Entre mortos e feridos
É um equívoco que as lideranças políticas não devem
praticar: a tendência em tomar como verdade intocável que o Partido dos
Trabalhadores é o primeiro e único derrotado na eleição municipal deste mês.
Não foi primeiro, muito menos o único, porque o tiro que o derrubou em todo o
País é o mesmo que feriu os demais partidos, alguns de raspão, outros com
escoriações profundas. Então, o dramático apelo que hoje se deve fazer ao PT é
também a convocação aos demais, que têm o dever de criar novos rumos para o
modelo político que temos, desgastado, envelhecido, viciado e vicioso.
Como no terrorismo e na guerra ao tráfico, não é suficiente remover o
terrorista e o traficante, rapidamente substituídos quando morrem.
Trata-se de uma tarefa urgente, inadiável, como se
constata no quadro dramático traçado pelas abstenções, votos nulos e votos em
branco. Portanto, a bem pensar, é apenas relativa a vitória de tucanos e peemedebistas,
pois todos sobrenadam nas mesmas águas infestadas desse modelo, pródigo em
concessões aos desvios.
Mais de uma quarta parte do eleitorado brasileiro
mandou dizer que, se não quis o PT, também não que lhe agradam os demais
partidos. Os números demonstrados nesse quadro de ausência, indiferença e
insatisfação são, para a consciência nacional, mais importantes que o revés
petista; mais importantes que a vitória que as urnas distribuíram entre PSDB e
PMDB e outros menores. O eleitor, indo ou não às urnas, mostrou-se
desacorçoado, entediado com a modelo político, sobretudo quanto à brutal
capacidade que se criou de corromper e roubar.
O gesto da autocrítica tem de principiar pelo PT, como
passo inicial para remover o que em seu corpo se revela gangrenado, fruto das
aventuras de dirceus, paloccis e outros. Pode não ser fácil, mas é
preciso olhar para as entranhas, sem se contentar com o delírio do “Fora,
Temer”, até porque quem elegeu Temer foram os petistas... Xingar a própria cria
e queimar pneus nas avenidas em nada vai contribuir no projeto de reorganização
do partido, a cujo programa reformista emprestou-se credibilidade durante duas
décadas.
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