Debate. Que debate?
Esgotou-se
em si mesmo o modelo que as emissoras de televisão criaram para confrontar
candidatos a prefeito, ainda que se deva exaltar a boa intenção da iniciativa,
isto é, a intenção de contribuir para que o eleitor tenha mais segurança no
voto que vai dar. Esgotou-se o modelo porque não há propriamente um debate, mas
a transformação dos candidatos em meros entrevistadores, papel que desempenham
sem descuidar do interesse da pergunta. Dirigem-se a quem convém perguntar e
que as respostas sejam favoráveis aos planos do inquisidor. Levantam-se as
bolas de acordo com a altura da rede.
Não
foi diferente na noite de quinta-feira na TV Integração. Durante quase todo o
curso do programa os candidatos pareceram satisfeitos ou recompensados com o
papel que cumpriram durante a campanha. Em determinados momentos deixavam
escapar certo tédio. Como se chegassem ao fim de uma corrida, sem maiores
esforços, ávidos pelo merecido descanso depois dessa jornada dietética,
insípida e sem trancos.
Nesse
e em outros desses chamados debates o jornalista fica reduzido a um
cronometrista rigoroso, como se a ditadura dos segundos fosse mais importante
que as ideias expostas. A fala do candidato é fuzilada pelo ponteiro do relógio
que o mantém sob a permanente mira da intolerância.
Como
não há jornalismo, a condução dos negócios está condenada ao sabor das
conveniências da campanha, em Juiz de Fora dividida entre os cinco principais
candidatos. No caso dos dois que lideram as pesquisas, o prefeito Bruno e a
deputada Margarida Salomão, explodia na tela a intenção de manter as coisas
como estão, porque desse jeito está ótimo. Estão ambos satisfeitos por galgarem
o segundo turno. Momentos houve até em que um parecia eleitor do outro, com
recíprocos gestos de admiração. Como em certos embates de floretes na corte de
Luiz XV, melhor é oferecer o lenço rendado, sem sangue.
De
forma que, ontem, a TV acabou mostrando apenas uma disputa pelo terceiro lugar.
Medalha de bronze numa olimpíada eleitoral jejuna de grandes saltos e sem
ambição por recordes.
Um
detalhe que também serve para questionar esse modelo de debate: os candidatos
aproveitavam a réplica a que tinham direito não para esclarecer detalhes de uma
pergunta incômoda; aproveitavam-na, contudo, para falar sobre o que fizeram ou
pretendem fazer. Raras explicações objetivas. Nas escassas contestações iam,
quando muito, na insinuação de discutível qualidade dos serviços prestados pelo
adversário.
Outro
detalhe, este de espantar. Sendo de partidos tão diferentes, estando o País
mergulhado na maior de suas crises políticas, não se ouviu uma única pergunta a
respeito. Sendo do PT, partido do centro da crise, e cuja bandeira levanta em
Juiz de Fora, a deputada Margarida não foi provocada. Nesse particular
seus quatro adversários mantiveram-se como fidalgos cavaleiros incapazes de
serem desagradáveis a uma dama.
Por
fim. As emissoras que destinam à campanha eleitoral seus horários nobres
continuam ignorando a importância dos candidatos a vice. O eleitorado precisa
conhecer melhor o substituto eventual e às vezes definitivo do titular o cargo.
Chegamos ao dia da eleição sem sabermos uma palavra sobre aqueles que
acompanham na chapa os candidatos a prefeito. Tanto quanto os titulares, eles
precisam estar informados e preparados para o imprevisto. Ontem ninguém se
interessou em saber, para efeito de comparação, sobre os adversários de seus
companheiros de chapa.
Seria
conveniente lembrar que metade de nossa história republicana foi escrita pelo
vice.
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