DA boca pra fora
Há uma preocupação internacional, espalhada por
segmentos diversos, em relação ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, que tem ameaçado mundos e fundos, radicaliza e apregoa retaliações.
Quanto mais fala mais o mundo se recolhe. Quanto ao Brasil, diretamente, o que
preocupa são as reiteradas promessas de Trump de uma política protecionista
mais severa em relação aos produtos americanos, o que não é boa notícia para
as exportações, pois os americanos são nossos maiores compradores.
Mas em relação ao novo presidente talvez o mais
prudente seja não levar ao extremo a aceitação de seus discursos ameaçadores.
Todo presidente falastrão, quando despeja o traseiro na poltrona histórica,
fica logo sabendo que não tem os poderes que achava que teria, mesmo quando
governa o país mais poderoso do mundo. Aliás, em muitos casos suas
insuficiências vêm da própria força sonhada. Um paradoxo que a realidade cuida
de confirmar. Assim, é provável que ele não tenha como cumprir a metade do que
ameaça.
Trump deve ter lido seu conterrâneo Steve
Peiczenik, psiquiatra, assessor de quatro presidentes americanos para as
questões de política externa. Escreveu ele: “Cedo verificam que não têm o poder
que imaginam. O sistema os inibe, tornam-se frustrados, clinicamente
deprimidos”. Diante disto, Pieczenik conclui que ser presidente nos Estados
Unidos é ofício mais exigente do que se imagina.
Já séculos atrás a sabedoria taoísta advertia para as
limitações dos governantes, principalmente os que falam demais. Allan Watts, em
“Tao, o curso do rio”, cita que o poder político deve ser visto como a profunda
loucura da ambição, pois é um fardo sempre muito pesado para quem o
detém.
A eleição no
Senado
O empreiteiro
Marcelo Odebrecht (mesmo encarcerado) deverá indicar o novo presidente e o
novo líder do PMDB no Senado, segundo especulações de bastidores da
política em Brasília. De acordo com estas fontes (não oficiais) a bancada do
Grupo Odebrecht no Senado é formada pelos senadores Renan Calheiros, Romero
Jucá e Eunício Oliveira; senadores peemedebistas que foram citados em
depoimentos de colaboração premiada, por executivos da citada empreiteira,
conforme vazamentos de informações à imprensa. Eles foram acusados de comercializar
leis e medidas provisórias (os ‘jabotis’) e de receber propinas em nome do
correligionário e presidente Michel Temer.
Quem fez o comentário
(por rede social) nesta semana foi o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que
também pleiteia a presidência do Senado. A eleição será no dia 1º de fevereiro.
O senador Renan
Calheiros (AL), por exemplo, luta para ficar com a poderosa CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) e, na pior das hipóteses, com a liderança do PMDB. O
Senador Eunício Oliveira sonha com a presidência do Senado, mas está nas listas
oficiosas de envolvidos com a corrupção na Petrobrás.
As difíceis emendas
Boa notícia acaba de ser transmitida pelo deputado
Lafayette de Andrada. Por iniciativa sua, o Orçamento de Minas para 2017
inclui emenda que destina R$ 400 mil à Santa Casa de Juiz de Fora. Sobre as
emendas parlamentares, o que se tem observado é a necessidade do esforço de
seus autores para ver liberadas as verbas propostas. Minas, com sua indigência,
lamentavelmente não constitui exceção. No plano federal Juiz de
Fora tem exemplos. Há mais de três anos os deputados Marcus Pestana e Margarida
Salomão destinaram, cada um, emendas de R$ 500 mil para obras no Museu Mariano
Procópio. Dinheiro que jamais chegou.
Olhar sobre 2017
Cada um tem seu jeito de voltar os olhos para o novo
ano que vai chegando. Desta vez parecem mais numerosos os pessimistas, talvez
mais por precaução, pois se as coisas vierem mesmo ruins terão o direito de não
se surpreenderem. Mas tudo depende da maneira de ver os fatos e como
esperá-los, como explica Eduardo Almeida Reis, citando Robert White: “o
otimista acha que o copo está cheio; o pessimista, meio vazio; o
racionalista acha que o copo tem o dobro do tamanho que devia ter”. Os otimistas
nos desejam feliz 2017, os racionalistas transferem suas expectativas para
2018, enquanto os pessimistas empurram todas as esperanças para 2020...
Para o Brasil, seja qual for a corrente de quem espera
novos tempos, o sincero desejo é que continuemos colocando as coisas nos seus
devidos lugares, depois de uma desarrumação total, quase caótica. O País vai se
afastando do abismo que nos ameaçava, e cuja profundidade ignoramos. Já sabemos
por onde caminhar, e isto já é alguma coisa.
Conforta saber que os problemas brasileiros são
toleráveis e superáveis, se os comparamos com os sacrifícios de outros povos,
aqueles que enfrentam devastações provocadas pelas calamidades criadas pelos
homens, como a guerra da Síria; as dores que acompanham as multidões de
refugiados; ou as devastações provocadas pela natureza vingativa.
Mas esses problemas, ainda que não nos aflijam na
pele, estão a sugerir que em 2017 o Brasil se deixe envolver mais nos esforços
para tornar o mundo melhor. Temos mantido uma postura de indiferença diante do
resto do mundo e dos desafios internacionais, que estão a insinuar a
aproximação de um grande conflito das civilizações, do qual não teremos como
escapar. Um conflito como previu Samuel Huntington em obra monumental. Há
o prenúncio de uma civilização das culturas, e estaremos em uma das poucas
sobreviventes, a latino-americana.