SEM INDULGÊNCIA
A internet,
para se falar apenas de um entre os recursos de comunicação de massa, vem sendo
frequentada por lamúrias, arrependimentos e mea-culpas de veteranos petistas e
lulistas, hoje frustrados com o acachapante fracasso de seus ídolos. Há os que
vão mais longe e pedem perdão pelo voto que deram. Julgam-se em parte culpados
pela crise que se abateu sobre o País; a crise de hoje que já conquistou lugar
saliente na linha dos momentos mais dramáticos da história republicana.
Pode ser que
andam exagerando esses penitentes, a começar por se saber que sabiam exatamente
em quem estavam votando. Não foram traídos. Nenhum desses mal-reconduzidos ao
poder foi capaz de escamotear sua personalidade, seus defeitos, deficiências e
descompromissos com a sociedade brasileira. Fazem lembrar a confissão de
François Furot, que escreveu ”Passado de uma ilusão”, depois de viver o sonho
comunista durante 57 anos: “Sem indulgência, porque a desculpa das intenções
não serve de remissão para a ignorância e a presunção”.
Não de hoje,
mas de há muito, os petistas perderam o direito de se surpreenderem. Há alguns
anos o hoje ministro Mercadante, em quem jamais se negou lealdade ao PT, dizia,
sem subterfúgio aos petistas que já estavam em viagem para a terra das
desilusões: “Por que o nosso discurso não é o mesmo dos tempos de oposição?
Porque não podemos. A história nos coloca a necessidade de assumir a
responsabilidade de governo”.
Como diria
Millôr Fernandes, venha de onde vier, quem ganha é da direita. O poder é sempre
da direita. De Gaulle, mais enfático, parece que afagava os petistas, sem os
conhecer, quando pregou que a responsabilidade pelas promessas de campanha
eleitoral é apenas de quem as ouve...
Subindo ao
poder, o PT seria, como foi, exatamente igual, talvez pior, aos partidos e
políticos que tanto criticou. E se subiu, traiu expectativas, fez exatamente
tudo que amaldiçoava, em nada inovou. Os lulistas e dilmistas teriam se poupado
da decepção se tivessem lido a velha e jamais negada lição das identidades
genéticas entre oposição e situação. Teriam ido aos 1842 do Império e ler em
Joaquim Nabuco que nada é tão parecido com os saquaremas (conservadores) como
os luzias (liberais) quando estão mandando.
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