segunda-feira, 21 de outubro de 2019


Interior se despovoa



Passados os primeiros meses do novo governo, com a sociedade e as lideranças reclamando ações sociais mais profundas, tornam-se inevitáveis avaliações do processo migratório que se observa no país; não apenas por inspiração de qualquer capricho em relação a números e estatísticas, mas porque é nesse fenômeno, que diariamente desloca milhares de brasileiros, que vamos encontrar altas preocupações. No bojo das migrações estão alguns problemas que hoje afetam a vida urbana brasileira. Graves problemas das grandes e médias cidades. As políticas que assumem as preocupações dos governantes procuram, quando muito, encarar consequências imediatas, buscando abrigos improvisados e subsistência do momento para populações deslocadas. É o mesmo que aplicar pedaços de esparadrapo em ferimentos que não param de sangrar. Não diferentemente de outros modelos de improvisação no campo das crises sociais: remédios com efeito de curta duração.

Mas o problema vem se agravando, com todas as evidências. O Brasil vai despovoando cada vez mais o interior. Uma observação, ainda que superficial, do movimento dos terminais rodoviários, mostra que são levas de esperançosos que desembarcam, à procura de melhores condições de vida, sendo S.Paulo, Rio e Belo Horizonte as referências mais comuns. Se isso já existia no passado - o que é verdade - cabe considerar que, antes, o retirante chegava sozinho, com uma pequena mala e poucas coisas indispensáveis; a família só mais tarde, quando a vida estivesse minimamente organizada. Não hoje, pois desembarcam famílias inteiras, ampliando consideravelmente os problemas de adaptação.

Está o país frente à seguinte dificuldade: esvazia-se cada vez mais o interior, e as grandes e médias cidade vão ficando inchadas, sem condições de absorver, com um mínimo de dignidade, essas levas de esperançosos, que logo se transformarão em populações frustradas; quando muito, absorvidas no subemprego e em atividades secundárias.

o cessam aí as dificuldades, como a experiência demonstra. Elas carregaconsigo outros problemas, consequentes do primeiro, que resultou da aventura da migração. As cidades logo cuidam de expulsar os recém-chegados para as favelas, onde são escassas e precárias as condições de habitabilidade. Temos nisso o fermento que vai concorrendo para tornar crítica a vida nos grandes centros, surgindo os altos índices de violência como o principal tormento. Aliás, não podia ser de outra forma, pois o perigo de vida associa-se intimamente ao inchaço urbano. É receita inevitável. Sem que para tanto se atirem culpas sobre os que chegam, pois também eles acabam se tornando vítimas.

Desafio para não pretender soluções imediatas, nada de um dia para o outro, o grande sonho está na elaboração de políticas que estimulem o interior a construir condições capazes de reter as populações, o que não se pode alcançar com forças e recursos próprios. É preciso que os governos estadual e federal associem esforços para dar às populações prestes a debandar um estímulo para permanecerem fiéis às suas raízes, desanimando-as para as incertezas que as esperam nas metrópoles. Para um primeiro passo, não há como errar: atendimento primário à saúde e educação elementar oferecida às crianças e jovens; recursos agregadores que, não sendo possível criar em todos os lugares, existiriam suficientemente nas microrregiões. Raras, mas bem sucedidas experiências microrregionalizadas, através de consórcios entre prefeituras, mostram que impossível não é.

O assunto vai passando virgem no primeiro ano do governo Bolsonaro, mas nem por isso perde a importância. É preciso ter espaço nas agendaimediatas.

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