sexta-feira, 30 de agosto de 2024

 



Eleição 2024 em pauta ( LXXVII)



CANDIDATO ÚNICO


Na coluna passada falou-se, a título de curiosidade, sobre o expressivo número de municípios em que os eleitores terão candidato único a prefeito. De fato, se em 2020 foram 108, agora serão 214, o que representa aumento de 88%.


Em todos os casos, sem exceção, são pequenos municípios. A que se deve atribuir o fenômeno? Em geral, as correntes políticas locais estão de tal forma entrosadas, sob reduzidas lideranças, que tudo se ajusta; e ao candidato basta ter seu próprio voto para que se considere eleito. Como também pode acontecer de determinado candidato ser tão forte, que eventuais opositores desistem do embate.


Interessante registar que, se aumentou tanto o número de candidaturas únicas, também significativo considerar que ampliaram, consideravelmente, os casos em que os eleitores terão apenas dois candidatos a prefeito. Se em 2020 representaram 38% dos municípios, agora representam 53%.

AINDA OS NÚMEROS


Não se confirmou a expectativa de que seria amplo o número de candidatos à vereança que se apresentassem como ativistas dos movimentos ligados aos gays e lésbicas. Em Minas, são 56, dos quais 17 filiados ao PT e 13 ao Psol. De Juiz de Fora, apenas três com essa identidade.


ECOLÓGICOS


Das redes sociais, chega o caso do sujeito que instalou uma caixa coletora de lixo, no portão de sua casa, para, como disse, recolher os “santinhos” de candidatos que são simpáticos ao governo Lula…


Ecológico, nada agressivo, o candidato a vereador Vanderlei Tomaz pede tratamento carinhoso com seus “santinhos”. Mas, se alguém não os desejar, pede que se evite jogar no chão, ajudando a manter a cidade limpa.



E A QUALIDADE?


Começa, nesta sexta-feira, a propaganda dos candidatos nas redes de rádio e televisão. Como sempre, a expectativa é ver a qualidade das produções, e torcer para que os ouvintes e telespectadores não sejam bombardeados com promessa de coisas que não serão realizadas.


O tempo para a propaganda dos candidatos toma por base a representação parlamentar. Em Juiz de Fora, os dois mais beneficiados são Margarida, com 3 m e 9s, e Charlles Evangelista, com 2m51s.



PREÇO DO VOTO


Tomemos a sábia palavra do promotor eleitoral Sandro Biscaro, da Vara de Direitos Fundamentais de Imperatriz, Maranhão: o candidato a vereador que compra o voto com tijolos, pagamento da conta de luz, sacos de cimento, é o mesmo que venderá, na Câmara, o voto para o prefeito. Indaga como acreditar que um vereador terá moral diante de quem tem obrigação de fiscalizar?



RECURSO


Sobe a instância superior, o recurso da deputada Ione Barbosa, cuja candidatura à prefeitura foi impugnada pelo Ministério Público, que, se contestado, também recorrerá. O problema resultou do descumprimento do calendário na indicação do candidato a vice, um embrouillée de afirmações e contestações que põe em cena três partidos: Avante, União Brasil e Novo.



A Câmara Municipal, cuja recomposição será definida pela eleição de 6 de outubro, é, seguramente, a principal fonte para quem se dispuser a estudar nossa história. Porque sua vida é mais longa que a vida da prefeitura, ganhando o poder de legislar, depois da monarquia. As leis, por ela votadas, eram chamadas de Resoluções, sancionadas pelo vereador presidente, que também exercia as funções de agente executivo. Em 1930, foi extinta, assim como ocorreu em todo o país, mas funcionando como Conselho Consultivo. Como Câmara, só foi restabelecida em 1936. Aí então sem o poder executivo, transferido para o prefeito.



terça-feira, 27 de agosto de 2024

 



Missão pós-Lira

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil"))

Dentro de quatro meses renova-se a presidência da Câmara dos Deputados, tempo suficiente dado aos partidos e suas bancadas para uma reflexão cuidadosa sobre os desafios que aguardam o sucessor de Artur Lira; desafios que não serão poucos. A começar por ter de reconhecer que a Casa precisa trabalhar para reconstruir um pouco, pelo menos um pouco, do perdido prestígio junto à opinião pública, problema que se revelou mais crítico no episódio das emendas, já de duvidosa inspiração em tempos passados, muito mais agora, quando elas se fizeram proteger pelo escandaloso segredo de suas destinações. Não há brasileiro, suficientemente informado, que não perceba o real destino das emendas chamadas impositivas, poderoso instrumento de reeleição dos doadores, bilhões de reais que correm o Brasil em campanha de votos, sem a indispensável transparência. A criminosa caminhada apenas perdeu a volúpia e a promessa de um pouco de transparência e rastreabilidade, depois de uma aventura monocrática do ministro Flávio Dino, que desembarcou na competência do Congresso, de bisturi em punho. Algo semelhante a uma operação cesária, ao que os parlamentares reagiram com protestos, dores lancinantes e certeza de retaliações.
Ao descrédito do Legislativo soma-se enorme decepção da sociedade com o festival de verbas distribuídas entre favoritos. Diluiu-se o respeito minimamente devido.
A Câmara, mesmo que responsável pelo mal praticado, terá de fazer alguma coisa, nos meses vindouros, para reduzir os desgastes que vem sofrendo, como claramente demonstrado está na intensa medição de suas forças com os outros dois poderes. Sai ferida da refrega, e nem por isso o povo sente muito dó.
O novo presidente terá de pensar em algo propositivo, capaz de animar o país. Fazer o que tem de ser feito. Dito assim, parece apenas martelar o óbvio, mas o que se impõe é assumir o que cabe à Casa legislativa, com alguma coragem para romper vícios políticos carcomidos, discussões ranzinzas e improdutivas. Por exemplo: há, nas comissões, uma fartura de proposituras com prazo vencido, sem qualquer validade, mas ocupando tempo e espaço. É preciso sanear, da mesma forma como se impõe adotar medidas capazes de agilitar as tramitações. A Câmara dos Deputados custa muito a decidir, consome mais tempo que o razoável para transformar em lei bons projetos ou arquivar os imprestáveis. Morosa, contrasta com a sociedade que, muitas vezes dependendo dela, tem pressa para avançar.
Ao perceber que ali caminham morosidade e insegurança, o Supremo Tribunal sente-se no dever, discutível, de incursionar no campo político; entra em cena para fazer o que deputados e senadores custam fazer. E, depois, vem a grita geral contra a invasão do domicílio das competências.
Ainda na pauta de quem for para a presidência da Mesa, desafia uma situação que se evidencia no governo Lula. O Legislativo, aí também contado o concurso do Senado Federal, passou a ser, entre os três poderes constituídos, a vítima do consórcio político que une Executivo e Judiciário. Sempre unidos, não raro costumam passar ao largo, distantes dos responsáveis pelas leis, assumindo atribuições confiscadas ao Legislativo. A Presidência da República, que ficou devendo ao Supremo Tribunal os gestos de boa vontade que facilitaram a caminhada de Lula, vinga-se do Centrão, das exigências, das ameaças e tenta escapar das culpas; e, por vias indiretas, vai ao STF tirar castanhas com mão de gato. Assim, no jogo dos poderes, o Planalto e o Supremo vão destinando ao Congresso o papel do patinho feio.
Seria entediante enumerar as pesadas causas que aguardam o sucessor do deputado Lira. Mas não se ignore, entre as urgências, a indispensável revisão do modelo que a Câmara adotou para trocar favores com a Presidência da República, fazendo do Centrão o pragmático negociador, presença constante no balcão de conveniências, onde votos em comissões e plenário custam cargos no primeiro e segundo escalões, com uma insolência e despudor desmedidos. Esse modelo tem a competência de denegrir os que dele participam, para vender ou para comprar. É preciso acabar com isso. Mas, reconheça-se, o homem que vier tem de ser corajoso demais, porque os maus interesses já plantaram raízes profundas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

 Eleição 2024 em pauta ( LXXVI)


A LIÇÃO DOS NÚMEROS
Interessante observar que dirigentes partidários, como também candidatos que estão entrando em campanha e seus assessores, não têm se preocupado, pelo que se sabe, em pesquisar e estudar os números da eleição de 2020; e em que ponto, sob quais aspectos, eles podem trazer luzes para os que vão jogar sua sorte no pleito que chega dentro de 45 dias. A experiência passada deve ensinar alguma coisa. Talvez, estudando o passado, pudessem os interessados encontrar forma de estimular mais o eleitorado a caminhar rumo às urnas.
Poucos se dão conta de avaliar, mas há quatro anos, quando se defrontaram os candidatos a prefeito, 12.532 eleitores preferiram votar em branco. Pior, para preocupar mais, é que, naquele mesmo ano, 25.912 foram à urna para anular o voto.
O que significa: somada a abstenção, 152.431 juiz-foranos não participaram da escolha do prefeito. Um quadro que assusta, mesmo com a ressalva de que o voto nulo e o voto em branco não são a mesma coisa. O nulo é rancoroso, odeia, rasga um direito de cidadania; o branco não deixa de ser voto ativo, porque confere ao cidadão o direito de não fazer opção.
Aqueles ausentes, ou, ao menos, uma grande parte deles à espera de um discurso que os estimule a sair do ostracismo. Quem se habilita?

DESINTERESSE
Informa o Tribunal Superior Eleitoral que são 451.988 os cidadãos inscritos para disputar as eleições, dos quais 15.341 tentam ganhar as prefeituras brasileiras. Uma novidade é que, desta vez, esse colégio é agora bem menor: cerca de 100.000 a menos.
Essa queda não acontecia desde 2008.
As explicações não são muitas sobre o desinteresse. Uma delas é o custo das campanhas, que vão se tornando artigo de luxo. Há os que buscam explicação no desencanto, cada vez maior, com a política.

SÍLVIO PRESENTE
A disputa pela prefeitura de Juiz de Fora, que sente a ausência de conhecidas figuras políticas, também fica sem a participação do ex-deputado Sílvio Abreu, que foi secretário de Justiça no governo Tancredo Neves, e, durante duas décadas, teve imensa influência no MDB municipal.
Neste ano, Sílvio está empenhado na eleição do prefeito de Belmiro Braga, onde tem propriedade e poder político, à frente de uma aliança liderada pelo PDT.

VISITA DECISIVA
Ronaldo Caiado, governador de Goiás, visitou Juiz de Fora, na segunda-feira, para participar de evento da campanha de Ione Barbosa, candidata à prefeitura pelo Avante, tendo como vice Manfrini (filiado ao União). A visita foi registrada nas redes sociais da candidata.
O gesto de Caiado, presente neste momento, significa o endosso da direção nacional do União à indicação do candidato a vice. Sinaliza, politicamente, a ratificação, na cidade, da aliança eleitoral de seu partido com o Avante.

QUOCIENTE
Os candidatos a vereador ainda não dispõem de dados precisos sobre o volume das legendas necessárias para que o partido garanta uma cadeira na Câmara. Mas, com base na comparação com pleitos anteriores e novas projeções do eleitorado, a prudência recomenda não fazer estimativas abaixo de 12.500 votos.

OS PERCENTUAIS
O TSE concluiu, ontem, o levantamento dos percentuais de candidatas e dos candidatos negros, com o fim de fixar e policiar a participação deles nos recursos do Fundo Eleitoral, mas já com todas as evidências de que os dois segmentos sairão prejudicados, sem que os partidos políticos sofram penalidades.
Viu-se agora: o Senado aprovou perdão aos partidos políticos que vivem em irregularidades, não pagam suas contas e, pior, na eleição de 2022 descumpriram dispositivos legais que mandavam garantir espaço e vagas para mulheres e negros na elaboração das chapas de candidatos. Os criminosos foram perdoados, como também caladas e recolhidas ficaram as entidades que gostam de falar grossos quando os menos poderosos pisam nos calos femininos e fazem pouco da cor da pele.

DELEGADAS
A campanha eleitoral faz com que cruzem os caminhos duas delegadas de polícia, que acabaram dedicadas à política. A deputada Sheila preside o diretório municipal do PL, partido que tem seu marido, Charlles, candidato a prefeito, enquanto a deputada Ione Barbosa concorre ao mesmo cargo, pelo Avante. Não se davam, na profissão, não se dão na política. Como costumam sugerir os colunistas sociais, não convém chamar as duas à única mesa.

GETÚLIO
No sábado, dia 24, os 70 anos da morte de Getúlio Vargas. Nada se programou na cidade para marcar a data, mesmo em tempo de campanha eleitoral. Houve época em que os trabalhistas e o PTB celebravam intensamente.
Hoje, os trabalhistas estão dispersos e o PTB não existe mais.

PRIMEIRO CASO
Caiu nos braços da deputada Ione Barbosa, candidata a prefeita pelo Avante, o primeiro embate na Justiça. O Ministério Público acha que sua candidatura tornou-se irregular, e, portanto, tem de ser impugnada. A questão gira em torno da indicação do vice, Francisco Manfrini, porque a decisão do União Brasil de indicá-lo para a aliança ocorreu 24 horas depois de esgotado o prazo legal para as convenções. Mas, como o pedido de impugnação também chegou fora do prazo, é pouco provável que prospere.
O cancelamento de uma candidatura majoritária é coisa séria. Precisa se basear em graves evidências.

SÓ UM VOTO
Entre os 214 municípios brasileiros que terão candidato único a prefeito, três estão na área de influência de Juiz de Fora: Maripá, Pedro Teixeira e Pequeri. Basta que, nessas condições, o candidato tenha um voto (o próprio) para se considerar eleito…


Na tarde de 22 de agosto de 1889 – 135 anos passados – a Câmara e a população receberam a notícia de que, na noite do dia seguinte, Bernardo Mascarenhas traria, da usina de Marmelos, os primeiros sinais de energia elétrica, para alimentar umas poucas lâmpadas da sede da Maçonaria Fidelidade Mineira. O mais importante entre os pioneirismos da cidade, que foram muitos. Havia um clima de incredulidade, mesmo numa época em que viviam aqui vários empreendedores; mas as pessoas preferiam desconfiar. A desconfiança só foi vencida no dia 5 de setembro, quando, então, muitas luzes se acenderam na Rua Direita.


terça-feira, 20 de agosto de 2024

 


A novela venezuelana

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

O confuso desembarque do governo brasileiro na tragédia venezuelana faz lembrar a dificuldade de certos autores das teledramaturgias, que, criando suas novelas, entram animados nos primeiros capítulos, mas sentem dificuldade para elaborar o capítulo final. No caso presente, o presidente e a assessoria extra-Itamaraty estão em busca de uma saída honrosa, sem novos acidentes, menos desgastante. Mas, já haviam mergulhado de tal forma, que restou uma tarefa que está a exigir muito engenho e arte; tarefa mais difícil, desde que o presidente sugeriu que o ditador de Caracas e a oposição fossem à mesa para negociar uma segunda eleição, quando devia saber que isso seria o mesmo que convidar perdedores e ganhadores a confessarem duplo fracasso. Nesse particular, reconheça-se, o talento internacional de Lula conseguiu o milagre: de uma única vez, foi rechaçado igualmente por Maduro e González, pois ambos o mandaram se recolher, lembrando que são de um país que tem autonomia. Não foi fácil digerir o tropeço.
Em outra estranha incursão da criatividade tupiniquim, propôs o projeto de coalizão, o que, considerado o clima venezuelano, é sonhar com a coexistência impossível. Na verdade, tentava fechar uma novela em que heróis e vilões se abracem e dividam razões e boas intenções, delírio que acabou causando espanto maior com a desastrosa conclusão de que não há ditadura na Venezuela, mas apenas um regime irregular. Os amigos esqueceram de dizer ao seu presidente que toda ditadura é irregular em si mesma, dispensa definições artificiais.
Afinal, essas tentativas ofereceram a Maduro fôlego e tempo para acabar de preparar misteriosas e morosas atas eleitorais, com os números que lhe pareçam mais vantajosos. Nada mais que isso. Tanto assim, que o México, participando do triângulo das articulações brasileiras, percebeu o fiasco, e foi saindo à francesa. A Colômbia, no outro vértice, sente que, para não se comprometer mais, é suficiente apenas insistir em eleição clara. E fica o Brasil, em voo solo, acumulando desgastes, como o desconforto com a Organização dos Estados Americanos, que, por culpa nossa, não teve como conferir ao ditador Maduro um voto de desconfiança continental.
Como sair desse embaraço e de suas consequências presentes e futuras? Só Deus sabe.


Tempos pouco transparentes

Causa perplexidade, até certo asco, a extensa discussão sobre a conveniência da legalidade ou não de se dar transparência aos destinos e objetivos das emendas parlamentares, como se os dinheiros que as alimentam fossem apenas de bolsos particulares; o povo nada tem a ver com isso. Os segredos e raras informações sobre elas nem deviam ser objeto de discussões e dúvidas, dado que transparência é o mínimo de respeito que se deve aos contribuintes. Escandaliza ver que coisa tão óbvia ainda gera dúvidas.
A clareza na destinação das emendas seria, num país menos desorganizado, algo implícito, automático e imediato na decisão do Congresso ao criar a bondade, visivelmente suspeita, porque o verdadeiro objetivo, não outro, é favorecer a reeleição de deputados e senadores, contemplados com tamanho privilégio. Estamos diante de uma barbaridade.
O horror do orçamento secreto e as emendas destinadas sem a necessária rastreabilidade figuram como escândalo intolerável, cusparada na cara da sociedade. Não se sabe como os parlamentares se sentem sem rubor, quando se cruzam nos corredores. Incrível.
Há um outro mal que, paralelamente, vai prosperando. Tolerada a infâmia do assalto ao Erário, que até o presidente Lula definiu como loucura ( logo ele, que não se assusta com qualquer coisa), o Congresso vai se sentindo à vontade para outras incursões danosas, à sombra de névoas acostumadas com irregularidades escondidas. A mais recente delas acaba de ser praticada pelo Senado, ao aprovar perdão aos partidos políticos que vivem em irregularidades, não pagam suas contas e, pior, na eleição de 2022 descumpriram dispositivos legais que mandavam garantir espaço e vagas para mulheres e negros na elaboração das chapas de candidatos. Os criminosos acabam de ser perdoados, como também caladas e recolhidas ficaram as entidades que gostam de falar grossos quando os menos poderosos pisam nos calos femininos e fazem pouco da cor da pele.
Na verdade, todos vão se acostumando com a violência praticada contra os direitos, exatamente por obra e graça de duas casas legislativas, que têm o dever de defendê-los. Não só não os defende, como também os agride.


Livrinho de Delfim

O fato de ter sido fiel servidor da ditadura que se instalou em 64 não torna desimportante o papel do professor Delfim Neto em momentos cruciais nos destinos do Brasil, além de ser o mais longo ocupante do ministério da Fazenda, que comandou durante 12 e meio anos, superando Souza Costa, que esteve no cargo por 11 anos, no governo Vargas.
Morto na semana passada, aos 96 anos, jornais e emissoras de televisão ocuparam-se em resumir sua longa biografia, sem que faltassem frases famosas que atraíram aplausos, como também críticos severos. Certa vez, disse uma verdade que os tempos outra coisa não fizeram se não confirmar: “nada mais parecido com o governo do que a oposição no governo”. Porque os políticos, quando estão com o poder nas mãos, apreciam fazer exatamente o que antes criticavam.
Sobre o momento crítico em que estamos vivemos, em uma de suas últimas aparições na TV ele receitou: alguém traz aquele livrinho da Constituição de 88, verde e amarelo na capa, chama os homens que hoje mandam no Executivo, Legislativo e Judiciário, e diz: o que vocês têm de fazer está escrito aqui. Eis o suficiente.
O velho presidente Dutra também apreciava chamar de livrinho a Constituição de sua época.



terça-feira, 13 de agosto de 2024

 


Ministério e reeleição

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Independente de consistência e do prestígio que tenham alcançado, os governos são forçados, na metade do caminho, a reorganizar as forças de sustentação, tarefa ainda mais inevitável quando têm planos de estender seus poderes em novo mandato. E um prêmio de mais quatro anos parece povoar a imaginação do presidente Lula, mesmo reconhecendo que vai se aproximando dos 80, idade pouco favorável a grandes saltos. Porém, com ou sem projetos de continuísmo, as mudanças ministeriais acabam se tornando contingência inevitável, e ele não terá como escapar, não apenas por causa dos desgastes naturalmente acumulados no primeiro escalão, mas também porque, aberta a segunda e última etapa da jornada, torna-se indispensável a convocação de forças menos cansadas, mais vigorosas para os embates seguintes. O time, então, precisa deixar o passado e olhar mais para a frente.
Diz ele que não tem pensado nisso, por hora; e, quando pensar, se pensar, será por iniciativa própria, pessoal, à margem de interferências. Pode ser até que deseje, sinceramente, essa independência, mas a realidade permite outra interpretação, com base no fato de o atual governo, mais que qualquer outro, teve de ceder a exigências dos blocos parlamentares, aceitando indicação de ministros que não escolheu, engolindo o remédio único para dar saúde às mensagens que tinham de passar pelo Congresso.
Não saiu barato. Há, nos altos círculos de decisão, no primeiro e segundo escalões, muitos que trabalham claramente para os partidos ou grupos que os indicaram; e, se necessário, contra o governo. Incontáveis exemplos estão à mostra, mais frequentes agora, em vésperas de eleição municipal. O PT, partido in pectore, oficial, não esconde preocupação pelo preterimento que teve de sofrer em alguns prédios da Esplanada.
Como seria possível enfrentar o terceiro e o quarto anos à revelia das muletas partidárias, sem as quais o governo não sabe andar?, como também não aprendeu a viver sem elas. Cabe lembrar: gerado por uma eleição dividida nas urnas, o que lhe negou força suficiente para assumir sozinho as rédeas, o governo Lula não teve outro jeito, se não recorrer a alianças famélicas, de apetites pragmáticos. Nem teria de ser diferente, porque ao regaço presidencial não houve quem oferecesse alternativa menos dependente e mais engenhosa. Talvez por isso, se equivoque no rompante de imaginar a possibilidade de se livrar das dependências, da poderosa usina de influência e poder, gerada por gente altamente competente nesse mister. Que o diga o Centrão.
A reforma ministerial tem de ser pensada sob o impacto de novos fatores, a partir do perfil das grandes prefeituras, que vão desenhar outra paisagem em outubro. Os prefeitos e seus grupos ditarão tendências políticas prontas para sobreviver até 2026, num painel de forças capaz de influir nas linhas de ação do Executivo. Nessa hora, ministérios e grandes estatais sempre figuram como instrumento de negociação. Não há como escapar disso.
De volta à reorganização da estrutura do governo e a eleição de 2026, cabe considerar que fatos próximos e expectativas se entrelaçam. Já foi dito: não se desconsidere que o presidente sinaliza – é perceptível por colaboradores íntimos – a disposição de evitar qualquer obstáculo a um projeto destinado a torná-lo candidato ao novo mandato, principiando pela insistente preocupação em mostrar vitalidade física, desafiando, antecipadamente, a idade que pesa.
Não há, no seu partido e nas coligações, quem o conteste claramente. Mas, além da carga do tempo ancião, resta à equipe certo sentimento a desaconselhar a aventura do quarto mandato, e o risco de fechar a biografia com uma derrota. A despeito de tudo, os petistas terão de considerar que, tal como os bambuzais, Lula não cuidou de permitir que grandes ambições crescessem em seu redor. Haddad seria uma exceção, mas pronto a ser podado, se prejudicar a sombra do chefe.
Diferentemente, a oposição não teria de correr atrás de alternativa. Se não o próprio Bolsonaro, Tarcísio Freitas ou dona Michele já estão expostos. Mas tudo isso é exercício de cogitações. Ao sopro de qualquer vento, a História tudo pode mudar.

Alianças exóticas
Um detalhe corrobora a observação de que, chegadas as eleições municipais, os partidos transformam-se, passam a ser muito mais grupos de convivência e acerto de interesses. Outra coisa não se constata em todo o país, acentuadamente nas pequenas comunidades. Preferencialmente no Nordeste e em Minas, onde, chegada a hora de escolher o prefeito, as siglas pouco ou nada valem, há vários casos em que PL e PT estão caminhando de mãos e pernas dadas, não importando que suas lideranças nacionais ou estaduais sejam bolsonaristas ou lulistas. São preferências, amores e ódios que ficam para discussão futura, não agora.
Dentro de dois dias, segundo a legislação eleitoral, fecham-se as cancelas para alianças, exóticas ou não, podendo, até lá, surgir exemplos não menos curiosos. Seja como for, será um dado a mais para mostrar que os partidos não ganharam força suficiente para, nas pequenas e médias cidades, impor seus programas; se é que realmente desejassem para seus ideais uma verdadeira projeção nacional.


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

 



Eleição 2024 em pauta (LXXV)

FESTA BOLSONARISTA
A convenção municipal do PL, última do calendário eleitoral, foi uma festa da direita e do bolsonarismo, que lotou a Câmara, na noite de segunda-feira, tendo como ponto alto o lançamento da candidatura do ex-deputado Charlles Evangelista à prefeitura. Recém- criado, o partido não tem muitas filiações a mostrar, mas a reunião foi eclética: no plenário e nos corredores, misturavam-se muitos trabalhistas, veteranos udenistas, como também ex-tucanos, entre os mais entusiasmados o ex-vereador Rodrigo Mattos.
A convenção foi presidida pela deputada Delegada Sheila, mulher de Charlles, interrompida para a entrada de mensagem, transmitida em celular, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, apoiando a candidatura de Charlles, lembrou sua “ligação afetiva” com Juiz de Fora, desde quando aqui sofreu atentado, em 2016.
Sem contestações, os convencionais também aprovaram 24 candidaturas à vereança e a de vice-prefeito do pastor Gilmar Garbero.
Charlles indicou que estudos independentes, longe de “pesquisas encomendadas” apontam que vai ao segundo turno em outubro, o que ocorreria como ”lastro de serviços que tenho prestado à cidade”. Lembrou que tem aqui um recorde a seu favor: nenhum deputado federal, como ele, com apenas um mandato, votou R$ 70 milhões em emendas, boa parte para financiar cirurgias eletivas.
* O vereador Mello Casal, candidato à reeleição, foi, depois de Charlles, o mais aplaudido da noite.
* Tema mais frequente nos discursos: união para combater o PT.
* Ganhando a prefeitura, ou mesmo antes da eleição, o partido contesta os valores do IPTU, que considera exorbitantes, e o leilão de propriedades da municipalidade.
* Os discursos da deputada Sheila e de Charlles foram frequentes evocação dos valores da família. O candidato lembrou que ela tem quatro filhos, e ele dois, num total de seis.

REVOADA EM BRASÍLIA
Por causa da proximidade das eleições municipais, a Câmara dos Deputados teve de promover revisão de prioridades, de forma que muitos projetos e debates sobre temas momentosos ficaram para outras oportunidades, talvez em novembro, dezembro, ou mesmo o próximo ano legislativo. O principal problema é que dos 513 deputados 93 licenciaram-se para disputar a prefeitura em seus redutos. Um recorde. Consequência imediata, problema incontornável, é que a obtenção de quórum para votações qualificadas tornou-se muito difícil.
Um detalhe interessante é o ânimo desses parlamentares em trocar a vida bem mais fácil, em Brasília, pelas agruras dos municípios que pretendem administrar, com raras exceções
mergulhados em graves dificuldades.

BONS VIZINHOS
À primeira vista, assusta saber que, entre os 853 municípios mineiros, 237 têm registrado mais eleitores que moradores, o que se constata na comparação dos números do IBGE e do TRE. Supõe-se que há muitos casos de “fósforos”, isto é, cidadãos já falecidos, cujos títulos continuam sendo utilizados, um crime que nunca deixou de existir.
Mas há outra explicação, não menos aceitável. É o caso dos municípios onde vivem e trabalham muitas pessoas, sem que tenham se desligado, como eleitoras, dos seus lugares de origem. Os censos vão indicá-las como residentes, sem levar em conta que, chegada a eleição, saem para votar em sua terra natal, com título de mão. Observe-se o papel de Juiz de Fora como município-polo, aqui vivendo milhares procedentes de localidades indicadas pelo Tribunal como tendo mais eleitores que habitantes: Piau, Coronel Pacheco, Estrela Dalva, Belmiro Braga, Chácara e Aracitaba, entre outros. O caso de Chácara, por exemplo: 46% a mais eleitores que moradores.

FUTEBOL
Em conversa informal, com grupo de maçons, no final da semana, o candidato a prefeito Isauro Calais considerava que uma estranheza persistente é que, dispondo de estádio em Juiz de Fora, e estando a apenas 150 minutos do Rio, os jogos de times cariocas serem constantemente realizados em Brasília, muito mais distante. Entende que falta cair em campo e buscar parcerias.
Também, reclamando uma parceria com o Estado, cita o Expominas, ontro elefante.

MUNICIADO
O vereador Mello Casal, quase sempre a voz única na Câmara contra a prefeita Margarida, é muito bem informado sobre as intimidades da administração. Ficou sabendo, antes de todos, da incursão de R$ 12,1 milhões na conta de previdência dos servidores, com detalhes que o municiam nos questionamentos que levanta. Antes de todos, já estava de posse de dados sobre o leilão dos espaços da antiga exposição agropecuária, com elementos que permitiram discordar do que considera subavaliação de R$ 70 milhões para a entrega do imóvel a investidores imobiliários. Tem bom trânsito onde pretende entrar.


Já se escreveu muito, mas não o suficiente ou necessário, sobre as dificuldades que na cidade viveram os italianos, alemães e seus descendentes, nos períodos de guerra, sem que faltassem excessos de patriotadas. Em meados da Segunda Grande Guerra, contava Paulino de Oliveira, italianos e germânicos eram instados a se pronunciarem, publicamente, contra Hitler e Mussolini, para não serem acusados de servir como agentes do Eixo. Como se a confissão fosse uma espécie de salvo-conduto. Particularmente, os alemães sofreram muito, mas, na linha dos políticos, não tanto como o prefeito Rafael Cirigliano, descendente de italianos. Era acusado de tramar a destruição da Represa. O governador o transferiu para Belo Horizonte, onde foi dirigir a Loteria Mineira.