Uma saída
Para quem passou a semana em Brasília fica a impressão de
que vai ganhando destaque na pauta política a possibilidade de o governo
recorrer à prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores. Tanto assim
que estaria se preparando para ceder ao velho e sempre esvaziado argumento de
que é bom provocar a coincidência de todos os mandatos.
Em rigor, a prorrogação pode acabar sendo remédio
emergencial, caso o Brasil continue despencando rumo a dois perigosos abismos:
a economia em frangalhos e a política desmoralizada. Pode ser então que
cheguemos a 2016 certos de que não haveria clima para campanhas custosas e
eleições perturbadas pela corrupção e a deterioração dos partidos e o
desprestígio de seus agentes.
Não se espera reação negativa dos deputados, desejosos de
não enfrentar os desgastes da campanha eleitoral, que sempre lhes custa caro,
vítimas do apetite dos candidatos a prefeito e vereador.
Tempo curto
Mas, se o calendário for mantido e as eleições se realizarem
na data prevista, os políticos precisam saber que têm apenas mais sete meses
para definir a filiação partidária. Quem se dispuser a disputar em 2016 tem de
estar filiado com um ano de antecedência. Projeto destinado a reduzir esse prazo
para seis meses ainda é uma incógnita e de tramitação pouco confiável.
Os assessores
Alguns dos problemas que a presidente Dilma tem enfrentado,
mesmo considerado seu temperamento refratário a conselhos, certamente teriam
sido evitados se contasse ela com uma assessoria política mais sensível. Os
tropeços em relação à Indonésia, que culminaram com um gesto deseducado com o
embaixador no momento da entrega das credenciais, são apenas um entre os muitos
exemplos de fatos que poderiam ser evitados.
Não passa um dia sem que os deslizes caiam na malha fina da
imprensa. Ontem, foi o singular discurso que dona Dilma pronunciou no Uruguai,
quando mesclou sua fala com um corajoso portunhol. Era de se ver a cara de
espanto do presidente Mujica.
Sob pressão
Uma coisa é certa: grupos políticos que andaram se
entusiasmando com a possibilidade do impeachment da presidente Dilma já
concluíram que não é esse o caminho ideal. O projeto agora em pauta é sangrá-la
de tal forma que, acuada e exausta, ela acabe renunciando. O que pensa sobre isso o PMDB, segundo partido
na linha de sustentação do governo?
Tudo a ver
Certo dia, algumas décadas atrás, Calheiros Bonfim,
ex-presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, disse algo que dispensa retoques
para se ajustar aos nossos dias: “A
corrupção pode não deixar provas, mas nem sempre desfaz seus rastros e
evidências”.
Pontos críticos
A decisão dos deputados de pleitear que a Câmara financie
passagens aéreas para suas mulheres é, além da imoralidade, uma demonstração
clara da disposição de debochar dos
eleitores. Digamos: coragem misturada com desfaçatez. Na Assembleia mineira, alguns deputados
residentes em Belo Horizonte recusaram o auxílio moradia, ainda que dele
pudessem se aproveitar. Poucos, mas suficientes para mostrar que há bons
exemplos sobreviventes na política.
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