quarta-feira, 25 de setembro de 2024

 


Eleição 2024 em pauta ( LXXXI)


CÂMARA MUNICIPAL (2025-2028)
      
Restando poucos dias de campanha aos atuais dezenove vereadores, eles aumentam os esforços para conquistar uma das vinte e três vagas na Câmara, a partir de janeiro de 2025.
Uma curiosidade a verificar: apenas cinco vereadores dentre os dezenove, que iniciaram legislatura em 2021, estão concorrendo pelo mesmo partido. São eles Cida Oliveira, Juraci Scheffer, Laíz Perrut, pelo PT, André Luiz, pelo Republicanos e Tallia Sobral (Psol). Outros quatorze vereadores mudaram de legenda, devido a fusões partidárias ao nível nacional, ou procuraram condição melhor de concorrer por outra legenda.
Pelo que se ouve, nas rodas de pessoas que lidam no cotidiano da política local, nem todos serão reeleitos. As federações surgidas em 2022 trouxeram perdas e ganhos para os vereadores que por elas concorrem. O MDB obteve quatro vereadores na janela partidária, mas nem todos retornarão.
Os analistas de bastidores concluem que os partidos (e também a federação Psol-Rede) representados hoje na Câmara deverão eleger um vereador; e, dependendo da sobra de votação partidária, poderão eleger mais um. A exceção pode ser o PT, que elegeria dois vereadores; e, na sobra, contribuir para eleição de outros da federação.
Assim, provavelmente haverá a continuidade da representação dos seguintes partidos: PT, PC do B, PP, PL, PSB, PDT, PSD, MDB, União Brasil, Republicanos e Rede.
Consideradas as performances das campanhas dos candidatos à reeleição, um analista arrisca escrever a lista de doze vereadores com potencial de reeleição: Cida Oliveira e Juraci Scheffer (PT), Cido Reis (PC do B), Julinho Rossignoli (PP), Sargento Mello (PL), Bejani Júnior (PSB), José Márcio Garotinho (PDT), Tiago Bonecão (PSD), Marlon Siqueira (MDB), Dr. Antônio Aguiar (União Brasil), André Luiz (Republicanos) e Maurício Delgado (Rede).

VICE, O DISCRETO
Faltando apenas dez dias para a eleição, os organizadores de debates, principalmente as emissoras de rádio e televisão, ficaram devendo um encontro público entre os candidatos a vice-prefeito, o que teria dado ao eleitorado oportunidade de conhecer melhor os que podem, diante de eventualidades, assumir os encargos administrativos. Sempre se se indaga sobre esse desinteresse, sobretudo porque, no modelo político-partidário que temos, a composição das chapas em eleição majoritária se faz, quase exclusivamente, com base no interesse de alianças. O vice torna-se imposição das conveniências da ocasião. Na atual campanha o quadro não é diferente, e não será exagero afirmar que há casos de candidatos a vice cujos nomes só agora são trazidos ao conhecimento público, embora conhecidos em suas respectivas áreas de atuação.
Não devia ser assim. Nunca se sabe o que o futuro reservas para esses atores. O município tem uma longa história em que o vice-prefeito foi chamado a assumir a administração. Desde o primeiro prefeito eleito pelo voto direto, Dilermando Cruz, o vice foi, muitas vezes, convocado a assumir. Depois, o mesmo ocorreu na gestão dos prefeitos Olavo Costa, Ademar Andrade, Itamar Franco e Bruno Siqueira.
A mesma estranheza faria sentido se estivesse em discussão a sucessão presidencial. Porque metade da história republicana foi escrita pelos vices.

RETA FINAL
Pode ser que nestas próximas horas a campanha ganhe mais calor, sem a tepidez das últimas semanas. Os debates, pouco atraentes, entre os candidatos a prefeito, teriam contribuído para isso.
O clima de frouxidão se dá, igualmente, entre os candidatos à vereança. Um deles, José Sóter Figueirôa, chegou a afirmar, na semana passada, que 90% dos eleitores ainda não tinham candidatos definidos.

OS AUSENTES
Há um dado, trazido pelo TRE mineiro, indicando que 452 mil eleitores não poderão votar, no dia 6, porque ficaram devendo a revisão biométrica. A esse número somam-se outros 366 mil, suspensos pelo fato de terem se ausentado, sem justificativa, em três pleitos seguidos.
Preocupa, porque são mais de 800 mil fora do processo eleitoral. Em torno de 5% de um eleitorado que no Estado está em 16,4 milhões.

OS IDOSOS
Há dias, a coluna publicou e comentou a preocupação de José Anísio (Pitico) sobre a participação de idosos nas eleições, porque são fundamentais para o aperfeiçoamento da democracia representativa. Ele é um veterano líder dos movimentos da valorização da população idosa de Juiz de Fora. Pois, logo depois, para dar sustentação a esse ideal, o TSE informou que o Brasil tem, hoje, 14 milhões de eleitores com mais de 70 anos de idade, num colégio eleitoral de 156 milhões. Em Minas, com título pronto para votar, a população da terceira idade soma 1.87 milhão.
Detalhe à parte: 1,17 milhão no Brasil, têm mais de 90 anos…


Em 1934, acautelando-se da hegemonia política dos mineiros e paulistas, o ditador Getúlio Vargas tentou, e fracassou, criar a representação classista na Câmara dos Deputados, inovação que não havia sido experimentada por qualquer outro país. Tentou depois as representações profissionais, mais inviáveis ainda, porque faltava a elas necessária personalidade jurídica, como explicou Antônio Carlos, contrário à manobra getulista. No ardil do governo argumentava-se que era preciso tirar o poder dos currais eleitorais do interior. E nisso tinha alguma razão. Mesmo com vida efêmera, a classista chegou a ter seus representantes votados. De Juiz de Fora, entre os 11 mineiros, um dos escolhidos, Alberto Surek, promoveu o primeiro congresso proletário do estado e ajudou a fundar o Sindicato dos Bancários.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

 




Violência nas eleições

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Para quem estivesse ausente do Brasil, em qualquer parte do mundo, a semana que passou deixou uma série de imagens sinistras. Os cerrados tosquiados, florestas e campos em mil incêndios, que se alastravam como nunca, o Supremo endurecendo as leis, impostos subindo, a guerra urbana do tráfico, a vida mais difícil; e, para coroar a imagem negativa, fomos expor, por aí afora, o baixíssimo nível da campanha eleitoral que se processa na mais importante entre nossas cidades. Era o que tínhamos para mostrar, mesmo com o contaste dos sucessivos recordes na exportação dos commodities.
Nossa vida tem sido assim mesmo. O pior, por pior que não seja, acaba sufocando as boas coisas, mas sem que faltem, felizmente, alguns otimistas, tipo Jeremias, o Bom, para quem nem tudo está perdido: se as más notícias ainda repercutem e ganham manchetes, ruim se chegarmos ao dia em que, de tão comuns, as tragédias nem mereçam mais o noticiário.
Se uma cadeirada toma o lugar do diálogo entre candidatos a prefeito de S.Paulo, e vira notícia para o mundo, paciência, porque constitui uma exceção na crônica diária da política; exceção em termos, como certamente haverão de advertir atentos historiadores, que apagam a poeira do tempo para nos dizer que nossas páginas, pelo contrário, revelam hábitos muitas vezes nada cordiais; e, quando aparentemente expõem amabilidades, é porque os bons modos foram sugeridos apenas momentaneamente. Tiros e facadas, no lugar das cadeiradas. Sempre houve.
A política, já nos primeiros tempos da República, guarda muitas histórias de ciladas nos capões, execuções dos capangas de coronéis traídos, os acordos não cumpridos. Milhares de pessoas morreram em episódios sangrentos, muito mais graves que as cadeiradas televisivas de nossos dias. Contudo, percebe-se que as mortes resultavam da ofensa à honra política, não só pelo poder em disputa. Caso mais famoso, entre tantos, foi o de Arnon de Mello, que disputava a liderança de Alagoas com Silvestre Péricles, e o destino fez com que ambos viessem parar no velho Senado. Péricles, que não escondia o propósito de matar o desafeto, certo dia caminhou em direção a Arnon, que ali mesmo disparou contra ele. Mas a bala acabou matando o suplente Jorge Cailara, que nada tinha a ver com a história.
Quem contou outro caso foi o deputado mineiro Mílton Reis, que morreu, no Rio, em fevereiro de 2016. Tinha sido testemunha, em 68, na reunião da União Interparlamentar, da troca de tiros entre Nélson Carneiro e Souto Maior, que foi ministro da Saúde no governo João Goulart. A briga era antiga, mas naquele dia, Maior chamou Nélson de “baiano mulato”, o suficiente para começar o tiroteio.
Os casos são incontáveis, uns mais trágicos que outros, mas sempre sangrentos. Suassuna, o Ariano, que viveu tragédia política na família, dizia que podia se contar, nos dedos, as campanhas eleitorais na Paraíba que não resultavam em morte. Isso, nas décadas de 30 e 40, porque, hoje, esse indesejado desempenho foi roubada por Minas, Bahia e São Paulo, segundo dados recentes, colhidos no terceiro trimestre do ano passado pelo Grupo de Investigação Eleitoral da Unirio.
Com respeito aos números referentes aos mineiros um dado agravante é que a violência muitas vezes estende-se às mulheres, pela via das ofensas físicas e psicológicas. Estas e ocorrências semelhantes levaram a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal, a atribuir à violência do gênero fato preponderante a desanimar as mulheres para a atividade politica.
Concorrem tais exemplos para contestar a observação, elaborada por alguns, de que o caso da cadeirada e do bate-boca nos debates de televisão constituem casos isolados, que se extinguem em si mesmos, com o passar do clima de disputas. Não é simples assim. É preciso considerar que a intolerância sempre existiu, agora agravada, porque os desaforos e os pugilatos, se antes só eram conhecidos tardiamente, agora chegam a milhões de telespectadores em tempo real, deixando-os perplexos e um pouco mais descrentes da classe política.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

 Eleição 2024 em pauta ( LXXX)


FALTA PROBIDADE

O Brasil, em se tratando de política, traz algumas esquisitices. Tomando-se por base o recente episódio do ex-ministro dos Direitos Humanos, defenestrado, para o resto da vida, por denúncia de abuso sexual contra a ministra de Igualdade Racial, com o detalhe de que ambos são negros, e, então, era para defenderem a mesma causa... Pois, nesse mesmo governo entra uma ministra, Macaé Evaristo, com processos de improbidade administrativa em cargos públicos de outras esferas de governo. Em Minas. Há outro ministro com igual vida pregressa.
Em seu primeiro governo, Lula já tivera escolha idêntica, com seu ministro mineiro Ânderson Adauto, acusado de improbidade.
O que se percebe é que a improbidade administrativa não é condenável, da mesma forma que o crime de assédio sexual. Já se disse que na terra de Macunaíma há crime com pena, e outro sem pena. Que pena!

SEM O CHICO

As relações do jornalista Francisco Andrade com Juiz de Fora foram poucas. Conhecido e identificado na história da ditadura como Chico Bomba, era um dos mais atuante nos movimentos de esquerda de 64, ano em que pretendeu ajudar na organização do famoso comício de Miguel Arraes, no Cinema Popular, esperando encontrar aqui Carlos Marighella. Militou no grupo de Dilma Rousseff, encarregado de produzir material explosivo, empregado contra empresas acusadas de colaborar com os militares. Chico morreu, na semana passada, em Petrópolis. Sua especialidade revolucionária foi que lhe valeu o apelido. Esteve preso durante nove anos em São Paulo. Nas raras vezes em que concordava em falar sobre seu passado de militância, lembrava do julgamento, na Auditoria de Guerra local, de companheiros processados e condenados por subversão.

PESQUISAS

Leitores percebem, e alguns comentam, o pouco interesse da coluna em analisar as pesquisas que têm sido divulgadas sobre a eleição em Juiz de Fora. Cabe uma explicação: são gritantes as diferenças dos números que elas mostram, o que desestimula e dá insegurança a comentários. Na verdade, essas pesquisas só coincidem em um ponto, ao darem à prefeita Margarida Salomão a liderança nas intenções de voto. Discrepam quanto ao resto.

PREFERÊNCIA

A campanha releva que é dispersa a preferência, pelos partidos, das mulheres que estão disputando as prefeituras, sem que se possa afirmar que, vencendo, poderão ser úteis às legendas que as abrigaram. Em todo o Brasil, elas são 2.333, o que significa apenas 15% dos concorrentes. Mais 52% delas estão disputando pelo MDB, PT, PSD, PL e União Brasil.

FOGO DE PALHA

É como experiente político da cidade analisa o recente esforço do Ministério Público para impugnar as candidaturas de Ione Barbosa e Charlles Evangelista, por causa de irregularidades no registro dos vices em suas respectivas chapas. Tanto Manfrini como o pastor Gilmar foram confirmados, depois de serem contornados os defeitos processuais aventados.
Como se comentou, à época da tentativa de impugnação dos candidatos já lançados em convenções, a Justiça só dá provimento se a irregularidade for incontornável.

TURNO FRIO

A agitação da política mineira para novembro fica restrita aos oito municípios onde, certamente, haverá segundo turno. Neles, o colégio eleitoral conta com mais de 200 mil títulos. Nada menos 845 prefeituras terão seu futuro definido já no dia 8 de outubro.

PRIORIDADE

Diz a deputada Ione Barbosa, candidata à prefeitura, que os desafios da segurança pública precisam subir à condição de prioridade absoluta em Juiz de Fora. Fala-se da presença de agentes do crime organizado em bairros da periferia. O que é verdade, mas não é novidade. Já há algum tempo, em algumas localidades a polícia não pode chegar.


Os primórdios. Em nossa primeira experiência eleitoral, meados do século 16, eram escolhidos oficiais do Conselho da Câmara, ou Senado da Câmara, em Salvador. Em março de 1821 elegem-se deputados à Corte de Lisboa, em quatro graus. O povo indicava os representantes da paróquia para eleger deputados: no dia marcado para a eleição, o povo ouvia missa na matriz, e, a seguir, era colocada uma mesa no centro da igreja, com um presidente, o pároco e dois escrutinadores. Entregues os votos, eram lidos e proclamados os resultados”.

Em março de 1824 a eleição foi para senadores e deputados, em dois graus: os cidadãos que ganhavam até 100 mil réis estavam no primeiro grau; os de 200 mil réis no segundo. As mulheres ausentes.

Em agosto de 1846, foi a vez de senadores, deputados e membros das Assembleias Provinciais. Exclusão de mulheres, escravos, praças de pré, o que constituía exemplo das primeiras inelegibilidades.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

 



A insegurança vai além

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Reuniões periódicas do presidente da República com governadores, sempre necessárias e desejáveis, justificam-se pelo próprio espírito da Federação, porque não se pode esquecer que devemos ser entes em harmonia, mesmo com as autonomias a cada um conferidas pela Constituição. O próximo encontro, que Lula deseja promover ainda neste mês, teria, como agenda única, somar esforços com o governo federal em torno de questões ligadas à segurança pública. O tema é momentoso, reflete preocupação comum dos brasileiros, invariavelmente citado na atual campanha eleitoral, mesmo que prefeitos e vereadores quase nada possam realizar nesse campo. Mas, no contato de eleitores e candidatos, desarmados e incapacitados, o desassossego é evidente.
Em outras vezes, quando se falou sobre estreitar relações com a União, no campo da segurança, os pretensos avanços foram medíocres, quase inexistentes, com exceção de algum raro progresso, que favoreceu a determinados estados. Talvez tenha concorrido, para os escassos resultados, o temor de que a solidariedade do poder central pode resultar no comprometimento, ainda que parcial, de direitos das unidades federadas. A preocupação, parece, está de volta, com a possível proposta do presidente e do ministro Ricardo Lewandowski de um novo modelo de cooperação na área de segurança, e talvez levando a um Projeto de Emenda Constitucional. Geralmente, os estados temem na adoção dessa via; desconfiam das reais intenções do Planalto, de onde sempre partiram projetos de unificação das polícias. O ministro Flávio Dino sinaliza: o que se pretende é, na área de garantias públicas, algo estruturalmente semelhante ao SUS.
Outro detalhe, este com mais pertinência para os estudiosos da matéria, é que somos país repleto de heterogeneidades, logo sentidas quando se trata dos modelos de segurança. Um único plano de ação que se pretenda para Santa Catarina ou Paraná, por exemplo, está longe de se adequar às regiões do Nordeste, bastando as comparações estatísticas dos índices de violência contra a pessoa e o patrimônio. Tais diferenças e as características próprias predominam, começando por considerar os recentes progressos do crime organizado, como o PCC, hoje com garras esparramadas por algumas regiões, e já fortalecido pela assustadora presença em setores produtivos fundamentais. Para se concluir que o Brasil é grande e diferente demais, e não cabe dentro de um projeto geral nesse campo.
Não custa dar outro palpite: a abrangência do desafio é enorme, em qualquer esforço para se conceder à população os instrumentos básicos para uma vida mais tranquila. Assim considerado, talvez fosse conveniente a reunião seguinte do presidente com os governadores estender-se à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso, na expectativa de que os parlamentares possam opinar e legislar sobre o que fazer para que as preocupações internas se ampliem e contemplem a fronteira com a Venezuela. Crescem, a cada dia, as razões para levar em conta, como prioridade, a insegurança quanto ao futuro desse país e suas vizinhanças. A Argentina, que tem relações fechadas com o regime de Caracas, antecipa-se, e vai trabalhando no aperfeiçoando de suas forças, em caráter preventivo, porque, afora a ditadura cruel tão próxima, e acuado por vários países do continente, Maduro tende a explorar mais suas simpatias com China e Rússia, fenômeno que não deixa de trazer implicações de toda ordem. Estamos assistindo à chegada de gente mais armada que nós. O governo brasileiro tem uma longa fronteira a cuidar, sobretudo porque parte do território está próximo a influências que vão além das tradições dos povos latino-americanos. Pode ser que, em futuro não muito distante, tenhamos vizinhança com chineses e russos, acolitados por governantes venezuelanos, embora o mapa bolivariano ainda não sugira isso, exatamente...
De forma tal, que um plano de colaboração entre os governos federal e estaduais não pode ignorar preocupações em relação à fronteira e seus pontos estratégicos, como a nossa sacrificada Roraima, já transformada numa espécie de diáspora civil para venezuelanos asfixiados e em fuga de seu país. Estamos, pois, diante de uma quadra de dúvidas, não apenas pelos problemas internos, que já são muitos, mas também pela repercussão do que pode brotar das linhas que demarcam relações externas. Daí, a justificativa de se convocar a participação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

 Propaganda eleitoral


((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil")


Havia uma expectativa, poucas décadas atrás, de que os recursos tecnológicos colocados à disposição do discurso político-eleitoral ensejariam, como consequência imediata e desejável, o aperfeiçoamento do nível dos programas partidários e do debate entre candidatos a cargos eletivos. Mais ainda, quanto aos resultados, quando foram criados os programas de propaganda gratuita; porque – outra esperança desfeita – contempladas com som e imagem, e poucos gastos, as pretensões mais qualificadas e as boas ideais surgiriam naturalmente. Na contramão de tais propósitos, contrastava a descrença de muitos observadores, alegando que a fácil popularização concorreria para atrair aventureiros e demagogos. Houve discussão entre juristas preocupados, lembrando a advertência de Jacques Ellul, sociólogo de Bordéus: os modernos recursos técnicos e tecnológicos também podem se transformar em grande perigo, se mal administrados, aplicados sem racionalidade. Se carregam perigos para a vida das multidões e das pessoas individualmente, nada impediria que os políticos desses recursos também fizessem mau uso. Ellul morreu há trinta anos, maio de 94, é preciso dizer que suas dúvidas faziam sentido e, hoje, confirmam-se no que temos visto e ouvido nos famosos horários gratuitos dos TREs.
Os programas patrocinados pelos tribunais, que vão se prolongar por todo este mês, levam a algumas reflexões, na esteira de um justificado pessimismo. Vê-se. Ou o candidato derrapa e viaja no direito de abusar das inverdades, nas coisas que promete, sabendo que não terá como cumpri-las, ou divaga por ideias e conceitos estapafúrdios, desconectados da realidade do país. Em muitos casos, sem abrir mão desses defeitos, os pronunciamentos mendicantes de votos desabam para o baixo nível.
Em S.Paulo, quando começam os debates entre candidatos a prefeito, seria prudente mandar menores se retirarem da sala. Proibidos, por causa de imoralidade explícita. Pois, se no centro mais desenvolvido do país o discurso rasteiro quedou a tal nível, é de se imaginar o que deve estar acontecendo por este Brasil afora.
Milhares de pessoas, menos tolerantes, preferem mudar de canal, sintonizar outra emissora, até que passe a hora dolorosa das baboseiras.
Os partidos, não apenas telespectadores e ouvintes, têm o dever de assumir uma postura crítica, se não para salvar os dias que ainda temos pela frente, pelo menos para resguardar futuras campanhas, sendo a próxima já dentro de dois anos. Razões para preocupar não faltam, porque, sem contar os conteúdos periclitantes dos discursos, é preciso tomar em conta a pobreza avassaladora dos índices de audiência. Têm tudo para se sentirem estimulados a discutir, com seus candidatos, uma forma de alcançar melhores resultados da benevolência de uma lei que teve boas intenções, mas é ultrajada exatamente pela classe política, que tanto a desejou em nome de franquias que ampliassem o direito de os cidadãos conhecerem melhor os que desejam seu voto.
Colocada na berlinda a qualidade desses programas, talvez não se excedam os que pedem intervenção dos próprios tribunais regionais para se impor qualidade mínima no que dizem e querem os candidatos. A legislação, que criou a gratuidade, certamente deve dispor de instrumentos capazes de garantir alguma qualidade.


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

 


Eleição 2024 em pauta ( LXXVIII)



SEXTA COM BOLSONARO


A primeira grande agitação da campanha eleitoral deste ano, na cidade, vai acontecer na sexta-feira, com a chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro, parte de um périplo por grandes centros mineiros, onde o PL pretende bom desempenho nas urnas de outubro. Ao meio-dia, ele comanda uma carreata, que se estenderá pela avenida Rio Branco. Às 14 horas, na confluência das ruas Halfeld e Batista de Oliveira, estará numa concentração de apoio à candidatura de Charlles Evangelista (PL) à prefeitura.

A concentração podia ser realizada em local mais amplo. Mas decidiu-se pela esquina fatídica, onde em setembro, quatro anos atrás, Bolsonaro foi ali esfaqueado por um militante esquerdista. Um apelo à memória e ao voto.

Evangelista tem um mês para encarnar o bolsonarismo, a direita radical, a direita temperada, os contrários ao PT e os inimigos do lulismo; e com essas forças tentar chegar à prefeitura. É uma aposta.


NOVA PESQUISA

O Instituto Veritá registrou-se no Tribunal Eleitoral para, obediente à legislação, credenciar-se para realizar pesquisa em Juiz de Fora, e conhecer as possibilidades dos seis candidatos a prefeito. Trata-se de levantar preferências em um universo de 810 eleitores, com a promessa de publicar os resultados no domingo.

Há quem considere que dois fatores podem influenciar nos números da Veritá: a entrada de Bolsonaro na campanha de Juiz de Fora e as manifestações da direita contra o ministro Alexandre de Morais, sábado, em S.Paulo.


TODO CUIDADO

Não diferentemente de qualquer campanha anterior, a que foi aberta no último fim de semana fez chover sobre o eleitor um rosário de candidatos repletos de boas intenções, pouco modestos quanto à sua capacidade de solucionar velhos e graves problemas. Uma realidade que se agrava com alguns candidatos à reeleição, que assumem o compromisso de fazer o que já revelaram não saber fazer.

Promete-se demais. Em alguns casos, sem o mínimo de pudor, como em 2022, quando o candidato Lula prometeu democratizar o consumo de picanha e cervejas nos fins de semana...

O primeiro cuidado do eleitor é identificar o candidato que promete o que não pode ou não sabe fazer. Pratica o embuste, mente miseravelmente. Outro cuidado, este a exigir mais acuidade, é sentir que aquele que lhe pede o voto não vai vencer, e está menos preocupado com o voto de hoje, porque seu verdadeiro plano é ganhar experiência, fazer o trampolim para tentar ser deputado dentro de dois anos. É visível esse tipo de safadeza eleitoral.


MENOS O RIDÍCULO

Nem sempre os Tribunais Regionais Eleitorais mostram-se zelosos para cobrar dos candidatos respeito ao dispositivo que trata da identificação deles na campanha que pretendem empreender. Sob a premissa de que é preciso fazer tudo, ou quase tudo, para facilitar sua identificação pelo eleitor, tolera-se muito; para não se falar na proibição do mau gosto, porque para isso nenhuma lei é suficientemente forte. Em Minas, os casos mais agressivos têm sido raros, mas a Justiça aceita, por exemplo, que candidatos a vereador se identifiquem como Manezim do Cemitério, Ritoca da Curva do Morro, Joãozinho que entrega o gás. Tolerados, porque não chegam a ofender o pudor, embora passem raspando pelo ridículo.

Os impedimentos referem-se a candidatos que ocupavam função pública ou são de carreira militar.


BAIXO NÍVEL

Os candidatos à prefeitura de S.Paulo dão péssimo exemplo para o resto do país. Baixíssimo o nível dos debates de que participam nos programas de rádio e televisão. Se, no maior e mais desenvolvido centro urbano, as discussões debandaram para algo parecido com conversa de botequim e briga de comadres, imagine-se o que pode estar acontecendo por esse Brasil afora.


E A SOLUÇÃO?

Juiz de Fora tem, na zona urbana, cerca de 800 moradores de rua, como informou o presidente da Câmara, José Márcio Garotinho, em palestra que proferiu, semana passada, no Instituto Histórico e Geográfico. Mas há quem aposte que esse número é bem maior. O problema é de tal complexidade, segundo ele, que não se pode dizer que o poder público tenha uma solução.

O vereador falava sobre os principais problemas da cidade, baseando-se em pesquisa que se promoveu junto a várias camadas da população. Os principais anseios ficam na saúde e na educação, mas a grande queixa (45% da população) está no péssimo serviço dos ônibus urbanos.


SEM VERBA

Até a semana passada, o MDB não havia recebido recursos do fundo eleitoral para movimentar sua campanha em Juiz de Fora. Não é por falta de dinheiro, porque o fundo é particularmente generoso com o partido: R$ 400 milhões.

Um detalhe curioso na história recente do partido: na eleição de 2020 o MDB fez quatro vereadores. Logo depois, perdeu todos. Agora,voltou a ter quatro na Câmara...


QUOCIENTE

Continuam as incertezas sobre o quociente eleitoral, base para que os partidos possam calcular suas cadeiras na Câmara. Os mais pessimistas, para segurança, falam em 13.100 votos, contrariando os otimistas que, pautando-se no aumento do número de cadeiras no Legislativo municipal (23), elaboram seus cálculos em 12.500.


FÉ NA UNIDADE

O pastor Silas Malafaia, um dos três mais influentes líderes evangélicos do país, gravou mensagem de apoio à candidatura de Ione Barbosa à prefeitura, com apelo aos valores cristãos da família. O pretendido resultado político-eleitoral de seu pronunciamento é a unidade evangélica no processo, detalhe que pode influir favoravelmente à candidata, já simpática às lideranças dos Batistas e Testemunhas de Jeová.


PESO FEMININO

Em recente programa de Ricardo Ribeiro, na Rádio Cidade, participando a jornalista Gilze Bara, especialista em marketing, foi levantado um ponto significativo para ampliar o debate político na cidade: pela primeira vez, o número de mulheres disputando a prefeitura é o mesmo dos homens: 3 a 3. Entende-se que seja um dado a mais para pesar o voto feminino. Aqui, como na maioria dos médios e grandes centros urbanos, as mulheres são 52% do eleitorado.


AUDIÊNCIA

A Promotoria Eleitoral já tomou depoimentos para instruir o pedido de impugnação da chapa liderada por Ione Barbosa, onde viu irregularidades na indicação do candidato a vice-prefeito. A Justiça promete dar a conhecer a sentença nos próximos dias.


Apenas cinco vezes, a partir de Luiz Eugênio Horta Barbosa, em 1887, uma personalidade de Juiz de Fora ocupou a presidência ou a governadoria de Minas, o que geralmente causa espanto aos historiadores, considerando o fato de estar aqui, durante décadas, a principal referência política, social e econômica do estado. Em setembro de 1930, depois de Antônio Carlos, dois fatos coincidentes ajudaram a retomar o prestígio de lideranças locais, quando o ex-prefeito Pedro Marques foi eleito vice-governador, e o vereador Luiz Pena chamado a ser prefeito de Belo Horizonte.



terça-feira, 3 de setembro de 2024

 



O sermão de Ortega


((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))


O que teria sido mais conveniente aos interesses do governo brasileiro?, ante pesadas críticas dirigidas pelo presidente Daniel Ortega Saavedra contra o colega Lula, acusado de ser desastrado na política continental, numa biografia chamuscada pela Lava Jato, entre outros crimes. O mais recente tropeço, segundo o chefe nicaraguense, é o fato de Lula não reconhecer a suspeitíssima vitória de Nicolás Maduro, na Venezuela.

Sobre reagir ou não, a primeira conveniência seria não deixar sem resposta a denúncia severa, partindo de um chefe de estado, mormente pelo respeito que se deve ao povo nicaraguense, sob ditadura desde 2007. Mas, talvez melhor fosse, como se diz no vulgar, não passar recibo; até porque Ortega está longe de se alinhar entre as figuras mais respeitáveis no concerto das comunidades americanas, além de ser um modelo de ditador vulgar. Reagir ou desprezar, eis a questão que variou, pendular, no ânimo dos assessores do Planalto nesses últimos dias.

Pensam os que votaram por desconhecer a ofensa, que Lula já tem couro espesso e sangue frio para enfrentar paradas desse tipo. Têm razão. Haja vista para o fato de que coisas muito mais graves contra ele foram despejadas por Marina Silva e Geraldo Alckmin, e são hoje seus ministros de confiança. Mesmo assim, ser repreendido, publicamente, por um sujeito do tipo Ortega, é extrema humilhação. Parece castigo do céu.  

Analisado sob outro ângulo, o episódio serve para mostrar, mais uma vez, como têm custado alto o equivocado investimento do governo em Maduro, ditador que acabou por enfiar o Brasil numa tríplice enrascada: não temos como manter a aliança com Caracas, não temos como sair dela, e, qualquer que for o caminho adotado, não temos como explicá-lo.

Fiascos acumulados mostram que o presidente não é exatamente o menestrel que canta canções de harmonia na América, nem cavaleiro exitoso a empenhar palavras e bandeiras nas relações com o mundo.


O fogo e as culpas


As queimadas que prosperam, aquecendo e destruindo os verdes da Amazônia e dos cerrados, têm levado à repetida prática do governo de culpar seu antecessor pelos danos. Do que se deixou de fazer resultaram as tragédias dos dias atuais. Agora, quando nos aproximamos do desastre recordista, porque nunca se perdeu tanto nas áreas devastadas, o Executivo, pela voz de seus ambientalistas, quer nos dizer que não tem culpa alguma; e tenta desviar responsabilidades para o passado ou promete prisão e processo contra um desocupado qualquer, que saiu ateando fogo em canavial; também gosta de incriminar o agronegócio, o favorito para figurar na pauta de pecados capitais e veniais.  

Governantes, os de hoje como os de outras épocas, sempre souberam que o período de seca entre junho e outubro, nesta parte do continente, impõe providências preventivas e medidas de cautela nas regiões mais vulneráveis; em nosso caso, a começar pela Amazônia. Consideradas peculiaridades do país e as pesadas responsabilidades que, nesse particular, temos com a comunidade internacional, as brigadas ambientais, as campanhas de conscientização, o isolamento de áreas afetadas,a capacidade de rápida mobilização no combate às chamas são cuidados que não podem ficar à mercê da sorte. O ministério de dona Marina teve dois anos para pensar nisso, mas prefere identificar incendiários criminosos nos adversários políticos.

Para aprofundar cuidados pertinentes a uma época sempre perigosa, convém considerar que a crescente e perigosa degradação dos recursos naturais vem facilitando o fenômeno da combustão espontânea. Nem é preciso haver criminoso incendiário. Deixa de ser novidade, a reclamar o máximo de atenção. Como advertência, os Estados Unidos, particularmente na Califórnia, têm sido principais vítimas disso. O que é um desafio a mais a ser considerado, pois mostra que lá, como em qualquer outra parte do mundo, é preciso prevenir, para não ter que remediar.  


Desafio das emendas

As divergências e variadas desconfianças entre os três poderes sobre o destino das emendas parlamentares, raramente inspiradas em boas intenções, levaram a um pacto de difícil cumprimento. Porque uns poucos dias definidos para dar clareza à matéria são tempo curtíssimo, obter-se amplos esclarecimentos, definir critérios, hoje inexistentes, como também traçar rastreabilidade e garantir eficiências. O Supremo quer chamar a si o direito de conhecer, para depois julgar, a rota das emendas, sabidamente voltadas para interesses políticos.

Os ministros, que acompanharam, por unanimidade, a preocupação monocrática do colega Flávio Dino, devem saber, de véspera, que deputados e senadores, longamente identificados no trato dessa questão, acabam tendo como contornar o impasse, começando por exigir que o Executivo seja mais tolerante, menos lamuriento em relação às emendas impositivas, e abra logo o cofre dos bilhões, sob pena de ampliar dificuldades na tramitação de mensagens de seu interesse.

Só a longo prazo seria possível criar um arcabouço (para utilizar expressão da moda) destinado a emprestar um mínimo de zelo e transparência ao destino das emendas, pela via de lei complementar, mas nunca sob atropelos e açodamentos, com a intenção de o modelo ser aplicado a tempo de servir às eleições municipais. Sem se falar da delirante e complexa cobrança de eficiência na aplicação dos recursos, que vão se perder, não nas obras e serviços dos municípios, mas nos interesses comandos pelos prefeitos. Como obter a importante comprovação de boas aplicações? Quem conhece a política do interior não seria capaz de apostar nisso.