Fé nos biomas
Um erro sobre o mundo pode nos induzir a um erro a
Deus. Foi com esta advertência, inspirada em Santo Tomás de Aquino, que o padre
Dalton Barros, redentorista, promoveu na Catedral uma palestra sobre os biomas,
que neste ano são o enfoque da Campanha da Fraternidade. Tal preocupação é um
convite a olhar com Fé a Criação, mas tendo em mente que ao falar dos biomas
brasileiros e ao defendê-los a Campanha da Fraternidade não cuida apenas dos biomas
físicos, mas também dos existenciais.
A Natureza, explica padre Dalton, tem de ser tratada
pela atual e pelas gerações futuras como um santuário vivo de Deus. Papa
Francisco ensina que se trata de uma exigência da Fé . É continuar a obra
de Deus.
Marchinhas no cadafalso
Para subsidiar o debate que se trava em relação às
velhas marchinhas de carnaval, quando construídas em cima de preconceitos, em
Juiz de Fora houve quem contestasse e condenasse o simpático Bloco do Beco, que
neste ano foi à rua mostrando um tema político atualíssimo: “Moro num país
tropical”, alusão ao juiz que tem mandado para a cadeia corruptos e
corruptores, e nisso ajudando, ainda que modestamente, a agravar a
superpopulação carcerária... Mas os foliões acabaram não dando importância.
O Beco só cuidou dos políticos, o que não o poupou da
critica dos politicamente corretos. Em outros lugares o viés estava nas
ofensas aos negros, havendo quem propusesse a proibição da divulgação de
marchinhas que tanto sucesso fizeram no passado. É preciso reconhecer seu
conteúdo preconceituoso, mas sem desconhecer que elas são de uma época em
que não havia consciência coletiva contra isso. Hoje seria inadmissível, mesmo
que as letras exaltassem a “nega do cabelo duro”, a cor da pele da mulata que
“não pega”, não contagia. Ou a “nega maluca” escandalizando o salão de sinuca.
E não apenas as negras. O compositor já não ousaria
hoje dizer que quer uma mulher, tal como Emília, ”que saiba lavar e cozinhar, e
me acorde na hora de trabalhar”. Quer dizer, mulher que seja cozinheira, lavadeira
e faça o papel de despertador. Mulher ideal.
Da mesma forma impensável agora um programa de
televisão anunciar um cantor negro vestido de branco, como César de Alencar, da
Rádio Nacional, apresentava Blecaute: ”mosquito caiu no leite”. Ausente uma
conscientização contra o preconceito ofensivo, o cantor sorria para a plateia e
o público aplaudia.
O notável Braguinha eternizou-se junto ao público
infantil, sem espantá-lo, ao cantar que era o lobo mau que pegava as
criancinhas pra fazer mingau. Hoje o Estatuto da Criança o crucificaria.
O tempo tem o poder de corrigir tudo, sem necessidade
de a gente assoprar cinzas que ficaram no passado.
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