sábado, 26 de outubro de 2019


Ingovernabilidade


Em maio último, o presidente da República havia se esforçado por divulgar um documento, não de sua autoria, mas de alguma forma apreensível, pois considerava o país à beira da ingovernabilidade. Hoje, tateados os últimos acontecimentos, a gente pode reler a fatídica advertência, começando por levar em consideração que nunca a história política do país andou tão repleta de imprevistos e contraditórios. Um caso de particular gravidade é que nem o presidente combina com seu partido; o partido não se entende com os filhos do presidente. Um ex, agora acusado de mandar matar um prefeito, diz que não quer sair da cadeia, onde está sob acusação de corrupção. Para coroar, a sociedade sepultou seus últimos respeitos pelo Supremo Tribunal.

Em Brasília, um clima de total insegurança ante forças políticas que apostam na instabilidade latente, sem faltar os que advogam ação incisiva das lideranças militares.

Nos anos 60 do século passado, quando disse coisa parecida, o presidente Jânio Quadros, prestes a renunciar, havia esperado apenas sete meses para dar à ingovernabilidade o apelido de ”forças ocultas”. Mutatis mutandis, o mesmo fantasma que se ressuscita agora. Jânio queria forças especias para governar, sem depender do Congresso, onde via nada mais que um clube de ociosos em permanente conflito de interesses. O que estaria seu sucessor pretendendo para espantar o “encosto” do espírito dos vivos que o atormentam? Forças especiais?

Tendo ou não as lideranças alguma razão para o desabafo, os desencontros que vão se sucedendo nas relações entre os poderes, centrados principalmente no diálogo acidentado entre o Executivo e os deputados, surgem como peças adjutórias para deixar nu esse presidencialismo de coalizão, em cuja essência predomina certa interdependência serviçal; um vasto e caro jogo de interesses particulares. É o que tem regido a conduta de relações que deviam ser respeitosas, curvadas apenas às causas nacionais. O modelo se apequenou, agravado pela tendência dos partidos a se imporem com instrumento oligárquico. Sendo assim, é forçoso reconhecer que a nova legislatura federal, se mudou muitas caras, preservou a velha lição de pragmatismo ensinada por Badaró (pai): mais vale quem o governo ajuda do que quem cedo madruga.


Papel do vice

Antes de eleito, o vice, seja do presidente da República, do governador ou do prefeito, ele é resultado de alianças partidárias, sem as quais a necessária correlação de forças enfrenta dificuldades. O vice entra com o papel de fiador dos entendimentos, o que torna seu papel mais importante, muito antes de, elegendo-se, virar eventual substituto do titular. No caos municipal mais recente, a presença de Antônio Almas na chapa de Bruno Siqueira selou a aproximação do PDSB com o MDB.

Por que seria diferente em 2020? Seja qual for o potencial e previsão de performance dos partidos, as alianças serão tema indispensável. E também o nome do vice, como ponte de ligação. Para desempenhar esse papel há, desde agora, dois vereadores citados: Kennedy e Ana do Padre Frederico.

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