Propaganda eleitoral
((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil")
Havia uma expectativa, poucas décadas atrás, de que os recursos tecnológicos colocados à disposição do discurso político-eleitoral ensejariam, como consequência imediata e desejável, o aperfeiçoamento do nível dos programas partidários e do debate entre candidatos a cargos eletivos. Mais ainda, quanto aos resultados, quando foram criados os programas de propaganda gratuita; porque – outra esperança desfeita – contempladas com som e imagem, e poucos gastos, as pretensões mais qualificadas e as boas ideais surgiriam naturalmente. Na contramão de tais propósitos, contrastava a descrença de muitos observadores, alegando que a fácil popularização concorreria para atrair aventureiros e demagogos. Houve discussão entre juristas preocupados, lembrando a advertência de Jacques Ellul, sociólogo de Bordéus: os modernos recursos técnicos e tecnológicos também podem se transformar em grande perigo, se mal administrados, aplicados sem racionalidade. Se carregam perigos para a vida das multidões e das pessoas individualmente, nada impediria que os políticos desses recursos também fizessem mau uso. Ellul morreu há trinta anos, maio de 94, é preciso dizer que suas dúvidas faziam sentido e, hoje, confirmam-se no que temos visto e ouvido nos famosos horários gratuitos dos TREs.
Os programas patrocinados pelos tribunais, que vão se prolongar por todo este mês, levam a algumas reflexões, na esteira de um justificado pessimismo. Vê-se. Ou o candidato derrapa e viaja no direito de abusar das inverdades, nas coisas que promete, sabendo que não terá como cumpri-las, ou divaga por ideias e conceitos estapafúrdios, desconectados da realidade do país. Em muitos casos, sem abrir mão desses defeitos, os pronunciamentos mendicantes de votos desabam para o baixo nível.
Em S.Paulo, quando começam os debates entre candidatos a prefeito, seria prudente mandar menores se retirarem da sala. Proibidos, por causa de imoralidade explícita. Pois, se no centro mais desenvolvido do país o discurso rasteiro quedou a tal nível, é de se imaginar o que deve estar acontecendo por este Brasil afora.
Milhares de pessoas, menos tolerantes, preferem mudar de canal, sintonizar outra emissora, até que passe a hora dolorosa das baboseiras.
Os partidos, não apenas telespectadores e ouvintes, têm o dever de assumir uma postura crítica, se não para salvar os dias que ainda temos pela frente, pelo menos para resguardar futuras campanhas, sendo a próxima já dentro de dois anos. Razões para preocupar não faltam, porque, sem contar os conteúdos periclitantes dos discursos, é preciso tomar em conta a pobreza avassaladora dos índices de audiência. Têm tudo para se sentirem estimulados a discutir, com seus candidatos, uma forma de alcançar melhores resultados da benevolência de uma lei que teve boas intenções, mas é ultrajada exatamente pela classe política, que tanto a desejou em nome de franquias que ampliassem o direito de os cidadãos conhecerem melhor os que desejam seu voto.
Colocada na berlinda a qualidade desses programas, talvez não se excedam os que pedem intervenção dos próprios tribunais regionais para se impor qualidade mínima no que dizem e querem os candidatos. A legislação, que criou a gratuidade, certamente deve dispor de instrumentos capazes de garantir alguma qualidade.
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