MAQUIAGEM ELEITORAL
A nove meses das eleições que vão indicar
prefeitos e vereadores (se a evolução das crises assim o permitir) não se fala
mais na reforma política, o que faz prever, entre os muitos problemas que sua
ausência acarreta, de novo as alianças partidárias defeituosas, os
acertos inconvenientes, os conluios adulterinos, sem espaço para os grandes
interesses nacionais. Vamos ver unidos em projetos comuns partidos sem
identidade ideológica, uns sem nada terem a ver com outros, convivendo apenas
pelo tempo necessário para a construção do ludibrio, da enganação, das tramas a
que os eleitores são convidados a se submeterem e dar o voto-aval.
Verdade que foram criados alguns limites ao
embuste das coligações, mas certamente insuficientes. Ainda desta vez – e até
quando? – vamos assistir às manobras que em nome delas têm sido praticadas às
claras?
Neste ano mais de 30 partidos legalmente
reconhecidos estarão no cenário eleitoral. Só os grandes vão figurar como
atores principais, responsáveis pela peça, mas arrastando aquela infinidade de
coadjuvantes nanicos, leiloeiros dos minutos de que dispõem para propaganda
eleitoral na televisão. Esse acerto, sem o qual os candidatos não teriam seu
apoio, é apenas o sinal de outras parcelas do pagamento caso o candidato
apoiado obtenha vitória. Se tal se der, faz-se então o loteamento de
secretarias, departamento e companhias mistas. Ou não tem sido assim,
exatamente assim?
O processo eleitoral, com esses defeitos,
tal como concebido e tolerado, é vestibular para dar aos políticos o diploma de
representação de uma nova classe, uma oligarquia para cujo progresso independe
a participação popular; para eles melhor até que o povo se mantenha bem distante.
Logo após a Primeira Guerra Mundial avultou
a proposta de que as campanhas eleitorais devessem contemplar as ideias; não os
homens, mas suas ideias, suas propostas. Isso não prosperou suficientemente. Na
verdade, o que sobreviveu foi o candidato plástico, sem responsabilidades
claras, livre de instrumentos que o obriguem a cumprir o que falsamente
promete. E tudo cada vez mais falso, mais artificial, tal como Roger
Schuwartzenberg definiu no Estado Espetáculo, onde o marketing muda tudo, plastifica
tudo, capaz de submeter à maquiagem tudo e todos. O star-system. Esse
faz-de-conta dos programas eleitorais a que em breve estaremos assistindo.
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