O fundamental
A pauta das discussões políticas revela preferência para o
desastre eleitoral do PT, a vitória do presidente Temer na votação do teto dos
gastos, o futuro sombrio das alianças que o PMDB e o PSDB andaram construindo
por esse Brasil afora, mas ainda não sinalizou para um exame profundo do
fenômeno que as urnas trouxeram no começo do mês: o desinteresse dos eleitores
em participar do processo. É acontecimento que faz saltar, de imediato, o descontentamento
da sociedade frente à classe política, com agravante de ser um abstencionismo
que evoluiu e se agravou em todo o País; não apenas em determinados pontos,
porque se esse fosse o caso os derrotados – que foram todos os atuantes na
classe política - ainda se poderia argumentar com fatores isolados. Mas a
verdade é que o descontentamento varreu os estados de norte a sul.
Como desconhecer um fato que é, a um só tempo, protesto e
advertência? Porque, a continuar a marcha da ausência eleitoral, poderemos
correr o risco de em 2018 as urnas não terem como expressar o primado da
representatividade. Nesse particular, aliás, já se conclui que, temeroso com o
futuro, o Congresso continuará repudiando, em sua maioria, a adoção do voto
facultativo. Fosse este adotado, sem que a classe política se submeta a uma
severa autocrítica, o Brasil passaria a ser governado por minorias ínfimas.
O herdeiro
Tão logo deixe de se preocupar exclusivamente com o banimento de
Dilma Rousseff e sepultar o impossível “Fora, Temer”, o Partido dos
Trabalhadores cairá no limbo das realidades, e terá de colocar sobre a mesa seu
plano de ressurreição, a começar pela eleição de novo líder, alguém que seja
capaz de arrumar a casa, superar o passado e reorganizar as linhas programáticas.
Novo tempo, sem se deter apenas em lamentar o leite derramado.
A primeira dificuldade que se opõe a esse projeto inevitável é
escolher o líder, o condutor da reforma. Quem? O acúmulo de desgastes que Lula
e Dilma construíram desautoriza, por veleidade, pensar em retirá-los das
cinzas. O presidente Falcão se indispôs excessivamente com alas internas. A
solução, não há outra, é buscar um nome no plenário do Congresso.
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