terça-feira, 31 de janeiro de 2023

 


Novo tempo, velhos costumes



(( Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Relações com o Congresso Nacional nunca deixaram de ser desafiadoras para o presidente da República, na maioria das vezes instado a praticar concessões para ter suas mensagens aprovadas. Hoje, talvez, um pouco mais complicadas essas concessões, porque os interesses dos parlamentares sobem a rampa do Planalto tanto na forma individual como fortalecidos em blocos. É possível que o presidente Lula tenha estimulado essa escalada, quando recomendou aos ministros tratamento preferencial e atencioso a quem tem voto no parlamento. Proibiu o humilhante ”chá de cadeira”, a que geralmente estão condenados os pedintes.

Uma nova legislatura começa amanhã, e não há sinais que autorizem diferente expectativa. Na Câmara, animada com fartas reeleições, os deputados continuam tendo a seu favor os métodos consagrados da permuta de favores, menos condenáveis quando o que pretendem do governo são modestas pontes ou postos de saúde para fazer graça aos prefeitos e cabos eleitorais do rincão afastado. Não é a regra, porque o habitual nos pedidos são nomeações, transferência de funcionários ou gentilezas pessoais.

Motivo de preocupação ou surpresa para o presidente? Nem tanto, porque o governo Lula, com o titular calçado em dois mandatos anteriores, conhece o caminho das pedras; e, mesmo antes da posse, já exercitava a arte do convencimento para ver aprovada a PEC da transição, sufocado em robusta lista de reivindicações políticas que Artur Lira guardava no bolso do lado do coração, onde pulsam as gratidões.

Há uma desvantagem para quem é forçado a conceder, e talvez por aí o apetite dos congressistas exija o escalpelo do presidente, quando senti-lo em maiores dificuldades com as Forças Armadas ou frente ao desafio de uma política econômica que promete generosidades com o trabalhador, mesmo que relegando quem cria fontes de trabalho.

(O ministro Haddad, que ainda não falou da necessidade de o governo apertar os próprios cintos, tem insinuado que prefere dar uma de Tiradentes com o pescoço dos empresários).

A previsão é, pois, que o muito a se pedir logo se transforme em exigência, se os tempos forem de dificuldades. Porque as regras sempre foram ditadas pelos momentos de apertura. Para tanto, o Centrão é uma espécie de carro de combate, com o canhão comandado pelo capitão Lira, sempre carregado de ameaças. Junta-se a isso a nova diagramação dos plenários a mexer com a imaginação dos interlocutores, porque, na Câmara, os 76 bolsonaristas de ontem agora são 99. No Senado, os votos dos apoiadores orgânicos na bancada do PL sobem de 8 para 16. Os números sugerem habilidade para definir o que o governo quer e o que pode oferecer. Haja saliva!

Se o figurino é de barganhas, o observador, não totalmente descrente, sente-se impelido a imaginar que ainda é permitido esperar algo melhor do poder Legislativo. Sempre pode, e a legislatura que se inaugura amanhã ganhará prestígio e respeito se se debruçar logo sobre antigas e sempre adiadas reformas, que a sociedade consciente reclama, como a política, a nova organização tributária e a jamais negada prioridade em tudo que seja capaz de aperfeiçoar a educação. Além de temas que o Congresso costuma deixar só por conta do Executivo, como as bases de uma reforma agrária pacífica. E, mais, ouvindo juristas e penitenciaristas, buscar formas de ampliar a defesa da sociedade, começando por rever as ternuras com que neste país são tratados pequenos e grandes criminosos.

Cartões generosos

Já se disse, quase sem contestação, que as Comissões Parlamentares de Inquérito, da forma como insistem em funcionar no Congresso Nacional, são meras ficções, geralmente criadas para engodo momentâneo da opinião pública, quando esta se espanta diante de excessos e abusos. Os exemplos são múltiplos, além do mais recente, quando se tentou chegar a conclusões sobre responsabilidades políticas na tragédia da pandemia. Nada se concluiu e o grande barulho acabou caindo no vazio.

Por agora, cabe lembrar que em 2008, passados, portanto, 15 anos, nasceu e morreu, hoje insepulta, a CPI que pretendeu desnudar os cartões corporativos, criados no governo Fernando Henrique com a boa intenção de desburocratizar emergências e pequenos gastos; mas logo passaram a servir de generosa válvula de escape para grandes e fartas despesas, sem controle e sem limites. Para mostrar que, graças à política, mais que em qualquer outra atividade, o tinhoso anda farto de boas intenções…

O assunto é retomado quando o presidente Lula, empenhado em mexer nas feridas do antecessor, denuncia excessos com os cartões, mesmo que tenha sido ele, nas anteriores passagens pelo cargo, quem soube gastar com esbanje.

Tão mal usado e desvirtuado, chega o momento de esse cartão passar por uma revisão quanto aos seus objetivos. Deve estar claramente limitado no poder de compra, especificadas as despesas que pode cobrir, para que se evitem excessos, como o conhecido caso do deputado paulista comunista que usou seu cartão corporativo para hospedar em hotel a família, com direito a beber, a babá e bebê.

É do presidente da República, de quem não se pode exigir andar com dinheiro no bolso para pagar pequenas despesas e imprevistos, que se deve esperar a iniciativa de propor melhor definição das linhas de abrangência desses cartões, e começar em casa, cobrando dos ministros parcimônia, seriedade e comedida volúpia ao cuidar do dinheiro público.

idade da polêmica

O presidente não esperou passar o primeiro agitado mês de seu mandato, e, não bastassem as dificuldades com que teve de cruzar, logo revelou disposição para criar polêmicas em várias frentes. Algo que, antes deles, todos procuravam evitar. Mas saiu em busca de debates e divergências com o passado e o presente, certamente por achar que, no futuro próximo, as querelas pedem ter utilidade. No momento, essa prática, agravada no esforço de criar envolvimentos externos, parece imprudente.

Deixou clara uma simpatia especial em relação à fragmentada Argentina, adoçando-a com vultoso financiamento da construção de gasoduto, sem considera que a fonte financiadora, BNDES, é vítima de contumazes devedores relapsos. Nessa milonga, além das dúvidas quanto ao risco da adimplência portenha, o presidente teve de ouvir recados desagradáveis dos governos do Uruguai e Paraguai, depois de desafiar interesses de Pequim no continente. Esquecido ficou que a China lidera a importação de nossos comodities.

Pois muito bem. Parecendo poucos os problemas políticos internos, Lula decidiu disparar aguilhões na direção do ex-presidente Michel Temer, acusando-o de golpista. A reação foi imediata, e o ofendido aconselhou Lula a cuidar melhor dos afazeres que lhe cabem. Um incidente perfeitamente dispensável, que pode trazer consequências, se o governo precisar conviver melhor com o MDB, onde Temer dispõe de boa carga de prestígio.

Tudo isso sem dispensar o bombardeio sobre o ex-presidente Bolsonaro, um projeto bumerangue, que, se outras consequências não tem produzido, mantém vivo e indócil o bolsonarismo, A quem vai interessar?

As polêmicas na idade presidencial, salvo os casos indispensáveis, são, via de regra, uma vereda desinteressante. O pensador francês George Bernanos, que viveu alguns anos em Minas, atentava para isso: o polemista é divertido até os 21 anos; tolerável aos 30; chato por volta dos 50, e obsceno nos 70. Lula já passou por aí.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

 



Eleição 2024 entra em pauta (IV)



1 – Uma, entre as muitas dúvidas em torno da próxima sucessão municipal é quanto aos partidos, que, tendo participado em 2020, pode ser que nem todos tenham fôlego suficiente para voltar a disputar. Na eleição passada foram 11: PTC, PSL, DC, PCdoB, PRTB, Republicanos, Psol, Rede, PT, PSTU e DEM.


Dos candidatos que disputaram apenas dois – Sheila Oliveira e Wilson Rezato - anteciparam disposição de ficar fora.


2 - Leitor desta página estranhou recente nota sobre os sete ex-prefeitos vivos, que não considerava tão numerosos. Mas a informação é correta: Saulo Moreira, Tarcísio Delgado, Custódio Mattos, Alberto Bejani, José Eduardo Araújo, Bruno Siqueira e Antônio Almas.


3 Logo logo os meios políticos da cidade começarão a especular sobre o papel que o governador Romeu Zema pretenderá desempenhar na eleição do novo prefeito. Em duas eleições estaduais ele mostrou que aqui tem prestígio suficiente para tanto.


4 - Diz a prefeita desejar contratar empréstimo vultoso para obras de drenagem nas localidades onde se fizerem necessárias. Hoje, o município conta com o recurso da taxa de drenagem, cobrada com a água, paga por todos os usuários. Entre os vereadores certamente haverá debate sobre esse projeto. Antes de tudo, ele terá de passar pelas comissões de Legislação, Justiça e Redação; e Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira, onde são aprofundados estudos sobre o impacto financeiro no endividamento do município. Em seguida, liberar a matéria para votação em plenário. O aspecto político do empréstimo e os frutos capitalizados pela prefeita, candidata à reeleição, certamente haverão de merecer especial atenção da edilidade.


5 - O ex-deputado estadual e ex-prefeito Bruno Siqueira (duas vezes) tem usado a rede social Instagram para relembrar realizações de suas administrações municipais. Com milhares de seguidores de sua página, Bruno mantém visibilidade política; e sinaliza com isso um eventual retorno à vida pública. Será que o ex-prefeito será candidato na eleição 2024? A conferir.


6 - Basta que se fale em eleição, e logo se revela o desinteresse de personalidades locais em disputar cadeiras na Câmara Municipal,como se fosse a representação política de pouca importância. Não diferentemente, quando se conjectura sobre o próximo pleito, logo o assunto são nomes para a prefeitura.


Se o voto fosse distrital, Juiz de Fora dividida em 23 distritos eleitorais, talvez em cada um deles pudesse surgir prócer capaz de conquistar votos pela história de vida, sapiência ou conhecimento político.



Por iniciativa de Dormevilly Nóbrega e um colaborador, o Instituto Histórico promoveu, em 1984, pesquisa sobre os fatos mais curiosos das eleições, desde que a cidade conquistou a soberania administrativa. Ficou evidenciado que o eleitorado local, não raro, aprecia derrubar lideranças, por mais consagradas que sejam. Já na primeira composição da Câmara Municipal, em 1860, saíram-se mal as duas figuras de incontestável preeminência. Disputando a vereança, Henrique Halfeld ficou 11º lugar, e Mariano Procópio em 18º, entre os candidatos mais votados.



terça-feira, 24 de janeiro de 2023

 



Entre o bem e o mal


((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" )



No medir forças políticas, para saber com quais e com que potencialidades poderá contar e avançar, os homens do governo federal têm alguns dilemas a superar, começando por exigir um mapeamento correto e severo das diferenças entre o eleitorado que lhes foi fiel em outubro, e o contingente que não os desejou. E os contrários ainda não saíram das ruas, protestando. A perfeita separação, para que se dê tratamento diferenciado no trato com a sociedade organizada, precisa levar em conta que parte significativa dos votos de outubro resultou de um desejo ardente de mostrar repúdio a Bolsonaro. O governo pode esbarrar em graves surpresas se continuar achando, orgulhosamente, que toda a votação que teve foi obra exclusiva de seu candidato. Com os números apurados, a tendência dos vitoriosos foi descansar sobre uma realidade que não se encerra em boletins eleitorais aritméticos. É o que certamente cabe analisar, quando o novo governo tiver de aferir seu prestígio, sobretudo na hora de adotar medidas impopulares. Nessa hora, não seria prudente continuar contabilizando, como mérito próprio, os tantos votos que recebeu nas urnas, porque entre aqueles estavam alguns milhões de antibolsonaristas. Estes já se deram por realizados, derrubaram o capitão, sem compromissos permanentes com o adversário vitorioso. Não levar isso em consideração é conviver com o risco de pisar em areia movediça.

Em curtas palavras, o oportuno acolhimento das antipatias de que desfrutava o antecessor foi um presente momentâneo e circunstancial, com tudo para se apagar com o passar do tempo.

Mas outro dilema se aprofunda, torna-se mais delicado, quando algumas áreas influentes do governo empenham-se na remoção definitiva de Bolsonaro da cena política. Há controvérsias. Porque, se isso ajudaria a ampliar o diálogo com faixas mais amplas da sociedade, pode também resultar em outro problema decorrente da necessidade da equipe de Lula manter Bolsonaro vivo no panorama. Estando ele fora da linha de tiro, a quem remeter as culpas pelo passado e esconder os pecados que possam ocorrer? De maneira que, sob a ótica lulista, o ex-presidente faz bem e faz mal. A questão é, na hora desejada, optar por um desses polos, se cada um deles emite energias tanto positivas como negativas.

Resumidamente: como lidar com esse espectro?

O primeiro mês do governo tem revelado preferência por manter o ex-presidente vivo, como forma de culpá-lo pelas coisas feitas ou pelas que só se vencem com dificuldade. Para confirmar, atribui-se ao erário petição de miséria, saúde pública falida, obras interrompidas, desgraças acumuladas. Mais grave ainda, é dada a ele e seus generais a paternidade de um projeto terrorista de direita, que recentemente partiu para a destruição.

Geralmente, o tiroteio sobre quem passou é o que fazem governos iniciantes, para mostrar que encontraram a casa arrasada. Mas, chega o momento – como sempre chegou - em que a opinião pública desinteressa-se pela distribuição de lamúrias, e pede soluções, porque não se satisfaz com explicações, nem com a desculpa de ignorar o volume dos problemas. Não admite a retórica das queixas. Vale também para Lula, até porque todas as dificuldades que diz estar encontrando ele já havia denunciado nos debates televisivos da campanha eleitoral.

2- Um detalhe excitante é analisar as forças que se alinham para tornar menos acidentados os caminhos políticos do governo. Não escapa uma observação, neste janeiro de chegada de novos comandantes, sobre o estranho recolhimento da militância de esquerda, modesta e retraída, quando se trata de defender o líder. Não há uma explicação para isso, principalmente se se considerar que está nas ruas, nos quartéis e nas prisões, uma direita organizada e ativa, sem aparente disposição de remover Bolsonaro de sua liderança. Por onde andam os companheiros?

A ausência dos partidos

Nos embates que antecederam a eleição presidencial, ou mesmo nas vésperas, repetiu-se, ampliou-se um fato marcante das campanhas anteriores. Observou-se que os partidos, mantidos legalmente, com siglas e estatutos, ainda que por meras formalidades, foram, mais uma vez, expulsos da cena, ocupada por grupos e correntes. Acima deles, foram estes que fizeram a hora de tomar decisões e definir apoios. E não há sinais de pretenderem alterar o rumo que adotaram.

Em 2022 assistiu-se, por exemplo – apenas para lembrar casos mais evidentes – à pulverização do PSDB, que vinha de duas décadas de desempenho decisivo nos destinos da política brasileira. Perdeu a antiga potência, quase morreu, e hoje é sobrevivente de louros passados. Não menos expressivo, enfraquecido, o MDB, de gloriosos feitos na luta pela redemocratização, agora tão inseguro, recusou-se a assumir a candidatura à Presidência de uma senadora filiada, que fechou a aventura com 4% dos votos de outubro.

Não vale, como ressalva, o PT. Porque, no frigir dos ovos, ele é mais lulista que petista.

No traçado que se pretende do perfil dos tradicionais, quaisquer que fossem seus objetivos e ideias, sente-se a falta dos homens que os fizeram. Tempos de Ulysses, Covas, Brizola, Tancredo, Thales, Hélio, Lacerda e outros poucos. Não seria demais dizer que as legendas começaram a morrer quando eles partiram.

A constatação é nada agradável. Porque, na sua essência, a validade deles é a alma da democracia representativa, o que se confirma com a breve lembrança de que as ditaduras não gostam deles, admitindo apenas um, para concordar com tudo; ou dois, para tingir com alguma cor a palidez da democracia. Não menos verdade é que o excesso deles, como hoje se vê no Brasil, também compromete os bons princípios da política, sem embargo do pretexto de que, numerosos, servem para dar acolhida a todas as tendências do pensamento. No caso dos partidos, nossa história recente constata que neles, como em quase tudo na natureza, excesso e escassez sempre geram dificuldades.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

 


Eleição 2024 entra em pauta (III)


1- Nas eleições municipais do próximo ano as federações partidárias podem se tornar grande problema para os políticos, caso não sejam abolidas ou modificadas, ainda neste ano. Pela lei, as federações que participaram do processo eleitoral de 2022 serão mantidas, obrigatoriamente, até 2026. Num país continental como o nosso, não só aqui, mas em outros 5.654 municípios (conforme o IBGE), elas seriam um estorvo.


Como exemplo, a Federação da Esperança, que terá a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados nos próximos quatro anos, com 80 deputados eleitos (PT com 68, PCdoB com seis e PV com seis). Em Juiz de Fora, estariam impedidos de disputar isoladamente a prefeitura o PC do B, que teve candidatura própria em 2020, e o PV. O PV tem hoje o vereador Zé Márcio Garotinho na presidência da Câmara. Em tese, com potencial para se tornar “prefeitável”, mas hoje impedido, por participar de federação com o PT, que terá Margarida Salomão candidata à reeleição.


2 – Há, no eleitorado local, longa experiência com as repetições. Basta lembrar que, entre os sete ex-prefeitos vivos, apenas dois – Saulo Moreira e José Eduardo Araújo - não tentaram um segundo mandato. Ambos haviam assumido para substituir os titulares.


Alternância ou revezamento? Desde a década de 50, Olavo Costa, Adhemar Andrade, Itamar Franco, Custódio Mattos e Alberto Bejani, com dois mandatos cada um; Tarcísio Delgado, com três mandatos.


3 – O empresário Wilson Rezato confirma, em mensagem no Instagram, que não mais entrará na disputa pela prefeitura, depois de ter concorrido duas vezes, e com excelente votação. Contudo, na mesma mensagem de desistência diz que “vamos continuar conversando”…


4 – Considerada a decisão de Rezato, a sucessão municipal pode viver uma singularidade. A direita com dificuldade para lançar candidato, exatamente quando se mostra mais robusta no colégio eleitoral. Se acreditarmos que a deputada Sheila, como diz, também não disputará, a opção seria insistir com a deputada Ione Barbosa para que não saia da luta.


5 - Promessa da prefeita Margarida, desde o início do mandato, é a paridade de gênero no primeiro escalão municipal. Entretanto, segmentos identitários que questionam a falta de espaço na administração para tanto. Mesmo que ela tenha o cuidado de contemplar a diversidade existente na sociedade, alguém sempre se sentirá desprivilegiado. Nas eleições municipais do próximo ano (sendo candidata à reeleição), terá de estar atenta a nuances do processo de inclusão política de certos atores que aspiram serem contemplados concretamente no poder municipal, para não apenas constarem do discurso de campanha.


6 -  O piso nacional do magistério é referência positiva para a valorização profissional dos professores. O governo federal faz, anualmente, a atualização do piso, mas a responsabilidade de pagar é dos estados e municípios... Acontece que nem todos os municípios conseguem bancar a despesa, segundo lamentam vários prefeitos pelo país afora. Mesmo Juiz de Fora, sendo governada por professora, com vontade de cumprir o piso, teria a prefeitura condições? As finanças comportam tal despesa? E, caso seja concedido o aumento, certamente haverá disparidade com outros segmentos do funcionalismo.


A campanha eleitoral de 2024 será impactada por medidas que ampliam direitos dos trabalhadores, considerando que o governo federal é liderado pelo PT, que promete priorizar investimentos sociais, sobretudo para quem mais precisa.


7 - Entreouvido no calçadão da rua Halfeld. A deputada estadual Sheila Oliveira vai apoiar seu marido, deputado federal Charlles Evangelista (não reeleito) para candidato à prefeitura em 2024.


E que a deputada federal (eleita) Ione Barbosa pretenderia, também, que seu marido, Barbosa Júnior (ex-vereador) seja candidato na próxima eleição municipal.

Caso essa “estória” se torne história, teremos uma inflexão na prática política tradicional, pois maridos políticos é que costumam lançar esposas para cargos eletivos...

Inexistindo sucesso eleitoral dos maridos, a iniciativa não seria de todo um insucesso, pois serviria de pré-campanha para as eleições gerais de 2026.

A conferir.



Em janeiro de 1945 ainda faltavam dois anos para que os prefeitos começassem a ser eleitos pelo voto direto, o que aconteceria a partir de Dilermando Cruz. O sistema direto nunca mais seria banido.


Há 80 anos, 19 de janeiro de 1943, tomava posse o penúltimo dos indiretos, pediatra José Celso Valadares Pinto, substituindo Raphael Cirigliano, que, por sua vez, foi ser prefeito em São Lourenço. José Celso administrou a cidade por dois anos, era sobrinho do interventor Benedito Valadares. Tinha o porte quase de adolescente, o que lhe valia o apelido de “Menino Jesus”.



terça-feira, 17 de janeiro de 2023

 


Um começo de desafios


(( Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" )) 

Vistos, mas ainda não perfeitamente assimilados os estragos da barbárie daquele domingo, quando da invasão do Congresso Nacional, fato é que, entre outras consequências, serviram para reduziu a tranquilidade nacional e arranhar o prestígio do Brasil no Exterior. É, pois, o momento adequado para refletir sobre a conduta que o governo Lula terá de adotar, já agora instado por aqueles acontecimentos, que chegaram antes mesmo de seu mandato vencer a primeira quinzena. O presidente está convidado a encarar sinais de desafios que têm tudo para comprometer seu sossego. E não seria cabível, diante da gravidade, tentar forjar clima de controle e tranquilidade, porque isso não existe. E, confesse ele ou não, é impossível governar sob esse clima de guerra entre esquerda e direita. Reconheçamos que o Brasil tem todos os ingredientes para se dar mal - muito mal - se caminhar para essa terrível encruzilhada, que quer empurrá-lo para escolher entre o autoritarismo fascista da direita e o autoritarismo socialista da esquerda. Cruel dicotomia.

2 - No rastro das consequências que vieram com o dia 8, longe de elas se bastarem com o trabalho de arrumar ou tentar arrumar as casas invadidas e depredadas, o presidente está diante de gigantescas provocações. Entre elas, não custa considerar três das principais. A primeira é conscientizar-se logo de que sua sobrevivência política, num futuro imediato, vai depender da presença e da lealdade de um ministério de alto nível, preparado para enfrentar crises políticas recheadas de intolerância ideológica. Chegará o momento em que vai clamar por uma base sólida e harmoniosa, diferentemente da atual que o sustenta, marcada pelas concessões políticas a apoiadores ou caçadores de sinecuras. Porque na hora em que dela mais necessitar, o governo vai sentir na pele o preço da perigosa fragilidade. Acautele-se, pois logo vai depender, em seu redor, da presença de alguns homens e mulheres de alta competência e seriedade para conduzir a nação à paz.

O sinistro teste dominical mostrou que a capacidade desse primeiro escalão não foi além do dever de assustar-se. E pouco mais que isso.

3 - Outra questão, com indiscutível pertinência, é o presidente colocar a serviço do país agentes com real capacidade para mostrar aos investidores, sobretudo estrangeiros, que a verdadeira fisionomia do Brasil não é apenas um cenário de barbárie e conflitos ideológicos. Independente daquele episódio e outros semelhantes, acontecidos ou por acontecer, o país continua se servindo de instituições capazes de dar garantias a quem trabalha e empreende.

A boa imagem é indispensável. O Brasil merece ser acolhido, depois daquelas violências, com o mesmo respeito com que, em dias recentes, estava sendo celebrado em todo o mundo como terra-mãe do gênio Pelé.

4- Terceiro ponto para refletir, uma questão não menos importante, porque diz respeito à estabilidade geral, é a avaliação das relações do presidente, seu governo e seus assessores imediatos com as Forças Armadas e outros segmentos da segurança. Neste particular, o que Lula tem, na linha de objetividade ainda não perfeitamente visível, é o discurso pacificante de um ministro civil em cargo militar, que, sem embargo de belas intenções, não repercutiu sinais de êxito imediato, além de esbarrar na escassa simpatia dos companheiros petistas.

Quando as sedes dos três poderes foram invadidas, obra de militâncias descontentes e agentes infiltrados, também ficou evidente a mordomez dos serviços de segurança frente a ameaças que estavam amplamente identificadas de véspera. Para uma justa avaliação, é preciso partir do fato de que as culpas pela insegurança não couberam apenas ao governo do Distrito Federal, como querem alguns. É de todos sabido que as culpas vão mais longe e mais fundo.

5 - Muitas vezes, o governante é levado a negar a gravidade dos problemas que o atormentam, pensando que, ao esconder e conferir desprezo pelas dificuldades, pode vencê-las pelo cansaço ou pelo esquecimento. Costuma dar certo, mas ao presidente convém não arriscar, porque, se apenas está começando uma complicada gestão, os males de hoje podem acabar evoluindo para a catarse.

Não seria prudente confiar demais em deficiências autocorretivas do ministério.

Exercício de diálogo

Mais uma quinzena, e os interlocutores da Presidência da República terão de se haver com a nova composição legislativa, sem direito a ignorar a presença de uma expressão bolsonarista capaz de provocar resistências. Principalmente no Senado.

Há questões essenciais, cuja tramitação no Congresso vai demandar habilidade de trato e capacidade de argumentação. O que faz estranhar o fato de alguns ministros estarem empenhados em manter viva a presença política do ex-presidente, que, quanto mais aceso e lembrado, maior será sua capacidade de articulação junto a deputados e senadores que lhe devotaram lealdade na eleição passada. Mesmo que não seja por resistentes amores ao bolsonarismo, eles podem jogar dificuldades, e com elas valorizar a conversa com o ministério.

Certo que, considerados os planos do Palácio do Planalto, um diálogo produtivo com os opositores passa por remove a presença da influência do ex-presidente, exatamente o que não se tem feito; como se a força de quem o sucedeu dependesse de colocar fogo no passado recente.

Sente-se facilmente que os amigos de Lula reagem à aposentadoria política de Bolsonaro. Ao contrário, trabalham para que mantenha vigor e influência junto a dezenas de parlamentares que ganharam mandato à sombra do amigo. Eles e, em algumas vezes o próprio presidente, alimentam polêmicas com o antecessor perfeitamente desaconselháveis para este momento de conturbação.

Na hora de ir à mesa com os parlamentares o governo não deve se enganar. A primeira missão da polêmica com os adversários não é apenas convencer, muito menos atacar: mas fazer-se compreender.