terça-feira, 2 de julho de 2024

 



É preciso descansar

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Uma assessoria política, que seja, ao mesmo tempo, competente e leal, deve estar sugerindo ao presidente Lula gozar um período de férias, trinta ou quarenta dias, tempo adequado para descansar das sobrecargas da governança, onde vem esbarrando com problemas monstruosos, além de ministros de difícil convivência; como também escaparia, temporariamente, das dificuldades em que se encontram suas relações com o Congresso. Porque nem a maravilhosa harmonia com o Supremo Tribunal, que lhe dá prestígio incondicional, tem aliviado os desencontros com deputados e senadores, muitos deles, infratores, guardados sob a capa e a boa vontade das togas. Cumprida metade do mandato, ele ainda não conseguiu remover obstáculos, refém de manobras, que certamente provocam degaste mental, facilmente somatizados. Em Belo Horizonte, na sexta-feira, disse que é capaz de trabalhar de 5 da manhã às 10 da noite, mas sabemos que não é bem assim.
Um breve ócio presidencial serviria, igualmente, para cuidar bem da saúde, testada por uma implacável campanha de desmoralização que lhe movem as redes sociais; de forma que em qualquer parte é hostilizado em tumultuadas aparições públicas. Nenhum político brasileiro passou por semelhante bombardeio. Sem precedente. Não há como aguentar. E a isso ele vem respondendo com atitudes de impaciência e revides. Nos discursos agitados, nota-se a fisionomia plúmbea, sinalizando a perturbação do humor. É urgente que descanse, antes que adoeça, o que seria péssimo, porque, é sabido de longa data: quando o presidente está enfermo, a nação adoece com ele.
(Lula não ficaria só, se não cuidar da saúde, como não ficaram sós outros que negligenciaram. Conta Pierre Accoce, em seu “Estes doentes que nos governam”, que Francisco Franco mergulharia a Espanha no seu parkinsonismo, da mesma forma que Eisenhower conseguiu transmitir para os americanos certos hábitos comuns do cardiopata que foi. No rastro do suicídio de Vargas, em 1954, o vice Café Filho gerou uma série de perturbações com o seu mais ou menos suspeito enfarto. João Figueiredo sabia dessas histórias, e, enquanto pôde, escondeu o coração adoecido. )
Às vezes, Lula tem confundido fatos históricos, datas e ideias, como ao dar às universidades federais prazo de um mês para que elaborem um projeto de Inteligência Artificial “bem brasileiro”, sem imitações estrangeiras… Falou sério, o que, se não denuncia escassa leitura em matéria de tamanha complexidade, mostra certa perturbação na linha de raciocínio. De outra vez, afirmou que a sobrevivência de seu partido, o PT, é dependente da existência de misérias, confissão saudada com alegria pelos adversários. Esses e outros episódios têm permitido imaginar que o estafado presidente pode caminhar para um colapso nervoso, fato que se agrava por obra e graça de alguns vapores etílicos.
Certamente, se alguém já lhe recomendou as férias, ele deve ter reagido, por considerá-las dispensáveis. Julga-se forte e muito bem de saúde. Mas é bom lembrar que faz parte das responsabilidades de um presidente procurar não cair enfermo, porque, quando isso acontece, provoca imensos prejuízos para a vida do país. Ele podia pensar nisso.

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