Tempo de ajustes
Perguntado fosse a qualquer
pessoa, meses atrás, se as garras da Lei seriam suficientemente afiadas para,
num dia qualquer, ir à jugular do todo-poderoso Renan Calheiros, é certo que se
ouviria ser impossível atingi-lo, tal a força de que dispõe e que veio
colecionando nos muitos cargos que ocupou.
Para que se tenha ideia, basta
lembrar que o senador já foi ministro da Justiça neste País, o que soa como
trama da insolência do destino. Ocorre que no fim da semana passada ele se tornou
réu em decisão por maioria de votos do Supremo Tribunal Federal, e vai
responder por prática de peculato. Articulado e muito cuidadoso nas coisas que
faz ou deixa de fazer, pode acabar se saindo bem de uma ação que comporta
procrastinações. Mas já vale saber que é réu, porque a decisão da Corte mostra
que não há quem escape, pelo menos do susto.
Renan, e aqui vai uma observação
que parece ser mais útil que sua eventual condenação, pode também estar
representando, no palco da política brasileira contemporânea, um dos
derradeiros capítulos do imenso poder corporativo dos políticos do Norte e
Nordeste, sempre minoritários nas bancadas, mas majoritários nas decisões.
Ocupam os melhores espaços, qualquer que seja o governo.
Se o senador começa a perder
prestígio será mais uma gota no caldo que aos poucos vai entornando o mando dos
homens lá de cima. Pode estar entrando em crise a velha hegemonia que mantinha
colados os veteranos Sarney, Jucá, Lula, Ciro, para citar apenas alguns.
Teste no Senado
O presidente Michel Temer tem
muitos problemas, agora e talvez mais ainda pela frente, porque pesa ao colo
uma herança terrível, composta por desafios agudíssimos. Mas, em meio aos
grandes embates, não se pode negar sua capacidade de dialogar com o Congresso,
onde tem vencido questões que infernizaram muitos de seus antecessores,
desgastados por incapacidade de convencimento. Tem chamado a atenção a boa
vontade dos senadores em receber e aprovar nomes para as embaixadas, quando se
sabe que isso sempre foi problemático para o Executivo, mesmo nos casos em que
os indicados tinham pouca afinidade ou envolvimento com as questões da política
interna.
Não é de hoje. Getúlio Vargas
indicou o poeta Olegário Mariano para a embaixada em Portugal. Ele teve 24
votos a favor e 23 contra. Foi ao presidente: “Não posso aceitar”, ao que
Getúlio retrucou. “Nada disso. A Constituição fala em maioria e você teve
maioria”.
Foi também por um voto que José
Aparecido foi embaixador em Lisboa. E Itamar Franco, indicado embaixador
na Itália, teve 29 senadores a favor e 25 contra.
Ao contrário do que tem oferecido
a Temer, o Senado sempre aproveita a sabatina aos embaixadores para pregar
susto. Recusar mesmo só uma vez, quando desaprovou a decisão do presidente
Jânio Quadros de indicar Ermírio de Morais para a embaixada do Brasil na
Alemanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário