O terrorista
Crônica de Carlos
Drummond de Andrade, publicada há 36 anos, levou o poeta a tentar definir o
perfil do terrorista, de sinistra atualidade. Assunto antigo, do qual também se
lembrou, tempos depois, o embaixador Rubens Ricúpero. O terrorista de nossos
dias se revela bem diferente de métodos e das ideias dos seus antecessores,
como aqueles terroristas anarquistas regicidas que Chesterton analisou em 1908.
Eis um tema a ser
examinado com cuidado, dada a complexidade de seus matizes, o que não exclui
“reduzir a proporções realísticas certa onda apocalíptica de pânico exagerado”.
Uma onda na qual ainda não mergulhamos, mas podemos estar a caminho.
Há muito que
analisar em torno do terrorismo do momento, a começar pelo impensável e
contraditório: logo a França, a mais hospitaleira e tolerante com os
muçulmanos, cedendo-lhes até o culto a certas tradições, nem por isso deixou de
ser sua principal vítima.
Nessa análise, não
deixar de considerar a lição de Enrico Malatesta, para quem os princípios por
meio de atos são mais eficazes que a propaganda da ideia. Tal qual temos visto
hoje.
O terror atual, ao
contrário dos assassínios de reis e príncipes antigos, vem trazendo forte
sentido simbólico. Matar em Nice, derrubar as torres de Nova York, explodir um
aeroporto ou uma boate em Paris são covardias capazes de enriquecer o currículo
de um terrorista, muito mais que atentar contra a nobreza. O símbolo é forte,
como seria dinamitar Greenwich, símbolo da pretensão burguesa de domesticar o
tempo.
Voltemos a Drummond:
“Ser terrorista é
ser maniqueu cego. Porque ao mal deu o nome de bem e ao bem deu o nome de
mal. A consequência é o terror íntimo que se desdobra no terror externo.
O terrorista é um
aterrorizado?
Sim, o terrorista é
um aterrorizado, porque passou a ter medo da vida na variedade de suas opções.
Que pretende o
terrorista em ação?
Pretende, em
primeiro lugar, dar vazão ao seu próprio terror, projetando-o. Em segundo
lugar, pretende passar do terrorismo de baixo para o de cima, e ao de cima para
baixo. O projeto do terrorista é demolir o estabelecimento cheio de erros para
instituir outro estabelecimento que seja o Erro Total. Uma utopia com alicerces
no sangue e no ódio.
De qualquer sangue?
De qualquer, mas de
preferência o sangue dos inocentes. Porque os inocentes são sempre os mais
vulneráveis.
E em segundo lugar?
Por ser maior o
prazer do mal convertido em bem para o seu gosto. Ele sente prazer na descarga
emocional e na ilusão do domínio.
E qual a fórmula para
resolver o problema?
A solução não está
em fórmula, está na vida.
É possível reeducar
um terrorista?
Ainda não se
encontrou o tratamento científico para ele. Mas pode-se educar o jovem para não
ser terrorista.
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