O senador Itamar Franco, a quem o destino permitiu que cumprisse apenas cinco meses de um mandato de oito anos, deixou para trás alguns projetos que caberá aos demais membros da Casa encampar ou não, segundo suas convicções. Mas deixa também, como legado post mortem, o convite ao debate sobre a suplência de senador. Sua experiência, mais que as anteriores, recomenda a reflexão: assume o suplente sem votos, enquanto o segundo mais votado, Fernando Pimentel, com milhões de votos, fica ausente; e, na sua ausência, sem representação os que lhe deram preferência.
Não se sabe quem tomará a iniciativa de abrir discussão objetiva, partindo de uma distorção que ninguém pode contestar: a eleição de um senador se faz pelo sistema proporcional, quando o critério é o majoritário, isto é, elege-se quem tiver mais votos.
O memorial
Antes de se pensar no destino do grupo político do ex-senador Itamar Franco, vai ser preciso definir o destino do Instituto que leva seu nome, mantenedor do memorial que guarda documentos, peças, impressos, móveis e objetos que lembram de sua trajetória de meio século de vida pública. O memorial ainda se encontra em fase de organização. Por doação, dele também faz parte um apartamento que Itamar tinha em Belo Horizonte.
Sobre Collor
O senador Fernando Collor veio para a última homenagem a Itamar Franco. Houve quem o vaiasse, quando subiu a escada da Câmara. Sem considerar o mérito dessa manifestação, é de justiça lembrar que o senador por Alagoas praticou um ato nobre deslocando-se para a cidade na manhã de domingo. É que Collor não tem dúvida de que em 92 Itamar, seu sucessor natural, nada fez para ajudá-lo a se salvar do impeachment. Tendo ou não fundamento sua suspeita, ao se colocar diante do corpo do adversário ele superou o sentimento de aversão.
Força conjunta
Os planos dos novos dirigentes que estão chegando ao Partido Verde preveem um número não inferior a duzentos de novos filiados. Com todas as evidências de que a reformulação da comissão provisória sofre influência do PPS, é natural que se espere disso uma nova força para atuar na sucessão municipal de 2012.
Sem festa
Os decretos de luto oficial em Minas e no município, pela morte de Itamar Franco, justificam o cancelamento da solenidade de inauguração, na sexta-feira, da Avenida Deusdedt Salgado e celebração de convênio para a reurbanização do Parque da Lajinha. O governador Antônio Anastasia é quem marcará a nova data.
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O pudor da morte, se for possível dizer isso, é que ela obriga a olhar o alto, e adverte que, sendo inevitável e irremediavelmente final, é nela que faz morada a fúria dos destinos. A vida é instantaneidade, ao contrário dessa que Manuel Bandeira chamou de indesejada das gentes. Mas, sempre vencedora da última batalha, ela põe fim a todos os embates humanos. Por isso, Padre Vieira diria que, alfim, a morte amança tudo.
Com ela, queiramos ou não, é o nosso retorno à natureza cósmica, escreveu Darcy Ribeiro, num dia patético. Portanto, a grande coisa que há na vida é o nascimento da morte.
(Publicado também na edição de hoje do TER NOTÍCIAS)
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