais, ao confisco de bens e congelamento de dinheiros, elas acabam se convertendo em genocídio. Num mundo marcado pela interdependência globalizada, populações civis imensas padecem sob essas restrições, se aplicadas em excesso; e por isso precisam ter limites, por imposição de primados humanitários. Do contrário, o castigo torna-se tão doloroso quanto a ofensa das armas.

Para o Brasil, se a guerra, além do trigo, nos subtrai fertilizantes e sofremos os reflexos do petróleo em disparada, essa nova situação pode ser um caos para o agronegócio, assim como se converteria em desastre o abastecimento do gás à Alemanha, que dos campos russos importa quase 43% de suas necessidades energéticas. Afora inevitáveis mal-estares nas relações diplomáticas, porque o conflito de hoje já dividiu as opiniões do mundo.

A velha e famosa Convenção de Genebra procurou fixar limites para a ferocidade das guerras sobre as pessoas e populações civis, preservando um mínimo de dignidade durante os combates, sejam eles vencedores ou vencidos. Não se pode dizer que aquele seja um protocolo honrado e tenha evitado grandes tragédias, desde o passado pouco preocupado com restrições além do uso das armas e suas consequências. Mesmo assim, de alguma forma é um documento inspirado em ideais que ainda agora se ajustariam, quando o mundo assiste aos bombardeios e sanções contra a Rússia, e desta contra a Ucrânia. Sem a fixação de limites para restrições comerciais e financeiras, todos os países sofrem e continuarão sofrendo, tenham ou não se envolvido nas desavenças do leste europeu. A preocupação humanitária, no campo das relações de negócios, sempre há de prevalecer. Uma bandeira que o Brasil devia hastear na ONU, para remover os senões que provocou.

Um comentário:

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