segunda-feira, 5 de dezembro de 2016






Tempo de ajustes


Perguntado fosse a qualquer pessoa, meses atrás, se as garras da Lei seriam suficientemente afiadas para, num dia qualquer, ir à jugular do todo-poderoso Renan Calheiros, é certo que se ouviria ser impossível atingi-lo, tal a força de que dispõe e que veio colecionando nos muitos cargos que ocupou. 

Para que se tenha ideia, basta lembrar que o senador já foi ministro da Justiça neste País, o que soa como trama da insolência do destino. Ocorre que no fim da semana passada ele se tornou réu em decisão por maioria de votos do Supremo Tribunal Federal, e vai responder por prática de peculato. Articulado e muito cuidadoso nas coisas que faz ou deixa de fazer, pode acabar se saindo bem de uma ação que comporta procrastinações. Mas já vale saber que é réu, porque a decisão da Corte mostra que não há quem escape, pelo menos do susto.

Renan, e aqui vai uma observação que parece ser mais útil que sua eventual condenação, pode também estar representando, no palco da política brasileira contemporânea, um dos derradeiros capítulos do imenso poder corporativo dos políticos do Norte e Nordeste, sempre minoritários nas bancadas, mas majoritários nas decisões. Ocupam os melhores espaços, qualquer que seja o governo.
Se o senador começa a perder prestígio será mais uma gota no caldo que aos poucos vai entornando o mando dos homens lá de cima. Pode estar entrando em crise a velha hegemonia que mantinha colados os veteranos Sarney, Jucá, Lula, Ciro, para citar apenas alguns.



Teste no Senado


O presidente Michel Temer tem muitos problemas, agora e talvez mais ainda pela frente, porque pesa ao colo uma herança terrível, composta por desafios agudíssimos. Mas, em meio aos grandes embates, não se pode negar sua capacidade de dialogar com o Congresso, onde tem vencido questões que infernizaram muitos de seus antecessores, desgastados por incapacidade de convencimento. Tem chamado a atenção a boa vontade dos senadores em receber e aprovar nomes para as embaixadas, quando se sabe que isso sempre foi problemático para o Executivo, mesmo nos casos em que os indicados tinham pouca afinidade ou envolvimento com as questões da política interna.

Não é de hoje. Getúlio Vargas indicou o poeta Olegário Mariano para a embaixada em Portugal. Ele teve 24 votos  a favor e 23 contra. Foi ao presidente: “Não posso aceitar”, ao que Getúlio retrucou.  “Nada disso. A Constituição fala em maioria e você teve maioria”.

Foi também por um voto que José Aparecido foi embaixador em Lisboa.  E Itamar Franco, indicado embaixador na Itália, teve 29 senadores a favor e 25 contra.


Ao contrário do que tem oferecido a Temer, o Senado sempre aproveita a sabatina aos embaixadores para pregar susto. Recusar mesmo só uma vez, quando desaprovou a decisão do presidente Jânio Quadros de indicar Ermírio de Morais para a embaixada do Brasil na Alemanha.





Nenhum comentário:

Postar um comentário