Sobre a PEC 241
A Câmara dos Deputados aprovou,
em primeira votação, a proposta de emenda constitucional que cria teto para os
gastos públicos (PEC 241), congelando as despesas do governo federal, com
valores corrigidos pela inflação passada, por até 20 anos.
O ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, afirma que "não há possibilidade de prosseguir economicamente
no Brasil gastando muito mais do que a sociedade pode pagar." Para a
equipe econômica, mesmo sem atacar outros problemas crônicos das contas, tal
como a Previdência, o teto de gastos vai ajudar a “recuperar a confiança do
mercado, a gerar emprego e renda", ao mesmo tempo em que conterá despesas
públicas, que estão crescendo ano a ano, sem serem acompanhados pelo aumento da
arrecadação de impostos.
Para uma parcela dos
especialistas, pela primeira vez o governo está atacando os gastos, e não
apenas pensando em aumentar as receitas. O governo Temer não cogita, no
momento, lançar mão de outras estratégias, como aumento de impostos ou mesmo
uma reforma tributária, para ajudar a sanar o problema do aumento de gasto
público no tempo.
Uma das principais críticas é que
uma conta importante ficou de fora do pacote de congelamento: os gastos com a
Previdência. É um segmento que consome mais de 40% dos gastos públicos
obrigatórios. Então, a PEC colocaria limites em pouco mais de 50% do orçamento,
enquanto o restante ficaria fora dos contornos impostos - só a regra sobre o
salário mínimo tem consequências na questão da Previdência.
Parece que o governo prefere a
questão da Previdência sendo tratada de forma separada, mais à frente. Caso o
Congresso não aprove mudanças nesse campo, um gasto que cresce acima da
inflação todos os anos, o governo vai ter de cortar de outras áreas, como saúde
e educação, dizem os especialistas. Nesse sentido, a PEC transfere para a
sociedade, por meio do Congresso, a escolha com o que quer gastar.
Outros especialistas dizem que o
texto determina uma diminuição de investimento em áreas como saúde e educação,
para as quais há regras constitucionais. Os críticos argumentam que o teto cria
um horizonte de tempo grande demais (ao menos dez anos) para tomar decisões
sobre toda a forma de gasto do Estado brasileiro, por iniciativa de um governo
transitório.
Entendidos de finanças públicas
dizem ainda que, mesmo que a economia volte a crescer, o Estado vai ter
decidido congelar a aplicação de recursos em setores considerados difíceis e
que já não atendem à população como deveriam, muito menos no nível dos países
desenvolvidos.
Se a economia crescer, e o teto
seguir corrigido apenas de acordo com a inflação, na prática o investido nessas
áreas vai ser menor em termos de porcentagem do PIB (toda a riqueza produzida
pelo País). O investimento em educação pública é tido como um dos motores para diminuir
a desigualdade brasileira.
A população mais pobre, que
depende do sistema público de saúde e educação, tende a ser lesada com o
congelamento dos gastos do governo do que as classes mais ricas. A princípio
podemos afirmar que a proposta poderia destruir ou inibir gravemente o Sistema
Único de Saúde, utilizado principalmente pela população de baixa renda, que não
dispõe de plano de saúde. Além disso, de acordo com o texto da proposta, o
reajuste do salário mínimo só poderá ser feito com base na inflação - e não
pela fórmula antiga que somava a inflação ao percentual de crescimento do PIB.
Isso atingirá diretamente o bolso de quem tem o seu ganho atrelado ao salário
mínimo.
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