Chega-se a janeiro, e o drama se repete, cada ano custando mais caro, as chuvas destruindo e matando mais. Agora, contados os óbitos da tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, já vamos chegando a meio milhar de mortos.
Se a tragédia se reedita ano a ano, repete-se igualmente o rosário das culpas: as encostas imprudentemente ocupadas, as casas indevidamente construídas, o excesso de asfalto que impermeabiliza o asfalto, os rios mal cuidados, toneladas de lixo que represam as águas e a ineficiente política de prevenção da Defesa Civil.
Da parte do poder público, também repetições. O presidente da República sobrevoa a área destruída pelas chuvas, e, sem molhar os pés, manda liberar recursos emergenciais para o caos que dentro de algumas semanas só será lembrado por quem perdeu vidas ou viu suas casas serem levadas como paus de enchente. No ano que vem a novela vai se repetir, a presidente voltará a praticar a solidariedade do sobrevoo.
Ontem, quando o governo federal liberou R$760 milhões para atenções emergenciais na zona destruída, seus representantes tiveram de confessar uma negligência sinistra: das verbas para contenção de encostas, prometidas desde as chuvas de 2009, foram liberados apenas 30%.
Prezado Wilson, seu comentário é lapidar.
ResponderExcluirNo Brasil, há uma combinação macabra entre um sistema econômico excludente, que expulsa os pobres para as áreas vulneráveis, e um padrão urbanístico inexistente, que transforma a norma legal num 'faz de conta'.
O resultado é a repetição, ano após ano, do mesmo enredo. Apenas personagens e cenários se alteram, sem afastar a sensação de déjà vu.