O BRASIL DERRETE
Observadores estrangeiros andam realmente
preocupados com os rumos do Brasil, talvez com intensidade e perspicácia
maiores que as que têm manifestado nossas lideranças. No começo da semana
alguns dos mais autorizados garantiam que, se temos certeza de um 2016 perdido,
é preciso rezar para que o ano seguinte seja menos pior. E concordam em que,
mesmo assim, indispensável partir de um diálogo verdadeiramente patriótico dos
partidos e dos políticos em nome dos altos interesses do País. Talvez – quem
sabe? - começando por um gesto soberano da presidente reconhecendo a
inviabilidade de sua gestão, cujo gesto de grandeza é concordar em que o
primeiro passo pode estar na antecipação da eleição de seu sucessor.
O que mais temos de esperar? O Brasil está
derretendo. Não bastassem a inflação, o desemprego, o desânimo nacional diante
da corrupção institucionalizada, os estados sem honrar as folhas dos
servidores, assiste-se a uma economia cada dia escalando novos degraus rumo ao
desastre. As indústrias naval e automobilística vivem a maior crise de sua
história. Nas próximas semanas o fechamento de cerca de 500 concessionárias.
Esperar mais o quê?
Todo esse cenário sinistro se abre (ou se
fecha?) diante da constatação de que o governo e a oposição não conseguem
convergir o diálogo político, que poderia ser nossa luz no fim do túnel. Mas
não. Cada qual empaca na defesa de suas trincheiras, só quer falar sem ouvir.
Os três poderes longe de obter um conjunto de resultados satisfatórios para
conduzir a Nação. Olhando para eles, o cenário é de poderes que se contentam
com monólogos alternados, sem cuidarem do que Raymond Aron ensinou em seu
“Polémiques”: a verdadeira função da polêmica nem é convencer, mas ajudar cada
um a compreender o outro. Monólogos não fazem o diálogo.
TEMPO DE DEMAGOGIA
A nação vive uma crise
existencial baseada no descrédito político. Significa que esta é uma hora de
crepúsculo em que as coisas se confundem e um demagogo pode ser aclamado como
salvador da pátria. Isto ou mais ou menos isto foi dito pelo ministro Marcelo
Pimentel, do Tribunal Superior do Trabalho, cerca de trinta anos passados, mas
com sensível atualidade, principalmente se consideramos que estamos em ano
eleitoral convivendo com grave crise; crise que não sabemos quando poderá
terminar. E como terminará.
É um tempo realmente propício a propostas
demagógicas. Hora em que proliferam falsos salvadores da pátria, alguns
sobejamente conhecidos,que nos deixaram uma dolorosa herança. A três meses das
convenções partidárias que vão indicar os candidatos, e nove da eleição do
prefeito e vereadores, é preciso que a cidade tenha pleno conhecimento do risco
das aventuras que vêm atreladas a demagogos, incluídos entre eles os
despreparados, que, exatamente por causa do despreparo, são capazes de lançar
mão de projetos impossíveis de serem concretizados, sonhos impossíveis e
soluções milagrosas. Oportunistas demagogos.
Impõe-se - e aqui os partidos surgem como primeiros
responsáveis – uma discussão antes de tudo honesta sobre os problemas do
município, cujas soluções exigem poderosos investimentos, tendo à frente
lideranças políticas eficientes, dessas que têm os pés no chão, sem sofismas,
sem enganação. Então, os partidos responsáveis pelas candidaturas precisam
saber desde já, e logo cobrados pela sociedade organizada, que suas decisões
não podem estar desviadas de uma conduta séria e voltada para o futuro de Juiz
de Fora, sem contorcionismos e sem demagogia. Têm obrigação de recusar
pré-candidaturas que nossos interesses rejeitam.
A FARSA DOS CASSINOS
Sob os auspícios desse governo tonto, sem rumo, sem
norte, a abertura dos cassinos com seus jogos de azar vai vencendo barreiras no
Congresso. Há dias ganhou aplausos em comissão especial do Senado, onde fomos
obrigados a ouvir o representante mineiro, Antônio Anastasia, dizer
simplesmente que se o jogo se deu bem no Canadá e em países europeus por que
seria diferente no Brasil?, sem explicar a razão de muitas coisas darem certo
lá e totalmente erradas aqui.
O que se está se propondo é um engodo, um farsa
produzida em gabinetes que se especializaram nas mistificações. Ora, este é um
país em que há anos se joga todo dia, com megas, lotos, raspadinhas e
maquininhas, as fábricas de dinheiro para o poder central. E nem assim o Brasil
anda bem. Até Eduardo Cunha vê isso, ao comparar esse governo em busca de
dinheiro ao desempregado que vai à roleta tentar o salário que não recebeu...
A liberação dos cassinos, longe de produzir
impostos, servirá exatamente para encobrir a sonegação, a lavagem do dinheiro
sujo. Não podemos ignorar que os milionários que vão ao pano verde são os
grandes mestres na sonegação. Fala-se em mais empregos para assalariados?
Garçom, músico, crupier? Quantos seriam esses beneficiários? em número
suficiente para compensar as desgraças.
É preciso passar à frente de raciocínios insólitos
e superficiais o real custo social das roletas e bacarás. Leia-se Roger
Caillois em “O Jogo e os Homens”. No cassino não há uma competição entre
pessoas ou times, o chamado Agon. Ali o adversário é o destino, o azar, sobre o
qual o jogador não tem qualquer domínio. Ele se demite da responsabilidade
pessoal para se entregar à ambição do ganho fácil e rápido. Nada pode salvá-lo,
a não ser o desfavor dos deuses, diria Dostoievsk em “O Jogador”.
Rui Barbosa volta aos nossos dias para repetir,
quase cem anos depois, que o jogo “como as grandes endemias devasta a
humanidade, universal como o vício, furtivo como o crime, zomba da decência e
das leis. Alcança o requinte de suas seduções as alturas mais aristocráticas da
inteligência”. Os jogadores? Esses são apenas os náufragos das noites
tempestuosas do azar.